REFLETINDO SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS NO ENSINO DA MATEMÁTICA

REFLECTING ON THE IMPORTANCE OF GAMES IN TEACHING MATHEMATICS

REFLEXIÓN SOBRE LA IMPORTANCIA DE LOS JUEGOS EN LA ENSEÑANZA DE MATEMÁTICAS

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.13152897


Matheus Mestre de Lima Araújo 1
Francisco Pires de Castro Júnior 2
Emanuella Silveira Vasconcelos 3
Marcelo Máximo Purificação 4
Avaetê de Lunetta e Rodrigues Guerra 5
Weskley Carneiro de Medeiros 6
Melca Moura Brasil 7


RESUMO

Os jogos permitem que os discentes adquiram habilidades para a resolução de situações-problema, proporcionando ao aluno a oportunidade de construir planos de ação para alcançar determinados objetivos. Esta pesquisa teve como objetivo refletir sobre a importância dos jogos nos anos finais do ensino fundamental para alunos da licenciatura em matemática na UFPB-Campus I. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, onde a coleta dos dados foi feita por meio de entrevistas com os sujeitos que cursam a licenciatura em matemática na UFPB, Campus I, e que necessariamente cursaram ou estão cursando a disciplina de Estágio Supervisionado I no período de 2021.2 a 2023.1, e que tiveram a experiência de estudar jogos para ensinar matemática nessa disciplina. As atividades utilizando jogos favorecem a socialização entre os discentes, permitindo que experimentem novas situações-problema e manipulem materiais palpáveis.

Palavras-chave: Jogos, aprendizagem, matemática, socialização, sensibilização.

ABSTRACT

Games allow students to acquire skills for resolving problem situations, providing students with the opportunity to build action plans to achieve certain objectives. This research aimed to reflect on the importance of games in the final years of elementary school for mathematics degree students at UFPB-Campus I. This is a qualitative research, where data collection was done through interviews with subjects who are studying a degree in mathematics at UFPB, Campus I, and who have necessarily studied or are studying the subject of Supervised Internship I in the period from 2021.2 to 2023.1, and who have had the experience of studying games to teach mathematics in this subject. Activities using games encourage socialization among students, allowing them to experience new problem situations and manipulate tangible materials.

Keywords: Games, learning, mathematics, socialization, awareness.

RESUMEN

Los juegos permiten a los estudiantes adquirir habilidades para resolver situaciones problemáticas, brindándoles la oportunidad de construir planes de acción para lograr ciertos objetivos. Esta investigación tuvo como objetivo reflexionar sobre la importancia del juego en los últimos años de la enseñanza básica para los estudiantes de la carrera de matemáticas de la UFPB-Campus I. Se trata de una investigación cualitativa, donde la recolección de datos se realizó a través de entrevistas a sujetos que cursan la carrera de matemáticas en la UFPB, Campus I, y que necesariamente hayan estudiado o estén cursando la asignatura de Prácticas Supervisadas I en el período comprendido entre 2021.2 y 2023.1, y que hayan tenido la experiencia del estudio de juegos para la enseñanza de matemáticas en esta asignatura. Las actividades que utilizan juegos fomentan la socialización entre los estudiantes, permitiéndoles experimentar nuevas situaciones problemáticas y manipular materiales tangibles.

Palabras clave: Juegos, aprendizaje, matemáticas, socialización, conciencia.

1 INTRODUÇÃO

A matemática é uma disciplina que muitas vezes é vista como difícil e abstrata por muitos estudantes. No entanto, é fundamental para o desenvolvimento de habilidades cognitivas e lógicas, além de ser essencial em diversas áreas do conhecimento. Nesse contexto, os jogos podem desempenhar um papel importante no ensino da matemática, tornando o aprendizado mais dinâmico, prazeroso e eficaz. Refletindo sobre a importância dos jogos no ensino da matemática, é possível perceber que eles proporcionam uma abordagem mais concreta e contextualizada para os conceitos matemáticos. Através dos jogos, os alunos podem visualizar e manipular números, operações e problemas matemáticos de forma mais tangível, o que facilita a compreensão e a aplicação dos conceitos. 

Além disso, os jogos estimulam o raciocínio lógico, a criatividade, a concentração e a resolução de problemas, competências essenciais para o desenvolvimento do pensamento matemático. Ao se envolverem em atividades lúdicas, os alunos são desafiados a pensar de forma estratégica, a buscar soluções e a experimentar diferentes abordagens para resolver os desafios propostos. 

Outro aspecto relevante dos jogos no ensino da matemática é a promoção da interação e da colaboração entre os estudantes. Ao jogarem em grupo, os estudantes têm a oportunidade de discutir ideias, compartilhar estratégias, cooperar uns com os outros e aprender com as experiências dos colegas. Essa troca de conhecimentos e experiências contribui para a construção de um ambiente de aprendizagem mais rico e estimulante. 

De acordo com as presentes reflexões, fica evidente a importância dos jogos no ensino da matemática como uma ferramenta pedagógica eficaz para motivar os estudantes, tornar o aprendizado mais significativo e estimular o desenvolvimento de habilidades matemáticas essenciais. Portanto, é fundamental que os educadores incorporem atividades lúdicas e jogos educativos em suas práticas pedagógicas, a fim de proporcionar uma educação matemática mais dinâmica, interessante e eficaz para os estudantes.

Diante do contexto escolar, pode-se verificar um enorme desinteresse pelo ensino de matemática por parte dos discentes, muitas vezes culpando-a por ser “difícil” ou “incompreensível”, o que faz com que o ensino se torne tedioso e desinteressante tanto para o professor quanto para o aluno. Segundo Gonzaga et al (2017), o aluno despreza aquilo que não chama a sua atenção, descartando novas perspectivas e aprendizados que possam não lhe ser úteis.

É diante desse contexto que as metodologias conteudistas, que envolvem apenas a exposição de conteúdo sem conexões com a realidade dos alunos, falham em fazer uma boa apresentação de algum assunto que tende a fugir da realidade do estudante, causando desestímulo ou falta de relevância para aquilo que está sendo abordado. Nessa perspectiva, o jogo, quando apresentado de maneira contemplativa ao processo de aprendizagem dos estudantes, pode auxiliar em uma melhor apropriação do conteúdo proposto pelo docente, fazendo com que o facilitador tenha uma melhor compreensão do que está sendo trabalhado para transmitir o sentido lúdico e estimular os alunos com o conteúdo estudado. 

Os pesquisadores precisam explorar as experiências, as percepções e as significações dos participantes, com o intuito de elaborar um conhecimento significativo e contextualizado sobre os fenômenos abordados (DE LUNETTA et al., 2024). Nesse sentido, a BNCC (BRASIL, 2018) enfatiza a necessidade de práticas pedagógicas significativas para os estudantes, despertando seu interesse, engajamento e curiosidade pelo aprendizado. Além disso, ressalta a importância de abordagens que promovam a resolução de problemas, o pensamento crítico, a colaboração e a comunicação, fortalecendo o elo entre o que chama a atenção do aluno e a problemática proposta pela atividade executada. 

Logo, a utilização de jogos auxilia a aproximar o entendimento do praticante com o meio matemático, criando pontes na elaboração de meios para solucionar problemas matemáticos cotidianos, fazendo-o compreender que aquele meio ao qual os problemas estão inseridos faz parte do mundo físico, e isso o leva a crer que aquilo faz parte de sua realidade e, portanto, pode ser entendido. Ao explorar os conteúdos matemáticos, a BNCC (BRASIL, 2018) indica que o ensino deve ser contextualizado, ou seja, relacionado a situações reais, cotidianas e desafiadoras, de forma a tornar o aprendizado mais significativo para os estudantes. 

Nesse contexto, o uso de jogos e atividades lúdicas é uma estratégia pedagógica que pode ser adotada para promover a compreensão dos conceitos matemáticos e o desenvolvimento de habilidades. Na diversidade teórica e prática do saber, estão presentes as mais abrangentes formas de compreender determinado contexto. Na prática com jogos, é possível observar uma interação diferente dos indivíduos presentes, e cada manifestação dessa diversidade enriquece a prática do jogo, possibilitando correções, ajudas, compartilhamento de dados, entre outras diversas individualidades de cada praticante. Há várias discussões sobre o ensino com jogos, onde ainda há um enorme preconceito na utilização desse método de ensino devido à maneira retrógrada de pensar de que essa prática só irá entreter o praticante, sugerindo que nada se adquire ou aprende com tal metodologia, algo que já está mais do que provado ser apenas especulação.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A apuração de dados ocorreu através da utilização de um questionário, que serviu como objeto intermediário nos procedimentos que constituem a pesquisa qualitativa. Logo, foi necessário explorar possibilidades na elaboração das perguntas presentes no questionário, de modo que essas perguntas se relacionassem com o ambiente selecionado, os participantes respondentes, o contexto imerso na temática sugerida e com a fundamentação estudada previamente. A pesquisa utilizou 20 discentes que responderam ao questionário no período de 2021.2 a 2023.2. Portanto, analisaremos os dados referentes a esse número de sujeitos e suas respectivas respostas. A seguir, apresentamos as perguntas presentes no questionário:

  • Como você avalia a forma como foi aplicado o conteúdo de jogos para ensinar matemática na disciplina de Estágio Supervisionado I? Comente:
  • Qual a importância de ter que elaborar um jogo para ensinar matemática na disciplina de Estágio Supervisionado I, simulando uma situação real com alunos dos anos finais do ensino fundamental? Comente:
  • Qual a importância e principais benefícios de aplicar jogos para ensinar matemática aos alunos dos anos finais do ensino fundamental?
  • Quais são as principais dificuldades, percebidas por você, no uso de jogos para ensinar matemática?
  • Em sua opinião, a criação de jogos para ensinar matemática pode contribuir para a apropriação do conteúdo pelo professor?
  • O ensino com jogos pode favorecer a relação professor-aluno? Se sim, explique como:
  • Em sua opinião, o ensino com jogos pode desenvolver a criatividade e pensamento crítico do professor? Comente:
  • Como o ensino com jogos favorece o processo avaliativo e auto avaliativo do professor?

Após o recebimento das respostas do questionário, deu-se início então, ao processo de organização e análise dos dados, onde organizamos os questionários por período letivo e indicamos a representação de cada sujeito, de maneira que facilitasse a análise de todo o material.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os sujeitos eram alunos do curso de matemática da Universidade Federal da Paraíba e já tinham cursado, ou estavam cursando, a disciplina de Estágio Supervisionado I, logo, eles possuíam autonomia para expor suas opiniões. Segundo Gil (2008), por meio de uma pesquisa é possível aprimorar um objeto estudado a fim de sanar ou não uma problemática preestabelecida, desenvolvendo esse objeto durante o processo de criação de laços significativos entre o objeto e a problemática juntamente com a fundamentação estudada, gerando uma rede mais ampla sobre todo o tema discutido. 

Através da pesquisa foi possível nortear os principais objetivos, gerando algumas noções já esperadas, enquanto outras foram bastante inusitadas, com isso, houve grande concordância com os pensadores, porém, também houve discordância em relação aos mesmos, fornecendo uma análise bastante distinta. Para melhor citar e expor as opiniões e resultados dos participantes da pesquisa, foi designada uma nomenclatura para cada um, organizando os participantes em grupos, onde o grupo A equivale aos sujeitos de 2021.2; B aos de 2022.1; C aos de 2022.2; D aos de 2023.1; logo a nomenclatura deles ficou da seguinte forma: o primeiro sujeito de 2021.2, identificado como A01, o segundo como A02 e assim por diante; o primeiro sujeito de 2022.1, foi identificado como B01, o segundo como B02, e assim sucessivamente, respeitando a letra correspondente ao semestre e o número de acordo com os sujeitos de cada semestre letivo.

Principais Benefícios de Usar Jogos para Ensinar Matemática

Sobre a pergunta P-03, a importância e os principais benefícios de aplicar jogos para ensinar matemática aos alunos dos anos finais do ensino fundamental, foi possível identificar uma diversidade de benefícios citados pelos participantes, muitos focando no aprimoramento da relação com o professor e no auxílio e na compreensão do conteúdo, enquanto outros citaram o interesse dos estudantes pelo conteúdo e pela matemática na forma lúdica do jogo, além de outros apontarem que os jogos podem trazer avanços intelectuais e cognitivos para o aluno, havendo também estímulo na cooperação da turma na execução dos jogos. A seguir, apresentamos algumas respostas dadas pelos licenciandos do curso de matemática, sujeitos dessa pesquisa, sobre os benefícios e a importância do uso de jogos para ensinar matemática:

C02: Os jogos proporcionam um aprendizado dinâmico, rápido e divertido.

B03: (…) interação entre os alunos, além de gerar mais interesse pelo conteúdo a ser trabalhado.

B04: (…) possibilitará um processo de aprendizagem mais envolvente, significativo, diferente e atrativo (…) desenvolva o raciocínio lógico, use a criatividade e socialize.

B05:Gera mais interesse dos alunos pela matemática, melhora a interação nas turmas (principalmente nas turmas que possuem PCD), facilita a relação de aluno e professor.

A06: Desenvolve e aprimora as habilidades, o pensar reflexivo, a interação social e trabalho em grupo com a sala, busca de estratégias, entre diversas outras contribuições para o aluno e professor.

D04: (…) permite que o aluno aprenda a partir da interação com os outros…

Uma das respostas que contribuíram para o fornecimento de resultados da pergunta P-03 relaciona-se diretamente com Lins (2004), onde é evidenciado que há diferença entre a matemática aprendida na sala de aula e a matemática vivenciada no cotidiano do aluno. Logo, quando a matemática não ultrapassa os limites da parte teórica e não entra no viés prático, pode haver um desinteresse considerável por parte dos alunos, pois eles não conseguem estabelecer conexões entre o que estão aprendendo e o que vivenciam diariamente. 

Com isso, a fala do sujeito A05, respondendo à pergunta do questionário, conecta diretamente com essa fundamentação de Lins (2004) no momento em que ele menciona que os jogos geram “a motivação dos estudantes em sair do abstrato e ir para a prática” – A05. Tomando agora a perspectiva do professor e os benefícios transferidos a ele, como mediador de aprendizagem, foi proposta uma pergunta diretamente voltada para a análise de um benefício específico, a P-05, onde é perguntado se a metodologia com jogos auxilia na apropriação do conteúdo por parte do professor. Como resultado, todos os participantes concordaram ao declarar que sim, o uso de jogos favorece a apropriação do conteúdo pelo lado do professor. Vejamos algumas respostas que destacam essa questão:

B01: Sim. Pois o professor tem que tá por dentro do conteúdo para poder criar um jogo mais aplicado e para resolver possíveis problemas que aparecerá nas possibilidades dos jogos e regras. A03: Sim, pois, dessa forma, o professor pode ver onde tem falhas em seu conhecimento, sempre que o jogo demandar alguma dificuldade em sua criação.

B02: Sim, os jogos são muito importantes para memorizar assuntos.

A04: Acredito que se o jogo for bem elaborado, se tiver objetivos e regras claras, pode sim contribuir.

B03: Sim. Pois o processo de criação de jogos exige pesquisa e empenho do professor para elaborar uma atividade que use corretamente o conteúdo a ser trabalhado…

B04: Sim. Ao elaborar um jogo de Matemática, o professor precisará ter um conhecimento mais aprofundado acerca dos conceitos matemáticos que serão trabalhados.

A06: Sim. Pois o professor ao criar um jogo consegue pensar melhor no conteúdo que está envolvido de forma que desenvolve uma melhor compreensão do assunto, trazendo elementos do cotidiano escolar e da sua vivência.

Além dos comentários acima, em relação com o que Mesquita (2021) propõe, destacamos a resposta do sujeito D04 como exemplo:

D04: Com certeza. Para confeccionar é necessário que o professor revise o conteúdo principalmente na perspectiva de se pensar nas possibilidades de seu desdobramento, portanto o professor precisa dominar o conteúdo para prever os efeitos do jogo.

Na sequência, tivemos a proposta da pergunta P-07 que almeja evidenciar a criatividade e senso-crítico do professor ao utilizar metodologias com jogos: “O ensino com jogos pode desenvolver a criatividade e pensamento crítico do professor? Nesse contexto, há discussões que revelam o desenvolvimento da criatividade e senso-crítico por meio das estratégias e métodos usados tanto na elaboração dos jogos quanto na execução deles, gerando até confiança no indivíduo para com outras atividades (BARROS; MIRANDA; COSTA, 2019). Além disso, também existe a ideia do desenvolvimento do senso-crítico por meio de processos e atividades que utilizam métodos de questionamento, fazendo com que o indivíduo passe a se contestar o porquê do processo ao qual ele está executando e da forma a qual lhe foi designado, e nessa procedência ele pode amadurecer sua senso crítico durante desenvolvimento do jogo (FREIRE, 2014).

Durante a apuração de resultados advindos do questionamento da pergunta P-07, houve a confirmação de que todos os participantes concordaram com tais benefícios presentes no uso de jogos como meio de ensinar matemática, com algumas respostas justificando esses benefícios à elaboração e desenvolvimento dos jogos, que através desses processos o professor tende a estabelecer maneiras diversas para implementar um jogo que melhor se adeque ao nível ou contexto estudantil do aluno, gerando senso- crítico, além da busca por alternativas lúdicas, na criação dos jogos, que desenvolve a criatividade para gerar a atenção necessária para que a aprendizagem seja fluída, como aponta Canova e Guirado (2016).

Com essa discussão, abaixo seguem algumas respostas dos participantes que confirmam esses benefícios no uso de jogos e que se aproximam das ideias discutidas por (CANOVA; GUIRADO, 2016), (FREIRE, 2014) e (BARROS; MIRANDA; COSTA, 2019):

C01: Sim, a partir do jogo, pode-se pensar como abordar conteúdos de maneira criativa e com uma metodologia que se aproxima mais da realidade dos alunos.

C02: Sim, é através dos jogos que podemos ter uma visão de como melhorar nossos métodos, aguçando nossa criatividade e maneira de ensinar.

A04: O ensino com jogo pode desenvolver a criatividade e pensamento crítico do professor, pois no momento de sua aplicação o professor poderá fazer uma avaliação do comportamento dos alunos, se os mesmos estão desenvolvendo o conhecimento esperado.

B04: Além disso, caso seja necessário, ele terá que adaptar os jogos conforme as necessidades e o nível dos alunos, e procurar formas divertidas para envolvê-los com a Matemática, e isso requer muita criatividade.

D04: … ao analisar o perfil de sua turma para buscar um jogo que melhor atenda sua necessidade o professor estará sendo crítico…

Como um dos participantes menciona que através dos jogos há possibilidade para que o professor faça uma avaliação do desenvolvimento dos alunos, além da relação entre o senso-crítico com esse processo de avaliação, é possível perceber conexões com a próxima pergunta analisada, a P-08, onde é perguntado aos sujeitos como eles acreditam que o ensino com jogos favorece o processo avaliativo e auto avaliativo do professor.

Em decorrência dessa questão, as respostas dos sujeitos foram em grande parte justificando que o processo de avaliação do professor com os participantes dos jogos é mais compreensível e amplo, ao contrário de uma prova onde os alunos são avaliados de maneira individual sem contexto externo além do que está escrito na prova, eles ainda citam que através do jogo é possível ver o desenvolvimento do alunado para com os processos necessários durante a execução do jogo e perceber no que mais eles estão com dificuldades ou como interagem com situações, fazendo com que haja a avaliação constante durante todas as etapas do jogo.

Segundo Dos Santos Cordeiro et al. (2021), retomando a fala do sujeito B05 há uma ligação mais direta, não citando diretamente o feedback imediato, mas deixando o assunto subentendido:

B05: A partir da eficácia do jogo o professor pode refletir o que aconteceu durante o processo de aplicação, desde a explicação até a realização da atividade, acredito que não há momento melhor para se avaliar, principalmente, depois de enxergar as dificuldades dos alunos a um determinado conteúdo já visto em sala de aula.

Além desse comentário, falas de outros participantes também chamaram nossa atenção, apresentando concordância com a temática da avaliação e autoavaliação mediante análises dos alunos participantes dos jogos.

A04: Através do uso do jogo, o professor pode criar estratégias que possam melhorar sua prática, observar se os objetivos pensados no seu plano de aula foram alcançados.

A05: De forma geral o professor consegue avaliar todos os alunos vendo o processo do jogo e as dificuldades de todos, que talvez com atividades convencionais não teria clareza…

A06: Para a avaliação do aluno, o professor consegue observar os déficits que eles estão enfrentando sobre o conteúdo através do processo do jogo…

D02: Com os jogos o professor pode verificar a aprendizagem da turma, vendo o comportamento da turma diante dos desafios propostos relacionado às aulas, e a partir desse resultado ele irá se direcionar.

C04: …compreender de forma mais prática as dificuldades dos alunos…

D04: …o desempenho da turma nos jogos reflete como elas estão absorvendo o conteúdo passado pelo professor.

Agora, interligando os dois núcleos, professor e aluno, há a pergunta P-06, que enfatiza os benefícios de maneira mútua, nela está presente o questionamento do favorecimento ou não da interação professor-aluno mediante a proposta do ensino com jogos, questão essa que ainda pediu para explanar um pouco se há a concordância por meio da opinião ou vivência dos participantes do questionário.

Mais uma vez a resposta “sim” foi unânime, logo, todos concordaram com a existência desse favorecimento, expondo como eles acreditam que esse processo se dá, além de explanações diversas relacionadas a questão que enriquece a pesquisa.

Identificamos, também, como a confiança do aluno em si mesmo e no outro pode ser desenvolvida por meio dos jogos (BARROS; MIRANDA; COSTA, 2019) e a sua desenvoltura e interação social (GONZAGA et al., 2017). Por meio dos dados coletados com esses sujeitos, identificamos que quando o professor utiliza metodologias como os jogos, é mais provável que haja uma interação maior entre os alunos mais tímidos, já que eles poderão se sentir mais capazes de exercer o que está sendo proposto, além de se aproximar mais do professor para pedir auxílio ou apresentar seus resultados, tudo isso aprimorando a interação professor-aluno, desde que o professor saiba como conduzir esse processo.

Vejamos a seguir algumas respostas dos participantes da pesquisa sobre a pergunta P-06 “O ensino com jogos pode favorecer a relação professor-aluno?”.

A04: A interação através do jogo pode favorecer não só a relação professor-aluno, como também a interação entre os próprios alunos, já que um dos objetivos é promover a socialização.

B03: Sim, com certeza. O ensino com jogos exige uma maior interação do professor com a turma…

… Além disso, o fato de o professor estar proporcionando uma aula diferenciada e até mesmo divertida pode cativar os alunos. A06: Sim. Pois através dos jogos os alunos conseguem se conectar com o professor e vice versa, de modo que a relação entre eles se torne menos tradicional…

D02: Sim, uma vez que os alunos conseguem gostar da aula, passam a olhar o professor de uma maneira diferente, o que ocasiona em um clima de amizade entre docente e discente.

D03: Sim, pois os jogos permitem a maior interação do aluno com o professor desde do início da explicação de como funcionará a dinâmica do jogo até sua finalização…

Destaca-se o comentário do licenciando A05, que segue, baseado nas discussões de Barros, Miranda e Costa (2019), Gonzaga et al. (2017) e Aranão (2007) quando debatem sobre o amadurecimento da confiança e a ligação do aluno com o professor mediante a abordagem de uma metodologia diferenciada que busca melhorar o ensino com contexto voltado para o aluno:

A05: Sim, pois os alunos muitas vezes sentem vergonha de tirar dúvidas e até mesmo de interagir com o professor e dessa forma distancia a relação aluno-professor. Com a aplicação de jogos os alunos interagem com o professor sem medo de fazer uma pergunta que para ele é uma dúvida ” irrelevante”, pois por ser uma aula dinâmica tira a tensão da aula melhorando a comunicação de ambas as partes.

Principais Dificuldades para o Uso de Jogos no Ensino da Matemática

Para evidenciar as dificuldades presentes na execução e elaboração de jogos no ensino de matemática, foi elaborada uma pergunta bem objetiva que consiste na apresentação das principais dificuldades segundo o ponto de vista dos sujeitos, buscando compreender em suas vivências, ou não, o que eles acham ser mais prejudiciais e o que mais atrapalha no uso de jogos para ensinar matemática.

A BNCC (2018) e Mesquita (2021) defendem que é papel do professor contextualizar suas práticas pedagógicas com a vivência do aluno, criando conexão entre o conteúdo trabalhado com o que ele presencia no seu dia a dia, o que nem sempre se trata de tarefa fácil, pois o processo de elaboração de um jogo demanda um bom planejamento. Nesse contexto, é possível destacar algumas falas de participantes no quesito de dificuldades mediante a conexão entre o conteúdo e o jogo trabalhado:

B01: Encontrar situação, relação no jogo com o cotidiano, interesse e nível de aprendizagem dos alunos em que o jogo será aplicado.

A04: Saber utilizar o jogo adequado para o conteúdo que se deseja ensinar…

A05: … Dependendo do jogo utilizado pode acabar não tratando todos os conceitos existentes no assunto trabalhado…

B03: …Pude perceber que às vezes é mais difícil encontrar jogos para serem usados na apresentação do conteúdo.

B05: Expandir a relação dos conteúdos com os jogos (fazendo a reflexão juntamente com os alunos).

D04: …Outra dificuldade é conseguir conduzir a turma na sua maioria para o jogo de uma forma que não fique complexo para eles ao jogarem…

Então, o que mais se evidencia nesses relatos é a dificuldade perante o desenvolvimento dos jogos, diante do processo de estabelecimento de laços entre o jogo e o que se almeja, seja em questão de conexão com o conteúdo específico, ou trazer o jogo para a realidade do aluno, ou também na efetuação de um jogo que não esteja tão distante da realidade e capacidade de execução dos alunos, para que seja acessível e praticável por eles.

Utilizando das ideias de Canova e Guirado (2016), é papel do professor buscar maneiras e estratégias que enriqueçam o processo de formação do aluno, buscando outras alternativas para isso, e nesse quesito, entra também o processo de criação de jogos, que independente da dificuldade, cabe ao professor se especializar e encontrar laços que façam sentido na elaboração de um jogo que planeja abordar algum conteúdo matemático direcionado a esses alunos.

Nesse sentido, as respostas dos sujeitos da pesquisa vão ao encontro das ideias de Kishimoto (2017) quando defendem que o processo de utilizar jogos pedagógicos, funcionará à medida que eles forem pensados em correlacionar o jogo a algo que deve ser ensinado, destacando, o jogo como ato educativo. Vejamos algumas respostas expondo a questão do lúdico no jogo:

A02: Alguns jogos os alunos não reconhecem a parte didática da proposta e torna-se apenas um jogo competitivo.

B04: …O jogo acaba sendo um recurso que possibilita apenas o divertimento, mas não a compreensão do assunto.

D02: O pensamento do jogo pelo jogo, quando os alunos não querem levar a ideia de aprendizagem…

D04: A principal problemática acredito que seja preparar um jogo que não permita deslizes no sentido de se perder e consequentemente não atingir o objetivo de ensinar.

A partir das respostas acima, identificamos a preocupação de o jogo não ser apenas uma diversão, embora uma característica básica do jogo seja a ludicidade (KISHIMOTO, 2017), mas no caso de um jogo com intuito de promover o aprendizado ou verificação dele, esse lúdico deve vir acompanhado do desenvolvimento da capacidade de resolver problemas, criar estratégias para responder questões, e no caso dessa pesquisa sobre conteúdos matemáticos.

Outro fator que dificulta a utilização de jogos como metodologia de ensino de matemática é a atenção dos alunos, como Kishimoto (2017) menciona, o jogo ainda é muito visto como ferramenta de entretenimento, e essa ideia pode prejudicar a sua utilização quando o objetivo vem atrelado ao ensino de conteúdos matemáticos, precisando haver o equilíbrio.

Nesse sentido, foi relatado pelos participantes da pesquisa que uma das maiores problemáticas ao mencionar jogos para ensino de matemática é o controle da turma durante a aplicação desses jogos, muitas vezes gerando tumulto e desconcentração por parte dos estudantes, tornando difícil a explicação do que será trabalhado no jogo, como também suas regras e o que ele propõe, seja em questão de conteúdo ou de ensinamentos, gerando assim, uma grande quantidade de alunos sem saber do que se trata o jogo e seus processos de aprendizagem, que, muitas vezes acabam atrapalhando o restante dos mais atenciosos dispostos a colaborar com a prática pedagógica.

Pode-se verificar uma sutil divergência do que Aranão (2007) propõe ao afirmar que o aluno desenvolve atenção por meio do jogo, é possível ver nas citações de alguns sujeitos da pesquisa que as ações educacionais utilizadoras de jogos atraem a atenção de boa parte dos grupos de alunos, porém, às vezes, pode haver dispersão no início dessas práticas por alguns estudantes que não veem o jogo como algo interessante, seja por não terem o hábito de jogar, ou até mesmo por achar que não será divertido por ter a exploração de conteúdos no meio.

Desta feita, o professor precisa criar o hábito de propor jogos ao longo se suas aulas e incentivar os alunos a participarem, para que percebam que podem aprender enquanto se divertem. Sobre esse envolvimento com os jogos que é papel fundamental do professor, podemos destacar algumas respostas:

A03: Fazer com que todos participem por vontade própria.

A05: Acredito que controlar os jovens na hora da aplicação dos jogos, tendo em vista que por ser algo não convencional na rotina dos estudantes os mesmos acabam ficando eufóricos.

B03: A dificuldade mais perceptível por mim é a questão da organização da turma para aplicação de atividade com jogos.

B04: …é a dificuldade que o professor tem para acalmar os ânimos dos alunos. Na maioria das vezes, os alunos ficam bastante inquietos e não prestam atenção na explicação e no objetivo do jogo que vai ser utilizado.

D03: …Além de convencer os alunos dispersos a se envolverem de forma mais assídua no andamento do jogo.

Nesse contexto verifica-se que o uso de jogos para ensinar matemática, vai além de preparar um bom jogo, mas de construir uma cultura do uso dos jogos em sala de aula, tal que os alunos compreendam os benefícios que esta prática pode proporcionar no seu aprendizado e bem estar social.

Entrando no ambiente estrutural de ensino, observa-se que é papel da escola proporcionar um local adequado aos professores e estudantes, onde será provido os processos de aprendizagem necessários a eles sob jurisdição escolar, conforme as Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (1996) garante. Além disso, em junção com a BNCC (2018) e o PNE (1997)(BRASIL, 1997), há espaço para enunciar que é papel da escola prover recursos para elaboração das metodologias envolvendo jogos, como deve ser feito com todas as metodologias de ensino, logo, para que haja uma boa elaboração, se faz necessário que o órgão educacional atue na distribuição de meios e recursos que auxiliem na construção e execução desses jogos. 

Porém, a realidade tende a ser diferente na sala de aula, mostrando que muitas vezes a escola não dispõe de recurso financeiro para a compra de jogos e outros recursos didáticos que sirvam como apoio pedagógico para os docentes. Do mesmo modo, por vezes, as condições de trabalho não favorecem que o professor pense e desenvolva jogos para ensinar matemática, seja pela grande quantidade de estudantes em sala, seja pelo espaço físico inadequado, ou pela disposição do professor que muitas vezes precisa trabalhar com carga horária extensa.

Foram identificadas questões que podem dificultar que os professores utilizem jogos para ensinar matemática, vejamos a seguir:

C02: Recursos.

A04: …o número de alunos dentro da sala de aula, o espaço da sala de aula.

B05: …falta de recursos na escola…

D01: Estrutura com laboratórios de matemática e recursos tecnológicos acessíveis aos alunos, principalmente na rede pública de ensino.

C03: Depende dos recursos na escola, como cartolina, impressora colorida…

D03: Limitação do orçamento financeiro para a produção dos jogos sob demanda…

C04: Material que na maioria das vezes as escolas não dispõem.

É possível perceber nos comentários citados nesse tópico que há dificuldades quando pensamos na metodologia voltada para uso de jogos com intuito de ensinar algo, principalmente no viés da matemática. Dificuldades essas que vão desde o professor ter a iniciativa de utilizar o jogo para ensinar matemática, conseguir elaborar planejamento que encaixe o jogo como estratégia para a aprendizagem dos alunos, a problemas com a infraestrutura das escolas e salas de aula com número excessivo de discentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados coletados na pesquisa podem contribuir e trazer os benefícios do ensino com jogos tanto para o aluno quanto para o professor, tornando-o um recurso riquíssimo para ser trabalhado dentro da sala de aula, para que os objetivos de aprendizagem sejam alcançados. Podemos citar: o desenvolvimento de processos cognitivos significativos durante o amadurecimento da criança e adolescente; o aumento da relação professor-aluno que influenciará em aulas mais harmônicas; a construção do pensamento crítico e reflexivo por meio do professor e aluno, que influenciarão em aprimoramentos no desenvolver de novas atividades buscando sanar erros cometidos; a atenção dos estudantes voltada a atividade; o aumento da confiança dos alunos em relação ao professor, que tende a ter uma maior dominância do conteúdo abordado no jogo por meio dos processos de construção do mesmo; o estímulo da socialização entre os alunos; o feedback imediato que auxilia o professor a ter uma melhor noção de como os alunos estão conseguindo executar o jogo, atendendo ou não aos objetivos esperados. 

Todavia, também identifica-se nessa pesquisa, a partir das respostas dos sujeitos que, há também algumas problemáticas que acabam dificultando o ensino com jogos, como é o caso da má elaboração de um jogo por meio do professor, que acarreta em uma atividade sem fins bem definidos e que poderá ser um eventual problema ao aluno ao invés de propor seu aprendizado matemático, como é o caso dos jogos feitos apenas com o intuito de entreter.

A ausência de estímulo aos professores para desenvolverem metodologias diversificadas, como os jogos, por exemplo, por falta de recurso financeiro das escolas, falta de materiais e recursos didáticos que auxiliem a prática docente, jornada de trabalho exaustiva dos docentes, grande número de alunos em sala de aula, que foram pontuados pelos sujeitos da pesquisa, devem ser analisados. O presente artigo, constatou que os jogos podem auxiliar os alunos a desenvolver habilidades matemáticas, como raciocínio lógico, resolução de problemas, criatividade e trabalho em equipe. 

Além disso, os jogos também contribuem para a motivação dos estudantes, tornando o aprendizado mais prazeroso e estimulante. Os resultados obtidos nesta pesquisa são extremamente relevantes tanto para a sociedade quanto para a academia. No âmbito social, a utilização de jogos no ensino da matemática pode contribuir para a formação de cidadãos mais críticos, criativos e preparados para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. A adoção de práticas pedagógicas inovadoras pode ajudar a reduzir a evasão escolar e melhorar a qualidade do ensino. Na academia, os resultados desta pesquisa podem fomentar novos estudos e debates sobre a importância dos jogos no processo de ensino-aprendizagem da matemática. 

A partir dessas reflexões, é possível desenvolver novas estratégias e metodologias de ensino que promovam a integração entre teoria e prática, estimulando o pensamento crítico e a criatividade dos alunos. Diante disso, é fundamental que educadores, pesquisadores e gestores educacionais reconheçam a importância dos jogos no ensino da matemática e busquem incorporá-los de forma efetiva em suas práticas pedagógicas. Somente assim, será possível promover uma educação matemática mais significativa e transformadora, preparando os estudantes para os desafios do século XXI.

REFERÊNCIAS

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1Licenciado em Matemática
Instituição: Universidade Federal da Paraíba – UFPB
E-mail: matheus.mestre@academico.ufpb.br
2Mestre em Ciência e tecnologia ambiental
Instituição: Universidade Estadual da Paraíba – UEPB
E-mail: prof.chicopires@gmail.com
3Mestra em Ensino de Ciências
Instituição: Universidade Federal de Roraima – UFRR
E-mail: emanuellasvasconcelos@gmail.com
4Doutor em Ensino
Instituição: UNIVATES
E-mail: maximo@unifimes.edu.br
5Mestre em Filosofia
Instituição: Universidade Federal da Paraíba – UFPB
avaete.guerra@gmail.com
6Mestre profissional em Matemática em Rede Nacional -PROFMAT
Instituição: Universidade Estadual da Paraíba – UEPB
E-mail: weskleydm@gmail.com
7Mestra em Educação em Ciências e Matemática – UFG
Instituição: Universidade Federal de Goiás (UFG)
E-mail: melcabrasil@gmail.com