REDUÇÃO DA INTENSIDADE DA ENXAQUECA: IMPACTOS DE ATIVIDADES FÍSICAS E DE PADRÕES ALIMENTARES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202412060020


Augusto Venâncio Oliveira,
Talita Marques da Silva,
Juliana Lilis da Silva,
Natália de Fátima Gonçalves Amâncio


RESUMO

Introdução: A enxaqueca é uma condição neurológica prevalente e incapacitante, caracterizada por crises de dor intensa, frequentemente acompanhadas por náuseas, fotofobia e fobia ao som. Embora o tratamento farmacológico, como o uso de analgésicos e triptanos, seja comum, cresce o interesse por abordagens não farmacológicas para o manejo da doença. A revisão de literatura proporcionou sintetizar temas já abordados, sobretudo em relação a padrões alimentares e a influência de atividades físicas nos impactos para redução da intensidade da enxaqueca. Objetivo: busca-se fazer uma análise da relação entre padrões alimentares e atividades físicas, em como eles se relacionam na redução da intensidade da cefaleia. Método: Trata-se de reunir e sintetizar temas a partir da revisão da literatura abordando estudos que relacionam os diversos alimentos e diferentes atividades físicas na sua correlação com a enxaqueca, publicados nos últimos cinco anos nos idiomas inglês e português. Os artigos foram obtidos por meio de busca eletrônica de dados similares baseados em proposição dos temas: “influência dos padrões alimentares e atividades físicas na redução da intensidade da enxaqueca” e “tratamentos farmacológicos e não farmacológicos no tratamento da enxaqueca”, aplicados como norteadores de pesquisa nas plataformas Google Scholar, Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online ( SciELO) e National Library of Medicine ( PubMed). Resultado: O estudo aponta para conclusões recorrentes, tanto dos tratamentos farmacológicos, quanto dos não farmacológicos, a exemplo de acupuntura, de mudanças alimentares, como de ingestão de aspartame, de nitrito, de glutamato monossódico, de chocolate, de vinho tinto e de alimentos ricos em lipídios, também de exercícios físicos, sobretudo os aeróbicos, de terem impacto significativo na redução e intensidade das crises de enxaqueca. Conclusão: O estudo permitiu constatar que intervenções não farmacológicas, como a prática regular de atividades físicas e a adoção de uma dieta balanceada, evitando os tipos dos alimentos abordados, desempenham papel crucial na redução da frequência e da intensidade das crises de enxaqueca, além disso melhoram significativamente a qualidade de vida dos pacientes oferecendo alternativas viáveis ao tratamento tradicional.

Palavras-chaves: enxaqueca, atividades físicas, alimentação, qualidade de vida.

INTRODUÇÃO

As cefaleias, ou dores de cabeça, é uma das queixas médicas dentre as mais comuns em todo o mundo, afetando milhões de pessoas em diferentes idades e grupos populacionais. Os sintomas caracterizam-se por dor ou desconforto na região da cabeça e podem ser altamente debilitantes, interferindo significativamente na qualidade de vida dos indivíduos.

A enxaqueca é um dos tipos de cefaleias primárias mais comum, caracterizada por crises recorrentes de dor de cabeça pulsátil, frequentemente acompanhada de sintomas como náuseas, vômitos e sensibilidade à luz e ao som. A doença afeta uma parcela significativa da população e pode ser altamente incapacitante. No entanto, o diagnóstico e o tratamento adequados podem proporcionar alívio aos pacientes (Smith et al., 2019).

Inicialmente, o diagnóstico clínico procura diferenciar tipos de cefaleias não abordadas nesse artigo, o que seria crucial para direcionar o tratamento apropriado. Muitas vezes, os sintomas podem se sobrepor, tornando essencial uma avaliação cuidadosa para distinguir entre os tipos possíveis de ocorrência. Além disso, é importante fazer a exclusão de outras causas subjacentes à dor de cabeça (Rizzoli et al., 2019).

Muitos tratamentos medicamentosos são utilizados para redução da enxaqueca, vista como uma inflamação, tais como anti-inflamatórios não esteroides (AINES) e antidepressivos tricíclicos, porém apresentam efeitos colaterais, além do que os estudos apontam para o benefício do tratamento nutricional como alternativa para esses pacientes.

Nesse contexto, além dos benefícios anti-inflamatórios da terapia nutricional, muitos pacientes acabam por identificar que o consumo de certos alimentos precipita o surgimento da dor, logo, a identificação e suspensão destes é de suma importância no tratamento. Os alimentos a serem mais comumente evitados são chocolates, vinhos e queijos envelhecidos. Porém, não é sempre o mesmo tipo de alimento que precipita enxaqueca em todos os pacientes.

Somado a isso, vale destacar que, além dos efeitos colaterais, há também os riscos de sobredosagem. Neste contexto existem estratégias não farmacológicas complementares ou alternativas de tratamento que têm como objetivo melhorar o controle da enxaqueca e, consequentemente, a capacidade funcional destes indivíduos, minimizando o risco de efeitos adversos já referidos do tratamento profilático farmacológico. Assim, a prática de exercício aeróbico de intensidade moderada é sugerida como possível tratamento profilático, pois parece desempenhar um papel importante na modulação da dor, com possível efeito analgésico a curto e longo prazo, quer como efeito central, quer como efeito periférico.

O presente artigo tem como objetivo investigar a influência dos fatores de atividades físicas e dos padrões de alimentação na redução da frequência e intensidade das crises de enxaqueca, tendo como referência artigos científicos publicados.

Buscou-se analisar preferencialmente a relação entre esses fatores, destacando como as intervenções não farmacológicas podem contribuir para o manejo da condição, visando proporcionar uma alternativa viável para os pacientes que enfrentam os efeitos colaterais dos tratamentos medicamentosos.

A relevância deste estudo se dá pela alta prevalência das enxaquecas e pelo impacto significativo que elas têm na qualidade de vida dos indivíduos. Embora existam várias opções de tratamento, muitos pacientes experienciam efeitos adversos indesejados com o uso de medicamentos. Assim, compreender a eficácia de abordagens não farmacológicas, como a prática regular de atividades físicas e a adoção de uma alimentação adequada, torna-se crucial. Ao elucidar essa relação, esse artigo sintetiza insights valiosos para profissionais de saúde e para pacientes, promovendo estratégias de manejo mais integrativas e eficazes. Além disso, a pesquisa contribuirá para o corpo de conhecimento existente sobre o tema, incentivando investigações futuras que possam ampliar as opções de tratamento disponíveis.

METODOLOGIA

O presente estudo consiste de uma revisão exploratória integrativa de literatura. A revisão integrativa foi realizada em seis etapas: 1) identificação do tema e seleção da questão norteadora da pesquisa; 2) estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos e busca na literatura; 3) definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; 4) categorização dos estudos; 5) avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa e interpretação e 6) apresentação da revisão.

Na etapa inicial, para definição da questão de pesquisa, utilizou-se da estratégia PICO (acrômio para Patient, Intervention, Comparation e Outcome). Assim, definiu-se a seguinte proposição central que orientou o estudo: “A influência das atividades físicas e dos padrões de alimentação na redução e intensidade da enxaqueca” Nela observa-se o P para Indivíduos com enxaqueca ; o I destinado a Atividades físicas e padrões de alimentação; o C para comparações entre sistemáticas ou análise de apenas um dos fatores; e o para o resultado obtido para a análise quanto à Redução da intensidade da enxaqueca.

Para responder a esta pergunta, foi realizada uma busca de artigos envolvendo a análise pretendida, utilizando as terminologias cadastradas nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCs) criados pela Biblioteca Virtual em Saúde, desenvolvidos a partir do Medical o Subject Headings da U.S. National Library of Medcine, que permitem o uso da terminologia comum em português, inglês e espanhol. Os descritores utilizados foram: padrões alimentares, enxaqueca, atividades físicas, obesidade. Para o cruzamento das palavras chaves utilizou-se apenas o operador booleano “and”.

Realizou-se um levantamento bibliográfico por meio de buscas eletrônicas nas seguintes bases de dados: Google Scholar; Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scientif Eletronic Library Online (SciELO) e National Library of Medicine (PubMed).

A busca foi realizada no mês de setembro de 2024. Como critérios de inclusão, limitaram-se artigos escritos em inglês e português, publicados nos últimos 5 anos (2020 a 2024) que abordassem o tema pesquisado e que estivessem disponíveis eletronicamente em seu formato integral. Foram excluídos os artigos em que o título ou o resumo não estivessem relacionados ao tema da pesquisa em foco e de eventuais pesquisas cuja metodologia não se apresentassem de forma clara e objetiva.

Após a etapa de levantamento das publicações, foram pré-selecionados 23 artigos a partir da leitura do título e do resumo de cada publicação com tema aderente à pesquisa. Em seguida, realizou-se a leitura na íntegra das publicações escolhidas, atentando-se agora para os critérios de inclusão e exclusão, suficientes para descartar três dos artigos, e restaram 20 artigos pertinentes para análise final e construção da revisão.

Posteriormente à seleção dos artigos, realizou-se um fichamento das obras selecionadas a fim de aprofundar a análise dos dados. Os dados coletados foram disponibilizados em um quadro possibilitando ao leitor a avaliação da aplicabilidade da revisão integrativa elaborada, de forma a atingir o objetivo desse método (Coelho et al., 2021).

A Figura 1 demonstra o processo de seleção dos artigos por meio das palavras-chaves de busca e da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão citados na metodologia. O fluxograma leva em consideração os critérios elencados pela estratégia PRISMA (Page et al., 2021).

Autor e anoTítuloAchados principais
REBOUÇAS JÚNIOR et al., 2024Acupuntura na profilaxia da enxaqueca sem aura comparada com a terapia farmacológica: Uma revisão sistemática.  As pesquisas demonstraram que a eficácia da acupuntura como terapia profilática é válida, sobretudo a curto prazo, na redução da frequência das crises, na diminuição da intensidade da dor e do uso de sintomáticos, além de melhoria na qualidade de vida
ISABELA, M, 2024Eficácia no tratamento da enxaqueca com uso da acupunturaA acupuntura é reconhecida por sua eficácia específica no controle da cefaleia, pois a acupuntura pode executar um papel de analgésico ao regular a atividade do sistema nervoso ajudando a equilibrar a atividade entre os sistemas simpático e parassimpático, além da liberação de substâncias endógenas como endorfinas, serotonina isso pode afetar a percepção da dor e a resposta do corpo a estímulos.
COTA MAGALHÃES. et al. 2024 Influência dos hábitos alimentares na manifestação da enxaqueca crônica: Uma revisão de literatura Ao longo deste estudo, foi possível destacar a importância de intervenções que vão além do uso de medicamentos, ressaltando a relevância de hábitos alimentares saudáveis, práticas regulares de exercícios físicos e terapias complementares no manejo eficaz da doença.
PINTO et al., 2024Enxaqueca – revisão literáriaA enxaqueca é uma condição neurológica caracterizada por dores de cabeça intensas e sintomas como náusea e sensibilidade à luz e ao som. Sua fisiopatologia envolve a ativação das vias trigeminovasculares e a liberação de neuropeptídeos, que contribuem para a sensação de dor.
RIBEIRO et al., 2024A importância de ácido láctico na enxaqueca e na fibromialgia  Os grupos com enxaqueca crônica e fibromialgia associada à enxaqueca crônica apresentam níveis significativamente elevados de ácido láctico durante a atividade física aeróbica em comparação aos controles.
BATISTA et al., 2023Práticas integrativas e complementares como tratamento não farmacológico para a enxaqueca  A incorporação na rede do Sistema Único de Saúde das práticas integrativas e complementares como modelos de (re)pensar as práticas de cuidado em enfermagem são tidas como fundamentais no contexto contemporâneo.
MEDEIROS et al., 2023  Influência de fatores nutricionais na enxaqueca: Uma revisão integrativa  A nutrição desempenha um papel importante na enxaqueca, pois determinados nutrientes podem ser protetores de crises de dor de cabeça e trazer benefícios por meio de dietas com proteína adequada, baixo índice glicêmico e alto teor de gorduras boas.
ARINS et al., 2023A influência da alimentação e estilo de vida em crises de enxaqueca: Uma revisão integrativa.Conclui-se que a identificação dos gatilhos alimentares se diz uma das maneiras mais eficientes para a redução das crises de enxaqueca.
FIGUEIREDO et al., 2023Cefaleias: Diagnóstico Diferencial e Abordagens Terapêuticas: Um estudo dos diferentes tipos de cefaleias, incluindo enxaqueca e cefaleia tensional, e suas opções de tratamento.Além disso, a identificação e eliminação de fatores desencadeantes desempenham um papel crucial na gestão das cefaleias. Pacientes com enxaqueca podem se beneficiar ao identificar e evitar gatilhos específicos, enquanto a redução do estresse crônico é fundamental na prevenção da cefaleia tensional.
COELHO et al., 2023O papel do exercício físico no tratamento da enxaqueca: qual a evidência?  Para definir concretamente os efeitos a curto e longo prazo do exercício aeróbico nos doentes com enxaqueca, é possível recomendar a sua inclusão na abordagem profilática dos mesmos.
SILVA et al., 2022A importância da alimentação e nutrição para indivíduos com enxaqueca.  Desse modo, uma alimentação saudável, com alimentos naturais, ricos em fibras, vitaminas e minerais com potencial antioxidante e anti-inflamatório, e atenção com os alimentos contendo aminas bioativas e aditivos alimentares, são de fundamental importância para a melhora das crises de enxaqueca.
FREITAS et al., 2022Uso terapêutico da toxina botulínica para o tratamento da enxaqueca crônicaDentro dos estudos clínicos avaliados demonstraram a eficácia da toxina botulínica tipo A, no tratamento da enxaqueca crônica e relataram à segurança do medicamento, considerando poucos efeitos adversos nos indivíduos.
SOARES et al., 2022Tratamento cirúrgico da enxaqueca: indicações, detecção de pontos gatilho e técnica.O procedimento consiste em descomprimir os nervos associados a sensibilidade.
‌AGUILAR-SHEA et al., 2021Migraine review for general practice.Anamnese e exame físico cuidadosos são a chave para o diagnóstico. Geralmente o teste não é necessário. O tratamento é baseado em interações não farmacológicas e farmacológicas. As intervenções farmacológicas visam prevenir e tratar dor de cabeça.
CAMINHA et al. 2021Eficácia e tolerabilidade da dieta cetogênica e suas variações para prevenção da migrânea em adolescentes e adultos.Eficácia e tolerabilidade da dieta cetogênica e suas variações para prevenção da migrânea em adolescentes e adultos.
MORAES et al., 2021  A influência da alimentação na prevenção tratamento da enxaqueca: Uma revisão integrativa.O consumo de alguns alimentos, como aspartame, nitrito, glutamato monossódico, chocolate, vinho tinto e alimentos ricos em lipídios, pode funcionar como gatilhos para as crises de enxaqueca.
OKUMURA et al., 2020Prevalência e fatores associados de cefaleia entre adolescentes: resultados de um estudo de base populacional.Entender a cefaleia como problema de saúde pública nos obriga a pensar em formas de compreender as origens, os fatores associados e as estratégias de enfrentamento, que podem influenciar novas maneiras de priorizar e organizar a atenção à saúde.
ANDRADE et al., 2020Excesso de peso e intensidade, impacto e duração da dor em pacientes com enxaqueca.  Identificou-se predominância de enxaqueca em mulheres, adultas, sedentárias e com excesso de peso (IMC e CC elevados).
VIEIRA DA SILVA et al., 2020Uso de cafeína em pacientes com cefaleia: uma revisão sistemáticaEm pacientes com dores de cabeça, a monoterapia com cafeína pode ser útil em algumas formas de cefaleia primária ou secundária. Seu papel principal é como um adjuvante em combinações fixas com medicamentos analgésicos para o tratamento agudo de HTT e enxaqueca.
APOLINÁRIO DA SILVA et al., 2020Relação entre os hábitos alimentares e fatores desencadeantes das crises de enxaquecaUma alimentação saudável visando o equilíbrio do estado nutricional relacionada à restrição de alimentos desencadeantes como a cafeína, chocolate e bebidas alcoólicas em conjunto de hábitos de vida saudáveis são fatores importantes para o não aparecimento de crises de enxaqueca, devendo, portanto, serem orientados e incentivados.
DISCUSSÃO

A enxaqueca é uma condição neurológica complexa e incapacitante, marcada por episódios frequentes de dor severa, frequentemente acompanhada de sintomas como náuseas, fotofobia e fobia ao som. Historicamente, o tratamento dessa condição tem se concentrado em medidas farmacológicas, como analgésicos e triptanos. Contudo, cada vez mais se valorizam estratégias integrativas que englobam mudanças no modo de vida, hábitos alimentares e práticas adicionais, como atividades físicas e terapias alternativas. A literatura contemporânea indica que essas estratégias podem não só complementar, mas também intensificar os tratamentos tradicionais, proporcionando um método mais integral e eficiente para gerir e prevenir as crises de enxaqueca.

A importância da nutrição no controle das crises de enxaqueca tem sido amplamente debatida em várias revisões de literatura. Pesquisas como a realizada por Magalhães et al. (2024) ressaltam que medidas que ultrapassam o uso de medicamentos, como a adoção de uma dieta balanceada, podem exercer um efeito considerável no controle da enxaqueca crônica. A identificação de alimentos específicos que provocam crises é uma tática crucial para diminuir a frequência dessas dores de cabeça. Moraes et al. (2021) reforçam essa ideia, apontando alimentos como glutamato monossódico, aspartame, nitritos, vinho tinto, chocolate e alimentos com alto teor de lipídios como os principais desencadeadores alimentares. Ademais, Silva et al. (2022) destacam a relevância de nutrientes que possuem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, tais como fibras, vitaminas e minerais, na prevenção de crises. Esses nutrientes podem contribuir para amenizar a reação inflamatória e diminuir a severidade das crises de enxaquecaRebouças Júnior et al. (2024) propõem que dietas ricas em proteínas adequadas, baixo índice glicêmico e gorduras saudáveis (tais como as presentes em peixes e nozes) podem proporcionar vantagens consideráveis, atuando como um escudo contra a manifestação da enxaqueca. A seleção equilibrada de alimentos parece ser um elemento crucial na prevenção de crises, especialmente levando em conta os impactos negativos de alimentos ricos em açúcar e gordura. A pesquisa de Apolinário da Silva et al. (2020) corrobora o conceito de que, para prevenir crises de enxaqueca, é necessário limitar o consumo de alimentos como café, chocolate e bebidas alcoólicas. Esse equilíbrio na alimentação deve estar ligado à adoção de estilos de vida saudáveis, que incluem manter um peso corporal adequado e praticar exercícios físicos. regulares, que também têm um impacto positivo sobre a condição.

Além da dieta, o modo de vida, particularmente os costumes ligados à atividade física, tem um papel fundamental no controle da enxaqueca. Coelho et al. (2023) fornecem provas de que a prática regular de exercícios aeróbicos pode ser extremamente eficiente na diminuição da frequência e severidade das crises. A realização de exercícios físicos não só reduz os sintomas durante uma crise, como também pode evitar o surgimento de novas crises a longo prazo. A prática de exercícios físicos estimula a produção de endorfinas, que são analgésicos naturais do organismo, além de auxiliar na redução do estresse, um dos principais desencadeantes da enxaqueca. Além da nutrição e atividade física, as terapias complementares têm se destacado no tratamento da enxaqueca. Por exemplo, a acupuntura é um desses tratamentos, que possui provas de sua eficácia na diminuição da frequência das crises, além de atenuar a intensidade da dor e aprimorar a qualidade de vida dos pacientes. Rebouças Júnior et al. (2024) sustentam que o uso profilático da acupuntura provou ser eficaz, particularmente a curto prazo. Esta técnica pode ser uma opção válida ou adicional aos tratamentos farmacológicos convencionais, oferecendo alívio sem os efeitos colaterais comumente ligados ao uso de medicamentos. Ademais, métodos como a aplicação de toxina botulínica, conforme exemplificado por Freitas et al. (2022), têm demonstrado eficácia no tratamento da enxaqueca persistente. Apesar deste tratamento ser predominantemente medicamentoso, ele se enquadra no conceito de terapias não invasivas e pode ser eficiente em pacientes com enxaqueca resistente a outros tratamentos.

Elementos psicossociais, tais como o estresse persistente, também têm um papel relevante na manifestação da enxaqueca. Figueiredo et al. (2023) destacam que a diminuição do estresse, por meio de ações como a meditação ou a aplicação de técnicas de relaxamento, pode ser crucial na prevenção de crises. Em uma pesquisa acerca da incidência de cefaleias em adolescentes, Okumura et al. (2020) debatem como o estresse e a ansiedade podem intensificar as crises, propondo que táticas de enfrentamento psicológico também devem ser integradas ao controle da enxaqueca.

O manejo da enxaqueca não deve se restringir apenas ao uso de medicamentos, sendo imprescindível adotar uma estratégia multidisciplinar que inclua não só a gestão de medicamentos, mas também mudanças no modo de vida e na dieta. A implementação de uma alimentação balanceada, que prioriza a diminuição de alimentos desencadeantes e o incremento de nutrientes antioxidantes e anti-inflamatórios, tem demonstrado vantagens notáveis, como destacado por Magalhães et al. (2024), Silva et al. (2022) e Ribeiro et al. (2023). Ademais, a realização constante de atividades físicas e a incorporação de terapias adicionais, tais como acupuntura e toxina botulínica, também devem ser levadas em conta como táticas eficientes para a gestão de crises.

Por fim, a gestão da enxaqueca deve ser personalizada, considerando as características individuais de cada paciente, tais como seus costumes alimentares, modo de vida e a existência de elementos psicológicos. Uma estratégia unificada e personalizada, unindo intervenções farmacológicas a estratégias não farmacológicas, pode aprimorar consideravelmente a qualidade de vida dos pacientes com enxaqueca, favorecendo uma prevenção e controle mais eficazes das crises.

CONCLUSÃO

O presente artigo de revisão buscou compilar e analisar a influência entre os padrões alimentares e as atividades físicas nos impactos e na redução da intensidade da enxaqueca, além dos tratamentos farmacológicos e não farmacológicos. Apesar dos diferentes achados entre os trabalhos, muitos enfatizam que a alimentação saudável, com alimentos naturais ricos em fibras, vitaminas e minerais com potencial antioxidante e anti-inflamatório são fundamentais para a melhora das crises de enxaqueca. Em contrapartida, o consumo de alguns alimentos, a exemplo do chocolate, vinho tinto, e alimentos ricos em lipídios pode se constituir como fator que atua como gatilhos para as crises.

De maneira complementar, é fundamental observar que as atividades físicas, essencialmente os exercícios aeróbicos, podem, a curto e a longo prazo, ser recomendados em pacientes na abordagem da profilaxia da cefaleia. Ademais, é demonstrado nesta revisão literária a relação da diminuição do ácido lático, por meio de medicamentos que modifiquem sua produção ou seus efeitos, uma vez que durante as crises, essa substância é essencialmente encontrada no cérebro e pode contribuir para sensação de dor, visto que ela afeta os vasos sanguíneos

A discussão acerca da enxaqueca também ganha relevância quando citamos a sua profilaxia. O artigo de revisão traz a abordagem terapêutica farmacológica, por meio da descompressão dos nervos associados à sensibilidade, os nervos trigêmeos, que são nervos relacionado ao rosto e ao pescoço e aos nervos occipitais. A descompressão reduz os episódios de dor. Somado a isso e em contrapartida aos métodos cirúrgicos que precisam de avaliações clínicas mais precisas e cuidadosas envolvendo pessoas, o artigo também abrange medidas terapêuticas não farmacológicas, em que vale destacar a acupuntura, a qual executa um papel analgésico eficaz, sobretudo a curto prazo, ao regular a atividade do sistema nervoso, equilibrando os sistemas simpáticos e parassimpáticos, além da liberação de substâncias endógenas como endorfinas e serotonina, afetando a percepção da dor e a resposta da dor a estímulos.

Por fim, a compreensão desses diversos elementos é essencial para orientar estratégias eficazes que promovam uma melhora na qualidade de vida, haja vista tamanha ocorrência dos episódios de cefaleia. Nesse sentido, esse estudo foi realizado com o objetivo de oferecer uma visão abrangente das opções terapêuticas disponíveis, a fim de reduzir a frequência e intensidade das crises.

REFERÊNCIAS

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