As perguntas fazem parte de nossa atividade profissional, e eu como editor da Fisio&terapia recebo uma pergunta freqüente nos eventos e encontros:
– Quando sua revista será indexada? Qual é a qualis dela? A primeira vez que me fizeram esta pergunta, a minha reação foi de perplexidade. Respondi de maneira educada e sincera ao meu inquiridor: desconhecia o “qualis”. Admito, no entanto, que este tipo de pergunta me causa certa irritabilidade. Mas como ficar insensível diante dos modismos, mecanismos de controle e das manias classificatórias criadas pela “comunidade acadêmica”, as quais se fundamentam em critérios quantitativos pretensamente objetivos? Como não se irritar quando percebemos que determinados indivíduos se preocupam mais com os meios do que com os fins?
Como editor, devo admitir que é de fundamental importância o conceito que tenham sobre a revista – e não meço esforços para que seja sempre o melhor. Mas de um ponto de vista estritamente pessoal, penso que o verdadeiro “qualis”, que atesta ou não a qualidade de uma revista e mesmo a sua existência, é dado por seu corpo editorial, os autores colaboradores, as empresas que acreditam e investem em anúncios e especialmente, seus leitores (afinal é para estes que a revista existe). Longe de mim desmerecer o abnegado trabalho dos doutores que compõem a “autoridade científica” que define e aplica os critérios classificatórios; afirmo apenas o óbvio: o que dá vida a um periódico é o grupo que o compõe e os resultados que alcança ao angariar o apoio, a colaboração e o respeito dos seus anunciantes e leitores.
A Revista Fisio&terapia completará no próximo dia 1º de novembro seu décimo ano de existência, foram até agora 52 edições editadas e neste período, publicou artigos de cerca de 300 autores, das diferentes regiões do país e do exterior. A Revista Fisio&terapia, por exemplo, é fonte de pesquisa para acadêmicos e profissionais em todos os níveis. Também contribui com o processo de ensino-aprendizagem, na medida em que docentes e discentes reproduzem seus textos e os utilizam em atividades acadêmicas. A Revista Fisio&terapia colabora ainda para a divulgação de autores e artigos além de apresentar resultados relevantes através de nossas entrevistas com personalidades. A Revista Fisio&terapia dissemina idéias sem as amarras dos “ismos”, ela é democrática tanto no que diz respeito aos temas quanto às referências. Neste sentido, ela contribui para uma cultura de maior tolerância e na medida em que recusa o “academicismo”, representa uma referência para os muitos colegas que não se vinculam ao “campo acadêmico”.
São números que apenas expressam um lado do que poderia ser uma avaliação. Há outro lado, talvez mais importante que a quantificação, para uma possível identificação da qualidade da publicação.
Mas como mensurar tudo isto? Será possível traduzir isso em números ou conceitos que expressem sua qualidade? A “comunidade acadêmica” objetiva traduzir em conceitos o que seria a “qualidade”, o “qualis”, de cada revista.
O interessante em tudo isto é a “servidão voluntária” que nos atinge como uma doença inoculada por determinações e procedimentos das instâncias “superiores”. Por que, em geral, aceitamos os ditames das “autoridades científicas” e administrativas-burocráticas e, quase sempre, nos adaptamos e as aplaudimos sem questionar? Por que precisamos de um corpo especialmente instituído para nos conceder uma espécie de ISO 9000? Diante da corrida pelo Lattes que nos foi imposta por esta mesma “comunidade acadêmica”, muitos preferem se adaptar e aceitar de maneira subserviente. Entre questionar os objetivos e a validade política – e mesmo científica – de tais procedimentos, preferem perguntar se a sua revista tem “qualis”. Se tiver, ótimo! Se não, também não será desconsiderada enquanto possibilidade para publicar, pois, a despeito de tudo, é preciso “fazer o Lattes”!
Diante do peso da “autoridade científica” é quase impossível não se curvar aos procedimentos, critérios e classificações. Ela, a “autoridade”, faz o seu trabalho; façamos o nosso. E o faremos melhor se nossos objetivos extrapolarem os limites da adaptação e do conformismo, sem a “servidão voluntária” que apazigua as nossas consciências e nos torna objetos e meros expectadores alienados em nosso próprio “campo”.
Dr. Oston de Lacerda Mendes
Adaptação do texto de
Antonio O. da Silva