THROMBOCYTOPENIC PURPURA AND HEMATOLOGIC ABNORMALITIES IN CHILDHOOD: CAUSES AND TREATMENTS
REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th1024101716151
CAROLINE GEARA DE ANDRADE PEREIRA1
GUINNEVER BRAGA DE SÁ MACHADO DE SOUZA2
LÍVIA FERNANDES SARDINHA3
NATASSIA DE MELO GOMES BRITO4
ANA CRISTINA SOARES HERNANI VALVERDE NEGREIROS5
RESUMO
Modelo do estudo: Revisão integrativa da literatura. Objetivo: abordar a púrpura trombocitopênica e alterações hematológicas na infância: causas e tratamentos. Metodologia: Os artigos foram pesquisados nas bases de Scientific Electronic Library Online. (Scielo), US National Library of Medicine (PubMed), e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde. (Lilacs) Resultados: Foram selecionados 16 artigos na apuração final da pesquisa. Os estudos analisados discorreram sobre esse tema apontando variáveis como aspectos clínicos e diagnósticos, causas e tratamento da PTI em crianças. Conclusão: A maioria das crianças com PTI tende a se recuperar espontaneamente, destacando a importância de abordagens conservadoras e personalizadas no tratamento da doença. A esplenectomia pode ser considerada para casos refratários, mas geralmente é reservada para situações em que outras terapias falharam. A compreensão contínua das causas e das opções de tratamento da PTI é importante para melhorar o manejo clínico e a qualidade de vida dos pacientes. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para prevenir complicações graves e proporcionar um cuidado mais eficaz para aqueles afetados por essa condição hematológica.
Palavras-chave: Púrpura trombocitopênica, alterações hematológicas, child health.
ABSTRACT
Study Model: Integrative literature review. Objective: To address idiopathic thrombocytopenic purpura and hematological changes in childhood: causes and treatments. Methodology: Articles were searched in the databases of Scientific Electronic Library Online (Scielo), US National Library of Medicine (PubMed), and Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (Lilacs). Results: A total of 16 articles were selected in the final review of the research. The analyzed studies discussed this topic, highlighting variables such as clinical and diagnostic aspects, causes, and treatment of ITP in children. Conclusion: Most children with ITP tend to recover spontaneously, emphasizing the importance of conservative and personalized approaches to the disease treatment. Splenectomy may be considered for refractory cases but is generally reserved for situations where other therapies have failed.
Continuous understanding of the causes and treatment options for ITP is crucial for improving clinical management and patient quality of life. Early diagnosis and appropriate treatment are essential for preventing severe complications and providing more effective care for those affected by this hematological condition.
Keywords: Idiopathic thrombocytopenic purpura, hematological changes, child health.
1 INTRODUÇÃO
A púrpura trombocitopênica idiopática (PTI), também conhecida como púrpura trombocitopênica imunológica, trombocitopenia autoimune ou isoimune, é uma condição adquirida caracterizada pela presença de autoanticorpos que atacam antígenos plaquetários.
A PTI é uma patologia comum da infância, usualmente desencadeada por quadros infecciosos virais. A reação viral tipo antígeno-anticorpo pode ser demonstrada em forma aguda da doença, principalmente em crianças após infecção aguda viral, constituindo uma reação cruzada contra os antígenos plaquetários(GRACE, 2020).
Essa doença é frequentemente benigna e, na maioria dos casos, apresenta-se como uma das causas mais comuns de trombocitopenia (baixa contagem de plaquetas) em adultos assintomáticos (RUSSO (2024). A PTI pode ser classificada conforme a faixa etária afetada, distinguindo-se em formas infantis ou adultas, e quanto ao tempo de evolução, sendo aguda ou crônica (LIU, 2023).
A ausência de um teste diagnóstico específico e a ampla gama de possíveis causas para trombocitopenia tornam a PTI um diagnóstico de exclusão, caracterizado por trombocitopenia sem uma condição clinicamente identificável. De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), a PTI é codificada como D69.3.
A PTI pode ser dividida em primária e secundária. A forma primária é diagnosticada na ausência de outras condições que possam estar associadas à trombocitopenia(WANG, 2020). Em contraste, a PTI secundária é associada a causas subjacentes, como indução por drogas ou condições sistêmicas, incluindo lúpus eritematoso sistêmico, infecção por HIV, vírus Epstein-Barr, hepatite C, e deficiências imunológicas, como imunodeficiência comum variável e síndrome linfoproliferativa autoimune(ALVES, 2021).
A PTI infantil se caracteriza como uma doença benigna e autolimitada que afeta tanto crianças do sexo feminino quanto do sexo masculino e possui uma estimativa de incidência de aproximadamente 1,9 a 6,4 casos para cada 100.000 por ano (QUEIROZ, 2022).
O tratamento da PTI em crianças envolve a consideração de diversas opções terapêuticas. Em que pese o fato de a maioria das crianças com PTI se recupere espontaneamente, algumas podem necessitar de intervenção medicamentosa para controlar a doença e prevenir complicações (ALVES, 2021; PROVAN, 2019; CAO 2023).
O estudo visa responder a seguinte pergunta: Quais são as causas e tratamentos da púrpura trombocitopênica e suas alterações hematológicas na infância.
1.1 Causas de púrpura trombocitopênica na infância
Nas crianças, a causa da trombocitopenia pode ser fatores hereditários e pósnatais. Basicamente, o número de plaquetas diminui devido à formação insuficiente das mesmas na medula óssea a partir dos megacariócitos, as células progenitoras, ou à destruição direta na corrente sanguínea, ou por ambas as razões (LEJEUNE, 2023).
As causas de produção insuficiente de plaquetas incluem a alteração das células parentais (megacariócitos) na medula óssea em combinação com uma alteração geral do ciclo da hematopoiese e anomalias subsequentes no desenvolvimento de órgãos e sistemas; tumores do sistema nervoso (neuroblastoma); doenças cromossômicas (síndrome de Down, Edwards, Patau, Wiskott-Aldrich); uso de medicamentos diuréticos, antidiabéticos, hormonais e nitrofuranos durante a gravidez; eclâmpsia e pré-eclâmpsia severa; e nascimento prematuro do feto(RUSSO, 2024).
Queiroz et al (2022) afirmam que as crianças podem desenvolver PTI aguda depois de doenças virais específicas tais como varicela ou HIV, ou como evento adverso pós vacinal, especialmente após a administração de vacinas virais como a Tríplice Viral (Sarampo, Rubéola e Caxumba), contudo, esses casos representam uma minoria, e também caracteriza a PTI aguda como sendo um início abrupto de diátese hemorrágica em uma criança saudável. Estudos recentes trazem que alguns pacientes receberam o diagnóstico de Púrpura Trombocitopênica Imune secundária à infecção pelo novo Coronavírus SARS-CoV2.
A próxima causa de trombocitopenia é a destruição das plaquetas. Isto pode ser causado por patologias imunológicas, alteração na estrutura da parede dos vasos (síndrome antifosfolipídica), alteração na estrutura das plaquetas, insuficiência de fatores de coagulação (hemofilia B) e síndrome de coagulação intravascular disseminada (CIVD).
As causas imunológicas podem ser diretas, como o desenvolvimento de anticorpos contra as próprias plaquetas como resultado da incompatibilidade entre a mãe e a criança em relação ao grupo sanguíneo e à contagem de plaquetas, onde existem plaquetas no sangue da mãe que a criança não possui, provocando a rejeição de um agente “estranho” e a destruição das plaquetas do feto, levando ao desenvolvimento de trombocitopenia (CAO, 2023).
As causas imunológicas também podem ser cruzadas, como em doenças maternas associadas à destruição autoimune das plaquetas, onde os anticorpos que atravessam a placenta no feto causam a mesma destruição dessas células sanguíneas. Ainda podem ser dependentes de antígenos, onde antígenos de vírus que interagem com receptores de superfície das plaquetas alteram sua estrutura e causam a autodestruição. Por fim, podem ser autoimunes, como o desenvolvimento de anticorpos contra receptores superficiais normais (LEJEUNE, 2023).
1.2 Aspectos diagnósticos
Quanto ao diagnóstico da PTI, este é realizado por exclusão e se analisam as condições clinicas, tais como: sangramentos isolados e manifestações sistêmicas, e no exame físico avalia-se o aumento do tamanho do fígado e do baço, para o tratamento da doença em crianças a mesma deve possuir a enfermidade por um tempo superior a 12 meses , sendo recomendável a esplenectomia (Santana et al.,2013).
Além disso, é necessário realizar uma avaliação completa que inclui a análise do histórico clínico, exame físico, hemograma completo e esfregaço de sangue periférico. O diagnóstico é confirmado quando as seguintes condições são atendidas:
- Trombocitopenia isolada, com menos de 100.000 plaquetas/mm³, sem alterações nas outras séries do hemograma ou no esfregaço de sangue periférico;
- Ausência de outras condições clínicas que possam causar trombocitopenia, como infecções, doenças autoimunes, neoplasias, efeitos adversos de medicamentos, entre outras.
Quadro 1 – Fases da púrpura trombocitopênica
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde, 2020
1.3 Tratamentos
O tratamento da PTI em crianças é um tema complexo que envolve a consideração de diversas opções terapêuticas. Embora a maioria das crianças com PTI se recupere espontaneamente, algumas podem necessitar de intervenção medicamentosa para controlar a doença e prevenir complicações (HARRIS, 2021).
- Corticosteroides: A prednisona, a metilprednisolona e a dexametasona são frequentemente utilizados como tratamento de primeira linha para a PTI. Esses medicamentos agem suprimindo o sistema imunológico e reduzindo a produção de anticorpos que atacam as plaquetas. A eficácia dos corticosteroides é bem estabelecida para o aumento temporário das plaquetas e controle dos sintomas hemorrágicos (SAHI, 2020).
No entanto, o uso prolongado de corticosteroides é limitado por seus efeitos colaterais potenciais, que podem incluir ganho de peso, hipertensão, diabetes, e efeitos adversos sobre o crescimento e o desenvolvimento. De acordo com o consenso internacional atualizado6, os corticosteroides devem ser usados para alcançar uma contagem hemostática de plaquetas e por um período de tempo o mais breve possível, devido aos seus efeitos colaterais significativos (PROVAN, 2019).
- Imunoglobulina Intravenosa (IGIV): é outra opção para aumentar rapidamente a contagem de plaquetas, especialmente em situações de sangramento grave ou em situações onde uma resposta rápida é necessária. A IGIV é eficaz na elevação temporária das plaquetas, mas não altera o curso subjacente da doença. Este tratamento é frequentemente usado em situações de emergência e é geralmente reservado para casos em que outros tratamentos não foram eficazes (HARRIS, 2021).
- Gammaglobulina Anti-Rho (IG anti-D): é indicada para pacientes com PTI que têm Rh positivo e é usada para elevar a contagem de plaquetas em situações específicas, como quando há evidência de que a doença é mediada por anticorpos. Este tratamento também é eficaz na elevação rápida das plaquetas, mas não é uma solução a longo prazo para o manejo da PTI (SAHI, 2020)
A eficácia da IG anti-D no tratamento da PTI está bem documentada, especialmente em situações de urgência, como em episódios de sangramento grave. A administração deste medicamento pode levar a uma elevação rápida e significativa na contagem de plaquetas, proporcionando um alívio temporário dos sintomas hemorrágicos e reduzindo o risco imediato de complicações associadas à trombocitopenia severa (SAHI, 2020).
- Rituximabe: é um agente imunossupressor que tem mostrado eficácia em casos de PTI persistente ou crônica que não respondem aos tratamentos convencionais. Ele atua direcionando células B produtoras de anticorpos, reduzindo a produção de anticorpos anti-plaquetas. Estudos mostraram que a taxa de resposta ao rituximabe é significativa, com uma mediana de duração da resposta de cerca de 12,8 meses. No entanto, a utilização do rituximabe pode ser limitada por efeitos adversos e pela necessidade de acompanhamento contínuo. (HARRIS, 2021; ROSU, 2023)
- Agentes Imunossupressores: Além do rituximabe, outros agentes imunossupressores, como a ciclosporina e a azatioprina, podem ser utilizados em casos de PTI refratária. Esses medicamentos são considerados quando os corticosteroides e outros tratamentos não foram eficazes. Eles ajudam a suprimir a resposta imunológica que está causando a destruição das plaquetas (HARRIS, 2021; ROSU, 2023).
- Dexametasona e Dapsona: Para pacientes que não respondem ao rituximabe ou onde há problemas de disponibilidade, alternativas como a dexametasona em alta dose e a dapsona têm sido utilizadas. A dexametasona é eficaz, mas seu uso prolongado é limitado pelos efeitos colaterais. A dapsona, por sua vez, é um medicamento de baixo custo com resposta moderada, mas também possui efeitos colaterais como hemólise e meta-hemoglobinemia, especialmente em indivíduos com deficiência de G6PD(WANG, 2020).
- Esplenectomia: Embora não seja estritamente um tratamento medicamentoso, a esplenectomia é uma opção para casos crônicos e refratários, pois o baço é um local principal de destruição das plaquetas. A decisão de realizar uma esplenectomia é geralmente reservada para pacientes que não responderam a outras terapias e pode levar a uma melhora significativa na contagem de plaquetas (BRASIL, 2020; ROSU, 2023.
O tratamento medicamentoso da PTI em crianças deve ser adaptado às necessidades individuais de cada paciente e ao curso da doença SANTANA, 2023). Embora a maioria das crianças com PTI possa se recuperar espontaneamente, opções terapêuticas são importantes para casos persistentes ou graves. (QUEIROZ, 2022) O manejo deve considerar os riscos e benefícios de cada tratamento, bem como o impacto potencial sobre a qualidade de vida e o crescimento da criança. A pesquisa contínua e a personalização do tratamento são essenciais para melhorar os resultados e garantir um manejo eficaz e seguro da PTI pediátrica (TERREL, 2020).
Figura 1 – Tratamento da PTI
Fonte: adaptado de Santana12
MATERIAIS E MÉTODOS
O artigo em questão trata-se de uma revisão integrativa da literatura que tem como objetivo responder à pergunta de pesquisa anteriormente citada.
A revisão integrativa da literatura é um tipo de revisão bibliográfica que tem como objetivo sintetizar as evidências disponíveis sobre um determinado assunto a partir de uma busca e avaliação crítica de fontes secundárias. É uma ferramenta importante para promover uma melhor compreensão do tema e identificar lacunas para o desenvolvimento de novas pesquisas e intervenções. Trata-se de uma base fundamental para qualquer estudo, permitindo uma visão objetiva do estado atual do conhecimento sobre o objeto de interesse.
A coleta de dados ocorreu entre julho e agosto de 2024, e as bases de dados pesquisadas foram Scientific Electronic Library Online. (Scielo), US National Library of Medicine (PubMed), e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde.
(Lilacs).
O estudo teve como foco pesquisas recentes que abordavam as causas e tratamentos da púrpura trombocitopênica e suas alterações hematológicas na infância. Para selecionar os artigos, foram estabelecidos critérios de inclusão, como a abordagem central do tema, seu impacto na saúde na infância, a publicação em inglês ou português no período de 2014 a 2024 e a disponibilidade gratuita do artigo completo.
Os critérios de inclusão adotados foram artigos de pesquisa originais que respondessem ao objetivo proposto e fossem publicados durante o intervalo de 2014 a 2024. Para os critérios de exclusão, foram excluídos artigos não relacionados à púrpura trombocitopênica e suas alterações hematológicas na infância fora das palavras-chave estabelecidas, pagos ou escritos em outros idiomas que não o português ou inglês.
Utilizaram-se descritores identificados nos Descritores em Ciência da Saúde (DECs) e seus equivalentes no Medical Subject Headings (MESH). A estratégia de busca foi realizada mediante o cruzamento dos descritores por meio do operador booleano AND e OR: (“Púrpura trombocitopênica”” OR “alterações hematológicas”) AND (“child Health”).
RESULTADOS
O estudo teve como foco pesquisas recentes que abordavam a Púrpura trombocitopênica imune suas causas e tratamentos. Para selecionar os artigos, foram estabelecidos critérios de inclusão, como a abordagem central do tema, a publicação em inglês ou português no período de 2014 a 2024 e a disponibilidade gratuita do artigo completo.
Após seleção dos artigos nas bases de dados, seguiu-se a recomendação do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) conforme apresenta a Figura 2.
ANÁLISE DO QUADRO COM ESTUDOS DA LITERATURA MÉDICA
O manejo da púrpura trombocitopênica idiopática (PTI) em crianças tem sido um tema de debate contínuo e evolução na literatura médica. A revisão realizada por Queiroz et al(2022) caracteriza a PTI infantil como geralmente benigna e autolimitada, com uma taxa de resolução espontânea de 80% a 85% dentro dos primeiros seis meses. A persistência da doença em 15% a 20% dos casos pode levar à forma crônica, que se assemelha à PTI em adultos (QUEIROZ, 2022). Esses dados destacam que, enquanto a maioria das crianças se recupera sem intervenção, é importante monitorar os casos para possíveis evoluções crônicas.
N visão de Cardoso (2020) a púrpura trombocitopênica imunológica aguda tem maior incidência na infância, de curso limitado e pouco recorrente, quase sempre precedida de infecção viral. O quadro clínico da PTI na maior parte dos casos consiste em sangramento cutâneo e também mucoso, com petéquias e equimoses, sangramento no trato urinário e gastrointestinal, além de trombocitopenia ao hemograma. O tratamento com corticoide deve ser instituído após a realização de mielograma, além de evitar a possibilidade de leucemia linfoide aguda. Este relato de caso é de suma importância para a propedêutica dos casos de PTI na infância, frente ao cenário pandêmico de COVID-19.
No tratamento da PTI, as opções de primeira linha incluem corticosteroides, imunoglobulina intravenosa (IGIV) e gammaglobulina anti-Rho (IG anti-D), como descrito por Russo et al(2024). Os corticosteroides são amplamente utilizados devido à sua eficácia em reduzir a trombocitopenia, mas seu uso prolongado é limitado por efeitos colaterais graves, conforme discutido por Provan et al (2019). Belendez et al (2018) acrescenta que, embora os tratamentos possam acelerar a recuperação da contagem de plaquetas, não há evidências conclusivas de que eles previnam a evolução para formas crônicas ou reduzam o risco de complicações vitais.
A resposta ao rituximabe também é uma área de interesse. Harris et al(2021) relataram que a taxa de resposta completa ao rituximabe foi semelhante entre crianças e adultos e observaram uma maior prevalência da Síndrome de Evans em crianças. No entanto, a variação na avaliação imunológica pré-tratamento sugere práticas institucionais variáveis ou uma compreensão incompleta das causas subjacentes.
A introdução de biomarcadores para prever a eficácia dos glicocorticoides, como os descritos por Cao et al (2023), representa um avanço significativo. Proteínas como MYH9 e FETUB foram identificadas como potenciais indicadores para personalizar a terapia, embora ainda necessitem de validação adicional. Esses biomarcadores oferecem uma nova abordagem para a terapia de precisão e podem ajudar a evitar atrasos no tratamento (WORKING, 2022).
Por fim, o estudo de Rosu et al (2023) identificou que a idade ao diagnóstico acima de 9 anos e o sexo feminino são fatores de risco para a cronicidade da PTI. Crianças com contagem de plaquetas acima de 10 × 10^9/L no início têm maior probabilidade de desenvolver formas persistentes da doença. Esses achados ressaltam a importância de uma abordagem individualizada e de um monitoramento cuidadoso para identificar e tratar casos que possam evoluir para formas crônicas.
Assim, a gestão da PTI em crianças deve ser adaptada às necessidades específicas de cada paciente, utilizando terapias baseadas em evidências e novas descobertas biomoleculares para melhorar a precisão do tratamento. As diretrizes e recomendações em constante atualização são essenciais para orientar o manejo, mas a pesquisa contínua é fundamental para aprimorar os resultados e minimizar os riscos associados à PTI.
DISCUSSÃO
Os estudos revisados oferecem uma perspectiva abrangente sobre a PTI infantil. Concorda-se amplamente que a maioria dos casos pediátricos de PTI são autolimitados e resolvem-se espontaneamente dentro de seis meses sem a necessidade de tratamento intensivo, conforme relatado por Queiroz et al. (2022) e Cardoso et al. (2020). Esses estudos ressaltam a benignidade da PTI infantil e a prevalência da recuperação espontânea, com apenas uma minoria dos casos evoluindo para a forma crônica.
No entanto, divergências surgem quanto à abordagem terapêutica. Enquanto Queiroz et al. (2022) destacam que a maioria das crianças não requer tratamento medicamentoso, Russo et al. (2024) enfatizam a importância de uma classificação precisa dos sintomas e de uma avaliação cuidadosa do risco antes de decidir sobre o tratamento, sugerindo que, em alguns casos, intervenções como a esplenectomia emergencial podem ser necessárias. Essa recomendação, embora de grande valor clínico, pode contrastar com a abordagem mais conservadora sugerida por outros autores que veem a observação como uma primeira linha de manejo.
Provan et al. (2019) também contribuem para essa discussão, sugerindo que os corticosteroides, apesar de serem uma terapia inicial eficaz, devem ser usados com cautela em crianças devido aos seus potenciais efeitos colaterais graves, o que ecoa as preocupações de Cardoso et al. (2020) sobre os riscos associados ao uso prolongado de corticosteroides.
Em termos de avanços na compreensão da PTI, os estudos de Cao et al. (2023) e Lejeune et al. (2023) trazem contribuições inovadoras. Cao et al. (2023) exploram a proteômica plasmática para prever a eficácia dos glicocorticoides em crianças com PTI, destacando proteínas como MYH9 e FETUB como potenciais biomarcadores. Essa abordagem promete uma medicina mais personalizada, o que poderia melhorar o manejo da PTI resistente ao tratamento. Lejeune et al. (2023), por outro lado, focam na cinética plaquetária como um método para prever o curso clínico da PTI, oferecendo um modelo farmacocinético-farmacodinâmico que pode auxiliar na distinção entre PTI aguda e prolongada.
A resposta ao tratamento com rituximabe, abordada por Harris et al. (2021), revela uma convergência nas taxas de resposta entre crianças e adultos, mas também aponta para uma lacuna no reconhecimento de imunodeficiências subjacentes em adultos, o que pode indicar uma necessidade de padronização nas práticas clínicas.
Embora exista um consenso quanto à natureza autolimitada da PTI na maioria dos casos pediátricos, divergências surgem na abordagem terapêutica, com alguns autores defendendo uma observação cuidadosa e outros recomendando intervenções mais agressivas em casos específicos. As contribuições inovadoras de Cao et al. (2023) e Lejeune et al. (2023) indicam um movimento em direção a uma medicina mais personalizada, que pode melhorar significativamente o manejo da PTI resistente a tratamentos convencionais.
CONCLUSÃO
Viu-se neste estudo que a PTI é uma condição hematológica complexa caracterizada pela presença de autoanticorpos que atacam as plaquetas, resultando em trombocitopenia adquirida. A PTI frequentemente se manifesta após infecções virais, especialmente em crianças, e pode se apresentar de forma aguda ou crônica. Apesar de ser comum em crianças e, geralmente, benigna em adultos, a doença exige uma abordagem diagnóstica e terapêutica cuidadosa.
O diagnóstico de PTI é um desafio devido à falta de testes específicos, o que torna o diagnóstico um processo de exclusão. As causas da PTI variam, incluindo fatores hereditários, imunológicos e pós-natais, com diferentes mecanismos de destruição ou produção insuficiente de plaquetas.
O tratamento da PTI é multifacetado e deve ser adaptado às necessidades individuais dos pacientes. Corticosteroides são frequentemente utilizados como tratamento inicial, embora seus efeitos colaterais possam limitar seu uso em longo prazo. Alternativas terapêuticas, como imunoglobulina intravenosa e gammaglobulina anti-Rho, são eficazes em situações específicas, enquanto o rituximabe mostra-se promissor para casos persistentes, apesar de suas limitações.
A maioria das crianças com PTI tende a se recuperar espontaneamente, destacando a importância de abordagens conservadoras e personalizadas no tratamento da doença. A esplenectomia pode ser considerada para casos refratários, mas geralmente é reservada para situações em que outras terapias falharam.
A compreensão contínua das causas e das opções de tratamento da PTI é importante para melhorar o manejo clínico e a qualidade de vida dos pacientes. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para prevenir complicações graves e proporcionar um cuidado mais eficaz para aqueles afetados por essa condição hematológica.
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Discente de Medicina – Universidade Iguaçu, UNIG | Nova Iguaçu, Rio de Janeiro;5. Docente de Medicina – Universidade Iguaçu, UNIG | Nova Iguaçu, Rio de Janeiro.