REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10721664
Djanice Nepomuceno Ferrari
RESUMO- O presente artigo tem como finalidade e proposta a Avaliação e Atuação do Psicopedagogo Clínico Além do Consultório, e entender como acontece tal atuação e avaliação. Este trabalho possui como foco e objetivo de estudo a atuação e avaliação do psicopedagogo aliada a práticas externas, ou seja, além do consultório, e os recursos utilizados para tal atuação, assim como o ambiente de avaliação. Ambiente esse que pode ser variável, na clínica, na escola, na praça, e outros lugares os quais os educandos frequentam. Pois com o aumento de crianças e adolescentes com dificuldades em aprendizagem, notou-se que faltam profissionais capacitados e com métodos inovadores para atendê-los. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica com embasamento em alguns autores.
PALAVRAS-CHAVE: Psicopedagogo. Intervenção. Atendimento.
1 INTRODUÇÃO
O psicopedagogo clínico é o profissional que atua no aspecto clínico, ou seja, com atendimentos dentro de uma determinada sala ou consultório. No qual o seu trabalho consiste em avaliação, intervenção, seguido de prevenção. Tornando-se uma ponte entre a aprendizagem e a criança, ou adolescente. Que aqui nesse artigo iremos chamar de educando. Nos últimos tempos a psicopedagogia clínica tem sido muito difundida, nas escolas, famílias, e até mesmo em empresas. Cada vez mais a procura por esse profissional aumenta, por isso, o psicopedagogo precisa buscar cada vez mais por aperfeiçoamento profissional, ou seja, métodos novos para o atendimento clínico, mas sem perder o foco e o objetivo de sua prática.
Neste artigo falaremos um pouco sobre o atendimento clínico e suas práticas. Como acontece? Onde acontece? Será que o atendimento clínico precisa ficar somente no consultório? Qual importância de aliar o atendimento no consultório a práticas externas?
O psicopedagogo não precisa ficar somente no consultório. O atendimento ao educando pode se dar de maneira flexível e variável, tal atendimento pode ser feito tanto no ambiente interno, fechado, como, no ambiente aberto, tais como: praças, pátio da escola ou de casa. A avaliação ou observação pode ser realizada em ambos locais, inclusive dentro da sala de aula. Basta que o psicopedagogo esteja disposto a avaliar além de relatórios enviados pelo professor, e pelos pais, onde ele mesmo possa fazer essa avaliação, juntamente com os mesmos.
O tema abordado neste artigo tem como principal objetivo mostrar que a avaliação e intervenção psicopedagógica, pode de fato ir além das paredes do consultório.
O presente artigo justifica-se pelo fato, que a psicopedagogia de maneira geral necessita rever a forma de avaliação e intervenção, aliando práticas externas e internas, é necessário que o psicopedagogo se reinvente sempre dentro da área do conhecimento. A Psicopedagogia vive um momento fundamental, talvez um dos mais importantes que já passou desde seu surgimento no Brasil, e até mesmo no mundo. É uma área voltada e dedicada à aprendizagem, onde, a ação de um profissional habilitado deve ir além do seu consultório. Essa ação precisa ter estratégias que motivem o educando na busca pela aprendizagem, relevantes às suas necessidades e sua realidade.
O presente artigo foi realizado através de estudos em cima de autores e suas obras, também, em artigos já publicados sobre o mesmo tema, podendo-se dizer que o mesmo foi realizado através de revisão e pesquisa bibliográfica.
2 DESENVOLVIMENTO
Este artigo foi elaborado pelo fato de haver uma existente indagação sobre a atuação do Psicopedagogo Clínico, bem como suas formas de avaliação e intervenção.
Conforme o código de ética da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp, em seu capítulo I: dos Princípios no Artigo 1,
A psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de aprendizagem humana; seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio – família, escola e sociedade no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da Psicopedagogia.
O psicopedagogo dá início ao seu atendimento com a avaliação, depois diagnóstico clínico, que dará suporte necessário para identificar as causas dos problemas de aprendizagem do educando. Utilizando de seus instrumentos e métodos de análise: provas operatórias, anamnese e provas projetivas. De acordo com Bossa (2000, p.102), no diagnóstico clínico, em geral, e as outras entrevistas e anamnese, faz se o uso de outras provas, tais como: psicomotoras, de linguagem, pedagógicas, de percepção, projetivas e outras, de acordo com o embasamento e o referencial teórico que o profissional utiliza.
Mas sabemos que o educando na maioria das vezes age de forma diferente com os pais, e com os professores, e também, conforme o ambiente que o mesmo esteja exposto. É comum escutar dos pais a seguinte frase: “mas em casa ele (a) não é assim”. Por esse motivo se faz necessário incluir como instrumento de avaliação, e intervenção, atividades em ambientes externos e com pessoas do convívio diário, respeitando é claro as limitações e as peculiaridades de cada um.
Para Macedo (2005),
Em base no pressuposto que os seres humanos aprendem em diferentes medidas através de suas experiências de vida e da exposição aos estímulos do ambiente, a Aprendizagem Mediada representa uma modalidade de aprendizagem adicional e complementar. Dado o papel central da mediação no desenvolvimento da cognição e da metacognição, assim como dos pré-requisitos afetivos e sociais do pensamento eficiente e da aprendizagem autônoma, quanto mais o indivíduo é capaz de se beneficiar da interação com o meio através da aprendizagem mediada, mais ele será capaz de aprender diretamente das suas experiências de vida e das situações de aprendizagem formal e informal.
A atuação psicopedagógica aliada às práticas externas, precisa ser em comum acordo com o responsável do educando, e com autorização da escola para eventuais visitas, observações e intervenções. É de suma importância que se faça essa avaliação fora do consultório. Pois sabemos que o educando se comporta de maneira diferente de acordo com o ambiente em que está inserido, por exemplo; é impossível fazer uma avaliação de comportamento agressivo ou de interação social, sem observá-lo no grande grupo com seus colegas de sala de aula ou amigos, baseando-se somente em relatórios preenchidos pelos professores, é muito vago e não é preciso. Salvo quando esse relatório é preenchido por um psicopedagogo da escola. De acordo com a fundamentação de Lopes (2008, p. 42),
Macedo fundamenta-se em uma visão construtivista da psicopedagogia e, portanto, estabelece que o conhecimento seja construído gradativamente na medida em que o sujeito interage com o seu meio. E é exatamente a partir desta interação contínua que o sujeito irá se deparar com situações, procedimentos e estratégias com o objetivo de resolvê-las e ultrapassá-las.
A atuação psicopedagógica, precisa ser completa, ou seja, observar tudo o que rodeia o educando, tanto na família quanto na escola, assim como no convívio social em grande e pequeno grupo. Como o sujeito da avaliação se comporta e age, para ai sim fazer um diagnóstico completo desse sujeito. Explorando todas as alternativas e investigando como o educando reage em ambientes distintos com pessoas distintas e pessoas do seu convívio.
O psicopedagogo é como um detetive que busca pistas, procurando solucioná-las, pois algumas podem ser falsas, outras irrelevantes, mas a sua meta fundamental é investigar todo o processo de aprendizagem levando em consideração a totalidade dos fatores nele envolvidos, para valendo-se desta investigação entender a constituição da dificuldade de aprendizagem (RUBINSTEIN, 1987, apud UHLMANN 2018, p. 225).
O educando precisa conhecer o mundo que o rodeia e a si próprio, e para que isso aconteça é necessário envolvê-lo em experiências individuais e coletivas, para que possa gerar resultados e uma mudança de comportamento. São interações entre os aspectos biológicos, afetivos, intelectuais e culturais, que levam ao processo da aprendizagem. Estamos sempre em processo de aprendizagem, pois continuamos a aprender por toda nossa vida.
É de extrema relevância detectarmos, através do diagnóstico, o momento da vida da criança em que se iniciam os problemas de aprendizagem. Do ponto de vista da intervenção, faz muita diferença constatarmos que as dificuldades de aprendizagem se iniciam com o ingresso na escola, pois pode ser um forte indício de que a problemática tinha como causa fatores intraescolares (BOSSA, 2000, apud MORAIS, 2010, p. 8).
De acordo com Lakomy (2016, p. 13) […] “para a aprendizagem ocorrer, é necessário que haja uma interação ou troca de experiências do indivíduo com o seu meio ambiente ou comunidade educativa”. Ou seja, é necessário que o educando interaja com outras crianças e adultos no momento da avaliação, pois só assim o psicopedagogo irá fazer um diagnóstico preciso sobre sua aprendizagem, e sua dificuldade em aprender.
Segundo Bossa (2000, p. 20), “[…] a concepção de aprendizagem é o resultado de uma visão de homem e é em razão desta que acontece a práxis psicopedagógica”.
Essas práxis precisam ir além do consultório, para que o educando possa ter uma avaliação precisa, e uma intervenção de acordo com suas reais necessidades, necessidades essas que estão dentro da escola no convívio com outras crianças e adultos, como necessidade na interação social no seu dia a dia com a família e outras pessoas que fazem parte de sua vida.
3 CONCLUSÃO
Concluiu-se que a Psicopedagogia Clínica tem como objetivo principal identificar as dificuldades de aprendizagem no educando, e que, para isso acontecer, se faz necessário novas práticas psicopedagógicas. O atendimento é individual para facilitar o vínculo entre aluno e psicopedagogo, mas, pode e deve ser em ambientes coletivos e de seu convívio diário, tais como: escola, praças, entre outros. Durante a intervenção são realizadas diversas atividades, com o objetivo de identificar a melhor forma de se aprender, e também, o que está dificultando e atrapalhando para que isso não aconteça.
Fazer a observação, e porque não à intervenção em ambientes externos, é uma prática inovadora e que pode gerar resultados surpreendentes para o educando em relação a sua aprendizagem e seu convívio social. Pois é no ambiente externo e no convívio com outras pessoas que na maioria das vezes se observa os transtornos, déficits, e a dificuldade em relacionar-se com outro.
Podendo assim, afirmar através de pesquisa e fundamentação teórica, que essa abordagem psicopedagógica é eficaz, dentro daquilo que a mesma se propõe. Os psicopedagogos devem ir além das paredes do consultório, pois os problemas e dificuldades de aprendizagem do educando, também estão além do consultório.
Sabemos que, algumas vezes essa prática externa é inviável, em virtude do próprio educando, por suas limitações, mas cabe ao psicopedagogo adaptar tais intervenções. O foco do atendimento, observação, e intervenção do psicopedagogo é sempre, trabalhar para que o educando possa ter um melhor aproveitamento de suas habilidades em si, ou seja, consiga desenvolver-se da melhor forma possível, e explorar sua capacidade por inteiro, esse é sem dúvidas o objetivo principal é o que move o psicopedagogo.
4 REFERÊNCIAS
BOSSA,N.A. Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 2. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
BOSSA, Nádia. Dificuldades de Aprendizagem: o que são? Como tratá-las? Porto Alegre: Artmed; 2000.
Código de Ética da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp in: http://www.abpp.com.br/artigos/19htm. Acessado em 20/07/21.
LAKOMY, A.N. Teorias cognitivas da aprendizagem. Curitiba: IBPEX, 2008.
LOPES, Alice C. Políticas de integração curricular. 1. ed. Rio de Janeiro: EdUerj / Faperj, 2008.
MACEDO, Lino de. Ensaios pedagógicos: Como construir uma escola para todos? Porto Alegre: Artmed, 2005.
RUBISTEIN, E. A Psicopedagogia e a associação estadual de Psicopedagogia de São Paulo. In: Scoz, B. J. L. et al. O caráter na formação e atuação profissional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.