COMMUNITY PSYCHOLOGY: AN IMPOSSIBLE PROFESSION?
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11111674
Wilson Alves Senne1
Resumo
“Profissão” é entendida como trabalho que uma pessoa exerce para obter recursos para sua subsistência, ou ainda, uma atividade especializada para a qual é necessário um conhecimento específico. A psicologia comunitária, enquanto profissão, implica fundamentalmente a atividade de autogestão, por definição um fazer não hierárquico, horizontalizado, autodeterminado e autóctone. Como pode um especialista pago, chegado “de fora”, interferir em processos autogestionários sem comprometer o próprio sentido destes? Como poderia a formação de um profissional em autogestão prepará-lo para encarar este dilema? Sem oferecer respostas definitivas, o propósito deste ensaio é tematizar os limites entre a possibilidade e a impossibilidade da profissão de psicólogo comunitário.
Palavras-Chave: Psicologia Comunitária, Profissão, Dádiva.
Abstract
“Profession” is understood as work that a person performs to obtain resources for their subsistence, or even a specialized activity for which specific knowledge is necessary. Community psychology, as a profession, fundamentally implies the activity of self management, by definition a non-hierarchical, horizontalized, self-determined and autochthonous activity. How can a paid specialist, who arrived “from outside”, interfere in self-managed processes without compromising their very meaning? How could training a professional in self-management prepare them to face this dilemma? Without offering definitive answers, the purpose of this essay is to discuss the limits between the possibility and impossibility of the profession of community psychologist.
Keywords: Community Psychology, Profession, Gift.
Introdução
A expressão “profissão impossível” aparentemente foi criada por Freud, ao se referir, em seu texto Análise Terminável e Interminável (1937), gracejando, que “as três profissões impossíveis são educar, curar e governar”.
O que as profissões dos educadores, dos psicanalistas e dos políticos têm em comum que as tornam “impossíveis”? Entre muitas possibilidades, destacariam, como mais evidente, o vínculo afetivo ou emocional que liga, respectivamente, os discípulos ao mestre, os analisandos ao analista e os súditos ao governante – um componente fundamental sem o qual nenhum trabalho de educar, psicanalisar ou educar é possível.
Diferentemente disso, o que é uma relação profissional? Antes de mais, trata-se de uma relação legitimada e regulada pelo Estado em vista de um campo de atuação específico. Supõe também que seja uma relação mediada por um conhecimento especializado, uma formação técnica ou científica, um saber reconhecido e legitimado. A legalização da profissão é mais vezes justificada em função dos direitos do consumidor, como garantia da qualidade dos serviços prestados na forma de Conselhos profissionais que respondem por seus afiliados perante o Estado e a sociedade civil, isto é, através da regulamentação da profissão.
Da relação profissional se diz também que é uma relação objetiva, estabelecida mediante um contrato, como um serviço oferecido que pode como tal ser reclamado ou exigido. Ou seja, trata-se de uma relação racionalizada, que em princípio, ainda que não os exclua, independe de vínculos afetivos, pois é organizada de modo tal que as pessoas possam contatar ou estar umas com as outras de maneira livremente escolhida, conforme vínculos que se estabelecem e se extinguem na exata proporção dos produtos ou serviços oferecidos, comprados e quitados. É o que chamam comumente “liberdade de mercado”, ou seja, liberdade de saldar as dívidas e desimpedir-se para sair de relações que não agradam para estabelecer, alhures, novos relacionamentos, somente guiados por interesses objetivos.
Se a profissionalização avança no sentido do mercado, da racionalização e da objetividade, como conciliá-la com as artes do “educar, curar e governar” que constituem o trabalho do psicólogo comunitário?
O fazer-com comunitário como dádiva
Conforme acima definidas, pautadas por um contrato, um conhecimento especializado e desapegada de vínculos afetivos, as relações profissionais não estão associadas, em princípio, com a dádiva (ou dom ritual), este élan que, ao invés de poupar as pessoas de envolvimentos sentimentais ou morais, ao contrário, as aproxima e as compromete emocionalmente, impedindo que usufruam da chamada “liberdade de exit”, qual seja, liberdade de comprar, pagar e se liberar completamente de qualquer ulterior compromisso subjetivo.
Se o mercado, como no dizer de K. Polanyi, “é um vínculo social que visa escapar às obrigações normais inerentes aos vínculos sociais” (POLANYI, 2000, p. 75) na relação de dádiva, contrariamente, o vínculo é mais importante que o bem, ou seja, nela predomina o sentimento de obrigação como “endividamento mútuo positivo dentro do qual cada parceiro tem o sentimento de receber do outro mais do que dá” (GODBOUT in MARTINS, 2002, p. 75). Em outro lugar, Godbout (1998) pergunta e responde:
O que é a dádiva? De modo negativo, entende-se por dádiva tudo o que circula na sociedade que não está ligado nem ao mercado, nem ao Estado (redistribuição), nem à violência física. De modo mais positivo, é o que circula em prol do ou em nome do laço social.
Se na relação de dádiva o laço social tem a prerrogativa, a relação profissional, ao contrário, é organizada para assegurar o vínculo com o bem independentemente do vínculo afetivo e a despeito dele. Profissionalmente ficamos afins com a máxima “amigos, amigos, negócios à parte”, ou seja, essa libertação de todo vínculo social afetivo (que de outro modo seria moralmente impagável ou irrevogável) segue modernamente o imperativo da produção permanente de excedentes, compondo com a condição de um crescimento econômico colocado acima de todas as coisas, como parte do desenvolvimento sempre longe do equilíbrio das forças produtivas. Em “O Espírito da Dádiva”, J. Godbout (1999, pp. 187-188) afirma:
A sociedade moderna pode ‘investir’ em qualquer tipo de atividade (bens, serviços, informações…) mas com uma condição: desenvolver uma profissionalização da atividade, um know-how, locais especializados, uma infra-estrutura material sofisticada, produtores, vendedores e consumidores (seja do que for: parafusos, artesanato, meditação, terapia, sexo…); quer dizer, com a condição de que a atividade tenha um crescimento quantitativo monetário medido pelo PNB e não se contente com um ‘equilíbrio estático’; com a condição, portanto, de que ela perpetue a divisão produtor-consumidor, de que ela não aconteça, como se diz, de modo ‘informal’ (sem forma), de que ela não esteja em mãos de amadores (que amam dedicar–se a ela), ou seja, com a condição de que ela não seja transmitida em redes de reciprocidade e dádiva, não se inscreva num contexto da dádiva, mas numa ordem mercantil e burocrática. Burocracia e mercado são, sob este ângulo, equivalentes, uma reproduzindo o modelo produtor intermediário-cliente que é próprio do outro e ambos negando a relação de dádiva.
Em consequência desta tendência das modernas sociedades complexas, a psicologia comunitária também caminha no sentido de se tornar uma especialização legalmente reconhecida, ocasião em que cabe indagar se na origem de uma tal psicologia comunitária enquanto profissão e especialização não subsistiria um paradoxo originário, que a tornaria uma profissão impossível.
Tal paradoxo se explicita com a observação de que toda especialização consiste, justamente, na negação daquilo que, para uma comunidade, é fundamental, a saber, a relação ou o vínculo que valem antes do que todo interesse mercantil ou profissional, ou seja, a atividade compartilhada realizada a partir de motivações vagas, por amizade, generosidade, solidariedade e não profissionalmente nem por dinheiro, em outras palavras, o fazer pelo outro enquanto ação num sistema de endividamento mútuo positivo e não enquanto interesse objetivo (científico ou de mercado).
O paradoxo da psicologia comunitária é que ela surge como uma especialização para suprir uma demanda originada exatamente do fato de toda atividade vinculadora tende a virar atividade especializada (regulamentada, impessoalizada…). A comunidade, situada do lado da natureza e do princípio do ser, como doação de si, tende a refluir conforme próspera sociedade, situada do lado do artifício e do princípio do ter, como relação de troca e comércio. Este é justamente o problema de uma formação em psicologia comunitária: quando ela deixa de ser vocacional, voluntária e dadivosa, passando a ser buscada como uma profissão ou como uma especialização técnica – um saber objetivo ou instrumental passível de se tornar contratual e rentável -, tende a avançar para fora de si mesma, perdendo–se das condições elementares que tornam possível o âmbito próprio para um trabalho comunitário.
Se a atividade passa a ser definida como atividade profissional, é requerido do psicólogo comunitário um saber impessoal, quando o comunitário é feito essencialmente de pessoalidade; é exigida uma atividade comprometida e provada (com programas, objetivos, resultados etc.), quando a atividade comunitária é essencialmente uma mistura de interesse e gratuidade, programação e imprevisto; é avaliada a aquisição de um conhecimento rentável, quando “o dinheiro cria relações entre os seres humanos mas isso deixando-os fora delas” (G. SIMMEL apud GODBOUT, 1999, p.102), ou seja, quando a relação profissional e remunerada expulsa justamente o que pretendia reconstituir ou restaurar, a saber, o vínculo afetivo, a amizade, o sentimento humano…tudo, enfim, que não tem preço e que é principal numa comunidade. “A principal característica do que se pode chamar de modelo comunitário é a negação da ruptura produtor-usuário que fundamenta o mercado e a relação profissional.” (GODBOUT, 1999, p. 103).
A psicologia comunitária como autogestão
A psicologia comunitária talvez seja uma profissão impossível no sentido de que seus resultados práticos são sempre improváveis, o que não impede que se constitua como uma atividade “experimentante”, uma pesquisa inventiva em contínuo, um tateamento, uma experiência-narração… Essa condição da psicologia comunitária pode ser explicitada através das referências que podemos elencar através de alguns de seus mais destacados representantes, particularmente em se tratando da chamada “psicologia social-comunitária latino-americana”.
Estamos nos referindo a autores como Sílvia Lane, Maritza Montero, Ignacio Martin-Baró, Eduardo Almeida, Luis Escovar, Irma Serrano-García, entre outros. Reunindo destacados autores como estes, Alejandra Cedeño perguntou pela definição da psicologia comunitária que ofereceram, e encontrou, em todos os casos, o conceito de “autogestão” como central, como objetivo principal. Para a autora, este conceito “tem uma importância fundamental dentro deste enfoque, pois segundo diversos autores constitui o objetivo central perseguido na ação junto com a comunidade.” De acordo com A. Cedeño (1999),
Uma das primeiras definições da Psicologia Comunitária, que foi amplamente divulgada, é a de Montero (1984, p. 16), afirmando que esta disciplina constitui a “área da psicologia cujo objeto é o estudo dos fatores psicossociais que permitem desenvolver, fomentar e manter o controle e poder que os indivíduos podem exercer sobre seu ambiente individual e social, para solucionar problemas que os afetam e lograr mudanças nestes ambientes e na estrutura social”. Seus princípios básicos são os de: 1) união entre teoria e prática; 2) transformação social como meta; 3) poder e controle dentro da comunidade; 4) conscientização e socialização; 5) autogestão e participação. A produção da autora, desde os seus trabalhos iniciais, incorpora, então, a autogestão nesta disciplina.
Citando M. Montero, “a Psicologia Comunitária se apresenta então como uma via de interação, geradora de tecnologia social, cujo objetivo é lograr a autogestão para que os indivíduos produzam e controlem as mudanças em seu ambiente imediato” (MONTERO, 1984, p.397). Ou nas palavras de Rivera-Medina e Serrano-García, “a organização comunal encaminhada a promover a autogestão é provavelmente a atividade (da psicologia comunitária) mais frequente nos nossos países” (RIVERA MEDINA e SERRANO-GARCÍA, 1985, p.4)
Embora sendo um conceito usado com grande desenvoltura pela literatura especializada, “autogestão” não é fácil de definir e abriga paradoxos. De imediato, “autogestão” é frequentemente associada com “autodeterminação”, “autonomia”, “autodireção”, “auto-organização”… entre vários outros “autos”. No dizer de S. Lane, a autogestão diz respeito à organização de “grupos que se tornem conscientes e aptos a exercer um autocontrole de situações de vida através de atividades cooperativas”; (…) “na autogestão todos têm direito a voz e voto, e participam diretamente das decisões” (LANE, 1996, p. 25). Nas mesmas pegadas, P. Guareschi, outro autor citado por A. Cedeño, afirma que “a autogestão é o ápice das relações genuinamente democráticas, onde há participação de todos” (GUARESCHI, 1996, p. 99).
Quando se fala em autogestão, supõe-se uma administração coletiva realizada por todos os seus participantes em igualdade de condições, ou seja, horizontal, sem hierarquia, sem a figura do patrão, tampouco qualquer forma de direção ou controle externo. Por pouco que consideremos o conceito de “autogestão” como definidor do objetivo da psicologia comunitária, um paradoxo aparece de pronto colocado: se o que se visa é a autonomia e a autodireção, como é que alguém pode, profissionalmente e “de fora”, como agente exterior, induzir esse processo ou facilitá-lo sem contrariar o sentido próprio do processo que se quer autogestionário?
Alejandra Cedeño (1999) lembra que nas denominações clássicas, quando se falava dos trabalhadores que se opunham às práticas fabris ou camponesas então muito marcadas pela dominação patronal, os processos autogestionários eram autóctones, sem dizer respeito a “agentes externos”. Mas um “traço novo” teria aparecido por volta dos anos 60, na França, quando o conceito de autogestão foi apropriado por partidos políticos, intelectuais, grupos e mídia, multiplicando seu sentido e o tornando polissêmico. Nas últimas décadas há uma retomada intensa do termo por ONGs, incubadoras de cooperativas, empresas, universidades e até governos, como “assessores”, “facilitadores”, “catalisadores”, “co-gestores”…) sem problematizar suficientemente esta inclusão.
Mas assim como Freud (1937), embora considerando, jocosamente, o fazer psicanalítico como “profissão impossível”, criou, de fato, a profissão dos psicanalistas, o fazer comunitário como profissão não significa que não possa ser ou acontecer. O que se pode dizer é que as tais profissões impossíveis não são como a maioria das profissões, pois incluem centralmente um componente improvável, que demanda um tempo de cultivo, e que, ao final, pode ou não acontecer. Esse componente pode ser referido enquanto qualidade da relação ou do vínculo, algo que não depende apenas do profissional ou de suas competências e habilidades adquiridas, mas pode (ou não) ser conquistado ou construído com o(s) outro(s) no cotidiano, como autoatividade, como formas que vão assumindo os vínculos entre as formas. Para referir o que aqui está em questão diríamos que se trata menos de uma profissão e mais de uma arte, uma experimentação comunitária inventiva, um processo criativo conjunto, um fazer com implicado, carregado de afetos.
Conclusão
Uma pergunta corriqueira segue esta exposição: mas como é possível ganhar a vida, ou tirar o sustento, em suma, como é possível tornar a psicologia comunitária uma atividade rentável?
Ora, antes de uma resposta é preciso ver que uma tal pergunta já presume um mercado profissional determinado, como uma porção de postos de trabalho disponíveis a serem preenchidos por pessoal qualificado – quando o que se delineia como práticas emergentes no campo profissional comunitário é a multiatividade, em que o que é valorizado é menos um conhecimento específico (ou técnico) que pode ser aprendido ou esquecido do que um saber-de-si-em-jogo, qual seja, um saber ético usualmente reclamado como a capacidade de mobilizar as pessoas, como a inventividade e jeito para a negociação ou mediação de conflitos, como inteligência emocional, como ecologia de saberes, em suma, enquanto qualidades que uma formação técnica ou profissionalizante não pode oferecer ou favorecer – mas sim, quiçá, a ação social, a atividade comunitária ela mesma e nela mesma.
Olhando-se por aí e retornando a questão sobre tornar a psicologia comunitária uma profissão (rentável), talvez seja válido para esta psicologia o raciocínio segundo o qual, até para melhor atingirmos os fins econômicos é preciso, circunstancialmente, desviar-nos deles, perdê-los de vista para quiçá melhor encontrá-los. Uma mostra disso se apresenta como possibilidade de incrementar o currículo com experiências comunitárias comprovadas, com trabalho em projetos sociais, ambientais e filantrópicos, que vem ganhando relevância tanto em seleções em empresas quanto no serviço público (pós-graduações etc.).
Doutro modo, mesmo caso seja uma profissão impossível, o pôr-se a caminho dos temas comunitários enquanto temas do “terceiro setor” – assim designados por se situar numa “margem terceira” entre o Estado e o mercado -, pode revelar que além destes existem muitas outras possibilidades de vida, muitas formas alternativas de produção da vida social. Tais temas são as grandes questões que hoje estão interessando pessoas em muitas partes do mundo – como a mobilização e organização social, a ecologia, a economia solidária, os direitos humanos, os povos originários, os usos da mídia etc. -, que formam comunitariamente maneiras de se aproximar, de se encontrar umas com as outras lá onde as coisas acontecem e a informação se reúne, fomentando a criação de networkings, gerando oportunidades interessantes de vida: possibilidades como a de obter bolsas de estudos no exterior, atuar junto a ONGs, fazer amizades através de interesses comuns, pesquisar temas extremos em lugares exóticos, etc.
Viver o vínculo, ao invés de se dedicar prioritariamente à profissionalização tentando evitá-lo, talvez haja um sentido valioso nisso que a formação, quando voltada unicamente para a formação técnica e rentável, tende, frequentemente, pôr de lado e negligenciar…
REFERÊNCIAS
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