REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410141144
Ana Claudia de Moura Barros
RESUMO
O artigo aborda a importância da psicoeducação no contexto da saúde mental, com foco na prevenção do suicídio. O problema de pesquisa centra-se na análise da eficácia das intervenções psicoeducativas em reduzir fatores de risco como transtornos mentais, estresse, e isolamento social, associados ao comportamento suicida. O principal objetivo do estudo é avaliar como a psicoeducação pode melhorar a adesão ao tratamento, reduzir o estigma em torno da saúde mental e fortalecer as redes de apoio. A metodologia utilizada foi uma revisão narrativa da literatura, que reuniu artigos publicados em bases de dados nacionais e internacionais, focando em estudos empíricos e teóricos sobre psicoeducação. Os resultados indicam que as intervenções psicoeducativas são eficazes na promoção do autocuidado, no fortalecimento das habilidades socioemocionais e na criação de redes de suporte, fatores que contribuem diretamente para a redução de crises suicidas. Além disso, foi observado que a implementação de programas psicoeducativos em ambientes escolares, familiares e comunitários tem mostrado um impacto positivo tanto na prevenção quanto na promoção da saúde mental em geral, destacando-se a importância da capacitação de profissionais de saúde e educação.
Palavras-chave: psicoeducação; prevenção do suicídio; saúde mental; fatores de risco; intervenções psicoeducativas.
ABSTRACT
The article addresses the importance of psychoeducation in the context of mental health, focusing on suicide prevention. The research problem centers on the analysis of the effectiveness of psychoeducational interventions in reducing risk factors such as mental disorders, stress, and social isolation, associated with suicidal behavior. The main objective is to assess how psychoeducation can improve treatment adherence, reduce the stigma around mental health, and strengthen support networks. The methodology used was a narrative literature review, gathering articles from national and international databases, focusing on empirical and theoretical studies on psychoeducation. The results indicate that psychoeducational interventions are effective in promoting self-care, strengthening socio-emotional skills, and creating support networks, factors that directly contribute to reducing suicidal crises. Moreover, it was observed that the implementation of psychoeducational programs in school, family, and community settings has had a positive impact both on prevention and the promotion of mental health, highlighting the importance of training health and education professionals.
Keywords: psychoeducation; suicide prevention; mental health; risk factors; psychoeducational interventions.
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, o relatório World Health Statistics 2024 da Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que mais de 720.000 pessoas morrem por suicídio a cada ano. Em âmbito global, o suicídio continua sendo uma das principais causas de morte, especialmente entre jovens de 15 a 29 anos, constituindo-se como a quarta principal causa de óbito nesta faixa etária. A maioria dos suicídios, cerca de 73%, ocorre em países de baixa e média renda, destacando a necessidade de políticas públicas e intervenções preventivas eficazes.
Esses dados também mostram a complexidade dos fatores de risco, que incluem transtornos mentais como depressão e abuso de substâncias, além de fatores sociais, como violência, isolamento e crises financeiras. A OMS continua a reforçar a importância de intervenções baseadas em evidências, como as recomendadas pelo programa “Live Life”, que inclui o controle do acesso a meios letais, a promoção de habilidades socioemocionais e a melhoria dos sistemas de suporte para quem apresenta comportamento suicida.
Nesse contexto, a psicoeducação figura como uma intervenção que visa não apenas informar, mas também empoderar os indivíduos, capacitando-os a compreender os transtornos que enfrentam e a adotar medidas preventivas. Diversos estudos indicam que, ao reduzir a desinformação e o estigma em torno da saúde mental, a psicoeducação desempenha um papel essencial na prevenção do suicídio, tanto em contextos clínicos quanto comunitários (Carvalho et al., 2019; Borges et al., 2018).
Nesse sentido, diante do aumento significativo dos casos de suicídio, torna-se fundamental discutir intervenções eficazes e acessíveis que possam ser aplicadas em larga escala. A psicoeducação, uma vez que permite uma abordagem educativa em saúde mental, possibilita o desenvolvimento do autocuidado e da prevenção precoce. Além disso, a abordagem psicoeducativa é acessível a diversas populações, sendo um dispositivo que pode ser implementado em ambientes de saúde pública e privada, o que amplia seu potencial de impacto. Assim, este estudo partiu do seguinte problema de pesquisa: como as intervenções psicoeducativas são aplicadas no contexto da saúde mental para a prevenção do suicídio?
Com base nessa questão de pesquisa, delineia-se como objetivo principal analisar como as intervenções psicoeducativas são aplicadas no contexto da saúde mental para a prevenção do suicídio, identificando suas principais estratégias, resultados e desafios, a fim de compreender sua eficácia em diferentes ambientes, como clínico, comunitário e institucional.
Para alcançar esse objetivo, foi realizada uma revisão narrativa, com base em pesquisa exploratória. Para o desenvolvimento do estudo, foram coletados dados em periódicos nacionais e internacionais, indexados nas bases de dados SciELO, Lilacse PubMed, além de artigos de periódicos pertinentes à pesquisa. Foram considerados como critérios de inclusão: a) estudos publicados nos últimos cinco anos; b) artigos que investigaram a psicoeducação como técnica interventiva; c) resultados apresentados no âmbito da saúde mental e suas implicações na prevenção do suicídio; d) descrição do público-alvo da psicoeducação, incluindo pacientes, familiares ou equipes de saúde. Assim, este estudo pretende contribuir para uma melhor compreensão das intervenções psicoeducativas e seu papel na prevenção ao suicídio.
2 SUICÍDIO: UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA
No Brasil, as taxas de suicídio também têm aumentado. De acordo com o Ministério da Saúde, a média é de6,9 mortes por 100.000 habitantes (Brasil, 2021), refletindo uma necessidade urgente de estratégias mais eficazes de prevenção, sobretudo em regiões mais vulneráveis. Embora o aumento seja observado em diversas faixas etárias, homens jovens continuam sendo o grupo mais afetado.
Esse cenário é particularmente preocupante nas regiões Norte e Nordeste, onde as desigualdades socioeconômicas e o acesso limitado a serviços de saúde mental tornam a população ainda mais vulnerável (Brasil, 2021). Esse aumento nas taxas entre homens jovens pode ser atribuído, em parte, a fatores como estigmas culturais sobre saúde mental, uso de substâncias, e maior exposição a situações de violência e desemprego. Em outros países de alta renda, como os Estados Unidos e Japão, também há correlações entre o aumento das taxas de suicídio e a pressão social e econômica sobre os jovens, bem como o isolamento gerado por uma cultura fortemente competitiva (OMS, 2021). Esses dados ressaltam a importância de políticas públicas que foquem não apenas na prevenção, mas também na criação de redes de apoio social e no fortalecimento da saúde mental nas comunidades mais afetadas.
2.1 Fatores de risco e proteção
O comportamento suicida é um fenômeno complexo, multifatorial, que envolve fatores biológicos, psicológicos e sociais. Um dos principais fatores de risco é a presença de transtornos mentais, como a depressão, o transtorno bipolar e o abuso de substâncias (álcool e drogas), que estão associados a altas taxas de suicídio (BMC Psychiatry, 2020). A American Psychological Association (APA) também identifica que pessoas com histórico de tentativas anteriores de suicídio apresentam risco significativamente maior de repetir o ato (APA, 2020).
Fatores sociais, como violência, isolamento social e discriminação, também aumentam o risco. Populações vulneráveis, como pessoas LGBTQIA+, migrantes e refugiados, enfrentam riscos ainda mais elevados devido ao estigma social e ao acesso limitado a cuidados de saúde mental (Hill et al., 2020).
No entanto, existem fatores de proteção que podem mitigar esses riscos. O apoio social, como a presença de uma rede de amigos e familiares, é um dos mais importantes. Além disso, o acesso a tratamentos adequados para transtornos mentais, especialmente a terapia cognitivo-comportamental e intervenções psicoeducativas, têm demonstrado eficácia significativa na redução dos pensamentos suicidas (Figueiredo et al., 2023). Esses fatores de proteção podem ser potencializados por programas de promoção de habilidades socioemocionais, que aumentam a resiliência e a capacidade de resolução de problemas, principalmente em adolescentes.
2.2 Impactos psicológicos e sociais
O suicídio gera impactos devastadores não apenas para a pessoa que comete o ato, mas também para suas famílias, amigos e para a sociedade. O luto causado por suicídio é frequentemente mais complexo, sendo acompanhado por sentimentos de culpa,vergonha e isolamento social. Esse tipo de luto é particularmente desafiador em culturas onde o suicídio e a saúde mental ainda são cercados por estigmas, como no Brasil (Borges et al., 2018).
Além disso, o impacto do suicídio nos sistemas de saúde é significativo. Países com menos recursos frequentemente enfrentam dificuldades para implementar intervenções preventivas eficazes, o que agrava a carga econômica e social. Estudos, como os de Zalsman et al. (2020), apontam que o suicídio gera custos elevados para a saúde pública, incluindo perda de produtividade, tratamentos de saúde mental e intervenções emergenciais.
As intervenções comunitárias, como programas de psicoeducação, têm se mostrado eficazes não só na prevenção do suicídio, mas também no suporte às famílias e indivíduos em risco. Essas intervenções ajudam a desmistificar o suicídio, promovendo um ambiente de maior compreensão e apoio (Hill et al., 2020).
3 PSICOEDUCAÇÃO: CONCEITO E APLICABILIDADE
A psicoeducação é uma intervenção terapêutica que combina aspectos educacionais e psicológicos, visando promover o conhecimento sobre transtornos mentais e condições de saúde mental para os indivíduos, seus familiares e cuidadores. O principal objetivo da psicoeducação é capacitar os participantes a compreenderem melhor seus sintomas, as causas dos transtornos e as opções de tratamento, incentivando o autocuidado e a adesão ao tratamento (Melo & Braga, 2020). Além disso, a psicoeducação visa reduzir o estigma em torno dos transtornos mentais, criando uma compreensão mais ampla e profunda do funcionamento mental e de suas influências no bem-estar geral (Carvalho et al., 2019).
3.1 Importância no contexto da saúde mental
A importância da psicoeducação no contexto da saúde mental é ampla e multifacetada. Inicialmente, ela melhora a adesão ao tratamento, uma vez que pacientes informados estão mais propensos a compreender a necessidade de seguir com as terapias indicadas e a utilizar os recursos disponíveis (Santos et al., 2021).
Em segundo lugar, ela empodera os familiares e cuidadores, fornecendo-lhes informações cruciais para entenderem melhor a situação de seus entes queridos, o que contribui para a construção de uma rede de suporte mais efetiva.
Adicionalmente, a psicoeducação desempenha um papel crucial na desestigmatização dos transtornos mentais, ao abordar crenças equivocadas e mitos que envolvem essas condições. Esse processo é vital para a promoção de um ambiente de saúde mental mais inclusivo e acolhedor, no qual as pessoas se sintam seguras para buscar ajuda e expressar seus sentimentos sem medo de julgamentos (Borges et al., 2018).
3.2 Psicoeducação como ferramenta preventiva
A psicoeducação também se destaca como uma importante ferramenta preventiva no manejo de condições de saúde mental, particularmente no que diz respeito à prevenção do suicídio. Ao proporcionar informações sobre os fatores de risco, sinais de alerta e recursos disponíveis, a psicoeducação auxilia os indivíduos a reconhecerem precocemente sintomas que poderiam levar ao agravamento de condições mentais e, em casos mais severos, ao suicídio (Figueiredo et al., 2023).
Além disso, ao ensinar estratégias de enfrentamento e autocuidado, ela contribui para o fortalecimento da resiliência e para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais que são essenciais para a prevenção de crises psicológicas e suicidas (Hill et al., 2020).
As evidências sugerem que a psicoeducação, quando integrada em programas de saúde mental, reduz significativamente os sintomas de ansiedade e depressão, bem como as taxas de recaídas, promovendo maior estabilidade e qualidade de vida para os pacientes (Zalsman et al., 2020).
3.3 Modelos de programas psicoeducacionais eficazes
Os modelos de programas psicoeducacionais eficazes têm sido amplamente estudados e implementados em diversos contextos. Um dos programas mais reconhecidos é o Programa de Prevenção ao Suicídio (Prosui), desenvolvido para capacitar profissionais de saúde e a população em geral sobre os sinais de alerta e as medidas preventivas em relação ao suicídio (Santos et al., 2021). Esse modelo inclui atividades educativas para pacientes, familiares e comunidades, promovendo a conscientização sobre a importância do tratamento adequado dos transtornos mentais e do autocuidado.
Outro exemplo bem-sucedido é o programa “Live Life” da Organização Mundial da Saúde (OMS), que se baseia em pilares como a limitação do acesso a meios letais, o desenvolvimento de habilidades socioemocionais em jovens, e o suporte adequado para pessoas em crise (OMS, 2021). Esse modelo tem sido implementado em diversos países e tem mostrado eficácia na redução de suicídios, especialmente quando combinado com intervenções comunitárias e políticas públicas que aumentam o acesso aos serviços de saúde mental.
Essas práticas mostram o impacto positivo da psicoeducação na redução de suicídios. No Japão, um país com altas taxas de suicídio, a implementação de um programa psicoeducacional comunitário voltado para homens de meia-idade – grupo de alto risco no país – resultou em uma queda significativa nas taxas de suicídio ao longo de cinco anos. O programa incluiu oficinas sobre gerenciamento de estresse, habilidades de resolução de problemas e suporte familiar, além de campanhas de conscientização sobre saúde mental (Hill et al., 2020).
No Brasil, iniciativas como o Projeto Cuca Legal, desenvolvido em escolas públicas, têm mostrado resultados promissores na prevenção ao suicídio entre adolescentes. O projeto utiliza a psicoeducação para promover a discussão aberta sobre saúde mental e suicídio, capacitando os estudantes a lidarem com suas emoções de forma construtiva e a buscarem ajuda quando necessário (Santos et al., 2021).
Esses exemplos reforçam a importância de adaptar os programas psicoeducacionais às necessidades específicas de cada população, considerando fatores culturais, sociais e econômicos para alcançar o sucesso na prevenção ao suicídio.
4 DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA PSICOEDUCAÇÃO
Um dos maiores desafios enfrentados na implementação de programas de psicoeducação é a existência de barreiras culturais e estigmas relacionados ao suicídio e à saúde mental. Em muitas culturas, o suicídio é visto como um tabu, o que dificulta discussões abertas sobre o tema e pode impedir que indivíduos em risco busquem ajuda. Em sociedades onde o estigma em torno dos transtornos mentais é mais forte, há uma tendência de silenciamento sobre o sofrimento emocional, o que contribui para o agravamento das crises que levam ao comportamento suicida (Borges et al., 2018).
A psicoeducação tem o potencial de combater esses estigmas, mas enfrenta resistência em contextos culturais onde as normas sociais desencorajam o debate sobre saúde mental e suicídio. A internalização do estigma por parte dos indivíduos pode levar ao isolamento social e ao aumento da vulnerabilidade ao suicídio, especialmente entre jovens e minorias, como as populações LGBTQIA+ e migrantes (Santos et al., 2021). Para que a psicoeducação seja eficaz, é necessário adaptar as intervenções às sensibilidades culturais locais, promovendo um ambiente onde as discussões sobre saúde mental possam ocorrer de maneira aberta e sem preconceitos.
4.1 Acesso a recursos e capacitação de profissionais
Outro desafio significativo para a eficácia da psicoeducação está relacionado ao acesso a recursos e à capacitação adequada dos profissionais de saúde mental. Em muitos países, especialmente em áreas de baixa e média renda, os serviços de saúde mental são limitados, o que dificulta a implementação de programas psicoeducacionais em larga escala. A falta de financiamento para iniciativas de prevenção ao suicídio é uma barreira comum, resultando em uma falta de infraestrutura adequada para atender as populações em risco (OMS, 2021).
Além disso, há uma escassez de profissionais qualificados para conduzir programas de psicoeducação, o que compromete a sua eficácia. Profissionais de saúde, educadores e assistentes sociais muitas vezes não recebem a formação necessária para identificar sinais de risco e intervir de forma adequada em situações de crise suicida (Carvalho et al., 2019). Para superar esse desafio, é fundamental investir em capacitação contínua para esses profissionais, garantindo que eles estejam aptos a oferecer suporte emocional e informação a indivíduos em risco e suas famílias.
4.2 Avaliação da eficácia e sustentabilidade dos programas
A avaliação da eficácia dos programas de psicoeducação também apresenta desafios. Embora haja evidências de que esses programas são eficazes na redução de sintomas de depressão, ansiedade e comportamento suicida, muitas intervenções não possuem métodos rigorosos de avaliação, o que dificulta a medição de seus impactos a longo prazo (Figueiredo et al., 2023). Sem uma avaliação adequada, é difícil garantir a sustentabilidade dos programas, especialmente em contextos onde os recursos são limitados.
Para que os programas de psicoeducação sejam sustentáveis, é essencial que as intervenções sejam acompanhadas por monitoramento e avaliação contínuos, com o objetivo de ajustar as estratégias de acordo com as necessidades da populaçãoalvo e os resultados obtidos. A incorporação de tecnologias, como plataformas digitais de suporte emocional e educação, pode ser uma forma de aumentar a acessibilidade e a sustentabilidade desses programas (Zalsman et al., 2020).
4.3 Propostas de intervenção psicoeducativa
As escolas e instituições educacionais são espaços essenciais para a implementação de programas psicoeducativos voltados à prevenção do suicídio. Uma estratégia eficaz é a inclusão de currículos de saúde mental que abordem questões como estresse, depressão e gerenciamento emocional. Programas como o Projeto Cuca Legal no Brasil, que promove discussões abertas sobre saúde mental e oferece ferramentas para a resolução de conflitos emocionais, têm demonstrado resultados promissores na redução de comportamentos de risco entre jovens (Santos et al., 2021).
Além disso, workshops de psicoeducação para professores e funcionários podem ajudá-los a identificar sinais de alerta entre os estudantes, capacitando-os a intervir precocemente e encaminhar os jovens para suporte especializado quando necessário (Carvalho et al., 2019). A criação de espaços seguros dentro das escolas, onde os alunos possam discutir seus problemas de forma aberta, sem medo de julgamento, é outra prática fundamental. Esses espaços, muitas vezes mediados por psicólogos ou assistentes sociais, promovem um ambiente de confiança e acolhimento.
4.4 Psicoeducação voltada para familiares e comunidade
A psicoeducação para familiares desempenha um papel vital na prevenção do suicídio, pois capacita as famílias a reconhecerem os sinais de risco em seus entes queridos e a oferecerem suporte adequado. Programas voltados para pais e cuidadores ensinam estratégias para lidar com crises e promover um ambiente familiar de acolhimento e apoio emocional. Um exemplo eficaz é o Programa de Prevenção ao Suicídio (PROSUI), que inclui a participação de familiares em oficinas psicoeducativas e na construção de redes de suporte (Borges et al., 2018).
Na comunidade, a psicoeducação pode ser implementada por meio de campanhas de conscientização que visem desestigmatizar a saúde mental e o suicídio. Essas campanhas, muitas vezes apoiadas por profissionais de saúde, podem incluir palestras, distribuição de materiais informativos e até a criação de grupos de apoio comunitário, onde as pessoas possam compartilhar suas experiências e receber orientações sobre como enfrentar o sofrimento emocional (Zalsman et al., 2020).
4.5 Formação e capacitação de profissionais de saúde mental
A formação e capacitação de profissionais de saúde mental é uma peça chave para garantir que os programas de psicoeducação sejam eficazes e sustentáveis. A educação continuada para psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais e educadores deve incluir treinamentos específicos sobre como abordar comportamentos suicidas, lidar com pacientes em crise e promover a psicoeducação de maneira acessível e culturalmente sensível (OMS, 2021).
Uma proposta eficaz é o desenvolvimento de cursos de formação em psicoeducação que abranjam desde a identificação de sinais de risco até as melhores práticas para o tratamento e encaminhamento de indivíduos vulneráveis. Esses cursos podem ser oferecidos de forma presencial ou por plataformas digitais, garantindo maior alcance, especialmente em áreas onde há escassez de profissionais qualificados (Figueiredo et al., 2023). Além disso, a integração de novas tecnologias, como aplicativos de saúde mental e plataformas de telemedicina, pode ser um recurso adicional para a capacitação de profissionais e o atendimento de indivíduos em áreas remotas.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A psicoeducação se mostrou uma ferramenta essencial na prevenção do suicídio, oferecendo não apenas conhecimento, mas também promovendo a desestigmatização de questões relacionadas à saúde mental. Ao empoderar indivíduos, famílias e comunidades, a psicoeducação contribui para o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento e para a criação de redes de apoio, essenciais para a prevenção do suicídio (Figueiredo et al., 2023; Santos et al., 2021). As evidências indicam que intervenções psicoeducativas podem reduzir significativamente os fatores de risco associados ao suicídio, ao fornecer informações claras sobre sinais de alerta e medidas preventivas (Hill et al., 2020). Além disso, a psicoeducação tem um impacto positivo na adesão ao tratamento e na promoção de habilidades socioemocionais, o que aumenta a resiliência e reduz a vulnerabilidade em populações de risco.
Para que a psicoeducação atinja seu potencial máximo na prevenção ao suicídio, é necessário um esforço coordenado entre políticas públicas e pesquisas científicas. Primeiramente, é recomendável que as políticas de saúde mental incluam a psicoeducação como parte integrante dos programas preventivos, especialmente em escolas e comunidades vulneráveis. Além disso, a capacitação contínua de profissionais de saúde e educação deve ser uma prioridade, garantindo que eles tenham as habilidades necessárias para implementar programas de psicoeducação de maneira eficaz e culturalmente adaptada (OMS, 2021; Zalsman et al., 2020).
É importante aprofundar a avaliação da eficácia dos programas de psicoeducação a longo prazo, especialmente em diferentes contextos socioculturais e econômicos. Estudos que investiguem o impacto da tecnologia na entrega de programas psicoeducativos, como aplicativos e plataformas digitais, também são recomendados, uma vez que essas ferramentas podem ampliar o alcance e a acessibilidade das intervenções (Figueiredo et al., 2023). Por fim, é fundamental que novas pesquisas explorem abordagens integradas que combinem a psicoeducação com outras formas de intervenção terapêutica e comunitária, para promover um impacto ainda maior na prevenção do suicídio.
REFERÊNCIAS
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