PSICOEDUCAÇÃO COMO ESTRATÉGIA PARA A HIGIENE DO SONO

PSYCHOEDUCATION AS A STRATEGY FOR SLEEP HYGIENE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11214925


Franciele de Sousa Costa Guedes1,
Paula Soares Mota Lima2,
Vanina Márcia Guimarães e Silva3,
Professor/Orientador: Adrielly Martins Porto Netto4


RESUMO

O sono desempenha um papel fundamental na saúde e no bem-estar humano. No entanto, problemas relacionados ao sono são cada vez mais comuns em quase todas as faixas etárias, podendo ter impactos significativos em seu funcionamento diurno, desempenho acadêmico e saúde mental. Neste contexto, a psicoeducação emerge como uma estratégia favorável para promover hábitos saudáveis de sono e melhorar a higiene do sono. Embora a psicoeducação tenha sido amplamente utilizada em diversas áreas da saúde mental, como no tratamento de transtornos de ansiedade e depressão, seu potencial no contexto da higiene do sono continua sendo explorado. Este artigo de revisão tem como objetivo analisar e sintetizar as evidências disponíveis na literatura científica sobre a eficácia da psicoeducação como estratégia para promover a higiene do sono. Ao alcançar esses objetivos, espera-se contribuir para o avanço do conhecimento científico na área da higiene do sono, fornecendo subsídios para o desenvolvimento e aprimoramento de intervenções baseadas em psicoeducação voltadas para a promoção de hábitos saudáveis de sono e melhoria da qualidade de vida. Para isso, foram revisados estudos empíricos que investigaram a eficácia da psicoeducação na promoção da higiene do sono em populações de várias idades. Serão analisados os resultados desses estudos em relação aos principais desfechos, como qualidade do sono, duração do sono, latência do sono, despertares noturnos e impactos no funcionamento diurno.

Palavras-chave: psicoeducação; higiene do sono; bem-estar.

1 INTRODUÇÃO

O sono desempenha um papel fundamental na saúde e no bem-estar humano, especialmente durante o período de desenvolvimento na infância e adolescência. No entanto, problemas relacionados ao sono são cada vez mais comuns em quase todas as faixas etárias de idade, podendo ter impactos significativos em seu funcionamento diurno, desempenho acadêmico e saúde mental. Neste contexto, a psicoeducação mostra-se como uma estratégia promissora para promover hábitos saudáveis de sono e melhorar a higiene do sono e bem-estar (De Sousa et al. 2023).

A higiene do sono refere-se a uma série de práticas e comportamentos que favorecem um sono de qualidade e adequada regulação dos ritmos circadianos. Inclui aspectos como horários regulares de sono, ambiente adequado para dormir, rotinas relaxantes antes de dormir e limitação de estímulos antes de dormir. A psicoeducação, por sua vez, envolve a provisão de informações e orientações sobre um determinado tema, com o objetivo de promover a compreensão, habilidades e mudanças comportamentais (Pereira et al. 2019).

Embora a psicoeducação tenha sido amplamente utilizada em diversas áreas da saúde mental, como no tratamento de transtornos de ansiedade e depressão, seu potencial no contexto da higiene do sono continua sendo explorado. Este artigo de revisão tem como objetivo analisar e sintetizar as evidências disponíveis na literatura científica sobre a eficácia da psicoeducação como estratégia para promover a higiene do sono.

E, ainda, realizar uma revisão de literatura narrativa para identificar estudos que investigaram a eficácia da psicoeducação na promoção da higiene do sono; avaliar a eficácia da psicoeducação em termos de impactos na qualidade do sono, duração do sono, latência do sono, despertares noturnos e funcionamento diurno; e discutir as implicações clínicas e práticas dos resultados encontrados, destacando a relevância da psicoeducação como uma estratégia acessível e eficaz para promover hábitos saudáveis de sono e prevenir problemas relacionados ao sono.

Ao alcançar esses objetivos, espera-se contribuir para o avanço do conhecimento científico na área da higiene do sono, fornecendo subsídios para o desenvolvimento e aprimoramento de intervenções baseadas em psicoeducação voltadas para a promoção de hábitos saudáveis de sono e melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Para isso, foram revisados estudos empíricos que investigaram a eficácia da psicoeducação na promoção da higiene do sono em populações infantis e juvenis e de várias idades. Foram analisados os resultados desses estudos em relação aos principais desfechos, como qualidade do sono, duração do sono, latência do sono, despertares noturnos e impactos no funcionamento diurno. Além disso, foram discutidos os elementos-chave da psicoeducação em sono, incluindo conteúdo, formato de entrega, estratégias de engajamento e adesão, bem como o papel dos pais e cuidadores nos casos de crianças e pessoas que inspiram cuidados, na implementação das orientações.

Para essas categorias em especial, crianças e adolescentes há uma crescente prevalência de problemas relacionados ao sono e sua associação com uma variedade de consequências adversas, como dificuldades de aprendizagem, problemas comportamentais e risco aumentado de problemas de saúde mental, é de suma importância desenvolver e avaliar intervenções eficazes para promover hábitos saudáveis de sono principalmente nessa faixa etária.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O sono desempenha um papel fundamental no desenvolvimento e na saúde física e mental, principalmente de crianças e adolescentes. Durante o sono, ocorrem processos de consolidação da memória, regulação emocional, crescimento e reparação celular, sendo essencial para o funcionamento adequado do organismo. No entanto, problemas relacionados ao sono são cada vez mais comuns, podendo ter impactos significativos no bem-estar e no desenvolvimento humano (De Sousa et al. 2023).

O sono infantil e juvenil, por exemplo, é caracterizado por ciclos que alternam entre fases de sono REM (Rapid Eye Movement) e não-REM. Durante o sono REM, ocorrem os sonhos e a atividade cerebral é intensa, enquanto que no sono não-REM predominam processos de restauração e regeneração do organismo. Esses ciclos são essenciais para o desenvolvimento cerebral, emocional e físico, especialmente das infanto-juvenil. Durante a infância e a adolescência, ocorrem mudanças significativas nos padrões de sono, com uma redução gradual da necessidade de sono ao longo do desenvolvimento (Pereira et al. 2019).

A higiene do sono refere-se a uma série de práticas e comportamentos que favorecem um sono de qualidade e adequada regulação dos ritmos circadianos. Inclui aspectos como horários regulares de sono, ambiente adequado para dormir, rotinas relaxantes antes de dormir e limitação de estímulos antes de dormir. A falta de uma higiene do sono adequada pode levar a dificuldades para dormir, despertares noturnos, sonolência diurna, alterações de humor, dificuldades de concentração e problemas de saúde física e mental, isso em quase todas as faixas etárias de idades (De Sousa et al. 2023).

Neste estudo, feito por De Fátima Kirchner, Buela-Casal e Dos Reis, (2017), diversas abordagens teóricas e modelos de intervenção têm sido propostos para promover hábitos saudáveis de sono. A psicoeducação surge como uma abordagem favorável, baseada na teoria da aprendizagem social e na teoria da mudança comportamental. A psicoeducação envolve a provisão de informações e orientações sobre um determinado tema, com o objetivo de promover a compreensão, habilidades e mudanças comportamentais. Ela pode ser entregue por meio de diferentes formatos, como palestras, materiais educativos, sessões individuais ou em grupo, e envolver a participação ativa de todos os envolvidos.

Compreende-se que a psicoeducação pode ser eficaz na promoção da higiene do sono. Pois intervenções baseadas em psicoeducação têm sido associadas a melhorias na qualidade do sono, duração do sono, latência do sono, despertares noturnos e funcionamento diurno. Além disso, a psicoeducação pode contribuir para o desenvolvimento de habilidades de autorregulação, autoeficácia e autonomia de várias categorias de idade, em particular a de crianças e adolescentes em relação ao sono (De Sousa et al. 2023; Pereira et al. 2019).

A implementação eficaz da psicoeducação em sono requer uma abordagem integrada e multidisciplinar, envolvendo profissionais de saúde, educadores, pais e cuidadores. É importante adaptar as intervenções às características individuais e contextuais do indivíduo, considerando, fatores como idade, sexo, ritmos biológicos, hábitos familiares e condições de vida. Estratégias de engajamento e adesão, como o envolvimento ativo de todos os envolvidos, o uso de linguagem acessível e a oferta de suporte contínuo, são fundamentais para maximizar os benefícios da psicoeducação em sono (De Fátima Kirchner; Buela-Casal; Dos Reis, 2017).

Em suma, a psicoeducação revela-se como uma estratégia bem-sucedida para promover hábitos saudáveis de sono e melhorar a higiene do sono. Baseada em fundamentos teóricos sólidos e evidências científicas, a psicoeducação oferece uma abordagem acessível, conveniente e oportuna para capacitar indivíduos e famíliares no autocuidado e na promoção de um sono saudável (De Sousa et al. 2023).

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Esta pesquisa utilizou o critério da revisão bibliográfica como método fundamental, tendo em vista ser uma das modalidades mais prevalentes e considerada essencial na maioria dos modelos acadêmicos, envolvendo a coleta de informações por meio de fontes como livros, textos, artigos e materiais acadêmicos diversos. Estes são utilizados como referências e citações para fundamentar o desenvolvimento do tema investigado (Gil, 2008).

O levantamento bibliográfico de artigo obedeceu a um recorte temporal de 2010 até dezembro de 2023. As buscas foram realizadas nas bases de dados eletrônicos, Portal de Periódicos da CAPES e Bibliotecas Digitais Brasileiras.

A metodologia empregada neste estudo sobre “Psicoeducação como estratégia para a higiene do sono” baseou-se em uma revisão bibliográfica de literatura narrativa, utilizando uma combinação de palavras-chave e operadores booleanos para identificar artigos relevantes. As palavras-chave utilizadas incluíram “psicoeducação sono”, “higiene do sono”, “sono de qualidade”.

A amostragem de dados foi conduzida por meio da análise de artigos acadêmicos disponíveis em diversas plataformas renomadas, como: SciELO Brasil, Google Acadêmico, periódicos CAPES, Science.gov, PubMed e outras plataformas acadêmicas disponíveis. Dessa forma, foi possível obter informações e dados relevantes sobre a qualidade de sono, explorando especificamente a eficácia da psicoeducação como um recurso para a melhoria do sono em vários intervalos de idades.

A busca foi direcionada a artigos relacionados aos temas de sono, qualidade do sono, consequências de uma má qualidade de sono, ineficiência do sono e interferência da qualidade do sono no cotidiano, sendo aplicados filtros para selecionar artigos no idioma português e inglês que estivessem mais alinhados com o escopo deste estudo: “Psicoeducação como estratégia para a higiene do sono”.

Os artigos selecionados foram minuciosamente lidos, estudados e comparados para extrair conclusões, observações e, acima de tudo, adquirir conhecimentos importantes e pertinentes que ajudem a alcançar os objetivos propostos. Este processo metodológico proporcionará, assim, a base essencial para o desenvolvimento e embasamento da pesquisa.

4 RESULTADOS e DISCUSSÃO

Foram selecionados artigos pela combinação de descrito­res, obedecendo a um recorte entre os anos de 2010 até dezembro de 2023. A busca dos artigos sobre o tema em questão foram encontrados em quantidades diversificadas, como mostra a seguir os achados nas seguintes plataformas acadêmicas: FGV-Sistema de Biblioteca; 38 – Google Acadêmico; 7 – Periódicos CAPS; 47 – Portal Regional da BVS; 37 – PubMed; 32 – ResearchGate; 99 – Science.gov; 42 – SciELO Brasil; 50, totalizando 352 artigos encontrados, utilizando filtros disponíveis em cada plataforma, foram excluídos 290 pelo título, 42 excluídos pelo resumo, 18 selecionados e examinados, desses, 8 artigos foram escolhidos para a análise e discussão.

Podemos perceber que há uma limitação relativa aos números apresentados, deixando uma lacuna em nossa compreensão sobre o tema em questão, essa carência reforça a importância de investigações mais amplas de pesquisas adicionais, a fim de enriquecer a literatura científica, promover e embasar discussões acadêmicas sobre o tema abordado. A seguir são apresentadas informações relevantes que identificam e permitem a discussão e análise sobre o tema definido.

Na pesquisa realizada por Pereira et al. (2019), observaram que as orientações educativas sobre a higiene do sono em pacientes com DM2 (Diabetes Mellitus, tipo 2) foram efetivas na melhora da pontuação da qualidade do sono. Esses dados foram mensurados a partir dos instrumentos PSQI-BR que significa Pittsburgh Sleep Quality Inventory ou Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI-BR), e para estresse emocional relacionado a diabetes, teve como instrumentos avaliativoso B-DDS que é a sigla de Diabetes Distress Scale.

Em consonância com o tema do estudo, Pereira e Bezerra, (2020), concluíram que através de psicoeducação e intervenção com sessões de psicoterapia a paciente analisada no estudo de caso do artigo, demonstrou melhorias significativas em relação à sua disposição, humor e motivação para execução de suas atividades cotidianas, além de sua percepção sobre suas emoções, pensamentos e comportamentos disfuncionais.

Nesse ínterim, Vieira, Calixto e Brum, (2017), confirmaram os resultados ao constatarem que as dificuldades para dormir são uma queixa frequente atualmente. Para prognóstico favorável em pacientes com dificuldades para dormir ou com má qualidade de sono, é crucial implementar estratégias educativas.

Em contrapartida, para Almeida et al. (2021), a alta prevalência de má qualidade do sono se assemelha a de outras faculdades de medicina também avaliadas com o PSQI, evidenciando a necessidade de promover espaços de educação em saúde do sono com acadêmicos do curso de medicina.

Mas para os pesquisadores Rahimi et al. (2016), o padrão de resultados sugere que todos os três tratamentos adjuvantes melhoraram os sintomas de distúrbios do sono e da depressão, com maiores benefícios para o SHP-LOR para sintomas de depressão, mas não para o sono. No entanto, os riscos e benefícios das prescrições de benzodiazepínicos devem ser levados em consideração.

Conforme os estudiosos Aboaja et al. (2023), houve evidência de mais intervenções não farmacológicas do que 32 intervenções farmacológicas testadas em ambientes hospitalares. Os resultados indicaram que 33 intervenções não farmacológicas baseadas na terapia cognitivo-comportamental para insônia 34 melhoraram o sono e podem melhorar a saúde física e mental. Das várias medidas distintas de sono, 35 foram utilizadas nos estudos. Medidas objetivas do sono não eram comumente usadas. Foram identificadas lacunas na literatura, destacando a importância da investigação sobre uma gama mais ampla de intervenções do sono 37 testadas contra um controlo utilizando medidas objetivas do sono com avaliação de 38 resultados adicionais de saúde mental e física entre adultos em ambientes de internamento psiquiátrico 39.

De acordo com os autores Almondes, Leonardo e Moreira, (2017), o treinamento cognitivo e as intervenções de higiene do sono foram estratégias úteis para melhorar o desempenho cognitivo e a qualidade do sono de idosos saudáveis, mas não houve evidências de que sessões combinando treinamento cognitivo e psicoeducação sobre higiene do sono potencializassem os ganhos proporcionados por essas intervenções aplicadas individualmente.

Nestes estudos randomizados, estes autores Almondes, Leonardo e Moreira, (2017), aplicaram intervenções por meio de um programa de treinamento cognitivo e psicoeducação nas técnicas de higiene do sono em idosos saudáveis, e concluíram que é possível se obterem diversos efeitos positivos sobre as funções executivas e a qualidade do sono em idosos saudáveis. O programa pode fortalecer as funções executivas dos idosos, como memória, atenção, flexibilidade cognitiva e habilidades de resolução de problemas. Isso ocorre através de exercícios específicos que estimulam essas habilidades. O fortalecimento das funções executivas pode resultar em uma melhor capacidade de planejamento, organização e tomada de decisões relacionadas ao sono, facilitando a adoção e manutenção de comportamentos saudáveis de higiene do sono.

A psicoeducação em higiene do sono fornece aos idosos informações e estratégias para melhorar a qualidade do sono e reduzir a fragmentação do sono. Isso inclui orientações sobre o ambiente de sono adequado, como reduzir estímulos, horários regulares de sono e técnicas de relaxamento antes de dormir. Ao implementar essas técnicas, os idosos podem experimentar um sono mais contínuo e reparador, o que contribui para uma melhor qualidade de vida e bem-estar geral (Almondes, Leonardo e Moreira, 2017).

Ainda sobre esta categoria e neste cenário, o programa cognitivo pode auxiliar os idosos a desenvolver habilidades para lidar com preocupações e pensamentos indesejáveis que podem interferir no sono. Resultando em uma redução da latência do sono e um aumento da eficiência do sono, ou seja, mais tempo gasto em sono profundo e menos tempo acordado durante a noite (Almondes, Leonardo e Moreira, 2017).

Além disso, para Aboaja et al. (2023), os cuidados com a higiene do sono, como estabelecer uma rotina regular de sono e evitar estimulantes antes de dormir, podem contribuir para uma transição mais suave para o sono e uma redução dos despertares noturnos. Essa combinação aliada a psicoeducação em higiene do sono pode levar a uma melhoria significativa na qualidade de vida dos idosos saudáveis. Um sono de qualidade está integrado a momentos com maior energia durante o dia, a melhor humor e funcionamento cognitivo, e menor risco de desenvolver problemas de saúde relacionados ao sono.

Segundo os autores, De Sousa et al. (2023), afirmam que uma melhor qualidade de sono pode ter efeitos positivos sobre outras áreas da vida, como relações sociais, atividades diárias e participação em hobbies e atividades recreativas. Em resumo, um programa de tarefas cognitivas e psicoeducação de higiene do sono pode ter efeitos significativos sobre as funções executivas e a qualidade do sono para esses idosos saudáveis. Essas intervenções podem contribuir diretamente para uma melhor adaptação aos padrões de sono saudáveis, promovendo assim uma melhor qualidade de vida e bem-estar geral.

Nestes estudos desenvolvidos por Pereira et al. (2019), decorrentes de procedimentos que investigaram o impacto de estratégias educativas na qualidade do sono e no estresse emocional associado ao diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Este ensaio clínico randomizado envolveu dois grupos: o Grupo 1 (G1, n = 45), que recebeu instruções verbais e material informativo sobre higiene do sono, e o Grupo 2 (G2, n = 46), que recebeu orientações padrão sobre autocuidado com os pés, conforme recomendado nas unidades de saúde. As orientações educativas sobre higiene do sono mostraram-se eficazes na melhoria da qualidade do sono, avaliada pelo questionário PSQI-BR, e na redução do estresse emocional relacionado ao diabetes, conforme mostram resultados dos instrumentos B-DDS.

Outro estudo conduzido por Pereira e Bezerra, (2020), discute o processo de psicoeducação do sono por meio de uma intervenção psicoterapêutica baseada na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) para uma paciente adulta com Doença de Parkinson (DP). Este estudo de caso, realizado entre março e maio de 2019, consistiu em 16 sessões realizadas com a paciente fictícia “Lua”. As sessões ocorreram durante o Estágio Supervisionado Clínico em uma Clínica-Escola de Psicologia, afiliada ao Departamento de Psicologia da Universidade Tiradentes (UNIT). Observou-se que a paciente apresentou melhorias significativas em sua disposição, humor e motivação para realizar suas atividades diárias, bem como uma maior consciência de suas emoções, pensamentos e comportamentos disfuncionais.

No trabalho realizado por Vieira, Calixto e Brum, (2017), que desempenhou um estudo para determinar a prevalência de distúrbios do sono e o uso de medicamentos para dormir entre os residentes do bairro Colúmbia, atendidos pela Estratégia de Saúde da Família em Colatina–ES. Esta pesquisa de campo envolveu a aplicação de dois questionários em uma abordagem qualitativa e quantitativa: um questionário autoaplicável, utilizando o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) para avaliar a qualidade do sono, e outro elaborado pelos pesquisadores para caracterizar o perfil dos participantes. Os problemas relacionados ao sono são uma queixa comum nos dias atuais e, para garantir um prognóstico favorável para pacientes com dificuldades para dormir ou com má qualidade do sono, medidas educativas são fundamentais.

Na discussão elaborada pelos autores, De Sousa et al. (2023), que investigaram as estratégias de higiene do sono em idosos e seus efeitos sobre a função cognitiva por meio de uma revisão de escopo e seguindo as diretrizes do Preffered Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-analyses Extension for Scoping Reviews. Os pesquisadores consultaram diversas bases de dados, incluindo PubMed/Medline, Scopus, Lilacs, Web of Science, Google Scholar, ProQuest e Embase. Os estudos revisados apresentaram resultados contraditórios: enquanto um artigo indicou melhorias tanto no sono quanto nas funções cognitivas após a implementação de estratégias de higiene do sono, outro estudo destacou melhorias apenas quando essas estratégias foram combinadas com relaxamento e meditação. Esses achados sugerem que estratégias de higiene do sono podem ter um impacto positivo na cognição e no sono.

As atividades realizadas por Almeida et al. (2021), avaliaram a qualidade do sono em 160 estudantes de medicina do primeiro ao oitavo módulo em um estudo observacional retrospectivo. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa e conduzida entre agosto e outubro de 2019, utilizando o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI), um questionário internacional previamente validado no Brasil. Os resultados revelaram uma alta prevalência de má qualidade do sono, semelhante a outras faculdades de medicina avaliadas com o PSQI. Isso ressalta a necessidade de promover a educação em saúde do sono entre os estudantes de medicina.

No que lhe concerne, Rahimi et al. (2016), realizaram um estudo randomizado para investigar os efeitos de três intervenções adjuvantes no sono e na depressão em pacientes com transtorno depressivo maior (TDM): um programa de higiene do sono (SHP), lorazepam (LOR) e a combinação de ambos (SHP-LOR). O estudo envolveu 120 pacientes ambulatoriais com diagnóstico de TDM, que foram randomizados para uma das três condições. Os resultados sugeriram que todos os três tratamentos adjuvantes melhoraram os sintomas de distúrbios do sono e depressão, com maiores benefícios observados na combinação de SHP-LOR para sintomas de depressão, embora não para o sono. No entanto, os autores alertam para a necessidade de considerar os riscos e benefícios das prescrições de benzodiazepínicos.

Os examinadores Aboaja et al. (2023), em contrapartida, realizaram uma revisão de escopo de estudos de intervenção no sono em adultos hospitalizados em ambientes psiquiátricos. O objetivo foi categorizar diferentes tipos de intervenções do sono e avaliar seus efeitos no sono e em outros desfechos de saúde, além de descrever os instrumentos utilizados para medir o sono. A busca resultou em 2.530 estudos, dos quais 20 atenderam aos critérios de inclusão. Foi observada uma predominância de intervenções não farmacológicas em relação às farmacológicas testadas em ambientes hospitalares. Os resultados indicaram que as intervenções não farmacológicas, especialmente aquelas baseadas na terapia cognitivo-comportamental para insônia, melhoraram o sono e potencialmente beneficiaram a saúde física e mental. Várias medidas de sono foram empregadas nos estudos, mas as medidas objetivas do sono não foram comumente utilizadas. O estudo identificou lacunas na literatura, ressaltando uma investigação mais ampla de intervenções do sono, com controle e medidas objetivas do sono e avaliando desfechos adicionais de saúde mental e física entre adultos em ambientes psiquiátricos.

Sob outro enfoque, Almondes, Leonardo e Moreira, (2017), qualificaram os efeitos de um programa de treinamento cognitivo e psicoeducação nas técnicas de higiene do sono para funções executivas e qualidade do sono em idosos saudáveis. Os participantes foram idosos saudáveis randomizados em quatro grupos: grupo controle, grupo de treinamento cognitivo, grupo de higiene do sono e grupo de treinamento cognitivo e higiene. O estudo ocorreu em três etapas: avaliação inicial da cognição e do sono, intervenção específica para cada grupo e avaliação pós-intervenção. Os resultados indicaram que tanto o treinamento cognitivo quanto as intervenções de higiene do sono foram úteis para melhorar o desempenho cognitivo e a qualidade do sono em idosos saudáveis. No entanto, não houve evidências de que as sessões combinadas de treinamento cognitivo e psicoeducação sobre higiene do sono potencializaram os benefícios proporcionados por essas intervenções quando aplicadas individualmente. Eles descobriram que essas intervenções podem gerar diversos efeitos positivos nas funções executivas e na qualidade do sono desses idosos. O treinamento cognitivo, por exemplo, pode fortalecer habilidades como memória, atenção e resolução de problemas, enquanto a psicoeducação em higiene do sono fornece estratégias para melhorar a qualidade do sono e reduzir a fragmentação do mesmo.

O estudo também destacou que as intervenções não apenas melhoram a qualidade do sono, mas também têm impacto positivo na saúde física e mental dos idosos, incluindo redução do estresse emocional. Por exemplo, o treinamento cognitivo pode ajudar os idosos a lidar com pensamentos intrusivos que atrapalham o sono, resultando em uma redução da latência do sono e um aumento da eficiência do sono.

No entanto, os pesquisadores também observaram que a combinação de treinamento cognitivo e psicoeducação sobre higiene do sono não necessariamente amplificou os benefícios proporcionados por essas intervenções quando aplicadas individualmente. Isso sugere que cada intervenção por si só já pode trazer melhorias significativas na qualidade do sono e nas funções cognitivas dos idosos saudáveis.

Por outra perspectiva, De Sousa et al. (2023), identificaram em sua revisão de escopo, resultados contraditórios sobre os efeitos das estratégias de higiene do sono na cognição e no sono de idosos. Enquanto alguns estudos mostraram melhorias significativas tanto no sono quanto nas funções cognitivas após a implementação dessas estratégias, outros evidenciaram melhorias apenas quando combinadas com técnicas de relaxamento e meditação.

Esses resultados destacam a complexidade do tema e a necessidade de mais pesquisas para entender completamente os efeitos das estratégias de higiene do sono em humanos e em várias faixas etárias de idades, bem como outros fatores e processos ao tema. Além disso, é importante considerar uma variedade de elementos, como características da amostra, duração e intensidade da intervenção, medidas de resultado utilizadas e outros aspectos contextuais, ao interpretar os resultados desses estudos.

5 CONCLUSÃO

Em suma, os estudos revisados apresentam uma visão abrangente sobre a relação entre orientações a partir da psicoeducação e intervenções para melhorar a qualidade do sono e o bem-estar geral. Tanto a psicoeducação em higiene do sono como as intervenções baseadas em treinamento cognitivo, relaxamento, redução de estímulos integrados, têm demonstrado resultados promissores na melhoria da qualidade do sono, de vida, função cognitiva e saúde mental.

É evidente que a qualidade do sono desempenha um papel crucial na saúde física e mental, refletindo-se em diversos aspectos do bem-estar humano. A implementação de psicoeducação como estratégias de higiene do sono, combinadas com abordagens terapêuticas e outros processos, demonstram uma maneira eficaz de abordar problemas relacionados ao sono e suas consequências adversas.

No entanto, é importante reconhecer a necessidade contínua de pesquisa para entender melhor a eficácia e os mecanismos subjacentes a essas intervenções, bem como para identificar quais abordagens são mais adequadas para diferentes populações e contextos clínicos. Além disso, a consideração de fatores individuais e contextuais são relevantes ao interpretar os resultados desses estudos, destacando a importância de uma abordagem personalizada no manejo dos distúrbios do sono.

Em última análise, os achados apresentados sugerem que investir na promoção de psicoeducação aliada a estratégias de sono saudável pode ser um indicador considerável para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar geral, não apenas em populações específicas, mas também em um contexto mais amplo de saúde pública.

REFERÊNCIAS

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1Curso Superior de Psicologia da Faculdade Maurício de Nassau do Instituto Campus Palmas/TO. E-mail: francieleguedes39@gmail.com   

2Curso Superior de Psicologia da Faculdade Maurício de Nassau do Instituto Campus Palmas/TO. E-mail. paulasmotalima@gamil.com

3Curso Superior de Psicologia da Faculdade Maurício de Nassau do Instituto Campus Palmas/TO. E-mail: vaninamarcia78@gmail.com

4Professora Orientadora Esp. E-mail: adripsicologia2015@gmail.com