PROSPECÇÃO FITOQUÍMICA PRELIMINAR DE HIMATANTHUS OBOVATUS (APOCYNACEAE), DO CERRADO TOCANTINENSE

PRELIMINARY PHYTOCHEMICAL PROSPECTING OF HIMATANTHUS OBOVATUS (APOCYNACEAE) FROM THE TOCANTINENSE CERRADO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202506151804


Adriele Machado dos Santos1; Pedro Vitor Lucena Machado Ciriaco2; Guilherme Nobre Lima do Nascimento3; Sinara de Fátima Freire dos Santos4; Claudiany Silva Leite Lima5


Resumo

O presente estudo teve como objetivo realizar uma análise fitoquímica qualitativa das folhas de Himatanthus obovatus (Apocynaceae), planta nativa do Cerrado brasileiro e amplamente empregada na medicina tradicional devido às suas propriedades terapêuticas atribuídas, tais como atividade cicatrizante, anti-inflamatória, antimicrobiana e antineoplásica. Foi preparado um extrato hidroalcoólico de EtOH: H2O (7:3 v:v), com posterior aplicação de testes fitoquímicos específicos baseados na metodologia de Matos 1988, para a detecção de taninos, saponinas, flavonoides, antraquinonas e alcaloides. As análises revelaram a presença de taninos, saponinas e flavonoides em ambos os extratos, enquanto antraquinonas e alcaloides não foram detectados. A identificação desses metabólitos secundários está em consonância com dados da literatura, evidenciando o potencial farmacológico da espécie, especialmente no que diz respeito à atividade antioxidante, antimicrobiana e anti-inflamatória. A ausência de alcaloides, por sua vez, pode indicar um perfil fitoquímico com menor toxicidade, característica desejável no desenvolvimento de fitoterápicos. Os resultados obtidos reforçam a relevância científica do uso tradicional de H. obovatus e destacam a importância de estudos sistemáticos voltados à valorização da biodiversidade brasileira. A continuidade desta linha de pesquisa, por meio de análises cromatográficas, testes toxicológicos e ensaios biológicos in vivo, é fundamental para a validação da eficácia e segurança do uso terapêutico de extratos vegetais. O estudo contribui, assim, para o fortalecimento da fitoterapia baseada em evidências e para o desenvolvimento de medicamentos naturais acessíveis e sustentáveis.

Palavras-chave: Bioprospecção. Plantas Medicinais. Compostos bioativos.

Abstract

The present study aimed to conduct a qualitative phytochemical analysis of the leaves of Himatanthus obovatus (Apocynaceae), a plant native to the Brazilian Cerrado and widely used in traditional medicine due to its attributed therapeutic properties, such as wound healing, anti- inflammatory, antimicrobial, and antineoplastic activities. A hydroalcoholic extract of EtOH: H2O (7:3 v:v) was prepared, followed by the application of specific phytochemical tests based on Matos’ 1988 methodology for the detection of tannins, saponins, flavonoids, anthraquinones, and alkaloids. The analyses revealed the presence of tannins, saponins, and flavonoids in both extracts, while anthraquinones and alkaloids were not detected. The identification of these secondary metabolites is in accordance with literature data, highlighting the pharmacological potential of the species, especially regarding antioxidant, antimicrobial, and anti-inflammatory activities. The absence of alkaloids, in turn, may indicate a phytochemical profile with lower toxicity, a desirable characteristic in the development of phytotherapeutics. The results obtained reinforce the scientific relevance of the traditional use of H. obovatus and highlight the importance of systematic studies aimed at valuing Brazilian biodiversity. The continuation of this line of research, through chromatographic analyses, toxicological tests, and in vivo biological assays, is essential for the validation of the efficacy and safety of the therapeutic use of plant extracts. The study thus contributes to the strengthening of evidence-based phytotherapy and the development of accessible and sustainable natural medicines.

Key words: Bioprospecting. Medicinal Plants. Bioactive compounds.

1 INTRODUÇÃO

As plantas medicinais são uma alternativa razoável e eficaz na busca de novos compostos, já que existe uma grande variedade de espécies que ainda não foram estudadas. Embora a toxicidade de muitas dessas plantas ainda não tenha sido avaliada, medicamentos fitoterápicos ou derivados de plantas são frequentemente considerados mais seguros do que seus equivalentes sintéticos, apresentando menor risco de interações medicamentosas. (Da Cruz et al., 2023)

O uso de plantas medicinais tem uma grande importância socioeconômica, principalmente relacionado ao público de baixa renda, devido à maioria das plantas disponíveis serem de baixo custo e baixo risco toxicológico. O uso de plantas medicinais também é muito comum na população da zona rural, isso se associa também à cultura e à dificuldade de acesso à atenção básica de saúde. Devido a isto, se faz importante o estudo das espécies mais utilizadas por este público, para serem analisados os compostos fitoquímicos destas plantas, especialmente a análise do grupo de metabólitos secundários (Bessa et al., 2013).

A família Apocynaceae é amplamente reconhecida como uma das mais relevantes fontes vegetais de compostos químicos empregados na medicina contemporânea. No Brasil, registram-se 41 gêneros e aproximadamente 400 espécies (Judd et al., 2009; van den Berg, 1993).

A Himatanthus obovatus, da família Apocynaceae, conhecido como pau de leite, tem diversos estudos relacionados sobre sua atividade fitoquímica e sobre seu efeito no organismo humano. De acordo com Santos et al. (2021), o extrato etanólico das folhas do pau de leite apresentou uma ação cicatrizante. Esta planta também é utilizada na medicina popular com ação antineoplásica, anti-inflamatória, antimicrobiana e analgésica.

Considerando que a busca por alternativas naturais por compostos químicos biologicamente ativos variados, tais como terpenoides, flavonoides, alcaloides, glicosídeos cianogênicos e taninos, principalmente de origem vegetal, tem crescido nos últimos anos, o objetivo deste trabalho foi avaliar o extrato da planta Himatanthus Obovatus coletada no cerrado do Tocantins quanto ao seu teor de metabolitos secundários.

2 BIOPROSPECÇÃO DE H. OBOVATUS: ATIVIDADES BIOLÓGICAS E POTENCIAL TERAPÊUTICO

As plantas medicinais vêm sendo utilizadas há milhares de anos por diferentes culturas ao redor do mundo como parte essencial da medicina tradicional. Muito além de seu uso empírico, elas representam uma rica fonte de compostos químicos naturais com atividades biológicas relevantes, conhecidos como metabólitos secundários. Esses compostos não apenas garantem a sobrevivência das plantas em seus ambientes naturais, atuando na defesa contra microrganismos, herbívoros e estresses ambientais, mas também despertam grande interesse da ciência farmacêutica por seu potencial terapêutico (Simões et al., 2017).

Entre os principais grupos de metabólitos secundários estudados, destacam-se os alcaloides, flavonoides, taninos, saponinas, triterpenos e esteróides. Esses compostos são amplamente pesquisados devido às suas ações antioxidante, anti-inflamatória, antimicrobiana e antifúngica (Cowan, 1999). As descobertas nesse campo têm sido impulsionadas por avanços nas técnicas analíticas, como cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) e espectrometria de massas, que permitem a separação, identificação e quantificação precisa desses constituintes.

O crescente número de casos de infecções resistentes a antifúngicos sintéticos representa um dos maiores desafios da medicina moderna. Diante disso, pesquisadores têm voltado sua atenção para compostos naturais capazes de atuar como agentes antifúngicos mais seguros e eficazes. Estudos demonstram que extratos vegetais apresentam ação significativa contra fungos patogênicos como Candida albicans, Aspergillus spp. e Trichophyton spp., que são responsáveis por infecções oportunistas graves, especialmente em pacientes imunocomprometidos (Silva et al., 2012).

Flavonoides e taninos, por exemplo, possuem capacidade de interferir na estrutura e função da membrana celular dos fungos. Esses compostos podem aumentar a permeabilidade da membrana, inibir enzimas vitais e bloquear a síntese de ergosterol um lipídio essencial à manutenção da integridade da célula fúngica (Santos et al., 2020). Além disso, os taninos são conhecidos por sua habilidade de precipitar proteínas, o que pode comprometer a viabilidade de microrganismos patogênicos.

No Brasil, o Cerrado abriga uma diversidade notável de plantas com potencial medicinal. Um exemplo é a Himatanthus obovatus (Müll. Arg.) Woodson, pertencente à família Apocynaceae. Essa planta, nativa do Cerrado e popularmente conhecida como “janaguba do cerrado” ou “leiteiro”, é tradicionalmente utilizada no tratamento de inflamações, úlceras, doenças de pele e infecções (LorenzI; Matos, 2008). Sua seiva leitosa é aplicada em diversas formas de preparações populares, e acredita-se que possua efeitos curativos.

Pesquisas fitoquímicas realizadas com a H. obovatus identificaram compostos como iridoides, triterpenos e lactonas, que apresentam atividades biológicas importantes, incluindo ação anti-inflamatória e antitumoral (Castro et al., 2014). No entanto, ainda são limitados os estudos que exploram de forma aprofundada a composição química completa dessa espécie, principalmente em relação ao seu potencial antifúngico. Isso reforça a necessidade de mais investigações sistemáticas sobre sua atividade e segurança farmacológica.

A realização de análises fitoquímicas detalhadas, tanto qualitativas quanto quantitativas, é fundamental para validar o uso tradicional de plantas como a H. obovatus. Técnicas modernas, como cromatografia em camada delgada (CCD) e espectrometria de massas, vêm sendo aplicadas para identificar os compostos bioativos presentes em seus extratos (Simões et al., 2017). Essas informações são essenciais não apenas para o desenvolvimento de fitoterápicos seguros e eficazes, mas também para o reconhecimento científico das práticas tradicionais.

Além da atividade antifúngica, estudos demonstram que o látex da H. obovatus apresenta propriedades angiogênicas, mutagênicas e antimutagênicas, o que indica a presença de substâncias com grande potencial para aplicação na área médica, inclusive na oncologia e na reparação tecidual (Lima et al., 2017).

Considerando o contexto da resistência antimicrobiana e a demanda por medicamentos mais acessíveis e naturais, plantas como a H. obovatus surgem como candidatas promissoras para o desenvolvimento de novos agentes terapêuticos. A valorização da biodiversidade brasileira e o fortalecimento de pesquisas multidisciplinares são caminhos essenciais para transformar o conhecimento tradicional em soluções científicas inovadoras.

3 METODOLOGIA

A pesquisa realizada é do tipo qualitativa conforme descrito por Matos (1988).

3.1 Material Biológico

A amostra da planta foi coletada no município de Porto Nacional – TO, no campus da Universidade Federal do Tocantins – UFT, localizado nas coordenadas, latitude: -10.688845, longitude: -48.382434, temperatura: 30°, sensação térmica: 35°. Os exemplares da planta foram identificados e depositados no Herbário da UFT de Porto Nacional – TO sob o número de voucher HTO-12325.

3.2 Preparo do extrato etanólico das folhas de Himatanthus Obovatus

As folhas de H. obovatus foram coletadas e postas para secar em estufa à 40°C no laboratório de Química, Bioquímica e Bromatologia da UNITOP do campus de Palmas – TO por um período de seis dias, após a secagem as folhas foram trituradas em liquidificador e peneirada até a obtenção de um pó fino e uniforme. Em seguida foram pesadas e dívidas em porções de 100 gramas.

Para a realização do extrato hidroalcoólico foi aplicado o processo de maceração. Foi acondicionado 1000 mL de mistura hidroalcoólica de EtOH: H2O (7:3 v:v) (Anhanguera) e 100 gramas do pó fino em um frasco de vidro revestido com papel alumínio, para evitar possível degradação dos constituintes pela absorção da luz. A amostra ficou macerando por um período de sete dias, e submetida a agitação mecânica esporádica.

Após o processo de maceração, o extrato obtido foi filtrado em funil de vidro e papel de filtro qualitativo (Whatman® nº 2) e rotaevaporado em um evaporador rotativo a baixa pressão (45°C). O material obtido foi levado a estufa de secagem à 45°C para maior evaporação do solvente.

3.3 Prospecção fitoquímica

Os testes fitoquímicos foram realizados no laboratório de Ciências Básicas e da Saúde – LaCibBS da Universidade Federal do Tocantins (UFT) do campus de Palmas – TO. A amostra foi testada para identificação dos metabolitos secundários: Taninos, Saponinas, Antraquinonas, Flavonoides e Alcaloides. Os testes foram realizados em triplicata. Para certificação dos resultados todos os testes foram utilizados um tubo teste em branco (sem extrato), isto é, apenas com seus respectivos reagentes.

3.3.1 Identificação de Taninos

Para identificação de Taninos foram dissolvidos 2 mL do extrato hidroalcoólico 70% em 10 mL de água destilada e em seguida foi adicionado uma gota de solução alcoólica de Cloreto férrico (FeCl3) a 1% (recém preparada). Os tubos foram agitados por um minuto e observado a mudança de coloração e/ou precipitação. De acordo com Matos (1988) a mudança de coloração ou formação de precipitado, indica reação positiva para a presença de Taninos.

3.3.2 Identificação de Saponinas

O teste de Saponinas foi utilizado tubos com capacidade de 20 mL com tampa, onde 2 mL do extrato hidroalcoólico 70% foi misturado em 1 mL de Etanol 80%, e diluídos até 15 mL, com água destilada. Agitou-se vigorosamente a mistura, durante três minutos. Por fim foi

observado se havia a formação de espuma. Espuma persistente (por mais de meia hora) e abundante (colarinho) indica a presença de saponina (Matos 1998).

3.3.3 Identificação de Antraquinonas

No teste de Antraquinonas foram adicionados em tubos de ensaios 2 mL do extrato hidroalcoólico 70% e 3 mL de Benzeno, acrescentou-se em seguida 2 mL de hidróxido de amônio a 10% (recém preparada), submetendo a agitação suave e deixando em repouso para a separação das duas fases. A formação de uma coloração rósea, vermelha ou violeta na fase aquosa alcalina indica reação positiva para Antraquinonas (Matos, 1998).

3.3.4 Identificação de Flavonoides

No teste qualitativo para Flavonoides foram dissolvidos em 2 mL do extrato hidroalcoólico 70% 3 mL de metanol, em seguida foi adicionado cinco gotas de ácido clorídrico concentrado e 1cm de fita de magnésio, todos acomodados em tubos de ensaio. O surgimento de uma coloração rósea na solução indica reação positiva para a presença de Flavonoides (Matos, 1998).

3.3.5 Identificação de Alcaloides

Para prospecção de Alcaloides foram dissolvidos 2 mL do extrato hidroalcoólico 70% em 4 mL da solução de ácido clorídrico a 5% (recém preparada). Posteriormente, separou-se a solução em três porções de 1 mL em tubos de ensaio. Para verificação da presença de alcaloides foram adicionados a cada um dos tubos três gotas dos reagentes de: Boucharda, Dragendorff e Mayer, respectivamente. Bouchardat- formação de precipitado laranja avermelhado; Dragendorff- formação de precipitado vermelho tijolo e Mayer- formação de precipitado branco. A formação de precipitação indica reação positiva. (Matos, 1998).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A análise fitoquímica qualitativa dos extratos hidroalcoólico 70% de folhas de Himatanthus obovatus revelou a presença de taninos, saponinas e flavonoides, sendo ausentes os alcaloides e antraquinonas nos testes realizados (Tabela 1). Essa composição sugere um perfil químico rico em compostos fenólicos, conhecidos por suas atividades biológicas múltiplas, especialmente nas áreas de farmacologia natural, biotecnologia e terapêutica popular.

Tabela 1. Triagem fitoquímica preliminar do extrato foliar da espécie Himatanthus obovatu.

(+): reação positiva / (-): reação negativa
Fonte: Autores (2025)

Esses resultados se alinham com os achados de Castro et al. (2014), que identificaram triterpenos, lactonas e flavonoides em diferentes partes da planta, ressaltando seu potencial anti- inflamatório e antitumoral. A presença de flavonoides nos extratos avaliados corrobora estudos de Santos et al. (2020), os quais demonstraram a ação inibitória desses compostos sobre espécies de Candida, por meio de alteração da membrana celular fúngica. De modo semelhante, Silva et al. (2012) relataram que taninos e flavonoides extraídos de espécies medicinais do Cerrado são capazes de exercer atividade fungistática e bacteriostática relevante.

Adicionalmente, estudos internacionais recentes reforçam esses dados. Ramada et al. (2021) relataram alto teor de flavonoides em extratos de Himatanthus sucuuba, espécie filogeneticamente próxima, indicando sua potencialidade como antioxidante natural. Em consonância, Freitas et al. (2022) demonstraram que iridoides e saponinas presentes em espécies da família Apocynaceae contribuem para a modulação imunológica e combate ao estresse oxidativo celular.

A ausência de antraquinonas e alcaloides nos extratos de H. obovatus é coerente com o padrão fitoquímico da parte aérea da planta, conforme apontado por Simões et al. (2017), que destacam a predominância desses compostos em raízes e cascas de espécies vegetais. Tal ausência, entretanto, pode ser interpretada positivamente do ponto de vista toxicológico, considerando que alcaloides estão frequentemente associados a efeitos adversos mais significativos, como citotoxicidade e neurotoxicidade (Oliveira et al., 2017).

No plano etnobotânico, os resultados obtidos validam o uso tradicional da planta como cicatrizante e anti-inflamatório, conforme observado por comunidades do Cerrado (Lorenzi & Matos, 2008; Bessa et al., 2013). Essa convergência entre dados empíricos e científicos reforça a relevância da valorização de saberes locais como ponto de partida para o desenvolvimento de novas terapias a partir de produtos naturais.

Comparando com espécies do mesmo gênero, estudos com Himatanthus drasticus revelaram que o lupeol e o acetato de lupeol são responsáveis por efeitos anti-inflamatórios em modelos animais, incluindo redução de edema e modulação de citocinas pró-inflamatórias (Lucetti et al., 2010; Carmo et al., 2023). Isso é relevante para H. obovatus, pois os flavonoides encontrados neste trabalho podem compartilhar vias bioquímicas semelhantes.

Além disso, há evidências de que a combinação de taninos e saponinas pode atuar de forma sinérgica, potencializando a permeabilidade celular e facilitando a ação de princípios ativos sobre patógenos resistentes (Cowan, 1999; Trivella et al., 2022). Essa propriedade pode justificar parte da eficácia observada nos usos tradicionais da planta para infecções cutâneas.

Em síntese, os dados obtidos nesta análise corroboram o uso tradicional da Himatanthus obovatus como planta medicinal e evidenciam seu potencial para a produção de fitoterápicos. A presença de flavonoides, saponinas e taninos é consistente com estudos prévios sobre espécies do Cerrado, reforçando a importância de estudos fitoquímicos sistematizados, não apenas para fundamentar o uso tradicional de plantas medicinais, mas também como base para o desenvolvimento de fitoterápicos inovadores, seguros e eficazes. Reforça-se a necessidade de continuidade dessa linha de pesquisa por meio de técnicas cromatográficas avançadas (HPLC, LC-MS), ensaios de toxicidade subcrônica e avaliação de mecanismos moleculares de ação in vitro e in vivo.

5 CONCLUSÃO

Os resultados obtidos neste estudo reforçam o valor da Himatanthus obovatus como uma promissora fonte de compostos bioativos, em especial taninos, flavonoides e saponinas. Esses grupos fitoquímicos, amplamente reconhecidos por suas propriedades antioxidantes, antimicrobianas e anti-inflamatórias, sustentam cientificamente o uso tradicional dessa planta no tratamento de enfermidades como inflamações, infecções cutâneas e processos cicatriciais, práticas comuns nas comunidades do Cerrado brasileiro.

Apesar da ausência de antraquinonas e alcaloides nos extratos analisados, os achados não invalidam o potencial terapêutico da espécie. Pelo contrário, demonstram um perfil fitoquímico voltado para compostos fenólicos, o que pode ser especialmente benéfico quando se busca segurança no uso, dada a menor toxicidade geralmente atribuída a esses compostos em comparação a alcaloides.

É importante destacar que o conhecimento popular, muitas vezes subestimado, se mostra novamente uma fonte riquíssima de pistas para a ciência. Ao validar o uso tradicional de H. obovatus por meio de testes fitoquímicos controlados, reforça-se a necessidade de integrar os saberes ancestrais com métodos científicos modernos, promovendo um olhar mais atento à biodiversidade do Cerrado, uma das mais ricas e ameaçadas do planeta.

A continuidade dessa linha de pesquisa é fundamental. Ensaios toxicológicos mais robustos, testes farmacológicos in vivo e análises cromatográficas detalhadas são os próximos passos necessários para compreender com mais profundidade os mecanismos de ação dos compostos presentes e garantir a segurança do uso terapêutico. Tais investigações são essenciais não apenas para o avanço da fitoterapia, mas também para o desenvolvimento de medicamentos mais acessíveis, culturalmente enraizados e ambientalmente sustentáveis.

Portanto, este estudo representa mais do que uma análise fitoquímica: é um passo na valorização da ciência que nasce do território e das tradições locais. Que ele possa contribuir para o fortalecimento da pesquisa com plantas medicinais e para a construção de uma farmacologia verdadeiramente brasileira, que respeita o saber popular, investe na biodiversidade e promove a saúde com responsabilidade e inovação.

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1 Discente do Curso Superior de Farmácia do Centro Universitário ITOP – UNITOP Campus Palmas. e-mail: drykkasantos12@gmail.com
2 Discente do Curso Superior de Farmácia do Centro Universitário ITOP – UNITOP Campus Palmas. e-mail: contatopedrovitorlucena@gmail.com
3 Doutor em Química. Mestre em Ciências Farmacêuticas.
Laboratório de Ciências Básicas e da Saúde – LaCibBS – Universidade Federal do Tocantins. e-mail: Guilherme.nobre@uft.edu.br
4 Doutora em Ciências. Química Analítica e Inorgânica pelo Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo. Centro Universitário ITOP – UNITOP. E-mail: profasinarafreire@gmail.com
5 Mestre em Biotecnologia. Universidade Federal do Tocantins. Farmacêutica. Centro Universitário ITOP – UNITOP. Universidade Federal do Tocantins. e-mail: Claudianymilk@uft.edu.br