PROPOSTAS INVENTIVAS: AEE E ATELIÊ NA INTERSECÇÃO EDUCAÇÃO INFANTIL E EDUCAÇÃO ESPECIAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202411161052


Denise Ferreira da Rosa¹


RESUMO: Este trabalho consiste em um relato de experiência que explora as possibilidades inventivas no Atendimento Educacional Especializado (AEE), propondo um espaço de exploração e experimentação. O AEE, ao ser organizado como um espaço de criação, promove o desenvolvimento integral das crianças, estimulando a autonomia, a expressão individual e o potencial criativo. Através de atividades como pintura, modelagem, colagem e exploração de elementos naturais, as crianças têm a oportunidade de desenvolver habilidades motoras, cognitivas, emocionais e sociais. O artigo apresenta propostas práticas realizadas no AEE que ilustram como a arte e o brincar colaboram para a inclusão e o aprendizado significativo na educação infantil. Ao tratar o AEE como um ateliê de invenção, ampliam-se as possibilidades de interação entre alunos com e sem deficiência, promovendo a inclusão e a socialização. A experiência com essas práticas mostra que as atividades artísticas não apenas incentivam a criatividade, mas também transformam o AEE em um ambiente flexível e dinâmico, onde as crianças podem explorar suas capacidades de forma lúdica e prazerosa. Dessa forma, o artigo reforça a importância de integrar práticas artísticas ao AEE, considerando as especificidades e necessidades de cada criança.

Palavras-chave: Educação Infantil. AEE. Ateliê Pedagógico. Práticas Criativas. Propostas Inventivas.

O AEE COMO ATELIÊ DE CRIAÇÃO E INCLUSÃO

O Atendimento Educacional Especializado (AEE) é compreendido como o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucional e continuamente como uma das possibilidades de garantir que crianças público-alvo da Educação Especial tenham acesso aos processos de ensino e aprendizagem (BRASIL, 2015). É realizado na Sala de Recursos Multifuncional, mas não se limita a esse espaço.

Na Educação Infantil, o AEE desempenha um papel de oferecer suporte às especificidades de cada criança, identificando atrasos no desenvolvimento e facilitando seu pleno desenvolvimento cognitivo, emocional e social.

No contexto da Educação Infantil, o Ateliê é compreendido como “um lugar onde assumimos o que queremos fazer e construímos investigações” (Barbieri, 2021, p.35). O Ateliê não se restringe a um espaço físico, como também não se restringe a arte ou obras de arte. Como um espaço flexível e dinâmico, o Ateliê oferece múltiplas possibilidades para que as crianças explorem suas ideias, desafiando a imaginação e desenvolvem suas habilidades de forma lúdica e significativa.

Este trabalho propõe uma reflexão sobre o AEE como um espaço de experimentação e criação, e assim podendo ser organizado como um Ateliê de possibilidades inventivas e exploratórias. Ao aliar as práticas pedagógicas do AEE com as práticas artísticas e criativas, de exploração e criação estimula-se a expressão individual, a autonomia e o potencial criativo das crianças, ampliando suas oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento integral. Ao longo do capítulo, serão apresentadas experiências do AEE que ilustram propostas de criação, organização de contextos e atividades.

1. PROPOSTAS Inventivas no AEE

No contexto do Atendimento Educacional Especializado (AEE), a diversidade de atividades artísticas e inventivas promove o desenvolvimento integral das crianças. Essas atividades, cuidadosamente planejadas e adaptadas para atender às necessidades individuais, oferecem oportunidades para que as crianças expressem suas ideias, emoções e percepções de maneira criativa e inclusiva.

A interação durante o brincar, como destacado por Brasil (2018, p. 37), caracteriza-se como um aspecto central no cotidiano da infância, oferecendo inúmeras oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento integral. No contexto das propostas de atividades no AEE, essa interação lúdica é fundamental, pois permite que as crianças, por meio de brincadeiras como pintura, modelagem, colagem e exploração de materiais naturais, desenvolvam não apenas suas habilidades motoras e cognitivas, mas também suas competências sociais e emocionais. O brincar coletivo, ao envolver atividades artísticas e inventivas, cria um ambiente de trocas, onde as crianças podem compartilhar experiências, construir juntos e aprender umas com as outras.

As atividades propostas no AEE, inspiradas no ateliê de criação, tornam-se um espaço de interação, ampliando as possibilidades de desenvolvimento integral. A seguir, são apresentadas algumas atividades que podem ser realizadas no AEE, e como elas foram organizadas e oferecidas para as crianças.

 A pintura é uma das atividades artísticas mais acessíveis e versáteis ao pensarmos no contexto de escolas e do AEE. Com o uso de diferentes tipos de tintas, pincéis, esponjas e até mesmo as mãos, as crianças podem explorar cores, formas e texturas. A pintura permite que elas expressem suas emoções de forma visual e direta, desenvolvendo sua coordenação motora fina e estimulando a criatividade. No AEE, é possível adaptar a atividade utilizando materiais que respeitem as necessidades sensoriais das crianças, como tintas com diferentes consistências, aromas ou superfícies variadas para suporte (mesas, cavaletes, parede, chão) e para fazer o registro (papel liso, áspero, ondulado, crepom; paredes; chão; mesas; folhas de plantas).

Figura 1 – Mosaico com proposta com materiais riscantes

Fonte: Acervo pessoal da autora

A modelagem, seja com argila, massinha de modelar ou outros materiais maleáveis, oferece uma experiência tátil diversa e envolvente. Por meio da manipulação desses materiais, as crianças desenvolvem habilidades motoras, percepções espaciais e a capacidade de transformar ideias abstratas em formas concretas. No AEE, a modelagem pode ser utilizada para trabalhar conceitos matemáticos, como formas geométricas, ou para criar representações de objetos e seres do cotidiano, facilitando a compreensão e o aprendizado. Além disso, a modelagem promove a paciência e a concentração, pois requer que as crianças dediquem tempo e atenção, cuidado na elaboração de suas criações.

Figura 2 – Mosaico com proposta com Argila

Fonte: Acervo pessoal da autora

A colagem é uma atividade que combina diferentes materiais, como papel, tecido, folhas e outros objetos, para criar composições visuais. Essa atividade permite que as crianças explorem a combinação de cores, texturas e formas de maneira criativa. A colagem pode ser uma opção para trabalhar temas específicos, como a natureza, os sentimentos ou as histórias preferidas das crianças. Além de estimular a coordenação motora e a percepção visual, a colagem também incentiva a tomada de decisões, pois as crianças precisam escolher quais materiais usar e como organizá-los em suas composições.

Figura 3 – Mosaico Colagem

Fonte: Acervo pessoal da autora

O desenho de observação é uma atividade que envolve a representação de objetos ou cenas do cotidiano, incentivando as crianças a olhar atentamente e reproduzir o que observam, como percebem. Essa proposta desenvolve a atenção aos detalhes, a percepção visual e a coordenação motora. Além disso, o desenho de observação pode ser adaptado para diferentes níveis de habilidade e interesses, utilizando objetos simples, como frutas, plantas ou brinquedos. Essa atividade permite que as crianças expressem sua leitura do mundo e suas interpretações pessoais.

Figura 4 – Mosaico com proposta Desenho

Fonte: Acervo pessoal da autora

Incorporar os elementos naturais, como galhos, folhas, flores e pedras, em atividades artísticas pode enriquecer a experiência sensorial das crianças. Essas propostas não só conectam os alunos com a natureza, mas também proporcionam uma exploração tátil. As atividades como a criação de colagens com folhas e flores, a construção de esculturas com galhos ou a pintura de pedras estimulam a criatividade e a curiosidade. Trabalhar com elementos naturais também pode promover o desenvolvimento de habilidades motoras, além de incentivar o respeito e o cuidado com o meio ambiente.

Figura 5 –  Mosaico Criações com Galhos e Folhas

Fonte: Acervo pessoal da autora

Organizar propostas que proporcionem momentos de criação em que as crianças podem escolher os materiais e a forma de trabalhar a partir de seu repertório, é uma prática fundamental para estimular a autonomia e a expressão individual. Essas atividades podem incluir uma variedade de materiais — como tintas, argila, colagens, objetos reciclados, tecidos, linhas — e incentivar a experimentação. A criação permite que as crianças explorem suas emoções, pensamentos e experiências de maneira espontânea, promovendo o desenvolvimento da autoconfiança e da autoestima.

Figura 6 – Mosaico Criação

Fonte: Acervo pessoal da autora

Atividades de construção, como a criação de objetos ou estruturas com blocos, sucata, argila ou materiais reciclados, permitem que as crianças experimentem conceitos de equilíbrio, forma e função. As propostas podem ser adaptadas para trabalhar temas como casas, animais ou transportes, incentivando a imaginação e a resolução de problemas. A construção de maquetes ou cenários também pode ser de forma lúdica e envolvente atividades de vida diária, conceitos lógico-matemáticos.

Figura 7 – Mosaico Construção

Fonte: Acervo pessoal da autora

A exploração de texturas e materiais é mais uma proposta que oferece uma experiência sensorial envolvente para as crianças e incentiva o desenvolvimento de habilidades táteis e perceptivas, além de promover a criatividade e a experimentação. Alguns materiais que podem ser utilizados para compor as propostas: bandejas; potes; colheres; materiais recicláveis (plástico bolha, papelão, garrafas PET); tecidos (algodão, veludo, seda, lixa, esponja); materiais naturais (folhas secas, galhos, pedras, areia, cascas de árvore); argila, massinha ou outro material maleável; farinhas, entre outros.

Figura 8 – Mosaico Espaços de Exploração

Fonte: Acervo pessoal da autora

Essas atividades artísticas e inventivas não apenas promovem o desenvolvimento das crianças, mas também reforçam o papel do AEE como um espaço de criação e inclusão. Ao integrar práticas criativas no AEE, ampliam-se as possibilidades de aprendizagem, permitindo que cada criança explore e desenvolva suas potencialidades de maneira significativa e prazerosa.

As propostas realizadas no Atendimento Educacional Especializado (AEE) indicam que uma abordagem inventiva contribui significativamente para o desenvolvimento integral das crianças. A pintura, modelagem, colagem, desenho de observação e a exploração de texturas, entre tantas outros revelaram-se estratégias potentes para estimular a expressão individual, a criatividade e a autonomia das crianças. Ao proporcionar um ambiente flexível, elas puderam explorar materiais e compor suas próprias criações, o que, por sua vez, promoveu maior envolvimento e motivação nas atividades pedagógicas.

As crianças que participaram dessas propostas demonstraram avanços na coordenação motora fina, na percepção espacial e no reconhecimento de cores e formas. Além disso, os momentos de criação permitiram que expressassem suas emoções e formas de perceber o mundo ao seu redor de forma espontânea, promovendo a autoestima e a autoconfiança. A experiência de trabalhar com diferentes texturas e materiais ampliou a sensibilidade tátil das crianças, ajudando-as a integrar estímulos sensoriais em sua vida cotidiana.

Outro aspecto observado foi a possibilidade através dessas atividades de promover a interação, socialização e o trabalho colaborativo. Ao participarem de propostas coletivos, como de organização de espaços para as brincadeiras, confecção de murais e cartazes com desenhos colaborativos, as crianças precisavam compartilhar espaços, ideias, materiais, negociar as. Isso reforça o papel do AEE não apenas como um espaço de suporte pedagógico, mas também como um local de construção de relações interpessoais. Importante considerar aqui, que ainda que a maioria das fotos seja de momentos individuais para preservar a imagem das crianças, muitas propostas foram desenvolvidas em diferentes espaços da escola – sala de referência, corredor, solário – com pequenos grupos, como também com propostas com a turma toda.

As propostas aqui apresentadas possibilitaram a adaptação de atividades para as necessidades específicas de cada criança. Crianças com diferentes tipos de deficiência puderam participar ativamente, com adaptações simples como o uso de materiais táteis ou ferramentas adaptadas. Dessa forma, a propostas permitiram que cada criança desenvolvesse suas potencialidades no seu próprio ritmo e de maneira significativa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O AEE, ao ser organizado como um ateliê de possibilidades inventivas, transforma-se em um espaço de expressão e aprendizagem que potencializa o desenvolvimento criativo e emocional das crianças. As atividades artísticas e exploratórias não só estimulam o desenvolvimento motor, cognitivo e sensorial, mas também promovem a inclusão e as relações interpessoais. A autonomia e a expressão individual, incentivadas por essas práticas, ampliam as oportunidades de aprendizagem e de desenvolvimento integral.

A implementação de práticas criativas no AEE reforça a importância de oferecer às crianças espaços e contextos que permitam o explorar e criar, respeitando suas necessidades e ritmos individuais. As experiências relatadas aqui indicam que a arte pode ser uma possibilidade de propostas e que gera impactos positivos tanto no processo de ensino-aprendizagem quanto no bem-estar das crianças.

Esses resultados levam a considerar que o AEE, ao incorporar práticas artísticas, oferece múltiplas possibilidades para que todas as crianças possam se expressar e aprender de maneira significativa.

REFERÊNCIAS

BARBIERI, Stela. Territórios da invenção: ateliê em movimento. São Paulo: Jujuba, 2021.

BRASIL. Decreto Federal n. 7611 de 17 de novembro de 2011.BRASIL. Ministério da Educação. Nota Técnica Conjunta nº 2/2015/MEC/SECADI/DPEE – SEB/DICEI. Orientações sobre a organização e oferta do atendimento educacional especializado na educação infantil.Brasília, 4 de agosto de 2015.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018.


¹Graduada em Educação Especial e Mestra em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria/UFSM. Doutoranda em Educação na Universidade Federal de Santa Maria/UFSM. Membro dos Grupos de Pesquisa GEPE- Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação e Inclusão; RIZOMA – Políticas, Currículo e Educação; Docência, Formação E Culturas Na Educação Infantil. E-mail de contato: denisef.darosa@gmail.com