REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7932730
Bruna Souza Macedo1
Philipe do Prado Santos2
RESUMO
O controle de Zoonoses é de responsabilidade dos municípios, que através de normas legais, devem avaliar políticas públicas acerca do tema. Uma das maneiras encontradas pelo governo brasileiro para combater estas doenças infecciosas, foi a implementação de Centros de Controle de Zoonoses ( CCZ) a fim de garantir o bem-estar animal e por consequência garantir a saúde pública da população. O objetivo geral deste trabalho consiste em analisar e exteriorizar as principais diretrizes e normativas, em nível de projeto arquitetônico, para a estruturação de um CCZ, retratando os aspectos de dimensionamento, localização, setorização e instalações, exigidos pela FUNASA, definidas pelo Ministério da Saúde e demais normativas relacionadas com o tema. Junto com esta necessidade, surgiram as diretivas voltadas para esta causa e para a elaboração de CCZs, com o intuito de disponibilizar soluções na busca de melhores espaços e como forma de atender as necessidades dos animais e funcionários de forma corretiva. Por esta razão, este artigo tem por finalidade ressaltar a importância destas diretrizes. Tendo como base artigos que visam, conforto e qualidade de vida a esses animais e estudos de referenciais teóricos documentais acerca do tema.
Palavras-chave: Saúde Pública. Doenças. Bem-estar animal.
1 INTRODUÇÃO
Segundo a Organização Mundial de Saúde ( OMS), zoonoses são todas as doenças e infecções que se transmitem de forma natural dos animais para o homem. Essas infecções podem ser adquiridas diretamente dos animais ou pela ingestão de alimentos contaminados, ameaçando a vida a depender da severidade dessas doenças. Sabe-se que quanto maior o número de animais abandonados, o número de contaminação por eles crescem ainda mais, sendo assim, a preocupação com o controle populacional de cães e gatos vêm sendo cada vez mais destacada. O entendimento da biologia de animais abandonados é pertinente por vários motivos, principalmente por estes estarem expostos a maiores riscos e receberem menos cuidados quando comparados a animais domiciliados, tornando-os mais vulneráveis a aquisição e transmissão de zoonoses (ALVES et al., 2005).
Com base nesta problemática, argumenta-se em prol da necessidade do combate ao abandono de animais, controle de zoonoses e como a arquitetura pode contribuir positivamente no comportamento animal, propiciando serviços adequados e atendendo as necessidades básicas destes animais. Sendo importante se atentar para o dimensionamento dos espaços com base na escala do animal e de suas respectivas necessidades, sejam elas fisiológicas, cognitivas, físicas, sociais ou comportamentais.
Cada edificação construída para o cuidado animal e controle de zoonoses exige um estudo de contextualização da unidade, em decorrência das características do seu funcionamento. O Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) é o órgão de saúde responsável pelo controle e prevenção dessas doenças, elaborando vigilância ambiental, controle de população de animais domésticos, esterilização cirúrgica ( castração), entre outros. Visando a preservação da saúde dos animais e da população, logo, é de fundamental importância a presença de um Serviço de Zoonoses nos municípios, visando equilibrar a relação homem, animais domésticos e a prevenção e controle epidemiológico de zoonoses, tencionando diminuir os riscos de transmissão à população e melhorando a qualidade de vida destes animais que se encontram em situação de vulnerabilidade.
Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho consiste em analisar e exteriorizar as principais diretrizes e normativas, em nível de projeto arquitetônico, para a estruturação de um CCZ, retratando os aspectos de dimensionamento, localização, setorização e instalações, exigidos pela FUNASA, definidas pelo Ministério da Saúde e demais normativas relacionadas com o tema. Como objetivos específicos, busca-se discutir o conceito de zoonoses, evidenciando as mais comuns e preocupantes no Brasil, elencar as diretrizes e normativas que regulamentam a elaboração de projetos de arquitetura para o CCZ e elucidar a relação da arquitetura com o bem-estar animal.
Segundo Ferreira (2009) a qualidade de vida do animal pode ser afetada por traumas, estímulos físicos quanto ao ambiente, temperatura, luz, som, odor, comida e movimento, e estímulos psicológicos como conflitos, eventos ameaçadores, separação e isolamento. Estes estímulos podem ser tanto agradáveis ou aversivos, determinando assim o estado do animal, sendo o bem-estar um estado de equilíbrio. Por esta razão, cada detalhe deve ser imaginado na hora de projetar o CCZ, a fim de garantir que o local funcione bem e que o animal tenha espaços para realizar suas atividades, sejam elas psicológicas, emocionais ou sociais.
Dessa forma, a justificativa teórica para o desenvolvimento deste trabalho é contribuir com o conhecimento sobre o tema, ao esclarecer sobre as diretrizes para a estruturação de centro de vigilância de zoonoses, pois no que se refere ao bem-estar animal, é preciso visar melhoria de qualidade de vida dos animais, garantindo que eles tenham os seus direitos. Alguns desses direitos podem ser alcançados pela própria arquitetura, através de espaços com dimensões e layout adequados para cada espécie; espaços individuais e coletivos, com áreas livres para recreação e áreas cobertas para descanso; pisos e revestimentos apropriados; estratégias bem elaboradas para alcançar o conforto ambiental e propiciar acessibilidade a todos.
2 METODOLOGIA
Este trabalho consiste em uma pesquisa qualitativa, baseada fundamentalmente pela interpretação de fontes bibliográficas e documental. De acordo com Gil (2008, p. 177), “a manipulação qualitativa dos dados durante a análise é uma atividade eclética, não há uma única maneira de fazê-la. Embora se reconheça a importância de um arcabouço metodológico sólido, não se pode dispensar a criatividade do pesquisador”.
A pesquisa bibliográfica pautou-se através de artigos, teses, dissertações, consultas feitas ao site do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV), normas para estruturação física de uma unidade de CCZ e relatórios governamentais de referência na temática Zoonoses transmitidas por cães e gatos, prevenção, controle e abandono de animais. Nessa perspectiva, Lakatos (2003) evidencia que esse tipo de pesquisa abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema estudado e a sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que já foi dito, escrito ou filmado sobre determinado assunto.
A pesquisa documental conforme Oliveira (2007 apud Sá-Silva, Almeida, & Guindane, 2009) destaca que este método utiliza materiais que ainda não receberam tratamento analítico. Para o autor, a pesquisa com documentos trata-se de um estudo direto de fontes científicas sem precisar recorrer a fatos do cotidiano.
A a legislação do Conselho Federal de Medicina Veterinária, o manual de vigilância, prevenção e controle de zoonoses para estruturas físicas de um centro de vigilância de zoonoses, e as Políticas estabelecidas pela World Society for the Protection of Animals (WSPA) para a construção de abrigos de animais, são fonte de pesquisa deste artigo, no qual foram apresentados padrões, métodos e recomendações construtivas, abordando os ambientes mínimos necessários, opcionais e obrigatórios. O cumprimento dessa norma, promove uma obra mais segura, adequada e que seja capaz de atender à rotina do Centro de Controle de Zoonoses.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
Este capítulo consiste em apresentar os conceitos, autores e fontes estudadas, sendo capaz de propiciar um melhor entendimento quanto à zoonoses além do embasamento teórico de como a arquitetura pode influenciar nos espaços produzidos para o bem estar animal.
3.1 CONCEITUAÇÃO DE ZOONOSES
Segundo a OMS pode-se definir as zoonoses como enfermidades transmissíveis de forma natural de animais vertebrados ao homem e vice-versa, representando uma ameaça considerável à saúde pública. Em 2016, o Ministério da Saúde do Brasil lançou o “ Manual de vigilância, prevenção e controle de zoonoses: normas técnicas e operacionais.” (BRASIL, 2016). De acordo este documento, existem muitos tipos distintos de zoonoses e dentre as de maior relevância para a saúde pública no Brasil estão a raiva, leptospirose, leishmaniose, toxocaríase, toxoplasmose, esporotricose e entre outras.
A raiva é uma das doenças mais antigas conhecida pelo homem. Os primeiros registros encontrados datam do século XXIII a.C. na Mesopotâmia, citada no Código de Eshnunna como uma doença de grande importância. Aparentemente era uma doença comum e bastante disseminada, conhecida por diversas civilizações, sendo que se pode encontrar registros por toda a história, em relatos políticos, médicos, religiosos, astrológicos, em desenhos e em textos literários, a exemplo dos Lusíadas de Luís de Camões (BAER, 1991).
Segundo Dória (2009), a Raiva atinge mamíferos, como os cães, gatos, ruminantes, equídeos, morcegos, raposas, primatas e o ser humano, por ser uma zoonose. A transmissão da doença pode ocorrer por mordedura, arranhadura ou lambedura. O vírus contido na saliva de um animal infectado é introduzido na pele íntegra ou nas mucosas, podendo estar intactas ou não. Em seguida, após penetrar no organismo, o vírus se multiplica no ponto de inserção, alcançando o sistema nervoso periférico, a partir do qual migra até o sistema nervoso central, causando encefalite. Em sequência, migra para vários órgãos e, nesse momento, as glândulas salivares são atingidas e esse hospedeiro começa a transmitir o vírus (CORTEZ, 2006). O Ministério da Saúde recomenda como prevenção, a proteção vacinal antirrábica anual de cães e gatos, o que consequentemente previne também a raiva humana. (BRASIL, 2020).
A leptospirose foi descrita pela primeira vez em 1880 , no Cairo, por Larrey. No entanto, foi em 1886 que o médico Adolf Weil descreveu minuciosamente quatro casos clínicos em humanos (BRASIL, 1995). Ela é transmitida de animal a animal e de animal ao homem, porém a transmissão homem a homem, é rara. A transmissão ao homem ocorre por contato com urina, sangue, tecidos ou órgãos de animais infectados; ou indiretamente, pelo contato com água e/ou solo úmido ou vegetação contaminados pela urina de animais infectados. Os animais domésticos e selvagens são essenciais para a persistência dos focos da infecção (BRASIL, 2010).
Diante do exposto, é de extrema importância conscientizar a população de que quanto menos cuidado for ofertado aos animais, em especial aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade, maiores serão os riscos de exposição à saúde humana.
3.2 DIRETRIZES TÉCNICAS PARA ESTRUTURAS FÍSICAS DE UM CENTRO DE VIGILÂNCIA DE ZOONOSES
Por ser uma unidade que necessita de muitos espaços com variadas particularidades em suas especificações internas, algumas técnicas e normas devem ser seguidas a fim de garantir um ambiente que vise o bem-estar animal. A estrutura física adequada de um CCZ é aquela dotada de capacidade para atender à sua rotina. Sendo assim, é importante que o estabelecimento tenha condições físicas para sua construção e manutenção.
Conforme as diretrizes da Fundação Nacional de Saúde ( FUNASA) estas unidades são estruturadas para atender as diferentes comunidades das cidades em que são inseridas, de acordo com a população das cidades a serem implantadas e com atividades distintas conforme o porte ( BRASIL, 2007). A FUNASA orienta seguir algumas características e critérios para a criação de um Centro de Controle de Zoonoses em um determinado terreno, eles são: possuir energia elétrica, água e telefonia; rede de esgoto adequada para evitar contaminação ambiental; distante de mananciais e áreas com risco de inundações; áreas que possuam lençóis freáticos profundos; considerar acréscimo mínimo de 100% à área de construção, para efeito de cálculo do terreno; área do terreno deve ser suficiente para garantir o acesso e manobra de caminhão de médio porte; fácil acesso à comunidade para a qual a instituição prestará seus serviços, por vias públicas em condições permanentes de uso; distante de áreas densamente povoadas, de forma a evitar incômodos à vizinhança; distante de fontes de poluição sonora. Já os critérios projetuais que deverão ser levados em conta são:
a) Vistoriar e conferir as medidas do terreno indicado, antes de iniciar o projeto de arquitetura;
b) A construção deverá estar orientada de modo a permitir condições adequadas de ventilação e iluminação naturais;
c) Verificar condições de ventos predominantes, a fim de evitar a dispersão de odores.
Essa medida visa a evitar incômodos aos funcionários e vizinhos;
d) Os blocos das CCZs devem distar, no mínimo, 10 metros das divisas e 10 metros entre blocos;
e) O terreno deve ser murado até a altura de 2m, de forma a impedir a fuga de animais;
f) A CCZ deve possuir acessos que possibilitem o rígido controle de entrada e saída dos animais, facilidade de isolamento dos mesmos e a otimização dos trabalhos, tanto técnicos como administrativos. Deve-se evitar a existência de múltiplos acessos, recomenda-se apenas dois acessos:
• acesso principal para pessoal administrativo e corpo técnico, para visitantes que transportem animais e procurem os serviços da unidade;
• acesso secundário para abastecimento da unidade, para entrada de animais apreendidos e para saída de carcaças de animais.
g) Toda a área de circulação de animais deverá apresentar largura igual ou superior a 1, 80 m. (BRASIL, 2007)
A WSPA – World Society for the Protection of Animals é uma organização que trabalha em diversos países em prol da proteção animal, inclusive no Brasil, onde atua desde 1989. A Organização criou em 2010 um guia de orientação que estabelece diretrizes para a criação de abrigos capazes de suprir as necessidades dos animais, orientando desde o projeto do abrigo até o seu funcionamento no dia a dia e manutenção. Após uma avaliação deste documento, decidiu-se por sua utilização como referencial já que os parâmetros e diretrizes apresentadas foram considerados aplicáveis no Brasil.
Segundo Souza (2011) , os canis e gatis, ao serem planejados, devem levar em considera as necessidades dos animais de modo a garantir o seu bem-estar e preveni-los de doenças, estresses e brigas. Eles devem proporcionar espaço, conforto, segurança, insolação e proteção das intempéries. Quanto aos Canis individuais:
Cada cão deve dispor de um mínimo de 2 m² de área coberta para descanso e abrigo das intempéries. Essa área deve conter uma cama/estrado confortável e espaço para vasilhas com alimento e água e ser construída de modo a evitar a entrada de sol, chuva e descanso deve ser bem ventilada e iluminada. Além da área coberta, cada cão requer também um mínimo de 2,5 m² a 3,5 m² de área aberta para banho de sol e pequenos exercícios. ( Almeida e Souza, 2011, p; 2 8)
Em relação aos Canis coletivos, seu espaço deve ser pensado para acolher um grupo de animais, separados por faixa etária, porte ou comportamento, além de conter espaços para dormir e se alimentar separadamente.
Os gatis individuais, devem ter um mínimo de 2,2 m ², levando em conta a área fechada mais a área aberta para banho de sol e exercícios, sendo a abertura voltada para frente. A parte fechada deve ter cama, prateleiras para subir e espaço para colocação de vasilhas com alimento e água, sendo construída de modo a evitar a entrada de sol, chuva e vento. (WSPA, 2011).
Para os gatis coletivos uma boa ventilação e iluminação é essencial, portanto os gatis devem estar orientados a Leste para garantir esse conforto. Os gatos necessitam de uma área de espaço aberto e fechado mínimo de 1,7m² por gato e deverão ser separados por sexo. Além disso, alguns objetos devem estar disponíveis para eles se acomodarem como: prateleiras, caixas e brinquedos, além de bandejas higiênicas para a deposição dos dejetos. O número máximo de gastos a serem abrigados é de cinquenta gatos, porém é recomendado que se utilize de números menores (WSPA BRASIL, 2011). Esses tamanhos são levados como parâmetro para que haja conforto e espaço o suficiente para o bem-estar dos animais, mas para saber a quantidade de animais que o abrigo suporta de fato, é preciso também levar em consideração o orçamento e o número de funcionários do local, para que não interfira na qualidade da ração, assistência veterinária e cuidados necessários para os animais (WSPA, 2011).
Tanto os canis quanto os gatos necessitam que sua construção seja feita toda em alvenaria, preferencialmente com tijolos aparentes ou revestimentos de fácil limpeza, para utilização de pouco produto químico, facilitando assim a higienização sem prejudicar o animal. Na cobertura deve-se utilizar telhas de barro, diminuindo assim a temperatura nos dias muito quentes. Já o piso deve ser de cimento com inclinação para melhor escoamento da água na hora da higienização. Especialmente para os gatos, é importante que tenha caixa de areia dentro do gatil e brinquedos amarrados em todas as alturas para evitar assim seu estresse. “[…] O ideal é que tenha dois ambientes. Um dormitório e uma área de lazer. Como os gatos gostam de dormir no alto, instale prateleiras no dormitório, que podem ou não, ser revestidas por colchonete […] ” ( TAUSZ, 2015).
Segundo Oliveira (2010) , para a instalação e criação de canis e gatis recomenda-se: sempre contar com uma boa iluminação e ventilação natural levando em conta o mau cheiro e umidade que fica no local, prever canaletas com grelhas para escoar sobras de ração e das fezes, também considerar caimento do piso. Ficando evidente que a melhor maneira de criar boas condições de vida para qualquer animal, é criando um ambiente com estímulos e investindo na qualidade do espaço.
No que diz respeito à funcionalidade, espacialidade e construção de uma CCZ, deve-se oportunizar a realização de atividades dentro dos parâmetros de higiene e assepsia essenciais para a administração de espécies animais diversificadas. É fundamental que, na etapa de elaboração e construção dos CCZ, sejam dadas sugestões de soluções arquitetônicas tolerantes e adaptáveis às ampliações e mudanças (BATISTA; FARIAS, 2016).
Conforme as Diretrizes para Projetos Físicos de Unidade de Controle de Zoonoses e Fatores Biológicos de Risco (BRASIL, 2007), os CCZ’s devem estar em local que haja um rígido controle de entrada e saída, tendo apenas dois acessos: acesso principal (administrativo, visitantes, corpo técnico) e um acesso secundário (abastecimento da unidade, entrada de animais apreendidos e saída de carcaça de animais).
As circulações e acessos são elementos significantes para a melhoria do funcionamento dos CCZ, a largura sugerida para estes fatores é igual ou superior a 1,80m, em qualquer área que envolva circulação de animais, facilitando a entrada e saída de carrinhos que os transportam, os quais possuem 90 cm, e assim evitar o bloqueio da passagem ( BATISTA; FARIAS, 2016).
É importante nos ambientes de abrigos de animais levar em consideração a poluição sonora gerada por eles, assim, torna-se necessário trabalhar utilizando materiais mais apropriados para reduzir a passagem dos ruídos. A altura do pé-direito da construção e o tipo de material utilizado no forro ou telhado também tem grande influência sobre os ruídos. Para que não haja um estresse muito grande dos animais e dos funcionários, é necessário avaliar essa situação e buscar os melhores caminhos para minimizar esses problemas. O uso adequado de uma vegetação típica da região poderá ser uma estratégia importante na criação de microclimas mais amenos e poderão ser utilizadas como barreiras para a propagação do som, além de construir uma paisagem mais agradável para o convívio de animais e funcionários (WSPA, 2011).
Diante disto, é necessário compreender que o espaço físico para alocar animais se trata de uma construção de grande porte, pois o espaço precisa estar preparado para receber animais de diferentes tamanhos, e regulado para os casos onde seja necessário isolar estes animais.
3.2 BEM ESTAR ANIMAL E SUA RELAÇÃO COM A ARQUITETURA
A ideia de bem-estar animal é compreendida de uma boa e satisfatória qualidade de vida que envolve aspectos referentes ao animal tal como a saúde, a felicidade, a longevidade ( Tannenbaum, 1991 ; Fraser, 1995). Segundo Barry Hughes, responsável por um dos conceitos mais populares sobre o tema, bem-estar animal é: “um estado de completa saúde física e mental, em que o animal está em harmonia com o ambiente que o rodeia” (Hughes, 1976, p. 155).
Os animais são seres capazes de sentir emoções, tais como medo e felicidade. É É importante reconhecer alternativas para minimizar a dor e sofrimento dos mesmos. O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), lançou uma campanha sobre bem-estar animal para conscientizar a população, tendo médicos veterinários e zootecnistas como aliados. De acordo com a Comissão de Ética, Bioética e Bem-estar animal do CFMV, um animal possui alto grau de bem-estar quando possui uma boa saúde e um comportamento natural (CFMV, 2013).
Nos espaços de confinamento, como em abrigos, é importante perceber os fatores que geram estresse e/ou impedem a expressão do comportamento natural do animal, como barreiras físicas, isolamento e superlotação, conforme orientação técnica do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (2008). Portanto, levando-se em conta a situação crítica de abatimento psicológico e muitas vezes física que um animal abandonado se encontra ao ser resgatado e as classificações de bem-estar animal descritas acima, se percebe a necessidade de voltar a arquitetura para a sensação de aconchego e contato com o meio ambiente. Segundo Broom (1986 , p. 2) , o “bem-estar de um indivíduo é seu estado em relação às suas tentativas de adaptar-se ao seu ambiente” e facilitar essa adaptação é função da arquitetura. Pois a arquitetura direcionada à questão animal tem a capacidade de integrar, mudar as relações de uso de espaço, de responsabilidade social, reduzir o abandono, reforçar os direitos dos animais e promover a mesma dignidade de vida.
Nesse sentido, Ramos (2017) coloca que a adequada funcionalidade e a espacialidade são duas características essenciais que todo abrigo deve conter. É preciso certificar que os animais que ali residem desfrutem do local para a prática de atividades sociais, emocionais e psicológicas. O local deve possuir boa estrutura física, adequada higienização e manutenção, a fim de evitar a proliferação de doenças e proporcionar uma melhor qualidade de vida aos animais (NEWBURY et al. , 2018; PERKINS, 2018; SOUZA PERKINS, 2018; SOUZA et al. , 2018 ).
As diretrizes arquitetônicas têm como finalidade definir e proporcionar bem-estar aos animais através da definição de padrões para sua proteção e cuidado. Essas diretrizes podem estabelecer padrões de espaço mínimo para os animais em abrigo, permitindo que eles possam se movimentar livremente e realizar seus comportamentos naturais. Além disso, as diretrizes podem propiciar nutrição, higiene, saúde e conforto, garantindo que os animais recebam os cuidados necessários para sua sobrevivência e bem-estar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os animais de rua estão expostos a uma série de zoonoses, que são doenças transmitidas pelos animais para os seres humanos; visto que estes animais não têm controle adequado de vacinação e tratamento de doenças, tornando-se assim um problema sério que afeta a saúde pública e o bem-estar animal em todo o país. Sendo de extrema importância que os municípios sejam devidamente estruturados, funcionem com equipe capacitada e ambientes adequados e eficazes de vigilância em saúde, pois os serviços prestados pelas Unidades de Controle de Zoonoses são de grande relevância governamental e questão de saúde pública.
Por esta razão e como base fundamental deste estudo, foram estudadas e descritas ao Ao longo deste trabalho as diretrizes cabíveis para auxiliar na elaboração de um CCZ, evidenciando as diretrizes urbanísticas e arquitetônicas do ambiente. Este entendimento é relevante para a criação de espaços que atendam as necessidades dos animais e dos profissionais envolvidos.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Wilza de Fátima. Implantação do centro de controle de Zoonoses: Um Espaço Público para o resgate de animais abandonados. Colombo, 2011.
ALVES, A. J. S; GUILOUX, A. G. A.; ZETUN, C.B; POLO, G.; BRAGA, G.B. Abandono de cães na América Latina: Revisão de literatura. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/271444583_Abandono_de_caes_na_Americ a_Latin a_revisao_de_literatura. Acesso em: 27 set. 2022.
BAER G. M. The natural history of rabies. Boca Raton : CRC Press, 1991.
BATISTA, L. F.; FARIAS, P. M. Arquitetura de Unidades de Controle de Zoonoses . In: VII CONGRESSO BRASILEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO DE EDIFÍCIO HOSPITALAR , 2016, Salvador. Anais… Salvador, p. 15-22, 2016. Disponível em: http://abdeh.org.br/uploads/ rquivos/60/ANAIS%20VII%20CBDEH%20Salvador%202016.pdf. Acesso em: 15 mar. 2023.
BAHR, S.E.; MORAIS, H.A. Pessoas imunocomprometidas e animais de estimação. Clínica Veterinária , n. 30, p. 17-22, 2001.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual de vigilância, prevenção e controle de zoonoses: normas técnicas e operacionais . Brasília, 2016.
BRASIL. Ministério da Saúde. RAIVA . Brasília, DF, 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de leptospirose . Brasília: 98 p.1995.
BRASIL. Ministério da Saúde. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso . 8. ed.Brasília,DF, 2010. 444 p.
CFMV – Conselho Federal de Medicina Veterinária. Campanha de Bem-estar Animal. 2018 . Disponível em: https://www.cfmv.gov.br/bem-estar-animal-9/comunicacao/campanhas/bem-estar-anial/2018/10/11/#:~:text=Um%20animal%20com%20alto%20grau,voar%2C%20e% 20 assim%20por%20diante. Acesso em 01 abr. 2023
CONSELHO NACIONAL DE CONTROLE DE EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL.
BEMESTAR ANIMAL Nº12: Orientação técnica . Brasília: Concea, 2008. 12 p.
Disponível em: https://www.ceua.ufv.br/wp-content/uploads/2018/05/ORIENTACAO-TECNICA-N %C2%BA-12.pdf. Acesso em: 05 abr. 2023.
CORTEZ, Tamara Leite. RAIVA URBANA: EPIDEMIOLOGIA E CONTROLE . Botucatu, 2006.
DEZORZI, Arnizant Bruna. Controle de zoonoses transmitidas por cães e gatos: uma revisão de políticas públicas e legislação no Município de São Paulo. São Paulo, 2019.
DÓRIA, JOSÉ. A RAIVA ou HIDROFOBIA . Disponível em: http://www.vetbiblios.pt/ARTIGOS_TECNICOS/Zoonoses/RAIVA_OU_HIDROFOBIA.pd f. Acesso em: 13 out. de 2022.
FUNASA – Fundação nacional de Saúde para Projetos físicos de unidades de controle de zoonoses e fatores biológicos de risco. Brasília: 2007. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/fatores_bio_risco.pdf. Acesso em: 20 out. 2022.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 . ed. São Paulo: Atlas, 2008.
Fraser, 1995 D. Fraser Ciência, valores e bem-estar animal: explorando a conexão inextricável “Anim. Welfare 4 (1995), pp. 103 – 117.
ITO, FUMIO. REVISÃO SOBRE A RAIVA . Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/saude-animal/progr amas-de-saude-animal/raiva-dos-herbivoros-e-eeb/RevisosobreRaiva2017.pdf. Acesso em: 13 out. de 2022.
LAKATOS, E. M. Fundamentos da metodologia científica São Paulo . 2003. SP: Atlas.
Legislação do SUS . Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Brasília. CONASS, 2003
MANTILLA, S. P. S. Zoonoses: raiva e leishmaniose . 2017. Disponível em: https://www.infoescola.com/doencas/zoonoses. Acesso em: 29 out. de 2022.
NEWBURY, S.; BLINN, M. K.; BUSHBY, P. A.; COX, C. B.; DINNAGE, J. D.;
GRIFFIN,B.; HURLEY, K. F.; ISAZA, N.; JONES, W.; MILLER, L.; O’QUIN, J.; PATRONEK, G. J.; SMITH BLACKMORE, M.; SPINDEL, M. Diretrizes sobre os padrões de cuidados em abrigos de animais. Tradução: Fabiana Buassaly Leistner. 1 ed. São Paulo: PremieRpet, 2018
OLIVEIRA, S. T. Leptospirose canina: dados clínicos, laboratoriais e terapêuticos em cães naturalmente infectados . 2010. 88 f. Tese (Doutorado em Ciências Veterinárias) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.
SOUZA, Mariângela Freitas de Almeida. (Brasil). WSPA, WORLD SOCIETY
FOR THE PROTECTION OF ANIMALS (org) . Políticas para abrigos de cães e gatos . Rio de Janeiro, Wspa, 2011. 28 p.
SCHULTZ, Silvia. Abandono de animais – A dura realidade da vida nas ruas . Portal Nosso Mundo.Artigos. Disponível em: http:http://www.portalnossomundo.com/site/mais/artigos/abandono.html. Acesso em: 26 set. 2022.
TAUSZ, Bruno. Construindo um canil modelo. [S.l.]. 2015 . Disponível em: http://www.dogtimes.com.br/canilmodelo.htm. Acesso em: 01 abr. 2023.
TANNENBAUM, 1991 J Tannenbaum. Ética e bem-estar animal: a conexão inextricável Geléia . Veterinário. Med. Assoc., 198 (1991), pp. 1360 – 1376.
THRUSFIELD, M. Epidemiologia veterinária . 2. ed. São Paulo: Roca, 2004, 556 p
1Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR. E-mail:
brunamacedos95@gmail.com
2Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR. E-mail:
brunamacedos95@gmail.com