PROJETO MAQUETES PARA SURDOS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202501161152


Miriam da Cruz1


RESUMO 

O presente artigo aborda o projeto de maquetes interativas desenvolvido com alunos surdos do Ensino Médio Técnico na Escola Helen Keller, em São Paulo, destacando a utilização de tecnologias digitais como QR codes para promover acessibilidade e inclusão. A experiência revelou desafios no ensino de infraestrutura de redes para a comunidade surda, mas apresentou soluções inovadoras que poderão servir de modelo para outras instituições.

Palavras-chave: Educação inclusiva; Surdez; Infraestrutura de redes; QR codes; Tecnologia assistiva.

ABSTRACT 

This article discusses the interactive model project developed with deaf students from the Technical High School at Helen Keller School in São Paulo, highlighting the use of digital technologies such as QR codes to promote accessibility and inclusion. The experience revealed challenges in teaching network infrastructure to the deaf  community but presented innovative solutions that could serve as a model for other institutions. 

Keywords: Inclusive education; Deafness; Network infrastructure; QR codes; Assistive technology. 

1 INTRODUÇÃO

A inclusão escolar é um desafio constante para professores e instituições de ensino, especialmente quando se trata da educação de alunos com deficiência auditiva. Segundo Sassaki (1997), o processo de inclusão requer adaptação de métodos e materiais para garantir igualdade de acesso ao conhecimento. Na Escola Helen Keller, situada em São Paulo, foi desenvolvido um projeto de maquetes interativas com o objetivo de facilitar a compreensão de conceitos complexos de infraestrutura de redes por 16 alunos do Ensino Médio Técnico.  

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA  

A educação de surdos requer o uso de estratégias pedagógicas que considerem as especificidades dessa comunidade. Lodi e Machado (2014) destacam que o uso de recursos visuais e tecnologias digitais pode potencializar a aprendizagem dos alunos com deficiência auditiva. Vigotski (1984) também enfatiza que o ambiente e a mediação são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo, especialmente para alunos que dependem da comunicação visual. Além disso, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reforça a importância das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) no processo de ensino. 

3 PROBLEMA  

A principal dificuldade enfrentada na Escola Helen Keller era garantir que os alunos surdos do curso técnico de infraestrutura de redes compreendessem plenamente conceitos abstratos, como topologias de rede, dispositivos de interconexão e cabeamento estruturado. Tradicionalmente, o ensino desses conteúdos depende de explicações orais e materiais escritos complexos, que muitas vezes não atendem às necessidades da comunidade surda. Essa realidade resultava em baixo engajamento e dificuldades na aplicação prática dos conceitos.

4 SOLUÇÃO PROPOSTA  

Para enfrentar esses desafios, foi proposto o desenvolvimento de maquetes físicas que  representassem diferentes redes de computadores, acompanhadas de QR codes que  direcionavam para conteúdos em Libras, vídeos explicativos e animações visuais. Essa  abordagem visou proporcionar uma experiência de aprendizado interativa e acessível,  permitindo que os alunos se envolvessem de forma mais ativa no processo de  aprendizagem.  

5 DESENVOLVIMENTO  

5.1 Planejamento e Construção das Maquetes

O projeto foi desenvolvido na Escola Helen Keller, com uma turma de 16 alunos do Ensino Médio Técnico que cursam a disciplina de infraestrutura de rede. Os alunos foram organizados em equipes, recebendo a tarefa de projetar e construir maquetes que representassem conceitos estudados. A escolha dos materiais priorizou facilidade de manipulação e visibilidade dos elementos. Cada maquete foi equipada com QR codes que redirecionavam para explicações em Libras, garantindo acessibilidade completa às informações. 

5.2 Uso de Tecnologias Digitais  

Os QR codes foram fundamentais para integrar o projeto a recursos tecnológicos. Conforme argumenta Moran (2015), o uso de ferramentas multimodais pode aumentar o engajamento e a compreensão dos alunos. Os vídeos em Libras e as animações ajudaram a tornar os conceitos mais palpáveis, proporcionando um ambiente de  aprendizagem inclusivo e participativo. O uso de tecnologias digitais no ensino de surdos é essencial para facilitar a compreensão dos conteúdos e promover a interação com o conhecimento (Lacerda, 2016). 

5.3 Exposição e Apresentação  

As maquetes foram inicialmente exibidas no corredor da Escola Helen Keller, permitindo que visitantes interagissem com os projetos por meio de QR codes que direcionavam a conteúdos interativos. No dia 25 de novembro, ocorreu a apresentação oficial no auditório da escola, que contou com a presença da coordenação da Fundação Paulistana, da coordenação da Escola Helen Keller, dos professores da unidade e dos alunos.  

Durante o evento, os alunos tiveram a oportunidade de explicar o funcionamento das maquetes, demonstrando como os QR codes integravam tecnologias digitais às representações físicas. A apresentação destacou o impacto educacional do projeto e reforçou a importância de iniciativas inclusivas no ensino técnico. O evento foi amplamente elogiado pelos presentes, consolidando o sucesso dessa abordagem pedagógica inovadora.  

6 RESULTADOS  

O projeto trouxe inúmeros benefícios para os alunos, que se mostraram mais engajados e capazes de aplicar os conceitos de rede em situações práticas. Além disso, a integração de QR codes como recurso educativo contribuiu para um aprendizado mais efetivo e inclusivo. Relatos dos alunos indicam que a abordagem interativa tornou as aulas mais compreensíveis e motivadoras. 

A coordenação da escola reconheceu o valor pedagógico da iniciativa, destacando-a em relatórios internos. Este projeto pode servir de inspiração para outras instituições que buscam métodos inovadores e acessíveis de ensino. 

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS  

A implementação de maquetes interativas na Escola Helen Keller demonstrou que é possível ensinar conteúdos técnicos de forma acessível e envolvente para alunos surdos. No entanto, o sucesso do projeto depende de um planejamento cuidadoso e do uso de tecnologias que favoreçam a comunicação visual. Espera-se que essa experiência possa ser expandida, incluindo a criação de uma versão online do projeto, de forma a beneficiar ainda mais estudantes. 

REFERÊNCIAS

KENSKI, Vani Moreira. Educação e Tecnologias: o novo ritmo da informação. 4. ed. Campinas: Papirus, 2012.

LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de. Educação de Surdos: a inclusão em escolas regulares. 3. ed. São Paulo: Plexus, 2016.

LODI, Ana Cláudia Balieiro; MACHADO, Ana Claudia; et al. A Educação de Surdos e as práticas educacionais inclusivas. Belo Horizonte: Autêntica, 2014.

MORAN, José Manuel. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. 4. ed. Campinas: Papirus, 2015.

SASAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. 

VIGOTSKI, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.


1Professora do Curso Técnico na Escola Helen Keller