PROJETO “ÁGUAS DE MARÇO”: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DO ENSINO DE ARTE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8072627


Brenno Fidalgo de Paiva Gomes1
Elieunilde de Sousa Barbosa2


Resumo

O presente estudo refere-se ao desenvolvimento de um projeto no espaço escolar, trazendo à tona uma reflexão sobre educação ambiental, a partir da abordagem artística, no âmbito da linguagem pictórica, literatura, teatro e dança. Para a elaboração deste trabalho, elucidamos a contribuição das linguagens no campo da arte como uma forma de desenvolver habilidades e reflexões em sala-de-aula sobre as relações humanas com o meio ambiente, de modo a conscientizar o alunado para atitudes responsáveis com a sustentabilidade e preservação da natureza. Nesse sentido, o local de abordagem das atividades foi a Unidade Escolar Raimundo Araujo Prado, na cidade de Beneditinos, estado do Piauí. Diante disso, tivemos como objetivo analisar o papel da Arte no aprendizado sobre educação ambiental, assim como refletir e produzir criações artísticas que valorizem a capacidade humana de interagir com o meio ambiente sem degradá-lo. Assim, foram promovidos espaços de diálogo e reflexão, com o protagonismo dos estudantes na participação das atividades realizadas, fazendo intervenções artísticas que gerassem proposições que atendessem à comunidade para a mudança de comportamento quanto à preservação ambiental. Com os resultados alcançados, foi observado que o alunado atuou nas mais diversas práticas artísticas, compreendendo e agindo em prol do sentir e viver o meio ambiente, atentando para a criticidade e mudança de comportamento sobre a poluição das águas, do ar e sobre a valorização da fauna e flora, usando dos materiais e conhecimentos escolhidos. 

Palavras-chaves: Escolar. Poluição. Ambiental. Arte.

Resume

The present study refers to the development of a project in the school context, bringing to light a reflection on environmental education, from the artistic approach, in the scope of pictorial language, literature, theater and dance. For the elaboration of this work, we elucidate the contribution of languages in the field of art as a way to develop skills and reflections in the classroom on human relations with the environment, in order to make the student aware of responsible attitudes with sustainability and preservation of nature. In this sense, the place of approach of the activities was the Raimundo Araújo Prado School Unit, in the city of Beneditinos, state of Piauí. Given this, we aimed to analyze the role of Art in learning about environmental education, as well as reflect and produce artistic creations that value the human capacity to interact with the environment without degrading it. Thus, spaces for dialogue and reflection were promoted, with the protagonism of the students in the participation of the activities carried out, making artistic interventions that generated propositions that would serve the community for the change of behavior regarding environmental preservation. With the results achieved, it was observed that the student acted in the most diverse artistic practices, understanding and acting in favor of feeling and living the environment, paying attention to the criticality and change of behavior on the pollution of water, air and on the appreciation of fauna and flora, using the materials and knowledge chosen.

Keywords: Scholastic. Pollution. Environmental. Art.

Introdução

Nos últimos anos, a intervenção humana na natureza tem crescido de maneira desenfreada e irregular, causando devastações consideradas irreversíveis. Isso tem gerado uma mobilização mundial para alertar sobre incêndios florestais, poluição das águas, consumo excessivo de materiais descartáveis e o descarte incorreto, assim como a extinção de animais, ameaçados pelos desmatamentos. Essas atitudes nocivas ressaltam a importância de repensar o modo de reconduzir a relação humana com o meio ambiente, necessitando de uma comoção planetária, a ponto de recuperar a qualidade de vida de todos os seres vivos.

Assim, a escola é um ambiente motivador para que o educando desperte para uma consciência ativa sobre a relação da sociedade com o mundo natural e social. Nessa experiência, o contato com a sala-de-aula propicia maior reflexão sobre temáticas que se tornam de suma importância para ativação de mecanismos sociais que amparem o bem-estar coletivo, propiciando a responsabilidade e capacidade que os indivíduos têm de se organizarem socialmente, prevalecendo à sustentabilidade como modelo de existência no planeta, de modo a preservar a natureza, utilizando dela de maneira proativa e responsável.

Nesse caso, a Arte entra como um aspecto reflexivo e ativo sobre a construção de novas ideias e atitudes para recuperar uma educação ambiental fundamental à conservação do planeta Terra. A Arte, por isso, serve como produtora de conhecimentos e incentivadora na mudança de comportamentos, atingindo todas as esferas sociais, salientando a importância de cultivar a responsabilidade coletiva sobre a natureza, utilizando de suas ferramentas expressivas e comunicativas para ressaltar a leitura de mundo, a inteligência criativa e a produção de saberes e fazeres a favor do meio ambiente.

Dessa forma, buscamos despertar a consciência sustentável do planeta, por meio do ensino das Artes, utilizando de suas linguagens expressivas como meio de comunicação e interação entre os alunos da Unidade Escolar Raimundo Araújo Prado. Assim sendo, o presente artigo busca na Arte, enquanto linguagem expressiva e comunicativa, um meio de desenvolver reflexões e ações que mobilizem os estudantes da referida escola para a produção de conhecimentos que gerem uma abordagem individual, através das expressões artísticas pessoais criadas ao longo do projeto, assim como coletivas, partilhando de linguagens como a dança e o teatro para a geração de fruições, contextualizações e sensibilidades sobre a preservação ambiental no sentido local do município de Beneditinos, interior do Piauí. 

Desse modo, o projeto “Águas de Março” tem em sua percepção o desenvolvimento dos alunos para despertá-los à sensibilidade artística, desenvolvendo suas habilidades criativas em várias linguagens, assim como os instigando a refletirem sobre suas próprias atitudes frente ao tema da educação ambiental. Nesse referido projeto, cabe ressaltar que a Arte é o suporte que desencadeia todo esse aparato investigativo, proporcionando tempo e espaço para a abertura criativa de enredos, história e contextos retratados pelo protagonismo estudantil.

Desse modo, construímos algumas questões norteadoras para a execução do projeto, pensando inicialmente em refletir sobre: como a área de conhecimento Arte pode servir para a abordagem sobre o meio-ambiente em sala de aula? Com base nisso, entendemos que a resposta a esse problema seria dada no decorrer do desenvolvimento de um projeto que teria como execução o uso de diversas linguagens que comunicassem e expressassem as leituras de mundo dos alunos, suas percepções acerca da temática sugerida e como desenvolveram novas atitudes no dia a dia.

Assim, sabemos da importância de transformar os espaços sociais rumo ao bem-estar coletivo. E no caso da escola, um espaço socializador e transformador, a educação ambiental se faz urgente e necessária, principalmente se pensar na área de Arte como uma produtora de conhecimento reflexivo que altere comportamentos, em prol do contato humano com nosso ecossistema. Com isso, temos como objetivo analisar o papel da Arte no aprendizado sobre educação ambiental, assim como refletir e produzir criações artísticas que valorizem a capacidade humana de interagir com o meio ambiente sem degradá-lo. Notamos como a Arte serviu não só no sentido de expressar a produção, fruição e sensibilidade estética dos alunos, mas também como elemento motivador de mudança de hábitos e percepções sobre a preservação da natureza.

Por isso, percebemos a necessidade de aliar os conhecimentos da área de Artes com a educação ambiental, levando nossos alunos às mais diversas reflexões no que concerne à vida ambiental em sua diversidade planetária. Para isso, utilizamos da produção de poesias com a temática sobre a importância da preservação da água, o uso da linguagem pictórica, a partir de artistas brasileiros que usam dessa forma de expressão, gerando discussões fruidores e contextualizadas em sala-de-aula sobre a riqueza natural das florestas, assim como da linguagem do teatro e da dança como meios de comunicação sobre a ação agressiva do humano diante da fauna e flora.

Desta maneira, para as discussões propostas neste artigo, fizemos um levantamento bibliográfico com autores que nos esclarecesse sobre a preservação da nossa natureza, assim como sobre o papel de artistas que, como porta-vozes do nosso planeta, usam de suas experiências para fazer alertar à população mundial sobre desmatamentos, incêndios, poluição da água e do ar, extinção da fauna e consumo capitalista excessivo.

Metodologia

O projeto “Águas de Março” discutiu em suas atividades uma abordagem poética, a partir das linguagens artísticas, unindo produção, fruição e contextualização sobre o tema da educação ambiental. Para este trabalho, usamos os espaços de convivência e socialização da Unidade Escolar Raimundo Araújo Prado, localizado no município de Beneditinos, estado do Piauí. Nesse caso, os estudantes da referida instituição fazem parte do ensino fundamental, do 6º ao 9º ano, os quais se utilizaram dos materiais e técnicas trabalhadas em sala para realizarem a culminância do projeto.

Para isso, foram utilizados quatro artistas que abordam em seus objetos artísticos a pauta sobre o meio ambiente, estimulando os alunos a pensarem sobre a temática, por meio das artes visuais. Ademais, o uso das linguagens dança e teatro foram trabalhadas para a criação de cenas interpretadas através de músicas, movimentos corporais e gestos teatralizados, conforme a temática escolhida.

Desse modo, as práticas artísticas e as fruições artísticas aconteceram em oito turmas: duas do 6º ano, duas com o 7º ano, duas com o 8º ano e, por fim, duas turmas do 9º ano, nos turnos da manhã e tarde, acontecendo a culminância nos dois horários de aula. Essas atividades foram desenvolvidas ao longo de todo o mês de março. Nesse caso, a culminância aconteceu no dia 30 de março, utilizando o espaço da escola para realização do evento. Nisso, foram convidados professores, alunos e comunidade escolar para o desenvolvimento das práticas artísticas.

Assim, para as turmas do 6º ano foram designadas as apresentações de poesias criadas pelos próprios alunos, os quais apresentariam nas suas respectivas salas sobre a importância da preservação do meio ambiente, através da linguagem poética escrita. Já os alunos do 7º ano ficaram com a leitura de obras de artistas visuais brasileiros que usam da imagem como meio de denúncia sobre a intervenção humana contra o ecossistema. E, por fim, os alunos do 8º e 9º anos ficaram com apresentações musicais e teatrais.

No decorrer do projeto, foram estabelecidos aos alunos do 6º ano que criassem expressões poéticas de sua autoria, a partir do tema sobre a importância da água para a manutenção da vida. Nessas práticas interativas, os alunos do 7º ano fizeram leituras e reflexões com abordagem denunciativa sobre as agressões humanas contra a fauna e flora. Na experiência com os alunos do 8º ano, a produção de uma performance que envolvia música, dança e expressão teatral localizou a confecção de ensaios, onde houve por parte deles a escolha das músicas que comporiam a peça, as coreografias montadas com base no ritmo das músicas, além das criações poéticas verbais.

Ademais, para responder às questões sobre a educação ambiental e a arte em sua expressão diversificada, utilizamos de uma fundamentação teórica, com uma bibliografia que dê consistência ao estudo proposto. Diante disso, a pesquisa é de cunho qualitativo, buscando entender a interação e produção dos estudantes no desenvolvimento do projeto que direciona a arte e a educação ambiental num contexto de ações, reflexões e mudanças de comportamento em toda a comunidade envolvida.

Arte e meio ambiente: desenvolvendo reflexões no âmbito escolar

Nas aulas de Arte, a interdisciplinaridade se faz presente nos mais diferentes conteúdos abordados, inclusive quando pensamos na educação ambiental como meio de expressão poética visual. As áreas de conhecimento entram em contato interdisciplinar, como forma de contribuir na educação e ampliação de assuntos que servem de reflexão cotidiana. Nessa condição, apontamos para um trabalho que desenvolveu a agência do alunado na confecção de trabalhos artísticos, desde a criação de poesias escritas até a elaboração de performances artísticas, mas que todas estas não ficassem retidas apenas a um fazer, sem atribuição de sentidos e significados importantes ao tema proposto.

Conforme ressalta Silva (2019), pensar a interdisciplinaridade vai além de refletir sobre disciplinas no ambiente da sala de aula, mas envolve o ganho do contato entre os indivíduos para pensarem juntos sobre questões atitudinais na vida, questionando modelos programados, partindo da premissa de que o mundo deve ser pensado por leituras e ações variadas que vão de encontro com a subjetividade do ser para que surja daí a permissão da partilha com o outro.

Com base nisso, a Arte, no contexto escolar, pode utilizar de outras áreas de conhecimento para abordar as ideias que constituem os trabalhos dos mais variados artistas espalhados pelo mundo. Esse debate resgata questões que envolvem a história de um tempo e espaço em que os produtores artísticos, localizados dentro de uma relação cultural, aprimoram suas habilidades, materializando-as em objetos de arte que trazem os mais diversos temas, assuntos e questões que desenvolvem referências dos mais diversos campos de saber.

Segundo Kondrat e Maciel (2013), o ser humano foi desenvolvendo meios próprios de melhorar suas condições de vida, utilizando de tecnologias para maior aprimoramento de suas atividades. Nisso, a relação com o meio ambiente foi sendo colocado a seu serviço, deixando de estabelecer um uso consciente sobre os recursos naturais.

De acordo com Jacobi (2003), nesse sentido, precisamos discutir sobre a degradação do ecossistema, diante de uma mobilização dos educadores para estimular o pensamento crítico em prol de uma educação ambiental. Nesse sentido, partimos do princípio que o ambiente escolar oportuniza o contato dos alunos com questionamentos sobre as ações humanas, reflexão sobre saberes e fazeres, assim como propostas de intervenção para uma melhor postura sustentável em relação ao nosso meio de convívio social. Dessa forma, podemos pensar da seguinte maneira,

Tomando-se como referência o fato de a maior parte da população brasileira viver em cidades, observa-se uma crescente degradação das condições de vida, refletindo uma crise ambiental. Isto nos remete a uma necessária reflexão sobre os desafios para mudar as formas de pensar e agir em torno da questão ambiental numa perspectiva contemporânea (JACOBI, 2003, p.190).

 Conforme sugere o autor, devemos pensar que as situações de vida impostas à sociedade no contexto das cidades, têm gerado forte influência na degradação do meio ambiente. Por conta disso, necessitamos estabelecer medidas que consistam em novas possibilidades sustentáveis de existência. Com esse pensamento em conexão com uma ação engajada, na perspectiva local, podemos atuar em prol do nosso ecossistema.

Sobre isso, ressalta Sato (2005), é fundamental um processo que vise modificar a ação degradante do ser humano na natureza, recuperando a unicidade na interação com o meio natural. Assim, podemos atingir um patamar mais próximo de civilização global que compreenda os recursos naturais não para subserviência humana, mas como um meio de vida sustentável que, sem eles, a humanidade também está ameaçada. Para isso, entramos com a educação ambiental no contexto escolar, pois

A educação ambiental é um processo de educação que segue uma nova filosofia de vida, uma nova cultura comportamental que busca um compromisso do homem com o presente e o futuro do meio ambiente. A sua aplicação torna o processo educativo mais orientado para a formação da cidadania. A educação para o desenvolvimento sustentável, como também pode ser chamada, deve considerar as realidades regionais e respeitar as diversidades culturais das populações (KONDRAT e MACIEL, 2013, p. 826).

Diante disso, entendemos que a educação ambiental acontece na medida em que os comportamentos humanos desenvolvem uma parceria com a natureza, projetando um futuro em que o ecossistema não será mais explorado de maneira desenfreada pelas ações humanas. Nisso, os autores salientam que a educação ambiental também parte do pressuposto que existem peculiaridades regionais que devem ser levadas em consideração, assim como aspectos ligados à diversidade nos modos de existência dos povos com suas tradições culturais.

Com base nisso, a educação ambiental se faz importante no meio escolar como fonte ativa de reflexão e mudança de hábitos cotidianos que partem do indivíduo, podendo mobilizá-lo a convocar mais pessoas a pensarem sustentavelmente. Com isso, podemos pensar que 

De um modo geral, as questões ambientais foram traduzidas como problemas de poluição do ar, do solo, da água e da escassez dos recursos naturais colocando em risco o bem-estar do homem. Por isso, deveriam ser conservados, com ênfase na necessidade de adotar políticas globais baseada na interdependência planetária de todos os problemas ambientais. Entre o rol de medidas analisadas, refletidas e recomendadas colocou-se, também, a responsabilidade do ser humano em sua relação com o ambiente, onde a educação adquire importância singular para a solução dos problemas. Manifesta-se a necessidade de mudança na intervenção do meio ambiente, e entende-se que isso é possível pela educação ambiental (RAMOS, 2001, p.204).

Entendemos que a educação ambiental discute os mais diversos problemas relacionados à ação do humano, trazendo como meio de referência o quesito mudança social, em que toda a sociedade, em âmbito global, precisa da conscientização de atitude para recuperar um planeta saudável em termos sustentáveis. Sendo assim, quais ferramentas serão utilizadas para gerar uma reflexão sobre a intervenção positiva no meio ambiente em um espaço escolar? Pensando nisso, trouxemos o desenvolvimento de um projeto artístico que usasse da agência estudantil na criação de meios expressivos para pensar, sentir e conduzir novos comportamentos na sociedade em que a escola possui respaldo para discussão do debate proposto.

Criações poéticas no Projeto “Águas de Março”

O projeto “Águas de Março” evidenciou um trabalho envolvendo a área de Arte como um meio de expressão no uso de poéticas visuais, criadas por artistas brasileiros que usam da temática do meio ambiente para refletir sobre o cuidado e prevenção contra uma série de atos danosos provocados pelo ser humano. Com isso, utilizamos o trabalho do artista Eduardo Srur para iniciar as discussões acerca da relação entre arte e meio ambiente. 

Sabemos que a Arte é uma importante ferramenta de expressão em que os alunos podem transmitir ao mundo exterior suas percepções internas sobre os mais variados temas explorados e discutidos em sala de aula. Assim, trabalhar num projeto em que a arte é mecanismo de comunicação coletiva, onde há oportunidade de cada indivíduo representar sua visão crítica e poética sobre um conteúdo específico pode transformar o ambiente escolar num espaço de protagonismo atuante dos estudantes.

Fonte: Eduardo Srur: um artista em prol do meio ambiente – greenMe / Acesso em:n20/03/2023.

Fonte:nhttps://www.bing.com/images/search?q=caiaques+eduardo+srur&form=HDRSC3&first=1 / Acesso: 20/03/2023.

Durante as aulas do mês de março, na disciplina de Artes, apresentamos alguns artistas contemporâneos brasileiros que se utilizam da pauta ambiental para produzir conhecimentos acerca da intervenção humana na natureza e o que isso traz de consequência para o presente e futuro da humanidade. Nessa experiência, os artistas Eduardo Srur e Franz Krajcberg fizeram a introdução dos conhecimentos dialogados com os estudantes da Escola Araújo Prado.

Desta forma, discutimos como a arte possui papel fundamental na compreensão sobre a poluição das águas dos rios, lago e mares ao redor do planeta. Conforme isso foi apresentado em sala de aula, os alunos descreviam, a partir da leitura das imagens, como essas questões podem ser revestidas com a conscientização ambiental, sabendo fazer o descarte correto do lixo.

Sobre isso, com a experiência acerca da educação ambiental, trazemos o conceito de arte, por intermédio da relação entre os alunos participantes da elaboração do projeto, assim como dos artistas localizados dentro de uma referência artística institucional. Para isso, trazemos duas perspectivas de pensar a arte neste trabalho, como da seguinte forma

“Arte” remete a, ao menos, dois conceitos básicos: um é mais restrito, pois trata da  arte como “obra de arte”, circunscrita na história da arte, feita por artistas e na maioria das vezes localizada em instituições artísticas; o outro é mais amplo, pois concebe a arte como o conjunto de atos criadores e inovadores presentes em qualquer cultura humana. Chamaremos o primeiro conceito de “restrito” porque ele emerge em um contexto histórico-social mais delimitado espacialmente e temporalmente. O segundo conceito chamaremos de “amplo”, porque tem a mesma escala de conceitos primordiais, como humanidade, história, sociedade ou cultura. É evidente que, a rigor, poderíamos apontar muitos conceitos de arte; propomos esses dois como uma divisão mais básica, a partir da qual outras concepções poderiam ser  especificadas (FERREIRA, 2014, p.22).

Sendo assim, definimos a arte aqui discutida como aquela produzida por artistas que possuem um reconhecimento institucionalizado, a qual se insere na contemporaneidade, levando em conta o tempo de produção e a temática ambiental abordada; e sobre o conceito de arte na perspectiva ampla, apresentamos as criações que se inserem dentro de uma cultura local, no caso a dos alunos da cidade de Beneditinos, interior do Piauí.

“Acerca disso, apresentamos como criações artísticas de Eduardo Srur, as obras “Aquário morto”(2014) e Caiaques” (2006). Nesse caso, ambas as obras são instalações artísticas contemporâneas que utilizam de materiais para a montagem de um cenário em espaços públicos. No primeiro caso, houve a construção de um aquário e a utilização de objetos que configuram numa espécie de poluição da água. Já na segunda cena, o uso de caiaques com manequins espalhados pelo rio Pinheiros, em São Paulo, alerta para a poluição dos rios nos grandes centros urbanos.

Com essa experiência inicial, constatamos como os alunos conseguiram não somente fazer as leituras das obras apresentadas, mas associá-las a casos de poluição no açude da cidade de Beneditinos, onde aferiram ações humanas em momentos de lazer que geram a contaminação deste local. Dessa maneira, percebemos como os estudantes associaram o trabalho desses artistas aos alertas levantados com os casos de poluição que aconteciam na região onde vivem.

Fonte: http://wradwan.blogspot.com/2012/02/inspiracoes-frans-krajcberg-sempre.html / Acesso em: 20/03/2023.

Ademais, outro artista de suma importância para a pauta desenvolvida no projeto foi o artista polonês radicado no Brasil, Franz Krajcberg. Com esse artista, escolhemos trabalhar com esculturas que ele produziu, a partir da retirada de restos de árvores desmatadas e queimadas da região amazônica e da Mata Atlântica. Nesse aspecto, o artista estudado trouxe um respaldo sobre os sentidos produzidos na Arte, por meio das atrocidades cometidas pelo ser humano. Mais uma vez, pedimos aos alunos que fizessem a leitura das imagens abordadas. Desta vez, os relatos foram determinados pela questão do desmatamento ilegal na Amazônia, assim como os incêndios florestais que poluem o ar, as águas e prejudicam os habitats dos animais silvestres.

De acordo com Cardoso (2010), o artista Franz Krajcberg usava troncos de árvores queimadas, assim como utilizava de raízes provenientes de áreas desmatadas. Isso tudo era aplicado como material para a construção de suas peças escultóricas, com uma contextualização abrangente sobre a importância da preservação das florestas do nosso país. Ademais, conforme explica Lancman (1996), as práticas artísticas escultóricas e fotográficas de Krajcberg trazem um forte teor político de protesto e alerta sobre as graves consequências desses atos humanos contra a natureza em geral.

A partir disso, notamos como os estudantes entenderam as ideias transmitidas nas obras dos artistas estudados, do mesmo modo que souberam apresentar dados sobre poluição ambiental na própria região onde vivem, fazendo, inclusive, uma leitura local sobre as situações regionais. Com essas poéticas visuais trabalhadas em sala, passamos a reuni-los em grupos para a produção de poesias de suas autorias, de modo que ressalta a importância da preservação do meio ambiente. Nesse sentido, os trabalhos criados foram passados para cartolinas e expostos durante a culminância do projeto. 

Desse modo, na culminância do projeto, estabelecemos nos turnos manhã e tarde um encontro com a comunidade escolar, onde os alunos manifestaram por meio de apresentações orais, musicais e performáticas suas proposições artísticas referentes à preservação do nosso ecossistema. Durante essas atividades, percebemos o engajamento de todo o alunado na interação dos trabalhos, participando diretamente de todas as proposições desenvolvidas.

Fonte: acervo do autor.

As citações dos versos acima, mostram o preparo dos alunos na confecção das obras poéticas, quando recitam sobre a atenção que as pessoas ao redor devem ter ao falar sobre a água ser um bem importante para a preservação do planeta, usando da conscientização social para a economia no uso dessa fonte, sendo um dever de todos nós, principalmente pensando nas futuras gerações.

Segundo Tundisi (2014), a água é um recurso natural de suma importância para a existência dos seres vivos no nosso planeta, levando em conta que o Brasil é um país que se destaca pela grande quantidade desse elemento em seu território. Nessa informação, os alunos cientes da importância da preservação da água para diversos fatores importantes no cotidiano, montaram seus próprios meios poéticos de registrar essas questões tão fundamentais de serem discutidas durante o projeto.

Fonte: acervo do autor.

Durante a exposição das expressões poéticas verbais, os alunos convidaram a comunidade escolar a adentrar todos os espaços de convivência da escola, abordando os visitantes com perguntas que geraram reflexões sobre o meio ambiente, quais medidas possíveis para reduzir os índices de poluição no meio urbano, assim como convidá-los à participação na exposição das obras.

Conforme ressalta Leff (2001), é necessária uma modificação no modo como o conhecimento e os valores culturais vêm se desenvolvendo no aspecto economicamente do capital, pois, para haver uma mudança na pauta ambiental em termos práticos, é imprescindível que haja essa alteração na busca incessante por riqueza. Nesse sentido, preservamos o contato dos alunos com a temática discutida, de modo que eles entendessem que as riquezas naturais não devem ser utilizadas de maneira desenfreada, a ponto de desgastar o meio ambiente. Assim, a natureza deve ser vista como um meio em que o humano faz parte, e não algo que deve ser controlado pela necessidade material de obter ganhos econômicos.

Fonte: acervo do autor.

A partir disso, um dos momentos de maior mobilização foi na apresentação performática das alunas do 8º ano A, turno manhã. Com a linguagem corporal, as estudantes dançaram, cantaram e teatralizar uma representação da deusa das águas nas religiões de matrizes afro-brasileiras, Yemanjá, trazendo um alerta para como a influência de uma divindade e seus ensinamentos podem transmitir sobre o cuidado que os seres humanos devem ter com a natureza, como forma de preservarem inclusive sua própria existência.

Essa representação teatral foi realizada no pátio da escola com todos os convidados se dirigindo até este local. A apresentação iniciou com as meninas fazendo referência à tradição cultural de mulheres da cidade de Beneditinos que lavavam suas roupas na beira do açude. Com isso, de maneira intercalada, cada uma delas foi tomando um espaço do pátio para contracenarem a atividade laboral que muito remete à cultura local. Em seguida, a deusa afro-brasileira Yemanjá surge das águas, fazendo uma gestualidade que remetia a um sofrimento. Isso foi explicado inclusive durante a narrativa, em que utilizaram de um texto escrito para declarar que a deusa estava clamando pela ajuda humanitária, onde a sociedade global deveria agir em prol da natureza e não contra ela, como estava acontecendo nos últimos tempos.

Essa performance encerrou com Yemanjá e as demais dançarinas caídas ao chão e com vários materiais descartáveis jogados ao redor do pátio. Isso trouxe uma abordagem simbólica que retratou a morte da deusa das águas, da mesma forma que remetia à morte das águas dos rios e mares, por intermédio da poluição causada pelas ações humanas. Essa reflexão utilizou da dança, música e teatro como elementos performáticos com abordagem denunciativa tanto local como global. 

No caso local, explicaram as alunas, a situação atual do açude de Beneditinos é que este se encontra inapropriado para banho, por conta da poluição. Informaram que gostariam de produzir essa performance na intenção de protestar sobre os benefícios que o açude já oferece para a população da cidade, como antes servia de lazer para banho e de meio de subsistência para as lavadeiras de roupa.

Além disso, na perspectiva global, o assunto retratado na performance trouxe os questionamentos outrora levantados nas instalações de Eduardo Srur, trazendo a poluição dos rios e mares em todo o mundo. Assim, o trabalho performático trouxe um reforço para o contexto geral sobre a contaminação das águas, o que acarreta diretamente na morte da vida marinha, prejudicando todo o ecossistema. Com isso, todo o trabalho envolvendo meio ambiente, expressões visuais artísticas e educação ambiental na escola proporcionou um envolvimento de todo o alunado, assim como mobilizando a comunidade escolar a participar de todo o processo de intervenção artística.

Considerações finais

Portanto, conseguimos aferir sobre o Projeto “Águas de Março” que os alunos se mobilizaram em prol do desenvolvimento dos trabalhos artísticos, a fim de constituírem base teórica e prática para alertarem a população local sobre os riscos causados à vida, quanto à poluição do meio ambiente. As linguagens artísticas propostas para a culminância dos trabalhos (literatura, dança, teatro e pintura) foram abordadas com referências de artistas brasileiros e na criação de expressões poéticas dos próprios estudantes, mostrando o engajamento na causa ambiental, através do protagonismo dos participantes.

Pensando com essas linguagens artísticas, o projeto foi desenvolvido com o intuito de dedicar espaço e tempo para a educação ambiental, atingindo a consciência coletiva não só dos estudantes, mas de toda a comunidade que participou da interação promovida por este trabalho. A arte foi conceituada por meio do uso da proteção do ecossistema e da atitude sustentável com o meio ambiente, em prol de uma mobilização local que gerasse discussões e mudanças de comportamento.

Com isso, entendemos que a escola tem papel primordial no incentivo de despertar o aluno para protagonizar a construção do conhecimento, trazendo suas percepções e leituras de mundo para um ambiente que propaga o pensar e agir em prol da coletividade.

Referências

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1 Licenciado em Educação Artística pela Universidade Federal do Piauí (2013). Mestre em Antropologia pela Universidade Federal do Piauí (2019). Especialista em Educação, Culturas e Regionalidades pela Universidade Estadual do Piauí (2022).
2 Licenciada em Física pela Universidade Estadual de Roraima (2009). Licenciada em Sociologia pela Universidade Estadual de Roraima (2017). Especialista em Ensino da Física pela Faculdade do Patrocínio (2018). Especialista em Docência do Ensino Superior pela FACIBA (2011). Especialista em Educação, Pobreza e Desigualdade Social pela Universidade Federal de Roraima (2017). Mestre em Ensino de Física pela Universidade Federal de Roraima (2022).