PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL ESCOLA DO/NO CAMPO: DESAFIOS EM ÉPOCA DE COVID-19: RELATO DE EXPERIENCIA AULAS NÃO PRESENCIAIS.

CHILDREN’S EDUCATION TEACHERS SCHOOL OF/IN THE COUNTRYSIDE: CHALLENGES IN THE COVID-19 PERIOD EXPERIENCE REPORT IN NON-PRESENTIAL CLASSES.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7932916


Marilza Hilário Martins1
Renata Caroline dos Santos Lopes²
Tereza Cristina de Oliveira Costa³


Resumo: No ano de 2019, mais especificamente entre os meses de , o mundo conhecia uma nova doença, a covid-19, que se disseminou de forma muito rápida causando uma pandemia nunca vivida por essa geração. À educação foi um dos setores mais impactados, quando as aulas precisaram ser suspensas e as secretarias de educação tiveram que reestruturar sua forma de ensino a fim de evitar a disseminação da doença, sendo assim as aulas remotas surgiram como forma de substituição as aulas presenciais durante o período em que a pandemia atingiu seu maior índice de contaminação. Dessa forma, este trabalho tem por objetivo compartilhar as experiências e atividades desenvolvidas com as aulas remotas, vivenciadas por duas professoras e uma coordenadora da rede pública de uma escola do/no campo localizada no interior de uma cidade de Mato Grosso. Para isso, o método utilizado na realização deste trabalho foi o relato de experiência.

Palavras-chave: Pandemia, Covid-19, Educação infantil, Aulas remotas.

Abstract: In 2019, more specifically between the months of  the world was aware of a new disease, covid-19, which spread very quickly causing a pandemic never experienced by this generation. Education was one of the most impacted sectors, when classes had to be suspended and the education departments had to restructure their way of teaching in order to avoid the spread of the disease, so remote classes emerged as a way to replace face-to-face classes during the period when the pandemic reached its highest contamination rate. In this way, this work aims to share the experiences and activities developed with remote classes, experienced by two teachers and a coordinator of the public network of a school in the countryside located in the interior of a city in Mato Grosso. For this, the method used in carrying out this work was the experience report.

Keywords: Pandemic, Covid-19, Early childhood education, Remote classes.

1 INTRODUÇÃO

No final do ano de 2019 o mundo entrou em estado de alerta com o surgimento de uma doença viral causada por um tipo de coronavírus, o covid-19. Uma doença facilmente disseminada, espalhou-se pelo mundo e logo foi caracterizada como uma pandemia. Dessa forma a organização mundial da saúde passou a monitorar diariamente a disseminação do vírus e assim tomar medidas cabíveis a fim de diminuir a propagação do mesmo. Várias medidas de segurança foram adotadas, sendo o isolamento social uma das formas de conter a contaminação. 

Desse modo, em 19 de março de 2020, o Ministério da Educação por meio de uma portaria nº 343 em caráter excepcional autoriza a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia. Com a suspensão das aulas presenciais,  fez-se necessário que profissionais da educação buscassem uma nova ferramenta de trabalho a fim de dar continuidade ao ano letivo.

Para Arruda (2020) a escola é considerada um dos espaços mais temidos pelo risco de transmissão da covid-19, “pois a sua multiplicidade e heterogeneidade cria vínculos entre aqueles que são menos propensos aos sintomas graves da doença (jovens) a todos os demais que podem ser até normalmente propensos” (p.259).

 Dessa forma, para atender as normativas do ministério da educação e tentar amenizar as perdas de milhões de estudantes, estados e municípios tiveram que reestruturar o seu sistema de ensino aderindo as aulas não presenciais. Portanto, o objetivo deste estudo é compartilhar as experiências de duas professoras da educação infantil e da coordenação pedagógica que atuam em uma Escola do/no campo de uma cidade do interior de Mato Grosso em relação ao trabalho desenvolvido em tempo de pandemia do covid-19. 

Para a realização deste trabalho o método utilizado foi o de relato de experiência, onde o pesquisador descreve todo o contexto e qualifica as suas ações, de forma sequencial, até chegar à conclusão da experiência (Fortunato, 2018). Neste sentido esse relato apresenta os desafios e as dificuldades que os docentes enfrentam para promover um ensino de qualidade em tempos de pandemia, respeitando a realidade de cada aluno, visto que esse relato retrata a realidade de crianças que vivem no campo e estudam em uma escola municipal da rede pública.

Os dados descritos neste relato foram à partir das interações entre as docentes, a coordenação e familiares por meio do aplicativo WhatsApp, principal ferramenta que possibilitou uma ponte entre a escola e famílias e permitiu tanto a verificação das atividades realizadas pelos alunos, através de vídeos, imagens, áudios quanto pela interação com os mesmos.

Esta pesquisa foi realizada em uma escola do/no campo, da rede pública localizada em Caramujo, distrito de Cáceres interior de Mato Grosso, onde atende tantos os alunos que residem no distrito como também crianças provenientes de sítios, fazendas, assentamentos, abrangendo famílias com diferentes realidades.

2 RETOMADA DAS AULAS NÃO PRESENCIAIS E SEUS DESAFIOS

Com a suspensão das aulas presenciais em nosso município no dia 18 de março de 2020 a Secretaria Municipal de Educação (SME) antecipou o recesso escolar, dessa forma o trabalho pedagógico que apenas tinha sido iniciado, foi interrompido afetando a vida de muitas famílias, estudante e professores, pois todos de alguma forma tiveram que reorganizar suas rotinas e forma de trabalho.

No mês de junho de 2020 os professores foram informados pela gestão escolar através do aplicativo WhatsApp que a SME tinha adotado o ensino remoto, e que seria necessário realizar o mais breve possível uma reunião virtual com toda a equipe a fim de dialogar sobre a nova modalidade de ensino e realizar os alinhamentos dos trabalhos pedagógicos. A Rede através do decreto n° 372/2020 implantou atividades não presenciais para garantir a continuidade do o vínculo escolar, porém, situações de crise, como a causada pela Covid-19, podem se estender, fragilizando o direito à educação das crianças e causando impactos, como a defasagem e o abandono escolar. 

Um desafio para nós professores, muitos questionamentos, dúvidas e apreensão, pois até o momento muitos ainda não tinham ouvido falar sobre essa metodologia de ensino, neste momento, foi necessário estudos para compreender a diferença entre ensino remoto e aulas a distância, como planejar as aulas, como atender os alunos, considerando que nossa escola é uma escola do campo, onde muitos alunos moram na zona rural, não possuem acesso à internet, e nem possuem domínios com a tecnologias.

Diante disso a gestão escolar juntamente com todo o corpo docente reuniu-se através do aplicativo Google Meet a fim de esclarecer as dúvidas, realizar orientações e juntos traçar caminhos que objetivavam a realização do trabalho pedagógico e o desenvolvimento do aluno. Foi um momento de aprendizado para todos, pois era uma situação totalmente nova, em que as dúvidas iam surgindo e recorremos a gestão escolar para nos orientar. Foi a partir de pesquisas na internet que muitos professores e também a coordenação escolar encontraram informações que auxiliaram acerca do ensino remoto e do ensino a distância, duas modalidades bem diferentes entre si. Dessa forma, com a retomada do ensino por meio de atividades pedagógicas não presenciais, professoras, alunos e familiares tiveram que readaptar suas rotinas e formas de trabalho. Foram momentos de incertezas para todos, especialmente para nós professores da educação infantil, pois sabemos que o ensino para crianças tão pequenas é baseado na interação, socialização com o outro e o meio, diante disso como organizar nosso trabalho garantindo essas vivências? Um dos maiores desafios enfrentados pelos professores foi o uso das tecnologias, tivemos que em tempo recorde dominar esses novos recursos digitais para conseguir gravar os vídeos, utilizar os aplicativos para edição de vídeos e criar no aplicativo WhatsApp o espaço de interação, ensino aprendizagem, tornando-o como a maior ferramenta tecnológica para ministrar nossas aulas.

3 FAMÍLIAS X INTERAÇÃO

Para dar sequências as aulas não presenciais escolhemos como meio de interação o aplicativo WhatsApp, onde a direção escolar organizou  uma lista com os nomes de todos os alunos, pais/responsáveis  e seus respectivos números de telefone, após encaminhá-los às professoras, foi criado um grupo para a turma no aplicativo, durante esse processo surgiram muitas dificuldades, como alguns pais que moram em sítios e não possui nenhum tipo de contato e pais que trocaram seus números. Foi necessário um trabalho minucioso, conversas entre os professores, como é uma comunidade pequena , muitos se conhecem, dessa forma conseguimos contatos com os pais e familiares, em todo o processo o contato direto com a família foi de suma importância, visto que são crianças pequenas e necessitam do auxílio da mesma, tanto na realização das atividades como para ter acesso aos aparelhos celulares. Para isso, nosso WhatsApp que era de uso pessoal tornou-se a maior ferramenta do nosso trabalho, nesse ambiente fez-se nossas salas de aulas virtuais. Neste grupo as professoras desenvolveram atividades lúdicas diariamente com as crianças, as quais eram por meio de apostila, respeitando o limite de páginas e os direitos de aprendizagem das crianças, previstos nos documentos normativos da BNCC e DRC-MT.  O material era organizado em forma de apostila mensal e entregue para os pais dos alunos da comunidade de forma presencial, seguindo os protocolos de saúde e para os alunos que utilizam o transporte escolar, as professoras do período vespertino realizaram a entrega na casa do aluno por meio do transporte escolar enviado pela prefeitura todo início de mês. Dessa forma as professoras desenvolviam as aulas através de vídeos buscando manter a rotina da sala de aula, acolhida dos alunos no grupo com músicas, chamadinha, calendário, observação do tempo,   aulas orientando as crianças de que forma realizar a atividade do dia, ou seja, interagindo com os alunos e familiares. Os vídeos gravados pelas professoras foram intercalados com vídeos simples que nomeamos como vídeos caseiros e vídeos editados através dos aplicativos Kinemaster, Cap cut que proporcionam encantamento nos vídeos despertando assim uma maior atenção dos alunos.  Os alunos e familiares/responsáveis participaram do grupo realizando as atividades de acordo com a orientação das professoras, compartilhando os registros das atividades realizadas através de fotos, áudios, vídeos e devolutivas do material apostilado.

Os nossos alunos são do campo, onde a realidade dessas crianças é totalmente diferente dos alunos de escolas da zona urbana, pois alguns alunos não possuem acesso à internet ou tem acesso apenas por dados móveis do aparelho celular, dificultando dessa forma a interação da professora com esses alunos. Diante dessa situação os docentes buscaram outras maneiras de interagir com esses alunos que não possuem acesso à internet ou até mesmo não possuíam nem o aparelho celular para que pudessem realizar ligações ou enviar mensagem por meio de SMS.  

As professoras aderiram a seguinte logística: as mesma garantiam a interação com os alunos que não tinha acesso internet por meio de ligações, que eram agendados através de mensagem via SMS, para conversar com as crianças e orientar os familiares nas dúvidas, questionamentos, repasse de novas orientações, sobre as atividades do material apostilados e também através da devolução do material e também utilizavam um pendrive com os vídeos aulas gravadas pelas professoras para que pudessem assistir na sua televisão.  

Para desenvolver essa metodologia as professoras listaram algumas ações importantes para alcançar os objetivos planejados em nossas aulas: 

  1. Realizar os trabalhos seguindo o decreto n° 372/2020 do Município de Cáceres MT;
  2. Conhecer meu aluno, (realidade em que vive);
  3. Chegar até o aluno (vídeo aula, mensagem de texto, áudios, ligações, vídeos chamados, apostilas com orientativos com linguagem simples e objetiva);
  4. Atividades criativas e lúdicas que despertam atenção dos alunos, garantindo os eixos estruturantes da Educação Infantil: Interações e brincadeiras; 
  5. Gravar vídeos buscando sempre aparecer de forma alegre, utilizando recursos simples que as crianças tenham facilmente em casa. (enviar o recurso para os alunos); 
  6. Gravar vídeos e áudios curtos; 
  7. Intercalar entre vídeos caseiros e vídeos editados através dos aplicativos;
  8. Estimular interação, participação e feedbacks das atividades propostas no grupo; 
  9. Não sobrecarregar o grupo com muitas atividades (pais trabalham) temos que ser flexíveis. 
  10. Buscar a parceria entre família e escola (neste momento que se faz mais necessário) 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo do ano de 2020, no qual a pandemia causada pelo Coronavírus- Covid 19, nos trouxeram grandes experiências que fomos obtendo durante esse momento de medida rigorosa de isolamento social e trabalho em home office resultando em um mix de sentimentos: desafios, receio, angústia, insegurança, medo entre outros, tantos nos profissionais da educação quanto aos alunos e familiares. Sabemos que a educação não estava preparada para lidar com aulas on-line, tivemos grandes dificuldades em nos adaptarmos a essa nova realidade ainda mais com crianças pequenas da Educação Infantil pois onde a interação é as brincadeiras são os eixos principais dessa etapa. Dessa forma professoras e coordenação escolar refletiram sobre a importância de novas metodologias que pudessem minimizar os impactos no processo ensino aprendizagem pois com a suspensão das aulas presenciais o contato entre professora – criança – família foram redimensionadas aos recursos midiáticos, orientações pedagógicas e atividades encaminhadas via grupo de WhatsApp, videos curtos, áudios e contato via celular. Essa comunicação digital proporcionou uma aproximação das crianças e familiares mantendo a interação entre as crianças tão importante nessa fase, fortalecendo o afeto com todos que estão fazendo parte desse processo. 

Mesmo diante de tantas adversidades os familiares tiveram uma grande participação colaborando para que as atividades propostas pelas professoras fossem desenvolvidas, dessa forma observamos que mais do nunca essa união entre família e escola é mais que necessária. As professoras incentivaram a sua participação nas propostas pedagógicas fortalecendo o vínculo entre escola, professoras, alunos(as) e familiares.

Através dessa experiência acreditamos que, a relação entre família e escola será diferente após a pandemia, pois neste tempo de isolamento social fez com que esses vínculos se fortalecesse, de modo que os familiares se aproximasse das crianças e assim puderam conhecer melhor seus filhos e o processo de desenvolvimento de sua aprendizagem reforçando assim a importância de seu papel na vida escolar das crianças e temos grande expectativas que estejam assim mais presente no futuro. 

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer nº 5 de 2020. Reorganização do Calendário Escolar e da possibilidade de cômputo de atividades não presenciais para fins de cumprimento da carga horária mínima anual, em razão da Pandemia da COVID-19. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.%20php?option=com_docman&view=download&alias=145011-pcp005-20&category_%20slug=marco-2020-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 10 jun. 2020. 

BRASIL. Ministério da Educação. Gabinete do Ministro. Portaria nº 572, de 1º de julho de 2020. Institui o Protocolo de Biossegurança para Retorno das Atividades nas Instituições Federais de Ensino e dá outras providências. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, n. 125, p. 30, 2 jul. 2020. Disponível em: http://aplicacoes.mds.gov.br/snas/regulacao/atos_normativos.php. Acesso em: 20 jul. 2020. 

NEIRA, Ana Carolina. Professores aprendem com a tecnologia e inovam suas aulas. Jornal Estado de São Paulo. 24 de fevereiro de 2016. São Paulo, 2016.

CUNHA, Paulo Arns da. A pandemia e os impactos irreversíveis na educação. Revista Educação. Redação, 15 de abril de 2020. Disponível em: https://revistaeducacao.com.br/2020/04/15/pandemia-educacao-impactos/. Acesso em agosto de 2020.


1Professora pedagoga da rede municipal de Cáceres-MT. E-mail: marilzabresan@hotmail.com
2Professora pedagoga da rede municipal de Cáceres-MT-E-mail: renatalopes_17@hotmail.com
3Professora pedagoga da rede municipal de Cáceres-MT. E-mail: profterezacristina324@gmail.com