PRODUÇÃO DA CASTANHA-DO-PARÁ NO AMAPÁ: DESAFIOS E OPORTUNIDADES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202505190936


Jayton Faro Campelo1
Nara Helena Tavares da Ponte2


RESUMO

Este trabalho apresenta uma revisão integrativa da literatura sobre a produção da castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa) no estado do Amapá, entre os anos de 2010 e 2025. A pesquisa teve como objetivo compreender os principais desafios e avanços enfrentados pelas comunidades extrativistas locais, bem como analisar a estrutura da cadeia produtiva no contexto amazônico. Foram utilizados artigos científicos, relatórios técnicos e publicações institucionais, obtidos em bases como SciELO, Google Acadêmico e Embrapa, considerando critérios de inclusão como recorte temporal, idioma e relevância temática. Os resultados apontam para a existência de obstáculos significativos, como a instabilidade climática, a precariedade da infraestrutura e o acesso limitado a políticas públicas e crédito. No entanto, também se observam iniciativas promissoras no fortalecimento de cooperativas, beneficiamento local e articulação com instituições de pesquisa. Conclui-se que a castanha-do-Brasil é um recurso estratégico para o desenvolvimento sustentável do Amapá, desde que sejam garantidos investimentos adequados, políticas inclusivas e o reconhecimento do protagonismo das populações tradicionais. 

Palavras-chave: Comunidades tradicionais. Desenvolvimento regional. Extrativismo.

1. INTRODUÇÃO

A castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa), também conhecida como castanha-do-pará, é uma das mais emblemáticas riquezas da floresta amazônica. Este produto extrativista não madeireiro é altamente valorizado tanto pelo seu potencial econômico quanto por sua importância ecológica. No estado do Amapá, a produção da castanha-do-Brasil representa uma atividade tradicional de comunidades agroextrativistas, sendo fonte de renda, alimentação e identidade cultural para diversos povos da floresta (NASCIMENTO et al., 2020).

O extrativismo da castanha no Amapá ocorre principalmente em áreas de uso coletivo, como reservas extrativistas e territórios de comunidades tradicionais, onde o manejo sustentável é uma prática necessária para garantir a conservação das castanheiras e a continuidade dessa atividade ao longo do tempo (SANTOS et al., 2022). No entanto, mesmo diante de sua relevância ecológica e econômica, a cadeia produtiva da castanha-do-Brasil ainda enfrenta diversos desafios, que vão desde a coleta até a comercialização.

A literatura aponta para questões relacionadas à falta de infraestrutura, à dificuldade de acesso aos mercados, à desvalorização do produto na ponta da cadeia e à ausência de políticas públicas eficientes voltadas para o fortalecimento da atividade (SOUZA et al., 2019). Tais obstáculos limitam o aproveitamento pleno desse recurso natural e afetam diretamente as famílias que dele dependem. Ainda assim, observa-se um crescente interesse por práticas de manejo sustentável e certificações que possam agregar valor à produção.

No Amapá, os castanhais se distribuem principalmente ao longo do sul e oeste do estado, abrangendo áreas como os municípios de Laranjal do Jari, Mazagão e Porto Grande. A castanha coletada nesses locais é, em muitos casos, escoada para outros estados ou mesmo exportada, mas boa parte da produção ainda é comercializada de forma informal, o que prejudica o registro de dados oficiais e a formulação de políticas adequadas (IBGE, 2023).

Além do aspecto econômico, a produção de castanha-do-Brasil está diretamente ligada à conservação da floresta, já que sua extração, quando feita de maneira sustentável, não implica em derrubada de árvores e favorece a manutenção da biodiversidade. De acordo com a pesquisa de Guedes et al. (2021), o extrativismo da castanha é uma das formas mais eficazes de aliar conservação ambiental e desenvolvimento local na Amazônia.

Apesar dos avanços em algumas regiões da Amazônia Legal, o Amapá ainda carece de estudos aprofundados que sistematizem os dados existentes sobre a produção, os desafios enfrentados pelas comunidades e as perspectivas para o setor. Uma revisão da literatura sobre essa temática se faz necessária para compreender melhor o panorama atual e indicar caminhos possíveis para o fortalecimento da atividade no estado.

Essa ausência de sistematização dificulta a tomada de decisões tanto por gestores públicos quanto por organizações da sociedade civil que atuam na promoção da sociobiodiversidade. Uma análise crítica da produção científica pode contribuir para dar visibilidade à realidade dos extrativistas e fomentar o debate sobre modelos de desenvolvimento mais justos e sustentáveis para a região.

Assim, o presente estudo surgiu dos seguintes questionamentos: quais são os principais desafios e potencialidades da produção de castanha-do-Brasil no estado, conforme apontado pela literatura científica? E de que forma esses estudos podem contribuir para a valorização da atividade extrativista local? Tendo como hipóteses: A produção de castanha-do-Brasil no Amapá enfrenta obstáculos estruturais e mercadológicos que limitam seu pleno desenvolvimento. A literatura aponta potencialidades significativas relacionadas ao manejo sustentável e à valorização do produto, especialmente quando associados a políticas públicas e iniciativas comunitárias. Existe uma escassez de estudos específicos sobre o Amapá, o que dificulta a formulação de estratégias adequadas ao contexto local.

Justificando-se devido a necessidade de valorizar um produto típico da sociobiodiversidade amazônica, ainda pouco explorado em estudos acadêmicos regionais. Compreender como essa atividade é desenvolvida no Amapá é essencial para a elaboração de estratégias que promovam sua sustentabilidade, contribuindo para o fortalecimento da economia local e a preservação dos modos de vida tradicionais. Além disso, ao realizar uma revisão da literatura, busca-se reunir o conhecimento já produzido, identificar lacunas e estimular novas pesquisas e políticas públicas voltadas para esse setor.

Diante desse contexto, o presente estudo teve como objetivo realizar uma revisão da literatura científica sobre a produção de castanha-do-Brasil no estado do Amapá, analisando os principais desafios, potencialidades e contribuições da atividade para o desenvolvimento sustentável regional.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A produção da castanha-do-Brasil no Brasil e na Amazônia Legal

A castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa) é um dos produtos extrativistas mais importantes da sociobiodiversidade amazônica, tanto pelo seu valor econômico quanto pelo papel que desempenha na conservação da floresta. Sua coleta, tradicionalmente realizada por comunidades extrativistas, representa uma atividade sustentável por excelência, já que não demanda o corte de árvores nem grandes intervenções no ambiente. O Brasil é o maior produtor mundial de castanha-do-Brasil, e a Amazônia Legal concentra quase toda essa produção (IBGE, 2023).

Historicamente, a castanha já foi uma das principais mercadorias da pauta exportadora da região amazônica. Ainda hoje, é uma fonte de renda relevante para milhares de famílias em estados como Acre, Amazonas, Rondônia, Pará e Amapá (Silva et al., 2020). Apesar disso, a cadeia produtiva apresenta fragilidades que limitam seu crescimento, como a baixa organização dos produtores, a informalidade do mercado, a escassez de políticas públicas específicas e os entraves logísticos em áreas de difícil acesso (COSTA et al., 2019).

Além das dificuldades estruturais, a instabilidade de preços no mercado internacional e as exigências sanitárias e ambientais para exportação representam desafios adicionais. Muitos produtores acabam vendendo sua produção para atravessadores por preços abaixo do valor justo, o que compromete a renda familiar e a motivação para o manejo sustentável (Lima et al., 2021). Ainda assim, iniciativas de cooperativismo, certificação orgânica e parcerias com instituições de pesquisa têm contribuído para melhorar as condições da produção em algumas regiões da Amazônia.

Outro ponto relevante é o papel da castanheira como espécie ecológica-chave na floresta amazônica. Estudos demonstram que sua presença está associada a áreas de floresta bem conservada e que a coleta de seus frutos, quando bem manejada, não compromete a regeneração natural da espécie (WADT et al., 2020). Portanto, fomentar sua produção pode contribuir não apenas para o desenvolvimento socioeconômico das populações amazônidas, mas também para a manutenção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos da floresta.

Apesar das semelhanças entre os estados da Amazônia Legal, é necessário compreender as especificidades locais da cadeia da castanha-do-Brasil, considerando fatores culturais, ambientais, logísticos e institucionais. Nesse sentido, a análise do caso do Amapá se mostra fundamental para contribuir com uma visão mais abrangente e realista sobre os rumos e os desafios da produção castanheira na região Norte.

2.2 A produção da castanha-do-Brasil no Amapá: contexto, desafios e perspectivas

No Amapá, a produção da castanha-do-Brasil está presente em diversos municípios, com destaque para Laranjal do Jari, Mazagão, Porto Grande e Oiapoque. A atividade é desenvolvida principalmente por famílias extrativistas, muitas delas organizadas em associações ou cooperativas, e está intimamente ligada à subsistência e à identidade sociocultural dessas comunidades (NASCIMENTO et al., 2020). Apesar de sua importância, o estado ainda enfrenta limitações na consolidação de uma cadeia produtiva forte e integrada.

Um dos principais desafios no Amapá é a logística de escoamento da produção. Muitos castanhais se encontram em áreas de difícil acesso, como reservas extrativistas e comunidades ribeirinhas, onde a coleta é feita de forma manual e o transporte dos ouriços até os centros urbanos depende de longos deslocamentos por rios ou estradas precárias (Santos et al., 2022). Isso eleva os custos e reduz a competitividade do produto local frente a estados vizinhos com estrutura mais desenvolvida.

Além disso, a ausência de unidades de beneficiamento no estado e a frágil inserção da castanha do Amapá em mercados mais valorizados impedem a agregação de valor ao produto. Em muitos casos, a castanha é vendida in natura para atravessadores, o que limita o potencial de geração de renda e de fortalecimento das cadeias locais (SOUZA et al., 2019). As comunidades também relatam dificuldades com capacitação técnica, acesso a crédito e regularização fundiária, fatores que comprometem o manejo sustentável e a adoção de boas práticas extrativistas.

Apesar dessas limitações, o Amapá apresenta potencial expressivo para o fortalecimento da produção castanheira. A presença de áreas protegidas e o histórico de práticas sustentáveis de manejo criam um ambiente favorável para a valorização do extrativismo tradicional, principalmente com o apoio de políticas públicas direcionadas e parcerias institucionais. Iniciativas como o pagamento por serviços ambientais (PSA), programas de compras públicas e certificações socioambientais podem ser caminhos para aumentar a renda das famílias e fortalecer a produção local (ALMEIDA et al., 2021).

Diante disso, conhecer e divulgar os estudos existentes sobre a produção de castanha-do-Brasil no Amapá é uma forma de valorizar os saberes locais, visibilizar os desafios enfrentados e apontar caminhos possíveis para que essa atividade continue sendo uma alternativa viável de desenvolvimento sustentável, respeitando a floresta e os modos de vida das populações que dela dependem.

3. METODOLOGIA 

Este trabalho foi desenvolvido por meio de uma revisão integrativa da literatura, com o objetivo de compreender, a partir de dados secundários, o panorama da produção da castanha-do-Brasil no estado do Amapá entre os anos de 2010 a 2025. A revisão integrativa permite a síntese do conhecimento disponível sobre determinado tema, abrangendo diferentes abordagens metodológicas e fortalecendo a compreensão sobre fenômenos complexos (BOTELHO et al., 2011).

Para a seleção dos artigos, foram utilizadas as bases de dados SciELO, Google Acadêmico, CAPES Periódicos e Biblioteca Digital da Embrapa, com os seguintes descritores: “castanha-do-Brasil”, “Amapá”, “produção extrativista”, “cadeia produtiva”, “desenvolvimento sustentável” e “comunidades tradicionais”. Os operadores booleanos “AND” e “OR” foram utilizados para refinar as buscas.

Os critérios de inclusão adotados foram: (1) publicações entre os anos de 2010 e 2025, (2) em português ou inglês, (3) disponíveis gratuitamente em meio eletrônico, (4) com enfoque na produção, comercialização ou aspectos socioeconômicos e ambientais da castanha-do-Brasil no Amapá. Os critérios de exclusão foram: (1) estudos com foco exclusivamente biológico/botânico sem relação com o contexto produtivo regional, (2) trabalhos duplicados ou não disponíveis integralmente.

Após a triagem inicial dos títulos e resumos, foram selecionados artigos e relatórios técnicos, que atenderam aos critérios definidos. A leitura analítica permitiu organizar os dados em duas grandes categorias: (1) o panorama da produção da castanha-do-Brasil no Amapá e (2) a análise da cadeia produtiva e os desafios enfrentados pelos extrativistas locais.

A interpretação dos dados seguiu uma abordagem qualitativa, buscando identificar padrões, lacunas, avanços e contradições nos estudos analisados. O rigor metodológico foi garantido por meio da padronização dos critérios de busca, leitura e análise, permitindo uma síntese coerente e útil para pesquisadores, gestores públicos e comunidades envolvidas.

4. ANÁLISE DOS DADOS

    4.1 Panorama da Produção da Castanha-do-Brasil no Amapá (2010–2025)

    A castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa) é uma espécie nativa da Amazônia, desempenhando um papel significativo tanto na conservação ambiental quanto na economia de comunidades tradicionais. No Amapá, a produção da castanha é uma atividade tradicional, especialmente em áreas como a Reserva Extrativista do Rio Cajari, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Iratapuru e o Projeto de Assentamento Agroextrativista Maracá (SOUSA; EULER, 2009).

    Apesar do potencial, a produção no estado enfrenta desafios significativos. Estudos indicam que a atividade tem perdido importância econômica, mesmo sendo a principal fonte de subsistência para centenas de famílias (SOUSA; EULER, 2009). A falta de infraestrutura adequada, como estradas e centros de beneficiamento, limita o escoamento da produção e a agregação de valor ao produto (DINIZ et al., 2023).

    A Tabela 1 apresenta a evolução da produção de castanha-do-Brasil, em toneladas, entre os anos de 2020 e 2024 nos estados que compõem a Amazônia Legal. Embora o Amapá figure entre os menores produtores, sua constância e relevância socioeconômica local justificam a inclusão em análises comparativas com outras unidades federativas amazônicas.

    Tabela 1 – Produção de castanha-do-Brasil (em toneladas) nos estados da Amazônia Legal (2020–2024*)

    Fonte: IBGE/PEVS; FAPESPA; Fórum do Acre; Portal Norte. Elaboração própria (2025).

    Nos últimos cinco anos, o Amapá tem mantido uma produção relativamente estável de castanha-do-Brasil, com pequenas oscilações entre 384 e 416 toneladas anuais. Esse padrão indica não apenas a resiliência da cadeia extrativista local, como também a presença de gargalos estruturais que limitam a expansão da atividade. Diferente de estados como Acre e Amazonas que lideram a produção nacional e têm implementado políticas públicas e incentivos voltados ao fortalecimento do extrativismo sustentável, o Amapá ainda carece de maior investimento em infraestrutura logística, assistência técnica e políticas de comercialização para o setor (IBGE, 2023; FAPESPA, 2024).

    A despeito da modesta produção, é importante reconhecer que a castanha-do-Brasil no Amapá representa mais do que números: ela envolve práticas culturais, segurança alimentar e subsistência de comunidades tradicionais e extrativistas, sobretudo nas regiões do sul do estado, como Laranjal do Jari (OLIVEIRA, 2012). Além disso, o manejo sustentável da castanha contribui para a conservação das florestas e o desenvolvimento regional com base em recursos não madeireiros. Portanto, compreender a evolução da produção e os fatores que a influenciam é essencial para propor ações estratégicas que valorizem essa cadeia e garantam melhores condições para os extrativistas amapaenses (FILOCREÃO; SILVA; LOMBA, 2022).

    Além disso, a variabilidade climática tem impactado negativamente a produção. Eventos como o El Niño de 2015/2016 provocaram aumento na temperatura e redução na precipitação, resultando em quedas significativas na produção de frutos (PASTANA, 2023). Em 2017, por exemplo, a produção por árvores foi oito vezes menor que em 2015 na Reserva do Rio Cajari (SENAR/AP, 2017).

    A ausência de políticas públicas eficazes e o acesso limitado a financiamentos também contribuem para a estagnação da produção. Muitos extrativistas enfrentam dificuldades para acessar programas como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), devido à falta de capacitação e assistência técnica.

    Apesar desses desafios, iniciativas como o arranjo TechCast, coordenado pela Embrapa, buscam fortalecer a cadeia de valor da castanha-do-Brasil por meio da geração e adaptação de tecnologias e práticas sustentáveis (EMBRAPA, 2021). Essas ações visam melhorar a eficiência produtiva e promover o desenvolvimento socioeconômico na região.

    4.2 Cadeia Produtiva e Desafios Logísticos no Amapá

    A cadeia produtiva da castanha-do-Brasil no Amapá é composta por diversas etapas, desde a coleta dos frutos até a comercialização. No entanto, essa cadeia enfrenta uma série de desafios que comprometem sua eficiência e sustentabilidade.

    Um dos principais gargalos é a logística de transporte. As condições precárias das estradas, especialmente durante o período chuvoso, dificultam o escoamento da produção. Em alguns casos, trajetos que deveriam durar poucas horas podem se estender por mais de um dia, aumentando os custos e reduzindo a competitividade do produto (GARCIA; ROMEIRO, 2009).

    Além disso, a falta de infraestrutura adequada para o beneficiamento e armazenamento da castanha compromete a qualidade do produto. A ausência de práticas adequadas de secagem e armazenamento pode levar à contaminação por microrganismos e aflatoxinas, substâncias tóxicas que inviabilizam a comercialização, especialmente no mercado internacional (EMBRAPA, 2021).

    A estrutura de governança da cadeia também apresenta fragilidades. A predominância de uma governança de mercado, onde as relações são estabelecidas pelos agentes econômicos sem coordenação centralizada, dificulta a implementação de estratégias coletivas para o fortalecimento da cadeia (GARCIA; ROMEIRO, 2009).

    Outro desafio é o acesso limitado a financiamentos. Muitas organizações extrativistas não conseguem acessar recursos do Pronaf devido à falta de capacitação e assistência técnica. Além disso, apenas uma pequena parcela dos financiamentos de crédito para cooperativas é direcionada à Amazônia, evidenciando a necessidade de políticas públicas mais inclusivas (GLOBORURAL, 2021).

    Apesar desses desafios, iniciativas como a miniusina de beneficiamento da castanha, premiada por um concurso promovido pelo Google, demonstram o potencial de soluções inovadoras para agregar valor à produção e melhorar a renda das comunidades extrativistas (GLOBORURAL, 2021).

    Diante desse cenário, a cadeia produtiva da castanha-do-Brasil no Amapá enfrenta desafios logísticos, estruturais e institucionais que comprometem sua eficiência e sustentabilidade. No entanto, com investimentos em infraestrutura, capacitação, assistência técnica e políticas públicas adequadas, é possível fortalecer essa cadeia e promover o desenvolvimento socioeconômico da região.

    5. CONCLUSÃO

      A produção de castanha-do-Brasil no Amapá, embora modesta em comparação com outros estados da Amazônia Legal, desempenha um papel crucial para diversas comunidades extrativistas que têm nesse recurso florestal uma importante fonte de renda e subsistência. No entanto, ao longo desta revisão de literatura, constatou-se uma escassez significativa de estudos recentes e aprofundados sobre a cadeia produtiva da castanha no contexto amapaense, especialmente entre os anos de 2015 e 2025. Muitos dos artigos disponíveis concentram-se nos grandes polos produtores, como Acre e Amazonas, deixando o Amapá em segundo plano, tanto em termos de análises econômicas quanto socioambientais.

      Outro ponto crítico observado foi a carência de dados estatísticos atualizados e sistematizados. A maior parte das informações disponíveis provém de bases oficiais como o IBGE e, mesmo nessas fontes, os dados para o Amapá são, muitas vezes, agregados de forma genérica ou apresentam defasagens temporais. Isso dificulta a construção de diagnósticos precisos e limita o planejamento de políticas públicas eficazes voltadas ao fortalecimento do extrativismo vegetal no estado. A ausência de painéis atualizados sobre produção, comercialização e impacto socioambiental torna ainda mais urgente a ampliação das pesquisas acadêmicas e institucionais sobre o tema.

      Apesar das limitações, a revisão permitiu identificar o potencial estratégico da castanha-do-Brasil para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, em especial do Amapá. Trata-se de um produto florestal não madeireiro que reúne atributos ecológicos, sociais e econômicos, sendo uma alternativa viável ao desmatamento e à exploração predatória dos recursos naturais. No entanto, para que esse potencial seja efetivamente aproveitado, é necessário um esforço coordenado entre governo, universidades, instituições de pesquisa e as próprias comunidades tradicionais.

      Neste contexto, este trabalho reforça a importância de ampliar o olhar para estados menos visibilizados nas estatísticas nacionais, como o Amapá, e de fomentar uma produção científica regionalizada que contribua para o reconhecimento, valorização e fortalecimento da cadeia da castanha-do-Brasil. Só assim será possível construir caminhos que aliem conservação ambiental, justiça social e geração de renda em territórios que ainda enfrentam grandes desafios estruturais.

      REFERÊNCIAS

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       1Discente do Curso Superior de Bacharelado em Engenharia Florestal do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amapá, Campus Laranjal do Jari e-mail: farojayton2@gmail.com