PROCESSOS PSICOSSOCIAIS E EDUCACIONAIS NA ORIENTAÇÃO PSICOLÓGICA A QUEIXA ESCOLAR

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10372425


Luila Tássia Silva Miranda1
Marleide Marques de Castro2


RESUMO: O presente artigo, consiste em um estudo de campo, sobre orientação Psicológica a queixa escolar, orientado pela professora Marleide Marques de Castro, desenvolvido na Escola Municipal Márcio Andrade de Guerra, na cidade de Ipatinga. Realizado pela aluna Luila Tássia Silva Miranda, do 10º período do curso de Psicologia. No artigo, ressaltamos a importância da psicologia educacional como processo de conhecer e aprender sobre educadores e educandos, em suas implicações relacionais. A psicologia Educacional não está confinada à escola, mas frequenta outros espaços onde a presença do psicólogo educacional se faz possível: a creche, o hospital de crianças, os grupos de pais e professores, as associações comunitárias, o consultório, o centro de saúde pública, entre outros. Enfim, é importante concorrer, com os instrumentos da psicologia, para que o espaço de reflexão possa ser compartilhado por educadores e educandos, sejam eles pais e filhos, professores e alunos, profissionais de saúde e clientes, instigando a problematização sobre as práticas, relações e concepções educativas que circundam e constituem o processo de desenvolvimento, conhecimento e aprendizagem. A psicologia educacional deve-se comprometer teórica e eticamente com o sujeito social, psíquico, humano.

Palavras-chave: Psicologia. Educadores. Educandos. 

ABSTRACT: This article consists of a field study on psychological guidance on school complaints, guided by professor Marleide Marques de Castro, developed at the Márcio Andrade de Guerra Municipal School, in the city of Ipatinga. Carried out by student Luila Tássia Silva Miranda, from the 10th period of the Psychology course. In the article, we highlight the importance of educational psychology as a process of knowing and learning about educators and students, in its relational implications. Educational psychology is not confined to the school, but frequents other spaces where the presence of the educational psychologist is possible: the daycare center, the children’s hospital, groups of parents and teachers, community associations, the office, the public health center , between others. Finally, it is important to compete, with the instruments of psychology, so that the space for reflection can be shared by educators and students, be they parents and children, teachers and students, health professionals and clients, instigating problematization about practices, relationships and educational concepts that surround and constitute the process of development, knowledge and learning. Educational psychology must be committed theoretically and ethically to the social, psychic, human subject.

Keywords: Psychology. Educators. Students.

Introdução

O presente trabalho de campo foi realizado na Escola Municipal Márcio Andrade de Guerra, no Bairro Veneza II, na cidade de Ipatinga. Teve como objetivo atender crianças com queixas no âmbito escolar. Foi através de oito encontros grupais, sendo semanais, com duração de uma hora cada. Foram utilizadas técnicas lúdicas, que nos possibilitou obter informações das histórias familiares e escolares dessas crianças. O critério de seleção dessas crianças com queixas escolares para a participação no trabalho desenvolvido, se deu a partir de um levantamento realizado pela direção da escola. 

A psicologia educacional está cada vez mais ganhando seu espaço seja na escola, instituições ou demais localidades em que está inserido o ser humano. O número de crianças encaminhadas principalmente pelas escolas, para atendimento clínico em Psicologia com algumas condutas e comportamentos que destoam do que é considerado normal e aceitável nas instituições de ensino, está crescendo cada vez mais. Pois, apresentam dificuldades acadêmicas em leitura/escrita e conhecimentos matemáticos, dificuldades em se organizar na sala de aula e nas tarefas de casa, além de problemas de comportamento e outras dificuldades. Tais queixas escolares ficam mais evidentes no início da escolarização. Portanto, como futura profissional da psicologia, precisamos escutar o educador para que juntamente com ele, oferecermos espaço para a explicitação de projetos, representações e desejos, para que se constitua o processo de desenvolvimento, conhecimento e aprendizagem do sujeito.

Atendimento em grupo de crianças com queixa escolar: possibilidades de escuta, trocas e novos olhares

Segundo Leandrini e Saretta, o texto retrata a realidade dos problemas encontrados nas escolas, dentre eles destacam-se alguns como: deficiência na formação dos professores, as más condições de funcionamento das escolas, a humilhação social que sofrem as crianças pobres no cotidiano escolar, o preconceito e a indisciplina na escola. São fatores escolares que acabam se refletindo na existência de grande quantidade de crianças com dificuldades em aprender a ler/escrever, em permanecer atentas e motivadas nas atividades escolares e, o mais alarmante, crianças estigmatizadas como indivíduos que não têm condições de aprender.

Os atendimentos realizados sinalizaram uma experiência privilegiada, para possibilitar novos olhares para questões do ambiente escolar e familiar, como dificuldades no processo de ensino aprendizagem, problemas familiares, da relação professor-aluno, compreensão de questões internas e dificuldades em reconhecer lacunas pedagógicas. 

Houve uma movimentação das queixas iniciais, do olhar dos pais e responsáveis e das professoras e outros agentes escolares, tornando possível uma mudança da situação escolar, no sentido do desenvolvimento, da superação da situação de fracasso. Problematizar e circular as informações mostrou-se estratégias potentes para que os objetivos deste trabalho fossem atingidos.

É pertinente ressaltar que este texto deixou bem claro a importância do serviço de Orientação à Queixa Escolar, ressaltando que essa rede (família, criança e escola) é fundamental para o desenvolvimento da criança. A psicologia oferece recursos para trabalhar as dificuldades e limitações da criança, mas desde que existe parceria, principalmente com a escola que muita das vezes está isenta da sua responsabilidade. No entanto, os atendimentos realizados com as crianças precisam-se tornar um momento terapêutico que lhes propicie o momento de falarem sobre suas escolas e famílias para que também haja de forma significativa uma melhoria da dinâmica escolar de cada criança.

Trabalhando com dificuldades na aquisição da língua escrita

Segundo Souza (2007), o texto retrata as dificuldades relacionadas à alfabetização, sendo as queixas escolares mais presentes as seguintes: “não aprendeu a ler, copia tudo, mas não entende o que copiou, escreve, mas não lê, come letras, troca letras”. etc.

Segundo a autora, nos atendimentos relacionados à queixa escolar, perceberam que é grande o número de crianças que são capazes de copiar com qualidade longos textos, têm cadernos frequentemente impecáveis e são incapazes de entender o significado do que estão registrados, pois não sabem ler. Na verdade, não estão escrevendo e sim desenhando letras.

A autora também nos estimula a pensar sobre o nosso posicionamento enquanto psicólogos dentro de uma escola, para ficarmos atentos para que nossos atendimentos não estejam a serviço de ocultarmos funcionamentos escolares insatisfatórios, através da psicologização das dificuldades de alfabetização. Por exemplo, ao pensarmos que uma criança que está na idade de ser alfabetizada, e, no entanto não está alfabetizada, seja portadora de déficits cognitivos ou neurológicos, ou que esteja tomada por sofrimentos de origem extra-escolar que dificultam o bom desenvolvimento de sua aprendizagem.

É pertinente ressaltar que como psicólogos, não podemos nos limitar ao dizer aos pais, à escola e à própria criança, que ela não tem nenhum problema psicológico e sim pedagógico, e que, no entanto, cabe à escola cuidar. É preciso ir além, a fim de contribuir com todos os envolvidos nessa queixa escolar. Pois o analfabetismo é fator de exclusão também da possibilidade de acesso a muitas informações, numa sociedade letrada como a nossa. Portanto é grave o fato de uma criança estar enfrentando dificuldades desse aspecto nos dias atuais. É preciso que essa situação seja uma das preocupações dos profissionais da saúde mental, e que os estimule a criar, inventar possibilidades de intervenção que abrange essa área.

Não é possível aprender a ler e a escrever sem entender o que a língua escrita representa e como funciona essa representação.

O fracasso escolar das crianças e dos adolescentes faz delas uma fonte de frustração para seus educadores. Tal situação tende a produzir uma relação entre os professores e seus alunos destrutiva para todos. 

É de suma importância a reflexão deste texto, para nossa atuação nos atendimentos que estamos realizando nas escolas, uma vez que as queixas de crianças não estarem se alfabetizando é apresentada com muita freqüência. Portanto, nossas intervenções nestes casos precisam se direcionar em ajudá-las a apropriarem de seu pensamento e de suas hipóteses, a problematizar e fornecer algumas informações sobre a leitura e a escrita. 

Apresentando a Orientação à Queixa escolar

Para Souza (2007), os psicólogos vêm ampliando e aperfeiçoando intervenções junto às escolas, com o intuito de problematizar e reverter os funcionamentos institucionais produtores de fracasso escolar e dos encaminhamentos de alunos para atendimento psicológico no sistema de saúde mental, clínicas – escola e outros espaços e instituições externas à escola. Tais atuações de cunho institucional, no entanto, frequentemente não dão conta de sofrimentos e fracassos individuais que, embora atravessados pela instituição, permanecem cristalizados. 

Segundo a autora, o pensamento dialético descreve-nos uma relação entre indivíduos e instituições que aponta a necessidade do psicólogo desenvolver frentes de trabalho diferenciadas, nos planos macro e microestrutural, se pretende atuar no sentido de uma transformação social profunda. Os planos macro e microestrutural no campo da Psicologia apareceram, na assessoria a psicólogos que atuam na saúde, desenvolvida no serviço de Psicologia escolar. Perceberam que por trás de uma grande parcela de sua demanda infanto-juvenil, centravam-se em cotidianos escolares adoecidos e adoecedores, daí procuraram ajuda. Com isso foi realizado um estudo sobre a demanda infanto-juvenil, e ficou evidenciado uma lacuna no conhecimento do serviço e da psicologia escolar: o atendimento às queixas escolares no âmbito da clínica, com o foco no indivíduo em sua relação instituição escolar, era preciso incluir a escola na investigação e na intervenção

A autora tenta revelar através desse texto, que as questões relacionadas às queixas escolar, precisa ser visto por um outro ângulo, pois na maioria das vezes, essa responsabilidade, é delegada apenas a criança ou adolescente, atingindo também a família. Portanto é pertinente ressaltar, que a escola fica em um lugar isento, intocável dessa responsabilidade.

Possibilidades e Limites do Psicólogo Educacional

Segundo Moreira (1992), o texto vem apresentar a escolha do relato de uma experiência como alternativa para a apresentação do tema, onde se apoia em vários motivos. O descortinar do cenário onde se tece a sua construção é um convite à elaboração de novas leituras, expressão da busca de articulação de texto e contexto e do desejo de ampliar o espaço de interlocução sobre as inter-relações possíveis entre a Educação e a Psicologia. É também inativo relevante o pedido, atual e frequente, dos profissionais da área, de troca de experiências. Proclamados e teorizados os crônicos problemas da sociedade brasileira, dos quais não escapam a Psicologia e a Educação, a conjuntura impõe um desafio que exige mais do que a constatação da crise e instiga a criatividade: que fazer?

É nossa pretensão, enquanto profissional de saúde pública, poder demonstrar a relação intrínseca e necessária entre saúde e educação, em cuja intercessão, a nosso ver, a psicologia educacional se define. (MOREIRA, 1992)

A autora ressalta que o fato de a experiência se dar em uma instituição educativa formal não significa uma restrição da definição do campo de atuação da área. Mesmo guardando uma maior intimidade com a escola, condição configurada pelas demandas sociais postas historicamente, não é este o seu único espaço de intervenção. A definição da psicologia educacional enquanto área de aplicação se faz hoje menos pelo seu lócus de atuação que pelos seus objetivos e por uma leitura específica da constituição do sujeito psíquico e da possibilidade de intervenção nos seus contextos sócio-culturais, relacionais – humanos de inserção.

Para usar uma expressão de Patto, esta é uma história datada que, provavelmente, em outros tempos, teria enredo diferente, talvez imputado à criança a responsabilidade pelos seus problemas, na medida em que supostamente, vista como portadora de déficits oriundos de seu meio. Esta foi, pelo menos, uma das versões de uma psicologia normatizante que buscava (e busca ainda) explicar os problemas emocionais e de aprendizagem, baseada, segundo dizeres de Miranda, numa “idealização de uma ‘natureza infantil e de uma função socializadora da educação, destituída de seu caráter histórico e socialmente determinado. Ao longo da história de enlaçamento da psicologia e da educação, não só as questões psicológicas, como sua compreensão e encaminhamento foram-se modificando e, os adjetivos também: psicologia escolar, psicologia do escolar, psicologia da educação, psicologia educacional. Este termo, mais recente e em voga, assinala a ampliação da abrangência de atuação para os contextos de educação formal e não-formal. Sua definição, à primeira vista, pode parecer óbvia demais, visto que o processo educativo é inerente a todas as relações humanas. No entanto, por isso mesmo, é preciso adentrar os termos, pois, posta desta maneira, a definição do campo de atuação da psicologia educacional alçaria as raias da onipotência e onipresença, o que equivale a não defini-Ia, ou melhor, concebê-la sem contornos, especificidade, identidade, adjetivos. Cabe, então, perguntar: em relação a que aspectos do processo educativo se dá a intervenção do psicólogo educacional? Quais os seus limites e possibilidades de atuação? Em que espaços pode ser exercida?

Para Moreira (1992), talvez para evitar o risco da identificação, esboça-se na atualidade a tendência de se destacar o processo psicológico de conhecer e a aprendizagem, como sua questão central, em suas mediações relacionais e entre cruzamentos como o processo de desenvolvimento cognitivo, afetivo, neuromotor e a inserção social, na trama constituidora do sujeito cognoscente, e, como tal, desejante, corporal, relacional. O desenrolar deste processo no contexto institucional educativo sofre ainda sobre determinações sociais- políticas e culturais que as subjetividades, nem tampouco a intervenção do psicólogo, conseguem, por si, ultrapassar. Daí, duas decorrências importantes: a prática e o conhecimento de que se serve a psicologia educacional ou qualquer outra área da psicologia são expressão do possível dentro dos limites conjunturais/históricos da instituição e da sociedade em que se inserem.

Há que considerar ainda que a questão hoje nuclear da psicologia educacional, o processo de conhecer e aprender, em suas implicações relacionais, não está confinada à escola, mas frequenta outros espaços onde a presença do psicólogo educacional se faz possível: a creche, o hospital de crianças, os grupos de pais e professores, as associações comunitárias, o consultório, o centro de saúde pública, entre outros.

Enfim, é importante concorrer, com os instrumentos da psicologia, para que o espaço de reflexão possa ser compartilhado por educadores e educandos, sejam eles pais e filhos, professores e alunos, profissionais de saúde e clientes, instigando a problematização sobre as práticas, relações e concepções educativas que circundam e constituem o processo de desenvolvimento, conhecimento e aprendizagem.

A psicologia educacional deve-se comprometer teórica e eticamente com o sujeito social, psíquico, humano (a redundância é proposital), assim definido sábia e simplesmente por uma mulher do povo que procurou, certa vez, o centro de saúde São José. “GENTE É QUEM TEM SENTIMENTO, DIREITO E VONTADE”. (MOREIRA, 1992)

Metodologia

Procedimentos e Atividades Desenvolvidas

1º Momento

No dia 18 de março de 2009, foi realizado o primeiro encontro na escola Municipal Márcio Andrade de Guerra, com a professora Aparecida Cunha, onde me relatou a respeito de três crianças, dentre elas: Rayssa Oliveira Avelar, Sarah Honorato Baptista e Thalita Dayane Santos Silva.

Segundo a professora, as dificuldades das alunas se referem à aprendizagem (escrevem, mas depois não sabem ler o que escreveram), pois está na 3º série, mas com conhecimentos de 1ª, não ficaram retidas nos anos anteriores, pois o governo indiretamente “obriga a escola de não reprovar nenhum aluno”. As alunas não estão acompanhando a turma, mediante a isso, requer uma atenção maior da professora. Elas não apresentam nenhum problema de indisciplina. 

Para a professora, a família é um fator que interfere no desenvolvimento escolar da criança, por isso a importância da psicologia, pois as crianças podem relatar ou demonstrar coisas para o profissional, que não demonstram para ela dentro de sala. 

Aparecida diz que ainda não relatou aos pais sobre a real situação de seus filhos na escola, pois ainda não teve nenhuma reunião com os mesmos.

2º Momento

No dia 24 de março de 2009, foi realizado o segundo encontro na escola Municipal Márcio Andrade de Guerra, com a professora Rose, onde me relatou a respeito de duas crianças, dentre elas: José Vitor Rodrigues Alves e Tharick Matheus Lopes de Oliveira.

Segundo a professora, José Vitor tem oito anos de idade, está na 2º série do ensino fundamental, é uma criança pré-silábica (reconhece as letras, mas tem dificuldades para formar as palavras), têm um problema sério de saúde (motivo pelo qual perdeu 1 ano escolar), é muito indisciplinado, sem limites (se escondia dentro do armário da professora, corria em cima das carteiras, etc… Só houve melhoras quando a professora passou a ter um domínio maior sobre a mesma com a autorização dos pais) e convive em um ambiente familiar onde avós, pai e mãe são envolvidos com o alcoolismo (problema esse, que pode ter reflexos em seu comportamento e desenvolvimento escolar).

Segundo Rose, Tharick Matheus tem sete anos de idade, também está na segunda série do ensino fundamental, é uma criança sem iniciativa, muito desorganizado com seus materiais (quando perde uma borracha dentro da sala de aula, não tem iniciativa para procurar, imediatamente pede a professora para localizá-la, etc…), é muito carente tanto financeiramente como afetivamente, mediante a isso, se apega muito à professora e ou a alguém que também lhe dedique à atenção. A criança é educada pelo irmão (adolescente), pois sua mãe mora no exterior e o seu pai trabalha o dia todo, estando presente em casa somente à noite. É importante ressaltar, que esse irmão que educa Tharick, era um dos alunos mais indisciplinados da escola. 

3º Momento

No dia 26 de março de 2009, foi realizado o terceiro encontro na escola Municipal Márcio Andrade de Guerra, com a professora Rosane, onde me relatou a respeito de três crianças, dentre elas: João Victor, Luiz Henrique e Carlos Magno.

Segundo a professora, João Victor é uma criança muito dispersa, indisciplinado e não faz nenhuma atividade em sala de aula. Segundo a professora, o raciocínio lógico e cognitivo de Luiz Henrique é comprometido, ainda relata que a criança é muito dispersa e briga muito com os colegas. Enquanto Carlos Magno apresenta dificuldade na fala e na escrita.

4º Momento

No dia 30 de março de 2009, fui até as casas das respectivas crianças, onde apresentei a proposta do estágio para os seus familiares e perguntamos a disponibilidade dos mesmos em participar do trabalho.

Das nove casas visitadas, uma não aderiu ao trabalho em função de não ter disponibilidade no horário determinado e uma outra criança não foi possível localizá-la, pois o endereço fornecido pela escola não era o da criança. As demais crianças aderiram ao trabalho proposto e demonstraram estar conscientes da importância desse trabalho para o desenvolvimento escolar de seus filhos.

5º Momento

Realização dos encontros grupais com as crianças da Escola Municipal Márcio Andrade de Guerra.

6º Momento 

No dia 23 e 24 de Junho, fui até a escola Márcio Andrade de Guerra, onde realizei as respectivas devoluções para as professoras Aparecida e Rosane e para os pais das crianças. Falei sobre os encontros com as crianças, mostrando para os mesmos, suas qualidades, potencialidades e capacidades. Verifiquei que as crianças apresentam habilidades e que precisam ser estimuladas tanto dentro de sala pelos professores, quanto pelos próprios pais. Trabalhar a auto-estima dessas crianças poderá possibilitar um rendimento escolar e familiar satisfatório.

 Encontros Realizados

1º Encontro

O 1º encontro foi realizado na Escola Municipal Márcio Andrade de Guerra, no dia 07 de abril, no horário de 10hs às 11hs, contando com a presença das seguintes crianças: Rayssa, Talita, Carlos Magno e João Victor.

As técnicas realizadas foram as seguintes: 1º “Nome com movimento”, com o objetivo de apresentar cada indivíduo e perceber um jeito particular como cada um se apresenta ao grupo e ao facilitador. 2º “Criando nossas regras”, com o objetivo de estabelecer as regras fundamentais para o funcionamento do grupo.

Verifiquei que as crianças sabem verbalizar o que pode e o que não pode ser feito numa escola, tendo conhecimento das importâncias das regras e limites.

2º Encontro

O 2º encontro foi realizado na Escola Municipal Márcio Andrade de Guerra, no dia 14 de abril, no horário de 10hs às 11hs, contando com a presença das seguintes crianças: Carlos Magno e Luis Henrique.

As técnicas realizadas foram as seguintes: 1º “Nome desenhado”, com o objetivo de estabelecer o contato entre o facilitador e o grupo de modo positivo; Conhecer o nome de cada um, possibilitando a individualização dentro do coletivo. 2º “Falar dos sentimentos vivenciados”, com o objetivo de permitir um maior conhecimento acerca dos sentimentos vivenciados pelos participantes e suas histórias.

Durante a realização da técnica nome desenhado, as crianças falaram sobre vários assuntos, inclusive Carlos verbalizou ter medo de bicho papão e o mesmo aparece à noite para pegar as crianças que falam palavrões, também tem medo de ficar no escuro para dormir. Verifiquei que Carlos tem dificuldades para dormir, sua mãe tem que ficar contando histórias para o mesmo dormir todas as noites. O mesmo também relatou frequentar uma igreja evangélica com a mãe e que as pessoas impõem a mão sobre a cabeça das outras para expulsar satanás. Luís Henrique em seu desenho trouxe sua atividade do dia a dia (vigiar carros das pessoas), função essa que ele e seus irmãos praticam semanalmente. O mesmo também relatou frequentar uma igreja evangélica com a mãe e ter visto um bicho na casa de uma mulher, mas com medo ele saiu correndo.

3º Encontro

O 3º encontro foi realizado na Escola Municipal Márcio Andrade de Guerra, no dia 28 de Abril, no horário de 10hs às 11hs, contando com a presença da seguinte criança: Carlos Magno.

A atividade desenvolvida nesse encontro chama-se “massinha do corpo humano”, com o objetivo de proporcionar uma melhor integração do grupo, trabalhando assim, questões como a diferença entre os seres humanos.

Nesse encontro, em função de ter sido apenas uma criança, não foi possível realizar o objetivo da técnica, então adaptamos a atividade, pedindo à criança que desenhasse um homem e uma mulher. Após o término, pedi ao mesmo que relatasse sobre os desenhos. No entanto, Carlos relatou as diferenças físicas, entre homem e mulher, e também relatou que homem não pode usar camisa rosa, pois isso é coisa de “boiola”.

Nesse dia, foi discutido com a criança que nem todos os seres humanos são iguais e nós precisamos lidar com essas diferenças, respeitando assim, o nosso próximo.

4º Encontro 

O 4º encontro foi realizado na Escola Municipal Márcio Andrade de Guerra, no dia 05 de Maio, no horário de 10hs às 11hs, contando com a presença das seguintes crianças: Rayssa e Thalita.

A atividade desenvolvida nesse encontro foi a técnica da pintura livre. Nesse encontro, tanto Thalita como Rayssa, pintaram seus desenhos copiando uma da outra. Elas pintam casas que gostariam de morar com seus familiares.

No momento de relatar sobre as pinturas, ambas relataram o desejo de morar em uma casa como a que elas pintaram, pois segundo elas, suas casas são muito apertadas.  

5º Encontro

O 5º encontro foi realizado na Escola Municipal Márcio Andrade de Guerra, no dia 12 de Maio, no horário de 10hs às 11hs, contando com a presença das seguintes crianças: Luiz e Thalita.

A atividade desenvolvida nesse encontro foi o fantoche. Onde foi pedido que as crianças contassem histórias relacionadas à família e escola, usando os personagens do fantoches.

No início da atividade, as crianças tiveram dificuldades para contarem as histórias, Somente após, eu participei desse momento, contando suas histórias, eles se envolveram e deixaram suas imaginações fluírem.

As histórias relatadas por eles, foram as seguintes: que as professoras só gritam em sala de aula com os alunos bagunceiros que não param sentados em suas carteiras e com alunos que não fazem deveres de casa. Relataram que todas as crianças devem ser obedientes aos pais, principalmente quando estes pedem para eles fazerem algum favor, como por exemplo ir em alguma padaria ou mercado.

6º Encontro 

O 6º encontro foi realizado na Escola Municipal Márcio Andrade de Guerra, no dia 19 de Maio, no horário de 10hs às 11hs, contando com a presença das seguintes crianças: Carlos Magno, Luis Henrique e Thalita.

A atividade desenvolvida nesse encontro, foram jogos como quebra-cabeça, dominó e desenho livre. Nesse encontro, as crianças ficaram livres para escolher o que queriam fazer.

7º Encontro 

O 7º encontro foi realizado na Escola Municipal Márcio Andrade de Guerra, no dia 26 de Maio, no horário de 10hs às 11hs, contando com a presença das seguintes crianças: Carlos Magno, Luis Henrique e Thalita.

A atividade desenvolvida nesse encontro, foi à técnica da colagem. Onde foi pedido às crianças, para cortarem gravuras que representassem sua família e sua escola. Na colagem da Thalita, predominou figuras de alimentação e moradia. Do Luiz Henrique e do Carlos, ambos predominaram figuras de objetos escolares e figuras humanas.

8º Encontro

O 8º encontro foi realizado na Escola Municipal Márcio Andrade de Guerra, no dia 02 de Junho, no horário de 10hs às 11hs, contando com a presença das seguintes crianças: Carlos Magno, Luis Henrique e Thalita.

A atividade desenvolvida nesse encontro, foi a técnica do desenho. Em função de ser o último encontro com as crianças, eu pedi aos mesmos, que fizessem um desenho de qual encontro realizado foi mais significativo para os mesmos.

Para Thalita, o dia mais significativo foi o dia da pintura livre. Pois, ela relatou ter ficado livre para fazer o que queria. Para Luiz Henrique, o dia do fantoche foi mais interessante, pois em sua casa, ninguém lhe contava histórias. E para Carlos, foi o dia da massinha, pois além de poder brincar com a mesma fazendo seus brinquedos preferidos, as estagiárias lhe deram a massinha de presente, pois somente Carlos estava nesse encontro.

No término do encontro, eu fiz um feedback com os mesmos em relação aos assuntos emergidos nos encontros, principalmente sobre preconceito em relação ao homossexualismo, pois esse assunto foi emergido em vários encontros. As estagiárias disseram sobre a importância de respeitar o próximo e a importância de se dedicar às atividades escolares, para serem bons profissionais e até mesmo bons cidadãos.  

CONCLUSÃO

No decorrer da prática desse trabalho, percebi a importância do trabalho da psicologia no ambiente escolar. Pois, conhecer a situação e as condições que perpassam na vida da criança é a melhor possibilidade para um bom trabalho terapêutico. Entre as inúmeras queixas escolares, o âmbito familiar pode ser um fator contribuinte para o não desenvolvimento da criança. Sendo assim, é preciso uma parceria escola – família, para que ambas estejam envolvidas na responsabilidade de educar essa criança. No entanto, a psicologia oferece recursos para trabalhar as dificuldades e limitações das crianças, mas desde que exista uma integração entre a família e a escola. Mas, na escola onde foi desenvolvido este estágio, percebi uma grande dificuldade para essa integração, pois tanto a escola quanto as famílias, não mostraram interesse pelo trabalho. Principalmente a escola, que se isentou de suas responsabilidades na participação do trabalho desenvolvido, como se fosse papel da psicologia trabalhar sem essa parceria. Acredito que o trabalho teria mais resultados para as crianças, se tanto a família quanto a escola, interagem melhor.

É importante ressaltar, que mesmo os atendimentos sendo realizados apenas com três crianças que se implicaram no processo, percebi inúmeras qualidades, habilidades e potencialidades desconhecidas pelas professoras, no qual precisam ser desenvolvidas e estimuladas. 

Referências Bibliográficas

LEANDRINI. Kizzy Domingues e SARETTA Paula. Atendimento em grupo de crianças com queixa escolar: possibilidades de escuta, trocas e novos olhares. Estudo de caso: orientação à queixa escolar 

MOREIRA, Maria Helena Camargos. Possibilidades e Limites do Psicólogo Educacional. Conselho Regional de Psicologia. 4ª Região. Psicologia: Possíveis Olhares outros Fazeres. Belo Horizonte, 1992. 

SOUZA. Beatriz de Paula. Trabalhando com dificuldades na aquisição da língua escrita. SP. Casa do Psicólogo, 2007

SOUZA. Beatriz de Paula. Orientação à queixa escolar. SP. Casa do Psicólogo, 2007. 


1Graduanda em Psicologia do Centro Universitário do Leste de Minas – UNILESTE-MG.
2Professora Orientadora do curso de Psicologia do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UNILESTE/MG. Mestre em Psicologia Educacional.