TEACHING AND LEARNING PROCESS IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202503311039
Carla Fabiana Aguiar de Freitas1
Zuleide Cristiane Menezes Santos2
Alania Romão Caldas Lopes3
Ericelia Antonia da Silva Cavalcante de Souza4
Irlene da Silva Xavier5
Albânia Girão de Sousa6
Eduardo Jansen dos Santos Caldas7
Aparecida Sampaio de Aquino8
Radamese Lima de Oliveira9
Thávilla Roany de Queiroz Freitas Lima10
RESUMO
Este artigo investiga a forma abrangente do processo de ensino e aprendizagem na Educação Infantil, evidenciando que o desenvolvimento cognitivo tem início com a maturação neurológica, processo que se dá já na vida intrauterina e se consolida por meio de alterações no sistema nervoso central mediadas por neurotransmissores, especialmente a noradrenalina. Além dos aspectos biológicos, ressalta-se a influência decisiva do ambiente familiar e das condições socioeconômicas na qualidade do aprendizado, bem como o papel crucial do psicopedagogo na identificação e intervenção de dificuldades. Fundamentado nas teorias de Wallon e Vygotsky, o estudo destaca a importância da estimulação precoce e do brincar como estratégias essenciais para o desenvolvimento integral das habilidades motoras, cognitivas, sensoriais e socioemocionais, promovendo uma formação escolar que equilibra seriedade e ludicidade. Dessa forma, a Educação Infantil é reafirmada como uma base fundamental para a formação completa do indivíduo, integrando saberes e experiências que favorecem um signo de aprendizagem que transcende a simples transmissão de conhecimento, promovendo o desenvolvimento integral, a criatividade e a autonomia.
Palavras-chave: Educação Infantil. Aprendizagem. Desenvolvimento Cognitivo.
ABSTRACT
This article investigates the comprehensive form of the teaching and learning process in Early Childhood Education, showing that cognitive development begins with neurological maturation, a process that occurs during intrauterine life and is consolidated through changes in the central nervous system mediated by neurotransmitters, especially norepinephrine. In addition to biological aspects, the decisive influence of the family environment and socioeconomic conditions on the quality of learning is highlighted, as well as the crucial role of the psychopedagogue in identifying and intervening in difficulties. Based on the theories of Wallon and Vygotsky, the study highlights the importance of early stimulation and play as essential strategies for the integral development of motor, cognitive, sensory and socioemotional skills, promoting a school education that balances seriousness and playfulness. In this way, Early Childhood Education is reaffirmed as a fundamental basis for the complete formation of the individual, integrating knowledge and experiences that favor a sign of learning that transcends the simple transmission of knowledge, promoting integral development, creativity and autonomy.
Keywords: Early Childhood Education. Learning. Cognitive Development.
INTRODUÇÃO
A aprendizagem começa com o processo neuromaturacional e, portanto, o aprendizado escolar faz parte da evolução normal do ato de aprender. O processo do desenvolvimento neuropsicomotor inicia-se já na vida intrauterina. A grande maioria dos estudiosos do assunto, relatam que a aprendizagem pode ser definida como um processo que se cumpre no sistema nervoso central (SNC) em que se produzem modificações mais ou menos permanentes, que se traduzem por uma modificação funcional ou conductual, permitindo uma melhor adaptação do indivíduo ao seu meio como resposta a uma solicitação interna ou externa.
Sabe-se que a atividade cerebral é realizada por meio dos neurotransmissores. Os neurônios noradrenérgicos, localizados na substância reticular ativadora ascendente, projetam-se no sistema límbico e na corticalidade cerebral. A noradrenalina se constitui no princípio químico da aprendizagem. É por esse motivo que as anfetaminas melhoram a atenção e a memória, pois aumentam as catecolaminas.
A aprendizagem também requer a participação da família, pois muitos transtornos estão inteiramente relacionados à família, à escola e aos problemas orgânicos e emocionais da criança. Muitas vezes, a criança em idade escolar é discriminada e até emocionalmente agredida, pois não está apresentando o desempenho escolar esperado; no entanto, o responsável por tal situação pode estar no ambiente que a rodeia. As dificuldades socioeconômicas e afetivo-culturais podem interferir no ato de aprender, independentemente da vontade da criança, não sendo trabalhado a causa raiz do problema, não teremos bom êxito em seu desenvolvimento.
O profissional Psicopedagogo irá fazer seu acompanhamento, e cabe ao mesmo identificar onde está a causa do problema, e muitas vezes já pode ser identificado na própria anamnese, ou em seu levantamento de hipóteses, para em seguida realizar o estudo de caso e dá início às intervenções.
Henri Paul Hyacinthe Wallon, um grande interacionista, que ficou bastante conhecido por seu trabalho científico sobre Psicologia do Desenvolvimento, dedicou-se ao estudo da criança para compreender as origens do processo psicológicos humanos. Seu estudo foi voltado para o desenvolvimento integral da criança.
Wallon defende a ideia de que a escola deve fornecer formação integral ao aluno constituída de afetividade, cognição e aspectos sociais. Neste conceito a família e a sociedade também devem estar incluídos, sendo de responsabilidade de todos a formação e desenvolvimento da criança.
Defende também que o homem é resultado da influência social e fisiológica, tendo aspectos orgânicos e sociais, que o influencia em seu processo de formação, como sujeito, na sua aprendizagem. A teoria de desenvolvimento cognitivo de Wallon, é centrada na psicogênese do ser humano como um todo, seu estudo foi relacionado em três aspectos: afetivo, cognitivo e motor, dividindo assim o desenvolvimento em cinco estágios, sendo eles:
- 1º Impulsivo e emocional (0 a 1 ano) — predominantemente afetivo e sensível, observa o corpo e têm movimentos descoordenados, responde às sensações internas (do corpo) e externas (o que ocorre em sua volta).
- 2º Estágio Sensório Motor e Projetivo (1 a 3 anos) — apresenta a marcha e a fala em pleno desenvolvimento, demonstra inteligência e sabe diferenciar a si, o outro e o que ocorre no mundo.
- 3º Estágio Personalismo (3 a 6 anos) — é uma fase de descobertas onde a criança identifica as diferenças existentes nos outros e nos adultos. É quando ela começa a estabelecer relações com o universo em sua volta.
- 4º Estágio o categorial (6 a 11 anos) — a diferenciação mais nítida entre o eu e o outro dá condições mais estáveis para a exploração mental do mundo externo, físico, mediante atividades cognitivas de agrupamento, classificação, categorização em vários níveis de abstração até chegar ao pensamento categorial.
- 5º Estágio Puberdade e Adolescência (11 anos em diante) — nesta etapa ela se vê de forma autônoma, acredita ter em si o seu “eu” constituído apesar de conflitos internos e externos e já apresenta valores e sentimentos próprios.
Podemos entender que a criança aprende por meio da interação com o meio, onde cada fase vemos uma evolução e uma construção enquanto sujeito, e sua aprendizagem é um processo de construção constante, sendo assim, o(a) profissional Psicopedagogo(a) tem uma função muito importante nesse processo, de instrução, e facilitação das descobertas.
Nesse processo de aprendizagem, a escola também tem seu papel importante no desenvolvimento infantil.
Sonhamos com uma escola que, sendo séria, jamais vire sisuda. A seriedade não precisa de ser pesada. Quanto mais leve é a seriedade, mais eficaz e convincente é ela. Sonhamos com uma escola que, porque séria, se dedique ao ensino de forma competente, mas, dedicada, séria e competentemente ao ensino, seja uma escola geradora de alegria. O que há de sério, até de penoso, de trabalhoso, nos processos de ensinar e aprender, de conhecer, não transforma este que fazer em algo triste. Pelo contrário, a alegria de ensinar e aprender deve acompanhar professores e alunos em suas buscas constantes. Precisamos remover os obstáculos que dificultam que a alegria tome conta de nós e não aceitar que ensinar e aprender são práticas necessariamente enfadonhas e tristes. (FREIRE, 1991, p. 37)
Esse pensamento requer nosso olhar e pensamento sobre os processos de ensino e aprendizagem, e o nosso papel tão importante em busca de uma educação de qualidade. Devemos buscar aprimoramento de práticas inovadoras, e que facilite o processo de ensino, fazendo com que esse processo seja agradável e significativo. A psicopedagogia pode trazer importantes contribuições para a Educação Infantil, elaborando propostas pedagógicas que auxiliem no desenvolvimento da criança, para que avancem nas suas aprendizagens. Podemos então concordar com as seguintes palavras:
[…] a busca de alternativas para a formação dos educadores de creches/pré-escolas é uma das tarefas mais importantes do psicopedagogo preocupado com o caráter preventivo de sua prática nessas instituições. Investigar, analisar e pôr em prática novas propostas para uma formação de educadores que os habilite a estabelecer relações mais maduras e conscientes com as crianças e com a equipe escolar, apresenta-se, então, como um dos mais fortes desafios ao psicopedagogo comprometido com a educação infantil em instituições (CAVICCHIA, 1996, p. 210).
Desse modo, todas as etapas da educação têm sua importância, mas na Educação Infantil precisa ter um olhar minucioso e atento, pois ela é a base da educação, sendo uma preparação da criança, para as demais etapas, sendo crucial para o desenvolvimento infantil. Conforme a Constituição (Brasil, 1988)
A educação infantil, primeira etapa da Educação Básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.
A afirmação destaca a educação infantil como uma etapa fundamental para o desenvolvimento integral da criança, considerando seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social. Ao afirmar que a educação infantil deve promover o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, o texto reconhece a infância como uma fase crucial para a formação de habilidades e capacidades que irão impactar diretamente o futuro da criança, tanto no ambiente escolar quanto na sociedade como um todo.
A educação infantil, nesse sentido, vai além da simples preparação para o ensino fundamental. Ela complementa a ação da família e da comunidade, o que implica que a educação infantil deve ser um esforço conjunto entre os educadores e as famílias, de modo a proporcionar um ambiente de aprendizado e crescimento mais completo e harmonioso.
Em termos práticos, isso reflete um reconhecimento das necessidades de desenvolvimento multidimensional da criança, não se limitando apenas ao desenvolvimento cognitivo (intelectual), mas também ao fortalecimento da saúde física, ao incentivo ao desenvolvimento emocional e psicológico, e à socialização, que são aspectos essenciais para formar um cidadão pleno e equilibrado.
O cuidado com a saúde da criança em seus primeiros anos de vida, é essencial para o seu desenvolvimento e prevenção de agravos, e a identificação de atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor, além de preventivo, é necessário para um acompanhamento ativo da criança. Os estímulos devem ocorrer desde cedo, de forma processual e respeitando os limites da criança, sem excessos, fazendo com que a estimulação flua de forma leve e prazerosa para a criança.
Devemos entender que cada criança tem suas formas de assimilar os conhecimentos, alguns podem demorar um pouco a responder aos estímulos, outras já podem mostrar grande avanço nesses processos. Mas mantendo a ludicidade como princípio dessa estimulação, e como foco o pleno desenvolvimento, os resultados surgirão como desejados.
Segundo Rogers (1988), as dificuldades de aprendizagem podem constituir uma modificação no aprendizado particular da leitura e escrita, ou alterações genéricas do processo de aprendizagem, onde outros aspectos, além da leitura e escrita, podem estar comprometidos (orgânico, motor, intelectual, social e emocional).
Conforme Polity (1998, p.73), o termo Dificuldade de Aprendizagem é definido pelo Instituto Nacional de Saúde Mental (EUA) da seguinte forma:
Dificuldade de Aprendizagem é uma desordem que afeta as habilidades pessoais do sujeito em interpretar o que é visto, ouvido ou relacionar essas informações vindas de diferentes partes do cérebro. Essas limitações podem aparecer de diferentes formas: dificuldades específicas no falar, no escrever, coordenação motora, autocontrole ou atenção. Essas dificuldades abrangem os trabalhos escolares e podem impedir o aprendizado da leitura, da escrita ou da matemática. Essas manifestações podem ocorrer durante toda a vida do sujeito, afetando várias facetas: trabalhos escolares, rotina diária, vida familiar, amizades e diversões. Em algumas pessoas as manifestações dessas desordens são aparentes. Em outras, aparece apenas um aspecto isolado do problema, causando impacto em outras áreas da vida.
Sabemos que os primeiros anos de vida de uma criança são decisivos, sendo indispensáveis à prática de estímulos e incentivos ao seu desenvolvimento.
Graças a estes e outros conhecimentos sobre o desenvolvimento humano, ao avanço tecnológico e às mudanças sociais e culturais é que o paradigma da criança evoluiu nos últimos cem anos: de uma concepção de uma criança adulta que reage diante de estímulos e cuja personalidade é construída com base em experiências externas para uma criança-criança capaz de modificar seu ambiente e que é o centro de suas próprias experiências e da sua aprendizagem (NAVARRO, 2008, p.4).
Nessa perspectiva, quando recebe estímulo a criança bem aproveitará sua capacidade de aprendizagem e de adaptação ao seu meio, de uma forma mais simples, rápida e intensa.
Os primeiros anos de vida têm sido considerados críticos para o desenvolvimento das habilidades motoras, cognitivas e sensoriais. É neste período que ocorre o processo de maturação do sistema nervoso central sendo a fase ótima da plasticidade neuronal. Tanto a plasticidade quanto a maturação dependem da estimulação (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016, p. 57).
É comum observarmos como se dá a construção do desenvolvimento infantil, e realizarem pequenas comparações, mas, vale ressaltar que cada criança tem sua maneira e seu tempo de aprender, por este motivo a estimulação adequada pode destravar um mundo de descobertas.
Para um bom desenvolvimento da criança é preciso realizar estímulos, contudo estimulação precoce possui várias metas a serem atingidas. Conforme Araújo e Souza (s/d), as principais são:
- Desenvolvimento das capacidades sensório-perceptivas, as quais propiciarão o desenvolvimento de outras áreas comportamentais da criança, refletindo na reação aos estímulos apresentados.
- Propiciar controle e executabilidade de movimentos (postura, equilíbrio, locomoção, coordenação de partes fundamentais do corpo), com a finalidade de satisfazer as necessidades básicas da criança.
- Desenvolver a cognição, por meio do conhecimento do ambiente, e dessa forma estabelecendo relações de causa-efeito, compreensão dos fenômenos de seu meio e a resolução de problemas do cotidiano.
- Desenvolvimento de habilidades socioemocionais que propiciem a comunicação (oral e gestual).
- Aquisição de hábitos básicos nos cuidados de si mesma, através de recursos próprios e aqueles que o meio disponibiliza.
- Estimular a aquisição de experiências e informações que a integrem no ambiente sócio-cultural.
- Motivação e orientação aos pais e demais participantes da família, por se tratar dos principais agentes promotores de estimulação junto à criança, particularmente em casa.
Podemos então perceber que dessa maneira o quanto importante são as atividades de estimulação e que em primeiro lugar devem contemplar todas as áreas: cognitiva, físico-motor, linguagem, afetivo emocional e social. Isso tudo para que a criança tenha a possibilidade de ter garantido um direito incontestável, o seu pleno desenvolvimento.
A importância do brincar
A infância é uma das fases mais importantes da vida. É nela que desenvolvemos nossa estrutura mental, trabalhamos e desenvolvemos o nosso psicológico e são os primeiros anos que servem de base para todas as aquisições que o nosso cérebro fará no futuro. Embora ninguém consiga passar pela infância sem vivenciar experiências adversas boas ou ruins, umas marcantes, outras nem tanto, é a ocorrência sucessiva e frequente dessas situações, que, a longo prazo, podem atrapalhar o desenvolvimento do cérebro e prejudicar não só a adolescência, mas também a vida adulta.
A criança já nasce com a necessidade de brincar, sendo essa uma das atividades mais importante para a construção do indivíduo, é por meio da brincadeira que podemos descobrir suas habilidades sociais, afetivas, cognitivas e físicas, descobrindo também suas limitações. Nela também é uma forma de comunicação e expressão da criança, um meio de aprender.
A brincadeira não pode ser vista como um passatempo, e sim como uma das formas mais importantes para o desenvolvimento infantil. É nessa fase da infância que a criança se desenvolve e constrói sua aprendizagem significativa.
Vygotsky (1987, p.37) conceitua:
O brincar é uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão e de ação pelas crianças, assim como de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e adultos.
Brincar está entre as práticas mais importantes para a saúde mental infantil e é responsável por diversos benefícios. Dentre eles, estão a consciência corporal e o desempenho físico, que contribuem para o melhor desenvolvimento motor, e o favorecimento do raciocínio, da criatividade e da imaginação. As brincadeiras, sejam elas realizadas sozinha ou no coletivo com outras crianças, facilitam o convívio social, contribuindo para que as crianças entendam regras e os limites das relações, além de conviverem com a diversidade de pensamentos.
Segundo Oliveira (2010, p. 15) o brincar da criança, desde o seu nascimento até aos seis anos de idade, tem um significado especial.
Para a psicologia do desenvolvimento e para a educação, em suas múltiplas ramificações e imbricações, uma vez que: é condição de todo o processo evolutivo neuropsicológico saudável, que se alicerça neste começo; manifesta a forma como a criança está organizando sua realidade e lidando com suas possibilidades, limitações e conflitos, já que, muitas vezes, ela não sabe, ou não pode, falar a respeito deles; introduz a criança de forma gradativa, prazerosa e eficiente ao universo sócio histórico-cultural; abre caminho e embasa o processo de ensino/aprendizagem favorecendo a construção da reflexão, da autonomia e da criatividade.
Para Vygotsky (1998), a criança nasce em um meio cultural repleto de significações social e historicamente produzidas, definidas e codificadas, que são constantemente ressignificadas e apropriadas pelos sujeitos em relação, constituindo se, assim, em motores do desenvolvimento.
Neste sentido, o desenvolvimento humano para ele se distancia da forma como é entendido por outras teorias psicológicas, por ser visto como um processo cultural que ocorre necessariamente mediado por um outro social, no contexto da própria cultura, forjando-se os processos psicológicos superiores, sendo a psique humana, nesta perspectiva, essencialmente social.
Os processos psicológicos superiores para Vygotsky (1987) são constituídos:
(…) pelos de domínio dos meios externos do desenvolvimento cultural e do pensamento: o idioma, a escrita, o cálculo, o desenho, bem como pelas funções psíquicas superiores especiais, aquelas não limitadas nem determinadas de nenhuma forma precisa e que têm sido denominadas pela psicologia tradicional com os nomes de atenção voluntária, memória lógica e formação de conceitos (p. 32).
A estimulação possui muitas maneiras, em todas conta com a presença da ludicidade, o que já é uma característica da infância. A criança aprende brincando, como já dito por Ferland (2006) “a descoberta do mundo pelo brincar tem efeitos evidentes sobre a evolução das habilidades da criança. Aí ela descobre quais objetos, as pessoas, os eventos que estão à sua volta e quais relações eles mantêm entre si”.
“É por meio do brincar e das brincadeiras com o próprio corpo, com o corpo do outro e com objetos, que a criança vai desenvolvendo todo seu repertório motor, sensorial, cognitivo, social e emocional” (TEIXEIRA et al., 2003). Na brincadeira a criança inicia o seu processo de autoconhecimento, entra em contato com a realidade externa e, a partir das relações vinculares, passa a interagir com o mundo.
As brincadeiras ajudam a criança a criar relações sociais e vínculos com outras crianças, ajudando na sua construção de valores. Entendemos que essa construção contribui para a aprendizagem, já que a criança está usando a imaginação e a criatividade, e essas brincadeiras imaginárias, contribui no desenvolvimento cognitivo, e facilita a interação com pessoas, as quais contribuirão para um acréscimo de conhecimento.
E com o tempo as brincadeiras vão se modificando, e seus interesses vão de acordo com as fases da criança. Assim como suas preferências por determinados brinquedos e jogos, com o ganho da maturidade, vão se modificando com o passar do tempo, e tendem a ser substituídos por objetos reais.
O brinquedo torna-se instrumento de exploração e desenvolvimento das capacidades da criança. Brincando, ela tem a oportunidade de exercitar funções, experimentar desafios, investigar e conhecer o mundo de maneira natural e espontânea, expressando seus sentimentos e facilitando o desenvolvimento das relações com as outras pessoas (KUDO et al., 1994).
Os brinquedos ou jogos ajuda nesse desenvolvimento, como já aponta o autor Ribeiro (2008), a importância do jogo como ferramenta pedagógica para a aprendizagem e acrescenta:
A inserção do jogo no contexto escolar aparece como uma possibilidade altamente significativa no processo de ensino-aprendizagem, por meio da qual, ao mesmo tempo em que se aplica a idéia de aprender brincando, gerando interesse e prazer, contribui-se para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social dos alunos (RIBEIRO, 2008, p. 19).
O brinquedo torna-se instrumento de exploração e desenvolvimento das capacidades da criança. Brincando, ela tem a oportunidade de exercitar funções, experimentar desafios, investigar e conhecer o mundo de maneira natural e espontânea, expressando seus sentimentos e facilitando o desenvolvimento das relações com as outras pessoas (KUDO et al., 1994).
Sobre o brinquedo e suas significâncias a autora Kishimoto (2005, p.20) admite:
Uma representação é algo presente no lugar de algo. Representar é corresponder a alguma coisa e permitir sua evocação, mesmo em sua ausência. O brinquedo coloca a criança na presença de reproduções: tudo o que existe no cotidiano, a natureza e as construções humanas. Pode-se dizer que um dos objetivos do brinquedo é dar à criança um substituto dos objetos reais, para que possa manipulá-los.
Nos escritos de Baquero (1998, p.101) fundamentado na sua teoria de Vygotsky, nos traz que:
O brinquedo é, antes de mais nada, uma das principais ou mesmo a principal atividade da criança. Com isto, Vygotsky destaca o caráter central do brinquedo na vida da criança, subsumindo e indo além das funções de exercício funcional, de seu valor expressinho, de seu caráter elaborativo, etc… Em segundo lugar, o brinquedo parece estar caracterizado em Vygotsky como uma das maneiras da criança participar na cultura, é sua atividade cultural típica, como o será em seguida, quando adulto, o trabalho.
Kishimoto (2005, p.20), remete o conceito do brincar como uma atividade dotada de uma significação social precisa, que necessita de uma aprendizagem.
Com relação aos jogos e as brincadeiras, Kishimoto (2005, p. 17) traz a seguinte concepção:
Enquanto fato social, o jogo assume a imagem, o sentido que cada sociedade lhe atribui. É este o aspecto que nos mostra porque, dependendo do lugar e da época, os jogos assumem significações distintas. Se o arco e a flecha hoje aparecem como brinquedos, em certas culturas indígenas representavam instrumentos para a arte da caça e da pesca. Em tempos passados, o jogo era visto como inútil, como coisa não séria. Já nos tempos do Romantismo, o jogo aparece como algo sério e destinado a educar a criança.
A imaginação da criança é fértil, então precisamos alimentá-la de experiências lúdicas e significativas. Muitas vezes replicam situações que presenciou, mesmo não sabendo seu significado por total, dessa forma precisamos manter presente a vivências que trará boas recordações e merecem ser lembradas, mesmo que:
[…] o imaginário não se confunde com o real, ele é um instrumento para a compreensão e a tomada de consciência do real. Para a criança, as linguagens expressivas, que se transformarão em linguagens artísticas para o adulto, são instrumentos fundamentais no processo de construção do pensamento e da própria linguagem verbal socializada, pois são canais de expressão mais subjetivos, que darão forma às experiências vividas e as transformarão em elementos de pensamento interiorizado. (DIAS, 2005, p. 52)
O brincar, por sua vez, sendo utilizado como uma atividade livre que não inibe a fantasia, e o bloqueio das suas emoções, favorece o fortalecimento da autonomia da criança e contribui para a não formação e até quebra de estruturas defensivas. Ou seja, “a criança quando brinca que é mãe de uma boneca, ela configura em si a identidade da figura materna, como também, vive intensamente a questão de poder gerar filhos e de ser uma boa mãe”. (OLIVEIRA, 2010, p.19).
De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 27, v.01):
O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à realidade de maneira não-literal, transferindo e substituindo suas ações cotidianas pelas ações e características do papel assumido, utilizando-se de objetos substitutos.
A citação extraída do Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998) destaca a importância da brincadeira no processo de desenvolvimento das crianças, abordando especificamente como a adaptação de papéis na brincadeira tem um papel fundamental na compreensão e interpretação da realidade.
Quando o documento menciona que o principal indicador da brincadeira entre as crianças é o papel que elas assumem enquanto brincam, está se referindo ao processo em que as crianças, ao adotar diferentes personagens ou funções durante a brincadeira, exploram e constroem uma realidade alternativa. Nesse contexto, a brincadeira torna-se uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças. Ao se colocarem em papéis variados, como o de médico, professor, bombeiro, entre outros, elas simulam a vida real, substituindo suas experiências cotidianas por ações que fazem parte dos papéis escolhidos.
A citação também destaca que, ao brincar de maneira simbólica, as crianças agem de maneira não-literal. Isso significa que elas não estão simplesmente imitando a realidade tal como ela é, mas a reinterpretando, transformando-a e adaptando-a conforme as características do papel que assumem. Esse processo de substituição de objetos reais por objetos simbólicos (por exemplo, usar uma vassoura como uma espada ou uma caixa como um carro) permite que a criança exerça sua criatividade e imaginário, e, ao mesmo tempo, desenvolva habilidades cognitivas como a resolução de problemas, o pensamento abstrato e a capacidade de adaptação a diferentes situações.
Portanto, a brincadeira, ao permitir que as crianças assumam papéis e modifiquem a realidade, desempenha um papel essencial não apenas no desenvolvimento cognitivo, mas também na construção da identidade, nas habilidades sociais e na expressão emocional das crianças. Essa prática simboliza um dos aspectos centrais da educação infantil, que é proporcionar às crianças experiências lúdicas que incentivem a aprendizagem de maneira prazerosa, criativa e significativa.
É indiscutível a importância do brincar no desenvolvimento infantil, visto que para Amaral (2010, p. 129), fundamentada nas teorias de Vygotsky, traz a questão de que os principais elementos da brincadeira, seria o desenvolvimento das situações imaginárias, a imitação e as regras. “O brincar vai além de uma fonte de prazer para a criança. A brincadeira indica a importância de se descobrir as necessidades que satisfazem a criança, para que assim seja possível aprender a peculiaridade da brincadeira como forma de atividade”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, torna-se evidente que a Educação Infantil desempenha um papel fundamental no desenvolvimento integral da criança, indo além da mera transmissão de conhecimento e promovendo a construção de habilidades cognitivas, motoras, sensoriais e socioemocionais. O estudo reforça que o desenvolvimento cognitivo tem início ainda na vida intrauterina e é influenciado por múltiplos fatores, incluindo a maturação neurológica, o ambiente familiar e as condições socioeconômicas.
Ao considerar as contribuições de Wallon e Vygotsky, destaca-se a importância da estimulação precoce e do brincar como estratégias indispensáveis para potencializar o aprendizado. Essas práticas, ao aliarem ludicidade e intencionalidade pedagógica, favorecem a criatividade, a autonomia e a socialização, proporcionando uma base sólida para os desafios futuros da vida escolar e social.
Além disso, ressalta-se o papel essencial do psicopedagogo na identificação e intervenção de dificuldades de aprendizagem, garantindo que cada criança possa desenvolver suas habilidades de forma plena. Dessa maneira, a Educação Infantil deve ser compreendida como um espaço de construção do conhecimento e de experiências significativas, em que o processo educativo ocorre de forma integrada e dinâmica.
A valorização da Educação Infantil é um pilar fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Durante os primeiros anos de vida, as crianças vivenciam processos essenciais de aprendizado e socialização que moldam suas percepções sobre o mundo, suas capacidades cognitivas e emocionais, e seus comportamentos em relação aos outros.
Este período não deve ser visto apenas como uma fase preparatória para o ensino fundamental, mas sim como uma etapa crucial em que as bases para o desenvolvimento humano integral são estabelecidas. Ao priorizar a Educação Infantil, não estamos apenas oferecendo um ambiente seguro e estruturado para as crianças, mas também investindo em seu potencial criativo, crítico e autônomo, habilidades que são indispensáveis para a formação de cidadãos ativos e conscientes.
Para que essa valorização seja efetiva, é necessário o investimento contínuo em políticas educacionais que visem, principalmente, à qualidade do ensino. Isso envolve, entre outros aspectos, a formação contínua e especializada dos educadores, a ampliação de infraestrutura nas instituições de ensino, e a implementação de currículos que contemplem o desenvolvimento integral da criança. Esses fatores são cruciais para garantir que cada criança, independentemente de sua origem ou contexto social, tenha acesso a uma educação que respeite suas individualidades, estímulos e necessidades, promovendo, assim, um aprendizado significativo.
Entretanto, a valorização da Educação Infantil não é responsabilidade exclusiva do Estado e das escolas. A família e a comunidade desempenham um papel fundamental nesse processo. O apoio e o engajamento dos pais no desenvolvimento dos filhos são determinantes para a formação de um ambiente educacional que vai além da sala de aula. Quando a educação infantil é vista como um esforço coletivo, no qual a escola, a família e a comunidade trabalham juntas, o potencial de aprendizagem das crianças é muito mais ampliado. A relação estreita entre essas esferas proporciona um fortalecimento do desenvolvimento emocional e social da criança, e a criação de um espaço de confiança e apoio.
Além disso, uma educação infantil de qualidade prepara as crianças não apenas para o futuro acadêmico, mas também para o seu desenvolvimento pessoal e social. A aprendizagem que ocorre nesse período envolve muito mais do que o simples acúmulo de informações. Trata-se de promover a autonomia, a resiliência, e a capacidade crítica, que são características essenciais para que as crianças se tornem adultos capazes de pensar por si mesmos, de questionar a realidade e de interagir de maneira construtiva em sociedade. Essas habilidades também são fundamentais para que as crianças possam se adaptar aos desafios do mundo moderno, como as rápidas mudanças tecnológicas e sociais.
Portanto, o investimento em políticas educacionais eficazes na Educação Infantil não é apenas uma responsabilidade do governo, mas também uma necessidade da sociedade como um todo. A criação de um ambiente educacional que seja inclusivo, que respeite as diversas formas de aprendizagem e que incentive o desenvolvimento de capacidades críticas e criativas, é um passo essencial para a construção de uma sociedade mais equilibrada e com melhores condições de enfrentar os desafios do futuro. O impacto da educação infantil vai muito além da sala de aula, refletindo-se na qualidade de vida das futuras gerações e na construção de um país mais igualitário e próspero.
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5Mestranda em Ciências da Educação
6Mestranda em Ciências da Educação
7Mestranda em Ciências da Educação
8Mestranda em Ciências da Educação
9Doutor em Ciências da Educação
10Doutora em Ciências da Educação