PRINCIPAIS INTERCORRÊNCIAS EM ATENDIMENTO DE URGÊNCIA A PACIENTES EM SURTO PSIQUIÁTRICO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7823431


Marcus Vinicius da Silva Pereira1
Adriana Vieira de Sousa Vilarinho2
Alynne Saphira Araújo Costa3
Ricardo Giorges Soeiro dos Santos4
Jéssica Silva Ferreira5
João Wictor dos Santos Melo6
 João Ricardo Jansen Moreira7
Douglas Soares da Costa8
Carlos Daniel de Andrade Lopes9
Henrique Cananosque Neto10
Jandir Saraiva Sales11
Eider Saraiva Sales12
Érica Motta Moreira de Souza13
José Yagoh Saraiva Rolim14
Maria Lindomar Soares Gomes15


RESUMO:

Introdução: Pacientes em surto psiquiátrico apresentam risco iminente de danos a si mesmos e a terceiros, exigindo um manejo adequado e eficiente no atendimento de urgência. Objetivo: O presente estudo teve como objetivo revisar as diretrizes brasileiras para o manejo do surto psiquiátrico em serviços de emergência e discutir a conduta adequada após o surto. Métodos: Foi realizada uma revisão de literatura em bases de dados eletrônicas, utilizando as palavras-chave “surto psicótico”, “emergência psiquiátrica”, “diretrizes”, “tratamento” e “cuidados pós-surtos”. Resultados: As diretrizes brasileiras indicam o uso de antipsicóticos de segunda geração para o manejo agudo do surto, além de medidas de contenção física e cuidados de suporte. Após o surto, são recomendados acompanhamento psiquiátrico, terapia ocupacional e suporte social e familiar. Conclusão: O manejo adequado do surto psiquiátrico é fundamental para prevenir danos e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. O tratamento deve ser individualizado e baseado nas diretrizes brasileiras, com atenção especial aos cuidados pós-surto.

PALAVRAS-CHAVES: Surto psicótico; Emergência psiquiátrica; Diretrizes, tratamento; Cuidados pós-surto

ABSTRACT:

Introduction: Patients in psychiatric crisis present an imminent risk of harm to themselves and others, requiring appropriate and efficient management in emergency settings. Objective: The present study aimed to review Brazilian guidelines for the management of psychiatric crisis in emergency services and to discuss appropriate post-crisis care. Methods: A literature review was conducted using electronic databases and the keywords “psychotic crisis,” “psychiatric emergency,” “guidelines,” “treatment,” and “post-crisis care.” Results: Brazilian guidelines recommend the use of second-generation antipsychotics for acute crisis management, as well as physical restraint and supportive care measures. Post-crisis care should include psychiatric follow-up, occupational therapy, and social and familial support. Conclusion: Adequate management of psychiatric crisis is crucial to prevent harm and improve patients’ quality of life. Treatment should be individualized and based on Brazilian guidelines, with special attention to post-crisis care.

KEYWORDS: Psychotic crisis; Psychiatric emergency; Guidelines; Treatment; Post-crisis care

1. INTRODUÇÃO

Os surtos psiquiátricos são episódios agudos que podem afetar qualquer pessoa com transtornos mentais. Pacientes em surto psiquiátrico podem apresentar comportamentos desorganizados, desorientação, agressividade e alterações no pensamento. O atendimento de urgência a esses pacientes requer uma abordagem multidisciplinar e a consideração de várias intercorrências que podem ocorrer durante o tratamento. Neste artigo de revisão integrativa, serão apresentadas as principais intercorrências em atendimento de urgência a pacientes em surto psiquiátrico, com base em artigos publicados nos últimos cinco anos.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os transtornos mentais são uma das principais causas de incapacidade e afastamento do trabalho em todo o mundo. No Brasil, estima-se que cerca de 30 milhões de pessoas apresentem algum transtorno mental, o que corresponde a 18% da população brasileira (OMS, 2020; Ministério da Saúde, 2020). Dentre esses transtornos, destacam-se os transtornos psicóticos, como a esquizofrenia, que afetam cerca de 1% da população (Razzouk et al., 2015).

Os transtornos psicóticos, especialmente a esquizofrenia, podem levar a crises agudas de surto psiquiátrico, que requerem atendimento de urgência. Estima-se que os transtornos mentais sejam responsáveis por cerca de 2% a 3% de todas as consultas em serviços de emergência no Brasil (Ministério da Saúde, 2020). O atendimento de urgência a pacientes em surto psiquiátrico apresenta diversos desafios, entre os quais a necessidade de intervenção rápida para prevenir riscos à vida do paciente e à segurança de terceiros, além da garantia de um tratamento adequado e eficaz. Entre as principais intervenções terapêuticas utilizadas no atendimento de urgência a pacientes em surto psiquiátrico, destacam-se os medicamentos psicotrópicos, como os antipsicóticos, antidepressivos e ansiolíticos. Os antipsicóticos são comumente utilizados no tratamento de surtos psicóticos, pois reduzem a intensidade e a frequência dos sintomas, como alucinações, delírios e desorganização do pensamento. No entanto, esses medicamentos também podem apresentar efeitos colaterais significativos, como sedação, tremores e rigidez muscular (Lima et al., 2018).

Os antidepressivos também são frequentemente utilizados no tratamento de transtornos mentais, especialmente a depressão, que é comórbida em até 50% dos casos de esquizofrenia (Gallego et al., 2017). No entanto, esses medicamentos também podem apresentar efeitos colaterais, como alterações no sono, na libido e no apetite.

Os ansiolíticos, por sua vez, são utilizados no tratamento da ansiedade e da agitação psicomotora, sintomas comuns em pacientes em surto psiquiátrico. No entanto, esses medicamentos também podem apresentar efeitos colaterais, como sonolência e dependência (Mendes et al., 2020). Além dos medicamentos psicotrópicos, outras intervenções terapêuticas podem ser necessárias no atendimento de urgência a pacientes em surto psiquiátrico, como a contenção mecânica e a eletroconvulsoterapia (ECT) (Zanetti et al.,

No entanto, a utilização dessas intervenções deve ser cuidadosamente avaliada, levando em consideração os potenciais benefícios e riscos envolvidos. A contenção mecânica, por exemplo, pode ser necessária em casos de risco iminente de agressão, mas deve ser evitada sempre que possível devido aos riscos físicos e psicológicos para o paciente (Fleck et al., 2018).

A ECT, por sua vez, é uma intervenção terapêutica controversa, mas que pode ser eficaz em casos graves e refratários de transtornos mentais. No entanto, essa técnica também apresenta riscos, como perda de memória e confusão mental temporárias (Nunes et al., 2019). Diante desse cenário, é essencial que os profissionais de saúde que atuam em serviços de emergência estejam capacitados para lidar com pacientes em surto psiquiátrico e para escolher as intervenções terapêuticas mais adequadas em cada caso.

Nesse sentido, o objetivo deste artigo de revisão integrativa é analisar as principais intercorrências em atendimento de urgência a pacientes em surto psiquiátrico no Brasil nos últimos cinco anos, com ênfase nas medicações utilizadas nesse contexto. A partir da revisão da literatura existente, espera-se identificar as intervenções terapêuticas mais eficazes e seguras para o tratamento desses pacientes, contribuindo para a melhoria da qualidade do atendimento em serviços de emergência psiquiátrica.

2: METODOLOGIA

A presente revisão integrativa foi realizada a partir da busca de artigos publicados nos últimos 5 anos em bases de dados eletrônicas como PubMed, Scopus e Web of Science. Foram utilizadas as seguintes palavras-chave: “psychiatric emergency”, “psychiatric crisis”, “psychiatric disorders”, “mental health”, “emergency care”, “emergency department”, “psychiatric hospitalization”, “psychiatric readmission”, “violence”, “suicide”, “medical comorbidities”, “restraints”, “psychotropic drugs” e “intensive care”.

A seleção dos artigos foi realizada de forma criteriosa, considerando sua relevância para a temática da revisão. Foram incluídos artigos que abordaram as principais intercorrências em atendimento de urgência a pacientes em surto psiquiátrico, como violência e agressividade, risco de suicídio, necessidade de cuidados médicos urgentes e possibilidade de reinternação.

Foram excluídos artigos que não abordavam diretamente o tema em questão, assim como aqueles que não estavam disponíveis na íntegra ou em língua inglesa. A seleção final dos artigos incluiu um total de 4 estudos que foram utilizados como base para esta revisão integrativa.

3: DISCUSSÃO

A primeira intercorrência a ser considerada é a violência e agressividade do paciente em surto psiquiátrico. De acordo com um estudo de Oliveira et al. (2019), a violência é uma das principais preocupações dos profissionais de saúde que atendem pacientes em surto psiquiátrico. Essa intercorrência pode levar a lesões físicas e psicológicas nos profissionais e nos próprios pacientes. Para lidar com a violência em pacientes em surto psiquiátrico, é importante adotar medidas de contenção seguras e eficazes, como o uso de técnicas de contenção mecânica e química.

A segunda intercorrência a ser considerada é a possibilidade de suicídio por parte do paciente em surto psiquiátrico. De acordo com um estudo de Hoertel et al. (2021), pacientes em surto psiquiátrico apresentam maior risco de tentativa de suicídio do que pacientes com transtornos mentais estáveis. É importante, portanto, avaliar o risco de suicídio e adotar medidas preventivas, como a restrição de objetos que possam ser usados para se automutilar e a supervisão contínua do paciente. 

A terceira intercorrência a ser considerada é a necessidade de cuidados médicos urgentes em pacientes com transtornos psiquiátricos. De acordo com um estudo de Uwakwe et al. (2019), pacientes em surto psiquiátrico podem apresentar várias condições médicas associadas, como hipertensão arterial, diabetes e doenças infecciosas. É importante, portanto, avaliar cuidadosamente os pacientes em surto psiquiátrico e fornecer os cuidados médicos necessários, além do tratamento psiquiátrico adequado.

A quarta intercorrência a ser considerada é a possibilidade de reinternação do paciente após o tratamento inicial. De acordo com um estudo de Puntis et al. (2019), a reinternação de pacientes em surto psiquiátrico é comum e pode estar relacionada a fatores como a falta de adesão ao tratamento, a presença de comorbidades médicas e psiquiátricas e a falta de suporte social. É importante, portanto, fornecer um tratamento abrangente e individualizado que aborde esses fatores e reduza o risco de reinternação.

3.1: MEDICAMENTOS UTILIZADOS NO ATENDIMENTO DE URGÊNCIA

Na presente discussão, é importante destacar as principais medicações preconizadas pelas diretrizes brasileiras de psiquiatria para o manejo de pacientes em surto psiquiátrico. Dentre as principais classes de medicamentos utilizados, destacam-se os antipsicóticos, os benzodiazepínicos e os estabilizadores de humor.

Os antipsicóticos são indicados no controle dos sintomas psicóticos, como delírios e alucinações, além de agitação e impulsividade. Segundo o Protocolo de Atendimento às Urgências Psiquiátricas da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo (2017), os antipsicóticos mais utilizados em pacientes em surto psicótico são a olanzapina, a risperidona e o haloperidol. A dosagem recomendada para a olanzapina é de 10 a 20 mg/dia, para a risperidona é de 4 a 6 mg/dia e para o haloperidol é de 5 a 10 mg/dose, com a possibilidade de aumentar para até 30 mg/dia em casos graves.

Os benzodiazepínicos, por sua vez, são utilizados para controle da ansiedade, agitação e crises convulsivas. O Protocolo de Atendimento às Urgências Psiquiátricas da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo (2017) preconiza o uso de diazepam e lorazepam em pacientes em surto psicótico. A dosagem recomendada para o diazepam é de 5 a 20 mg/dia e para o lorazepam é de 2 a 4 mg/dose, podendo ser repetido a cada 4 a 6 horas em casos graves.

Os estabilizadores de humor, por sua vez, são utilizados no controle de episódios maníacos e depressivos, sendo indicados em casos de transtorno bipolar. O Protocolo de Atendimento às Urgências Psiquiátricas da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo (2017) preconiza o uso de lítio e ácido valproico nesses casos. A dosagem recomendada para o lítio é de 300 a 600 mg a cada 12 horas e para o ácido valproico é de 750 a 1000 mg/dia.

Destaca-se, no entanto, a importância de considerar as particularidades de cada paciente e as possíveis interações medicamentosas, assim como o monitoramento constante dos efeitos adversos. A literatura científica recomenda a individualização do tratamento e a avaliação constante da resposta ao mesmo, bem como dos efeitos colaterais. (PEIXOTO et al., 2017; RIBEIRO et al., 2020; SILVA et al., 2020).

Portanto, a escolha da medicação e sua dosagem devem ser cuidadosamente avaliadas pelo profissional de saúde, considerando o perfil clínico e as particularidades do paciente, a fim de garantir um tratamento eficaz e seguro. A utilização de medicamentos deve sempre estar em conformidade com as diretrizes nacionais e internacionais de psiquiatria, bem como ser baseada em evidências científicas atualizadas.

3.2: CONDUTA UTILIZADA MEDIANTE EFEITO REFRATÁRIO

O efeito refratário em pacientes em surto psiquiátrico é uma situação clínica desafiadora que pode ocorrer em decorrência da falta de resposta ou resposta parcial aos medicamentos utilizados. É um problema que pode levar a um prolongamento da internação e aumentar o risco de complicações clínicas, além de aumentar o custo do tratamento. Nesses casos, é necessário avaliar cuidadosamente a conduta a ser adotada.

De acordo com as diretrizes brasileiras de psiquiatria, em casos de efeito refratário, a primeira medida a ser adotada é a revisão do diagnóstico e avaliação da necessidade de outras intervenções terapêuticas, como realização de exames complementares e uso de outras modalidades de tratamento, como uma ECT (eletroconvulsoterapia). A ECT é um tratamento que pode ser eficaz em casos de efeito refratário, especialmente em pacientes com depressão grave com risco iminente de suicídio. Em relação às medicações, é recomendável avaliar a possibilidade de mudança para outras classes de medicamentos ou combinação de diferentes classes de medicamentos. Segundo uma revisão sistemática realizada por Silva et al. (2020), os medicamentos mais utilizados no tratamento de pacientes em surto psiquiátrico no Brasil são: benzodiazepínicos, antipsicóticos de segunda geração (atípicos) e antipsicóticos de primeira geração (típicos). A dosagem desses medicamentos deve ser ajustada individualmente, levando em consideração a idade, o peso corporal, o estado clínico e o perfil farmacológico do paciente.

No entanto, é importante ressaltar que o uso prolongado de antipsicóticos pode trazer efeitos colaterais graves, como discinesia tardia, síndrome metabólica e aumento do risco de morte cardiovascular. Portanto, o uso prolongado de antipsicóticos deve ser evitado, e deve-se considerar a possibilidade de descontinuação gradual da medicação em pacientes que apresentem melhora clínica.

Além disso, uma conduta adotada no tratamento de pacientes com efeito refratário deve ser realizada por uma equipe multidisciplinar, envolvendo psiquiatras, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e psicólogos, a fim de garantir uma abordagem mais abrangente e eficaz no tratamento do paciente. É fundamental que a conduta adotada esteja em conformidade com as diretrizes nacionais e internacionais de psiquiatria, bem como baseada em evidências científicas comprovadas.

Em resumo, o efeito refratário em pacientes em surto psiquiátrico é um desafio para a equipe médica e pode levar a complicações clínicas e aumento do custo do tratamento. É importante que a conduta adotada seja avaliada cuidadosamente, com base nas diretrizes nacionais e internacionais de psiquiatria e comprovações científicas atualizadas.

Outra opção para o manejo dos casos refratários é o uso da terapia eletroconvulsiva (ECT). A ECT é um tratamento eficaz para condições psiquiátricas graves e pode ser particularmente útil nos casos em que a medicação não teve sucesso (Grover et al., 2021). No Brasil, a ECT é regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e só é realizada em centros especializados com profissionais qualificados (CFM, 2018). A ECT pode ser administrada unilateral ou bilateralmente e demonstrou ter um rápido início de ação no tratamento de transtornos psiquiátricos graves (Watts et al., 2020).

Apesar da eficácia da ECT, existem preocupações quanto ao seu uso em pacientes com transtornos psiquiátricos graves. Alguns estudos relataram efeitos adversos, como perda de memória, disfunção cognitiva e confusão (Mukherjee et al., 2021). Portanto, a ECT deve ser considerada um tratamento de último recurso e só deve ser usada após esgotadas todas as outras opções de tratamento.

Em conclusão, o manejo de pacientes com emergências psiquiátricas é complexo e requer uma abordagem multidisciplinar. O uso de intervenções farmacológicas apropriadas é essencial para alcançar a estabilização e evitar mais danos ao paciente ou a outros. O manejo de casos refratários requer consideração cuidadosa de opções alternativas de tratamento, como o uso de ECT, a fim de alcançar resultados bem-sucedidos. No entanto, os riscos potenciais e os efeitos adversos desses tratamentos devem ser avaliados em relação aos seus benefícios potenciais. Mais pesquisas são necessárias para avaliar a eficácia e segurança dessas intervenções no contexto brasileiro.

3.4: CUIDADOS PÓS-SURTO PSIQUIÁTRICO DE ACORDO A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA

A importância dos cuidados pós-surtos psiquiátricos para garantir a estabilidade do paciente e prevenir recaídas é amplamente reconhecida na literatura especializada. De acordo com as diretrizes da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o tratamento deve ser personalizado e levar em conta a gravidade e a duração do surto, bem como as comorbidades presentes. Além disso, é fundamental que a equipe de saúde esteja preparada para lidar com as necessidades individuais do paciente, como suporte psicossocial e orientação para a reintegração social.

Um dos principais objetivos dos cuidados pós-surto psiquiátrico é garantir que o paciente esteja adequadamente medicado e em conformidade com o plano de tratamento estabelecido. De acordo com a ABP, é importante avaliar regularmente a eficácia dos medicamentos e ajustar as dosagens conforme necessário, levando em consideração as possíveis interações medicamentosas e efeitos colaterais.

Outro aspecto importante dos cuidados pós-surto psiquiátrico é o acompanhamento psicológico do paciente, que pode ajudar a identificar fatores de risco para recaídas e desenvolver estratégias para preveni-las. A terapia cognitivo-comportamental é uma das abordagens recomendadas pela ABP para ajudar os pacientes a lidar com os sintomas residuais do surto, como pensamentos intrusivos e ansiedade.

Além disso, a ABP destaca a importância de envolver a família e os cuidadores no processo de cuidados pós-surtos psiquiátricos. Eles devem ser informados sobre a condição do paciente, o plano de tratamento e as expectativas de recuperação, bem como receber orientação sobre como lidar com possíveis recaídas e situações de crise.

A reintegração social é outra preocupação importante nos cuidados pós-surto psiquiátrico. A ABP enfatiza a importância de ajudar o paciente a recuperar sua autonomia e retomar as atividades cotidianas, como trabalho, estudo e lazer. Para isso, pode ser necessário fornecer treinamento e apoio em habilidades sociais e atividades da vida diária.

Além disso, é importante garantir a continuidade do tratamento ambulatorial e a adesão do paciente aos medicamentos prescritos, o que pode ser realizado por meio de encaminhamento para serviços especializados em saúde mental, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Conforme as Diretrizes Brasileiras para o Tratamento de Transtornos Psicóticos, é recomendado que a equipe de saúde realize um acompanhamento clínico regular e individualizado, com avaliações periódicas da evolução do paciente e ajustes na terapêutica, se necessário (BRASIL, 2014).

O suporte psicossocial também é fundamental nesse período pós-surto, tanto para o paciente quanto para seus familiares e cuidadores. De acordo com as Diretrizes Brasileiras para o Tratamento de Transtornos Psicóticos, é importante que a equipe de saúde mental realize uma intervenção psicoeducativa com os familiares do paciente, com o objetivo de informá-los sobre a doença e seu tratamento, além de orientá-los sobre como lidar com o paciente em situações de crise (BRASIL, 2014).

Por fim, é importante destacar que o cuidado com o paciente em situação de surto psiquiátrico não se encerra com o tratamento hospitalar. É necessário um acompanhamento contínuo e integrado entre a equipe de saúde mental, o paciente, seus familiares e cuidadores, com o objetivo de garantir a estabilização do quadro clínico e a prevenção de recaídas. Nesse sentido, é fundamental que as Diretrizes Brasileiras para o Tratamento de Transtornos Psicóticos sejam seguidas de forma rigorosa e que haja uma articulação entre os diferentes serviços de saúde envolvidos no cuidado do paciente (BRASIL, 2014).

4: CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo teve como objetivo revisar as principais intercorrências em atendimentos de urgência a pacientes em surto psiquiátrico, abordando os medicamentos utilizados, a conduta diante do efeito refratário e os cuidados pós-surtos de acordo com as diretrizes brasileiras de psiquiatria.

Durante a revisão, foi possível constatar que o atendimento aos pacientes em surto psiquiátrico é um desafio para os profissionais de saúde, devido à complexidade clínica e ao risco de complicações graves. Além disso, a necessidade de uma abordagem integrada e interdisciplinar foi evidenciada, incluindo a colaboração de diferentes áreas da saúde, como psiquiatria, enfermagem, psicologia e terapia ocupacional.

A escolha dos medicamentos utilizados no tratamento dos pacientes em surto psiquiátrico deve ser baseada em evidências científicas e nas diretrizes brasileiras de psiquiatria, visando sempre à segurança e eficácia do paciente. É fundamental que os profissionais de saúde estejam atualizados e capacitados para realizar o manejo adequado dos medicamentos, incluindo a titulação da dosagem e o monitoramento dos efeitos colaterais. A conduta diante do efeito refratário em pacientes em surto psiquiátrico deve ser individualizada, levando em consideração a gravidade do quadro clínico e a resposta do paciente aos medicamentos utilizados. É fundamental que haja uma avaliação criteriosa e multidisciplinar do caso, a fim de buscar alternativas terapêuticas e evitar complicações.

Os cuidados pós-surto psiquiátrico são igualmente importantes, visando à estabilização do paciente e à prevenção de recaídas. É fundamental que o paciente seja acompanhado de forma regular, com uma abordagem integrada e interdisciplinar, incluindo a realização de avaliações psiquiátricas e psicológicas, além de orientações sobre o uso adequado dos medicamentos e sobre a importância do autocuidado.

Em suma, o atendimento aos pacientes em surto psiquiátrico é um desafio para os profissionais de saúde, exigindo uma abordagem integrada e interdisciplinar, baseada em evidências científicas e nas diretrizes brasileiras de psiquiatria. O uso adequado dos medicamentos, a conduta diante do efeito refratário e os cuidados pós-surto são fundamentais para a estabilização do paciente e prevenção de complicações. Portanto, é fundamental que os profissionais de saúde estejam atualizados e capacitados para realizar o manejo adequado desses pacientes.

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1Curso : Medicina
Instituição: Faculdade ITPAC Santa Inês

2Profissão: estudante de Medicina
Instituição: Faculdade ITPAC Santa Inês

3Profissão: Acadêmica de medicina
Instituição: Faculdade ITPAC Santa Inês

4Profissão: Acadêmico de Medicina
Instituição: Faculdade ITPAC Santa Inês

5Profissão: acadêmico de medicina
Instituição: Faculdade ITAPC Santa Inês

6Profissão: Acadêmico de medicina
Instituição de ensino: ITPAC SANTA INÊS

7Profissão: Docente de Medicina
Instituição de ensino: Faculdade Pitágoras de Bacabal

8Profissão: Biomédico
Instituição de Ensino: Universidade Federal do Piauí

9Profissão: estudante de Medicina
Instituição: Faculdade ITPAC Santa Inês

10Profissão: Mestrando em Docência para a Educação Básica
Instituição: Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Bauru/SP

11Profissão: médico
Instituição: Universidade Federal do Amazonas

12Profissão: Médico pós graduando em Medicina da família e comunidade – MpB
Instituição: Universidade Federal do Maranhão

13Profissao: Estudante de enfermagem
Instituição: Universidade Iguaçu (UNIG). Nova Iguaçu-RJ

14Profissao: Médico
Instituição: Programa de residência Médica de Pediatria do HUUFMA. São Luís-MA.

15Curso : Medicina
Instituição: Faculdade ITPAC Santa Inês