REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202510310058
Jonas Pereira da luz
Orientador: Prof.ª Banca de Souza Leal
RESUMO
O diabetes mellitus tipo 2 é uma doença crônica não transmissível de alta prevalência, associada ao estilo de vida moderno, caracterizado por alimentação inadequada, sedentarismo e estresse. Essa condição representa um dos maiores desafios da saúde pública mundial, exigindo estratégias preventivas eficazes e sustentáveis. O presente estudo teve como objetivo analisar a importância dos hábitos saudáveis na prevenção do diabetes mellitus tipo 2, enfatizando o papel da alimentação equilibrada, da prática regular de atividade física e das ações educativas interdisciplinares. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa e caráter descritivo, desenvolvida a partir da análise de publicações científicas nacionais e internacionais disponíveis nas bases SciELO, PubMed, Google Scholar e LILACS, publicadas entre 2005 e 2025. A análise foi conduzida segundo a técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin, permitindo a sistematização e interpretação dos dados. Os resultados evidenciaram que a adoção de hábitos saudáveis, associada à educação em saúde e à atuação interdisciplinar, é capaz de reduzir significativamente o risco de desenvolvimento do diabetes tipo 2, além de promover melhor qualidade de vida e equilíbrio metabólico. Conclui-se que a prevenção deve ser entendida como um compromisso coletivo que envolve indivíduos, profissionais e políticas públicas.
Palavras-chave: Diabetes mellitus tipo 2. Prevenção. Hábitos saudáveis. Alimentação equilibrada. Educação em saúde.
ABSTRACT
Type 2 diabetes mellitus is a highly prevalent chronic non-communicable disease associated with modern lifestyle habits, such as inadequate diet, physical inactivity, and stress. This condition represents one of the greatest challenges to global public health, requiring effective and sustainable preventive strategies. The objective of this study was to analyze the importance of healthy habits in the prevention of type 2 diabetes mellitus, emphasizing the role of balanced nutrition, regular physical activity, and interdisciplinary educational actions. It is a bibliographic research with a qualitative and descriptive approach, developed through the analysis of national and international scientific publications available in the SciELO, PubMed, Google Scholar, and LILACS databases, published between 2005 and 2025. The analysis was conducted using Bardin’s content analysis technique, which allowed data organization and interpretation. The results showed that the adoption of healthy lifestyle habits, combined with health education and interdisciplinary practices, significantly reduces the risk of developing type 2 diabetes, while promoting better quality of life and metabolic balance. It is concluded that prevention should be understood as a collective commitment involving individuals, professionals, and public policies.
Keywords: Type 2 diabetes mellitus. Prevention. Healthy habits. Balanced diet. Health education.
1 INTRODUÇÃO
O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é considerado um dos maiores problemas de saúde pública do século XXI, tanto pela sua alta prevalência quanto pelas complicações que acarreta à qualidade de vida da população. Trata-se de uma doença metabólica crônica caracterizada pela resistência à insulina, que leva ao aumento da glicose no sangue e, consequentemente, ao surgimento de alterações vasculares, renais, oculares e neurológicas (LYRA et al., 2006). Estimativas da Federação Internacional de Diabetes apontam que, em 2023, mais de 530 milhões de pessoas conviviam com a doença no mundo, sendo o tipo 2 responsável por aproximadamente 90% dos casos (IDF, 2023). No Brasil, segundo dados do Vigitel Brasil 2023, a prevalência do diabetes entre adultos já ultrapassa 10%, evidenciando um cenário de crescimento constante (BRASIL, 2023).
A urbanização acelerada, o sedentarismo, o uso excessivo de alimentos ultraprocessados e o aumento do estresse cotidiano são fatores que contribuem para a elevação dos índices de obesidade e para o surgimento precoce do diabetes tipo 2 (FERREIRA, 2005). Pesquisas demonstram que o estilo de vida inadequado é o principal determinante da doença, sendo a prática regular de atividade física, a alimentação equilibrada e o controle do peso corporal os pilares fundamentais de sua prevenção (UUSITUPA et al., 2019). Nesse contexto, a promoção de hábitos saudáveis se consolida como uma das estratégias mais eficazes e sustentáveis para reduzir o impacto da doença e melhorar a saúde populacional.
O Finnish Diabetes Prevention Study demonstrou que intervenções baseadas em alimentação balanceada e exercícios físicos regulares foram capazes de diminuir em até 58% o risco de desenvolvimento da doença (TUOMILEHTO et al., 2001). No mesmo sentido, o Diabetes Prevention Program comprovou que a modificação do estilo de vida é mais eficiente que o uso isolado de medicamentos na prevenção primária da enfermidade (KNOWLER et al., 2002). No Brasil, iniciativas como a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) e o Guia Alimentar para a População Brasileira estimulam ações de educação alimentar e práticas corporais no âmbito da Atenção Primária à Saúde, embora ainda enfrentem desafios estruturais e culturais para alcançar toda a população (BRASIL, 2014).
O papel dos profissionais de saúde torna-se essencial para orientar, motivar e acompanhar indivíduos e comunidades no processo de mudança de hábitos. A educação em saúde, o aconselhamento nutricional e a criação de ambientes favoráveis ao autocuidado são práticas fundamentais para reduzir os fatores de risco e fortalecer a autonomia do paciente (COSTA et al., 2011; SOUZA; LIMA; CORDEIRO, 2021). É importante que as ações de prevenção não se limitem à prescrição de dietas e exercícios, mas sejam compreendidas como um processo educativo contínuo, sensível às realidades locais e às condições sociais de cada indivíduo, conforme destacam MENDES et al. (2023).
A relevância deste estudo está em contribuir para a reflexão sobre a importância da promoção de hábitos saudáveis como forma de prevenir o diabetes mellitus tipo 2, especialmente em um contexto de crescimento das doenças crônicas não transmissíveis e de desafios no sistema público de saúde. Torna-se fundamental compreender até que ponto a alimentação equilibrada, a prática regular de atividades físicas e a educação em saúde podem atuar como ferramentas eficazes na prevenção dessa doença e na melhoria da qualidade de vida da população. Diante disso, a problemática que norteia este trabalho é: de que maneira os hábitos saudáveis podem contribuir efetivamente para a prevenção do diabetes mellitus tipo 2 e quais estratégias podem fortalecer a adesão da população a essas práticas?
O objetivo geral deste estudo é analisar a importância dos hábitos saudáveis na prevenção do diabetes mellitus tipo 2, destacando as práticas alimentares equilibradas, o incentivo à atividade física e as ações educativas em saúde como pilares de prevenção. Como objetivos específicos, busca-se identificar os principais fatores de risco associados ao estilo de vida, compreender a relevância da educação alimentar e das práticas corporais no contexto da Atenção Primária, e discutir evidências científicas que comprovam a eficácia das mudanças de comportamento no controle da glicemia e na redução da incidência da doença.
A metodologia adotada para este trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica de caráter descritivo e qualitativo, realizada a partir de publicações científicas disponíveis em bases de dados como SciELO, PubMed e Google Scholar. Foram utilizados como descritores os termos: diabetes mellitus tipo 2, prevenção, hábitos saudáveis, alimentação equilibrada e atividade física. Como critérios de inclusão, consideraram-se artigos publicados entre 2005 e 2025, disponíveis em português e inglês, com enfoque em estratégias de prevenção por meio de mudanças de estilo de vida. Excluíram-se estudos repetidos, pesquisas sem acesso ao texto completo e aquelas que abordavam o diabetes tipo 1 ou tratamentos exclusivamente farmacológicos. A análise foi conduzida com base em leitura crítica e seleção das evidências mais relevantes, permitindo uma compreensão ampla e atualizada sobre o tema proposto.
1.1 OBJETIVOS
O presente estudo tem como objetivo geral analisar a relevância da adoção de hábitos saudáveis na prevenção do diabetes mellitus tipo 2, destacando a influência da alimentação equilibrada, da prática regular de atividade física e das ações educativas interdisciplinares como estratégias fundamentais para a promoção da saúde e redução da incidência da doença.
1.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Identificar os principais fatores de risco modificáveis associados ao desenvolvimento do diabetes mellitus tipo 2;
- Compreender como a alimentação saudável e o controle metabólico contribuem para a prevenção e o manejo inicial da doença;
- Analisar a influência da prática regular de atividade física e do estilo de vida ativo na manutenção da sensibilidade à insulina e no equilíbrio glicêmico;
- Investigar o papel da educação em saúde e da atuação interdisciplinar na consolidação de estratégias preventivas eficazes e sustentáveis;
- Discutir a importância das políticas públicas e dos programas de promoção da saúde voltados ao enfrentamento do diabetes mellitus tipo 2 no Brasil.
1.2 JUSTIFICATIVA
O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é reconhecido como uma das principais causas de morbimortalidade em todo o mundo, sendo considerado um grave problema de saúde pública que afeta milhões de pessoas e acarreta altos custos aos sistemas de saúde. A sua expansão está diretamente ligada às mudanças no estilo de vida da população moderna, marcadas pela alimentação inadequada, sedentarismo e aumento dos níveis de estresse. Essas condições favorecem o surgimento da resistência à insulina e o desequilíbrio metabólico que caracterizam a doença (LYRA et al., 2006; FERREIRA, 2005).
No Brasil, de acordo com o Vigitel Brasil 2023, a prevalência do diabetes entre adultos já ultrapassa 10%, configurando um cenário preocupante, especialmente entre grupos com menor escolaridade e renda (BRASIL, 2023). A urbanização acelerada, a ampla oferta de alimentos ultraprocessados e o estilo de vida cada vez mais sedentário contribuem para esse quadro, evidenciando a necessidade de estratégias preventivas mais efetivas e acessíveis.
A relevância deste estudo reside na compreensão de que o diabetes tipo 2 pode ser amplamente prevenido por meio da adoção de hábitos saudáveis e da implementação de políticas públicas que estimulem práticas de autocuidado e educação em saúde. Mais do que discutir os aspectos clínicos da doença, este trabalho propõe uma reflexão sobre o papel transformador das ações educativas, interdisciplinares e sociais na promoção da saúde coletiva. Assim, pretende-se responder à seguinte problemática: de que maneira os hábitos saudáveis podem contribuir efetivamente para a prevenção do diabetes mellitus tipo 2 e quais estratégias interdisciplinares podem fortalecer a adesão da população a essas práticas?
1.3 METODOLOGIA
A presente pesquisa caracteriza-se como um estudo de natureza bibliográfica, com abordagem qualitativa e caráter descritivo, desenvolvido a partir da análise de publicações científicas nacionais e internacionais sobre a prevenção do diabetes mellitus tipo 2 por meio de hábitos saudáveis. Essa metodologia foi escolhida por permitir a compreensão ampla e contextualizada do fenômeno, reunindo evidências e discussões teóricas que possibilitam uma análise crítica sobre a influência da alimentação equilibrada, da atividade física e da educação em saúde no enfrentamento do diabetes tipo 2.
O levantamento bibliográfico foi realizado entre os meses de setembro e outubro de 2025, utilizando bases de dados consolidadas, como a Scientific Electronic Library Online (SciELO), PubMed, Google Scholar e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Para direcionar a busca, foram utilizados os descritores “diabetes mellitus tipo 2”, “prevenção”, “hábitos saudáveis”, “alimentação equilibrada”, “atividade física” e “educação em saúde”, de forma isolada e combinada, a fim de abranger a maior variedade possível de estudos pertinentes.
Como critérios de inclusão, foram selecionados artigos publicados entre os anos de 2005 e 2025, disponíveis em português e inglês, que apresentassem texto completo e que discutissem a prevenção do diabetes tipo 2 a partir de hábitos de vida saudáveis e intervenções educativas. Foram excluídos os trabalhos repetidos nas bases de dados, os que abordavam exclusivamente o diabetes tipo 1, as pesquisas centradas apenas em tratamentos farmacológicos e os estudos que não apresentavam fundamentação científica ou metodologia clara.
Após a triagem inicial, as publicações selecionadas foram submetidas à leitura exploratória e, em seguida, à leitura analítica, buscando identificar os principais eixos temáticos, os conceitos centrais e as convergências entre os autores. A análise dos dados foi conduzida de forma interpretativa, com base no método de análise de conteúdo proposto por Bardin (2011), que possibilita organizar e categorizar informações qualitativas em unidades de sentido, favorecendo a compreensão crítica do objeto de estudo.
A metodologia adotada permitiu construir uma visão abrangente sobre a prevenção do diabetes tipo 2, articulando evidências científicas, perspectivas sociais e contribuições práticas das políticas públicas de saúde. O caráter qualitativo do estudo favoreceu a análise reflexiva dos discursos e experiências presentes na literatura, enquanto o enfoque descritivo proporcionou a sistematização das informações de forma clara e objetiva. Dessa forma, este trabalho oferece uma base teórica consistente para a formulação de ações preventivas e educativas integradas, contribuindo para o fortalecimento das estratégias interdisciplinares de promoção da saúde e prevenção do diabetes mellitus tipo 2.
REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Fatores De Risco E Aspectos Epidemiológicos Do Diabetes Mellitus Tipo 2
O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é uma das doenças crônicas mais prevalentes e de crescimento mais acelerado em todo o mundo. Segundo a Federação Internacional de Diabetes (International Diabetes Federation – IDF, 2023), estima-se que mais de 530 milhões de adultos convivam com o diabetes, e esse número pode alcançar 700 milhões até 2045, caso não sejam adotadas medidas efetivas de prevenção e controle. No Brasil, dados do Vigitel Brasil 2023 apontam que 10,2% da população adulta já recebeu diagnóstico médico da doença (BRASIL, 2023). O aumento da incidência está diretamente relacionado à urbanização acelerada, ao envelhecimento populacional e às mudanças de comportamento alimentar e de estilo de vida que ocorreram nas últimas décadas.
O DM2 caracteriza-se por uma combinação de resistência à insulina e deficiência relativa na secreção desse hormônio, o que resulta em hiperglicemia crônica e danos progressivos a diferentes órgãos e sistemas (LYRA et al., 2006). O acúmulo de glicose no sangue leva a complicações microvasculares, como nefropatia, neuropatia e retinopatia, e macrovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral. Embora fatores genéticos influenciem o risco de desenvolver a doença, evidências científicas indicam que o estilo de vida tem papel determinante, especialmente no contexto das doenças crônicas não transmissíveis (FERREIRA, 2005).
A transição nutricional vivenciada por países em desenvolvimento, como o Brasil, contribuiu para a substituição de dietas tradicionais, baseadas em alimentos in natura e minimamente processados, por padrões alimentares ricos em gorduras saturadas, açúcares simples e produtos ultraprocessados. Essa mudança tem favorecido o aumento dos índices de obesidade e sobrepeso, condições diretamente associadas à resistência insulínica e, consequentemente, ao diabetes tipo 2 (BRASIL, 2014). Paralelamente, o avanço tecnológico e as transformações urbanas reduziram significativamente os níveis de atividade física da população, tornando o sedentarismo um dos principais fatores de risco modificáveis para o surgimento da doença (UUSITUPA et al., 2019).
De acordo com TUOMILEHTO et al. (2001), indivíduos com sobrepeso, hábitos alimentares inadequados e baixo nível de atividade física têm probabilidade até sete vezes maior de desenvolver diabetes tipo 2 quando comparados a pessoas que mantêm um estilo de vida equilibrado. O estudo Finnish Diabetes Prevention Study confirmou que a perda de 5 a 7% do peso corporal, associada a uma dieta com redução de gorduras saturadas e aumento do consumo de fibras, reduz significativamente o risco de desenvolver o DM2 em pessoas predispostas. Essa constatação evidencia que a doença, em sua maioria, é evitável, desde que se adote uma abordagem preventiva baseada em hábitos saudáveis.
Os fatores de risco para o DM2 podem ser classificados em não modificáveis e modificáveis. Entre os não modificáveis estão a idade, o histórico familiar da doença e a etnia, que, embora não possam ser alterados, exigem monitoramento constante e medidas preventivas precoces (LYRA et al., 2006). Já os fatores modificáveis incluem obesidade, sedentarismo, alimentação inadequada, hipertensão arterial, dislipidemia, tabagismo e estresse crônico. FERREIRA (2005) ressalta que o sobrepeso é o fator isolado mais fortemente associado ao diabetes tipo 2, pois o excesso de gordura, especialmente na região abdominal, reduz a sensibilidade das células à insulina.
Do ponto de vista epidemiológico, o Brasil acompanha a tendência global de aumento da prevalência do DM2 em todas as faixas etárias. A pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde demonstra que a incidência é maior em mulheres e cresce progressivamente com o avanço da idade. O risco é significativamente mais alto entre pessoas com menor escolaridade e renda, o que evidencia a influência dos determinantes sociais da saúde sobre a ocorrência da doença (BRASIL, 2023). Esses achados revelam que a prevenção deve ir além do enfoque clínico, considerando também as desigualdades socioeconômicas que limitam o acesso à alimentação saudável e à prática de exercícios.
O aumento de casos de sobrepeso em crianças e adolescentes tem sido alarmante e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2022), representa um dos maiores desafios sanitários da atualidade. Crianças expostas desde cedo a dietas ricas em açúcares, bebidas adoçadas e fast food apresentam risco elevado de resistência insulínica e intolerância à glicose antes mesmo da idade adulta. Nesse sentido, políticas públicas voltadas à educação alimentar nas escolas e à restrição da publicidade de produtos não saudáveis são fundamentais para conter o avanço da doença.
Ela é caracterizada pela presença simultânea de obesidade abdominal, hipertensão, dislipidemia e resistência à insulina, e está fortemente associada ao estilo de vida inadequado. Estudos longitudinais indicam que indivíduos com síndrome metabólica têm risco até cinco vezes maior de desenvolver diabetes tipo 2 (UUSITUPA et al., 2019). A redução da circunferência abdominal e o controle da pressão arterial, portanto, são medidas essenciais não apenas para evitar complicações cardiovasculares, mas também para prevenir o surgimento da doença.
A literatura evidencia que a maior parte dos casos de DM2 poderia ser evitada com a adoção de hábitos de vida saudáveis. UUSITUPA et al. (2019) e GALAVIZ et al. (2015) ressaltam que a prevenção do diabetes deve ser entendida como um processo coletivo e contínuo, que exige o envolvimento de indivíduos, profissionais de saúde, gestores públicos e instituições. Para tanto, é necessário promover ambientes que favoreçam escolhas saudáveis, como a criação de espaços públicos seguros para atividade física, o estímulo ao consumo de alimentos naturais e a oferta de programas educativos acessíveis.
O contexto epidemiológico brasileiro indica que, apesar dos avanços obtidos com políticas como a Estratégia Saúde da Família e o Programa Academia da Saúde, o país ainda enfrenta desafios para alcançar resultados duradouros. A fragmentação das ações de prevenção e a ausência de acompanhamento sistemático dificultam a redução da incidência e a adesão a hábitos saudáveis. Por isso, o enfrentamento do diabetes tipo 2 demanda uma abordagem intersetorial que integre saúde, educação, esporte e assistência social (MENDES et al., 2023).
A compreensão dos fatores de risco e do comportamento epidemiológico do diabetes tipo 2 é, portanto, o primeiro passo para delinear estratégias eficazes de prevenção. Reconhecer que o desenvolvimento da doença está fortemente ligado ao modo de vida e às condições ambientais significa admitir que a resposta à epidemia deve ir além do tratamento farmacológico, priorizando ações educativas e preventivas. Assim, compreender o DM2 não apenas como uma condição clínica, mas como resultado de um contexto social e cultural, é essencial para que se possa promover uma mudança real e sustentável no enfrentamento dessa enfermidade crônica.
2.2 Alimentação Saudável E Controle Metabólico Na Prevenção Do Diabetes Mellitus Tipo 2
O padrão alimentar moderno, marcado pelo consumo elevado de produtos ultraprocessados, gorduras saturadas e açúcares simples, tem contribuído significativamente para o aumento da incidência da doença em todo o mundo. Segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014), a substituição de refeições baseadas em alimentos naturais e regionais por produtos industrializados reduziu a ingestão de fibras, vitaminas e minerais essenciais, ao mesmo tempo em que aumentou a densidade calórica das dietas. Essa mudança nos hábitos alimentares está diretamente associada ao aumento do sobrepeso, à resistência insulínica e ao desenvolvimento de doenças metabólicas, como o DM2.
De acordo com LYRA et al. (2006), a alimentação equilibrada, rica em vegetais, frutas, leguminosas, grãos integrais e fontes magras de proteínas, é um dos principais pilares de prevenção da doença, pois auxilia na manutenção do peso corporal, melhora a sensibilidade à insulina e regula os níveis glicêmicos. O consumo regular de fibras alimentares reduz a absorção intestinal de glicose e contribui para o controle da glicemia pós-prandial. Estudos como o de FERREIRA (2005) demonstram que a adoção de dietas com baixo índice glicêmico diminui as variações de glicose no sangue e favorece o equilíbrio metabólico, reduzindo o risco de complicações cardiovasculares.
A redução do consumo de gorduras saturadas e trans também é um ponto crítico para a prevenção do diabetes tipo 2. O excesso dessas gorduras prejudica a ação da insulina, aumenta os níveis de colesterol LDL e favorece a inflamação sistêmica, condições que precedem o aparecimento da resistência insulínica (GALAVIZ et al., 2015). O uso de gorduras insaturadas presentes no azeite de oliva, no abacate e em oleaginosas está associado a melhores marcadores metabólicos e à proteção cardiovascular. Assim, além do controle glicêmico, a alimentação saudável desempenha papel importante na redução das complicações associadas à doença.
No contexto brasileiro, a promoção da alimentação saudável é uma diretriz da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) e da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS). Essas políticas estimulam a educação alimentar e nutricional como estratégia de autonomia dos indivíduos e das comunidades para escolhas mais conscientes (BRASIL, 2014). Programas como o Estratégia de Saúde da Família (ESF) e o Programa Academia da Saúde têm incorporado ações de orientação nutricional e incentivo ao consumo de alimentos naturais, mostrando que a reeducação alimentar é ferramenta acessível e eficaz na prevenção do diabetes.
SOUZA; LIMA e CORDEIRO (2021) destacam que, em comunidades rurais, intervenções educativas voltadas à alimentação consciente têm demonstrado resultados positivos, com redução de peso, melhora dos níveis de glicemia e aumento do conhecimento sobre o impacto dos alimentos na saúde. Essas experiências revelam que a educação nutricional, quando contextualizada à realidade social e cultural da população, contribui não apenas para a prevenção da doença, mas também para o fortalecimento da autonomia alimentar.
No campo científico, o estudo Finnish Diabetes Prevention Study (TUOMILEHTO et al., 2001) comprovou que modificações alimentares simples — como reduzir o consumo de gorduras saturadas, aumentar a ingestão de fibras e controlar as porções — são capazes de reduzir significativamente o risco de desenvolvimento de DM2. Os resultados desse estudo inspiraram diversos programas de prevenção em outros países, demonstrando que a alimentação é a variável mais sensível às intervenções educativas. KNOWLER et al. (2002) também evidenciaram que, entre indivíduos com pré-diabetes, a combinação de dieta equilibrada e atividade física regular foi mais eficaz do que o uso isolado de medicamentos na prevenção da progressão para o diabetes.
A adequação calórica é outro fator fundamental para o equilíbrio metabólico. O excesso de calorias, mesmo proveniente de alimentos considerados saudáveis, pode contribuir para o ganho de peso e o aumento da resistência à insulina. FERREIRA (2005) observa que a redução calórica moderada, combinada com escolhas alimentares de qualidade, auxilia na perda de gordura corporal sem comprometer a massa magra. Essa estratégia é especialmente importante para indivíduos com sobrepeso ou obesidade, principais grupos de risco para o DM2.
Comer de forma apressada, pular refeições ou realizar longos jejuns pode desregular os mecanismos de saciedade e provocar flutuações glicêmicas. COSTA et al. (2011) destacam que a regularidade das refeições e a atenção plena durante a alimentação estão associadas a melhores resultados metabólicos. Essa perspectiva reforça a importância de compreender o ato de comer não apenas sob o ponto de vista nutricional, mas também comportamental e emocional.
A literatura atual também aponta a relevância da microbiota intestinal na regulação do metabolismo da glicose. UUSITUPA et al. (2019) observam que dietas ricas em fibras e prebióticos favorecem o crescimento de bactérias benéficas, que melhoram a sensibilidade à insulina e reduzem processos inflamatórios. Essa descoberta amplia a compreensão da alimentação como ferramenta terapêutica e preventiva, sugerindo que o equilíbrio intestinal pode ser uma via adicional para o controle do diabetes.
Segurança alimentar são essenciais para a efetividade das estratégias preventivas.
O controle metabólico e a prevenção do diabetes tipo 2 estão intimamente ligados à adoção de uma alimentação equilibrada, diversificada e culturalmente adequada. Essa abordagem requer não apenas conhecimento técnico, mas também sensibilidade social e política para garantir que todas as pessoas tenham acesso a escolhas alimentares saudáveis. Como afirmam LYRA et al. (2006), prevenir o diabetes é, antes de tudo, promover uma mudança de paradigma alimentar e cultural, que valorize o alimento como fonte de saúde e não apenas de saciedade.
2.3 Atividade Física E Estilo De Vida Como Estratégias De Prevenção Do Diabetes Mellitus Tipo 2
A prática regular de atividade física é uma das estratégias mais eficazes e acessíveis para a prevenção e o controle do diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Além de reduzir o risco de desenvolvimento da doença, o exercício físico contribui para a melhora da sensibilidade à insulina, controle do peso corporal, regulação da pressão arterial e equilíbrio dos níveis lipídicos (UUSITUPA et al., 2019). Diversos estudos científicos têm comprovado que o sedentarismo é um dos principais fatores de risco para o surgimento do DM2 e que a adoção de um estilo de vida ativo pode reduzir em até 60% a probabilidade de desenvolver a doença (TUOMILEHTO et al., 2001).
O exercício físico atua diretamente no metabolismo da glicose, promovendo o aumento da captação de glicose pelos músculos independentemente da ação da insulina. Essa resposta ocorre devido à maior translocação do transportador de glicose GLUT-4 para a membrana celular durante e após a atividade física, o que melhora a utilização de glicose pelos tecidos e reduz a hiperglicemia (FERREIRA, 2005). Além disso, o exercício regular auxilia na diminuição da gordura corporal, especialmente a abdominal, que é fortemente associada à resistência insulínica e ao desenvolvimento do diabetes tipo 2 (LYRA et al., 2006).
Estudos como o Diabetes Prevention Program (DPP) mostraram que intervenções voltadas à mudança de estilo de vida, que incluíam o aumento da atividade física e a reeducação alimentar, reduziram significativamente o risco de DM2 entre indivíduos com pré-diabetes (KNOWLER et al., 2002). No grupo que realizou apenas atividade física regular, observou-se melhora nos níveis de glicemia de jejum, redução da hemoglobina glicada e perda ponderal sustentada. Esses achados reforçam que a prática de exercícios tem efeito protetor mesmo sem a utilização de medicamentos, evidenciando a força da abordagem comportamental no manejo preventivo da doença.
Segundo o Guia de Atividade Física para a População Brasileira (BRASIL, 2021), recomenda-se que adultos realizem, pelo menos, 150 minutos de atividades físicas de intensidade moderada por semana, distribuídos em pelo menos três dias. Exercícios aeróbicos como caminhada, corrida leve, ciclismo e natação são amplamente recomendados para prevenir o DM2, pois promovem o aumento da sensibilidade à insulina e melhoram a função cardiovascular. Além disso, o treinamento resistido (musculação) tem mostrado resultados expressivos na regulação glicêmica e na manutenção da massa muscular, especialmente em adultos e idosos (GALAVIZ et al., 2015).
O aumento dos níveis de endorfinas e serotonina decorrentes do exercício físico contribui para a melhora do humor e da disposição, o que, por sua vez, favorece a adesão a hábitos alimentares equilibrados e ao tratamento quando a doença já está instalada (COSTA et al., 2011). Dessa forma, a atividade física não deve ser vista apenas como uma intervenção isolada, mas como parte de um estilo de vida integralmente saudável, que envolve autocuidado e consciência corporal.
No cenário nacional, programas comunitários como o Programa Academia da Saúde e o Saúde na Escola têm desempenhado papel importante na disseminação da cultura da atividade física. Essas iniciativas visam oferecer espaços públicos e acompanhamento profissional gratuito para incentivar o movimento corporal em todas as faixas etárias (BRASIL, 2014). Entretanto, desafios ainda persistem, especialmente nas regiões periféricas e rurais, onde há carência de infraestrutura adequada e de profissionais qualificados para orientar a população (MENDES et al., 2023).
O estudo de SOUZA; LIMA e CORDEIRO (2021) aponta que, quando as práticas corporais são associadas à educação em saúde, há maior engajamento comunitário e adesão das pessoas às recomendações preventivas. Nas comunidades rurais analisadas, atividades em grupo, como caminhadas e exercícios coletivos, mostraram-se eficazes para fortalecer laços sociais e gerar motivação para a manutenção da prática física. Esse fator social é determinante, já que o apoio de pares e familiares influencia significativamente a continuidade da atividade ao longo do tempo.
O acúmulo de gordura visceral é um marcador importante de risco metabólico e está fortemente associado à inflamação sistêmica, resistência à insulina e disfunção endotelial (FERREIRA, 2005). A redução dessa gordura, obtida por meio do aumento do gasto energético, promove melhor utilização da glicose e maior eficiência metabólica. Dessa forma, tanto o exercício aeróbico quanto o treinamento de força são recomendados, devendo ser adaptados à condição clínica e à capacidade funcional de cada indivíduo.
No campo da fisiologia do exercício, UUSITUPA et al. (2019) explicam que a contração muscular repetitiva durante a prática física estimula a biogênese mitocondrial e a oxidação de ácidos graxos, processos que aumentam a eficiência metabólica e reduzem o acúmulo de lipídios nas células. Isso reflete diretamente na melhora da sensibilidade à insulina e no controle da glicemia.
A promoção do estilo de vida ativo deve também considerar barreiras socioculturais e econômicas que dificultam a prática de exercícios. No Brasil, estudos indicam que o tempo de deslocamento ao trabalho, a falta de segurança nas ruas e a ausência de espaços adequados para lazer são os principais fatores que inibem a adesão às atividades físicas regulares (MENDES et al., 2023). Políticas públicas que favoreçam o transporte ativo, como ciclovias e calçadas acessíveis, além de campanhas educativas que valorizem o movimento corporal, são fundamentais para a consolidação de uma cultura de prevenção.
A prática de atividade física deve ser acompanhada por monitoramento médico e profissional, especialmente para indivíduos com fatores de risco ou diagnóstico de pré-diabetes. A prescrição adequada de exercícios, respeitando intensidade, frequência e volume, reduz o risco de lesões e potencializa os benefícios metabólicos. Programas de orientação supervisionada mostraram maior adesão e melhores resultados na regulação glicêmica e no controle de peso (GALAVIZ et al., 2015).
É importante compreender que a prevenção do diabetes tipo 2 não se limita ao combate ao sedentarismo, mas envolve a adoção de um estilo de vida equilibrado, que integra alimentação saudável, sono reparador, controle emocional e relações sociais saudáveis. A mudança de comportamento é um processo gradual, que requer apoio educacional e motivacional contínuo. Como reforça LYRA et al. (2006), a atividade física, quando incorporada ao cotidiano de forma prazerosa e consciente, transforma-se em instrumento de emancipação e promoção da saúde, contribuindo não apenas para a prevenção do diabetes, mas para o fortalecimento da qualidade de vida em sentido amplo.
2.4 Educação Em Saúde E Abordagens Interdisciplinares Na Prevenção Do Diabetes Mellitus Tipo 2
A educação em saúde é reconhecida como uma das estratégias mais eficazes para a promoção de hábitos saudáveis e prevenção do diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Trata-se de um processo contínuo de formação e conscientização, que tem como finalidade proporcionar ao indivíduo o conhecimento necessário para o autocuidado e o manejo de fatores de risco, favorecendo escolhas conscientes e estilos de vida mais equilibrados (COSTA et al., 2011). Essa abordagem ultrapassa o simples repasse de informações e se estabelece como um instrumento transformador, pautado na troca de saberes entre profissionais e comunidade, valorizando a cultura, as experiências e as potencialidades locais.
No contexto das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como o DM2, a educação em saúde assume papel central, pois incentiva a autonomia dos indivíduos na adoção de comportamentos preventivos. LYRA et al. (2006) destacam que a compreensão sobre a relação entre alimentação inadequada, sedentarismo e desenvolvimento do diabetes é fundamental para que as pessoas modifiquem suas práticas cotidianas. Entretanto, a educação em saúde só se mostra eficaz quando é conduzida de maneira humanizada, participativa e interdisciplinar, envolvendo diferentes profissionais e saberes.
A interdisciplinaridade na prevenção do DM2 é essencial porque o fenômeno saúde-doença não pode ser explicado apenas por um fator biológico. A alimentação, a atividade física, o contexto social, a escolaridade e o acesso a serviços de saúde compõem uma rede de determinantes que precisam ser compreendidos de forma integrada. Dessa forma, o trabalho conjunto de enfermeiros, nutricionistas, educadores físicos, médicos, psicólogos e assistentes sociais torna-se indispensável. Cada um desses profissionais contribui com um olhar específico e complementar, possibilitando ações mais amplas e eficazes (MENDES et al., 2023).
Na Atenção Primária à Saúde (APS), o enfermeiro tem papel estratégico na implementação de práticas educativas e de prevenção. Ele é frequentemente o primeiro contato do paciente com o sistema de saúde, atuando no acompanhamento de grupos de risco e na coordenação de atividades educativas. Segundo SOUZA; LIMA e CORDEIRO (2021), o enfermeiro, por meio de consultas de enfermagem, palestras e visitas domiciliares, pode identificar precocemente comportamentos de risco e promover a conscientização sobre a importância da alimentação saudável, da atividade física e do controle periódico da glicemia.
O nutricionista, por sua vez, é o profissional responsável por orientar a alimentação equilibrada e adaptada às condições socioeconômicas e culturais de cada pessoa. O trabalho desse profissional é essencial para a personalização das orientações dietéticas, respeitando preferências e realidades locais. FERREIRA (2005) observa que a reeducação alimentar conduzida por nutricionistas melhora significativamente os níveis glicêmicos e a adesão ao tratamento. Essa atuação é potencializada quando integrada às ações educativas coletivas, nas quais a comunidade participa ativamente da elaboração e execução das atividades.
Já o educador físico desempenha papel igualmente relevante na prevenção do diabetes tipo 2, uma vez que a prática regular de exercícios físicos melhora a sensibilidade à insulina e reduz o risco de desenvolvimento da doença (UUSITUPA et al., 2019). Esse profissional é responsável por planejar e supervisionar atividades físicas seguras, adequadas à idade e às condições clínicas de cada pessoa. Programas comunitários que unem orientação nutricional e incentivo à prática corporal, como o Programa Academia da Saúde, têm apresentado resultados positivos no controle da glicemia e na redução da obesidade (BRASIL, 2014).
A educação em saúde voltada à prevenção do DM2 também deve considerar as dimensões emocionais e comportamentais do indivíduo. A mudança de hábitos exige tempo, apoio psicológico e estratégias de motivação. Estudos de GALAVIZ et al. (2015) mostram que programas que incluem acompanhamento psicológico e grupos de apoio apresentam maior taxa de sucesso na adesão a práticas preventivas. Isso ocorre porque a compreensão sobre o autocuidado e a motivação para manter hábitos saudáveis são fortemente influenciadas por fatores afetivos e sociais.
As ações educativas precisam ser contínuas, interativas e culturalmente sensíveis. A utilização de metodologias ativas como rodas de conversa, oficinas culinárias, grupos de caminhada e campanhas comunitárias tem se mostrado mais eficaz do que palestras tradicionais centradas apenas na transmissão de informações (COSTA et al., 2011). Tais atividades fortalecem o vínculo entre os profissionais de saúde e a população, promovendo o sentimento de pertencimento e responsabilidade compartilhada pelo cuidado com a própria saúde.
Outra vertente relevante é a inclusão das tecnologias de informação e comunicação como ferramentas de apoio à educação em saúde. O uso de aplicativos, redes sociais e plataformas digitais pode facilitar o acompanhamento e o engajamento de pacientes, especialmente entre jovens e adultos conectados. Pesquisas recentes apontam que o monitoramento remoto de glicemia e o envio de mensagens educativas personalizadas contribuem para o controle metabólico e para o fortalecimento da adesão às práticas de autocuidado (UUSITUPA et al., 2019). Contudo, é fundamental que tais ferramentas sejam complementares às estratégias presenciais e que considerem o acesso desigual à internet em determinadas regiões do país.
A perspectiva interdisciplinar também implica reconhecer a importância da participação social e das políticas públicas. O Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014) reforça que a promoção da saúde deve ser uma responsabilidade coletiva, que envolva escolas, instituições de trabalho, meios de comunicação e governos locais. A integração entre os setores de saúde, educação e assistência social é imprescindível para a criação de ambientes que favoreçam a adoção de comportamentos saudáveis. Como destaca MENDES et al. (2023), a prevenção do diabetes tipo 2 não se limita à dimensão individual, mas depende de condições estruturais que permitam escolhas alimentares adequadas e acesso a espaços de lazer e atividade física.
As abordagens interdisciplinares fortalecem a humanização do cuidado, um princípio fundamental do Sistema Único de Saúde (SUS). Quando os profissionais de saúde atuam de maneira colaborativa, as ações tornam-se mais efetivas e próximas da realidade da população. Essa aproximação gera confiança, promove a corresponsabilidade e amplia o impacto das intervenções preventivas. Assim, a interdisciplinaridade não é apenas uma estratégia técnica, mas um valor ético que sustenta o cuidado integral e humanizado.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O diabetes mellitus tipo 2 constitui uma das doenças crônicas não transmissíveis de maior impacto na saúde pública mundial e nacional, exigindo respostas que ultrapassem o campo puramente biomédico. A análise realizada neste estudo permitiu compreender que a prevenção dessa enfermidade depende essencialmente da adoção de hábitos saudáveis e de uma abordagem integrada que envolva alimentação equilibrada, prática regular de atividade física e ações permanentes de educação em saúde. A doença, embora tenha base genética e multifatorial, é profundamente influenciada por fatores ambientais e comportamentais, o que evidencia o papel central das escolhas diárias e das políticas públicas na sua prevenção.
Os resultados discutidos nos capítulos anteriores mostram que a alimentação adequada, pautada em alimentos in natura e minimamente processados, é um dos pilares mais sólidos na redução do risco de desenvolvimento do diabetes tipo 2. A ingestão equilibrada de fibras, o controle do índice glicêmico e a limitação do consumo de gorduras saturadas e açúcares simples contribuem para a regulação metabólica e a manutenção do peso corporal. Contudo, é fundamental reconhecer que o acesso a uma alimentação saudável ainda é desigual no Brasil, o que reforça a necessidade de políticas intersetoriais que promovam a segurança alimentar e o fortalecimento da agricultura familiar, tornando o alimento saudável uma opção viável e acessível a todos.
A prática regular de atividade física surge como outro componente essencial no enfrentamento do diabetes tipo 2. O exercício físico melhora a sensibilidade à insulina, regula os níveis glicêmicos e reduz o acúmulo de gordura corporal, atuando diretamente sobre os principais mecanismos fisiopatológicos da doença. Além dos benefícios metabólicos, o movimento corporal contribui para o bem-estar mental e emocional, aspectos fundamentais para a adesão a comportamentos preventivos. No entanto, o incentivo à prática de atividade física precisa ser acompanhado de investimentos em infraestrutura, espaços públicos e políticas que estimulem o transporte ativo e o lazer acessível, especialmente em comunidades vulneráveis.
A educação em saúde, por sua vez, se destacou como eixo transversal capaz de articular as diferentes dimensões do cuidado e da prevenção. Quando conduzida de forma interdisciplinar, participativa e culturalmente sensível, torna-se instrumento de transformação social e de empoderamento individual. A atuação integrada de enfermeiros, nutricionistas, educadores físicos, médicos, psicólogos e assistentes sociais é fundamental para criar vínculos, promover o autocuidado e garantir a continuidade das ações preventivas. Essa colaboração entre profissionais reflete o princípio da integralidade do Sistema Único de Saúde (SUS), que busca compreender o indivíduo em sua totalidade, e não apenas a partir da doença.
As evidências apresentadas também reforçam que prevenir o diabetes tipo 2 é uma tarefa coletiva e contínua. Exige o envolvimento do poder público, das instituições de ensino, das comunidades e de cada cidadão na construção de uma cultura de saúde. Medidas educativas isoladas não são suficientes; é necessário promover ambientes que favoreçam escolhas saudáveis, fortalecendo redes de apoio e ampliando o acesso à informação de qualidade. Nesse sentido, o investimento em campanhas de educação alimentar, programas de incentivo à prática de exercícios e ações de acompanhamento nutricional e psicológico são caminhos promissores para reduzir o avanço da doença.
Com base nas reflexões apresentadas, pode-se afirmar que a prevenção do diabetes mellitus tipo 2 depende da convergência entre políticas públicas eficazes, práticas interdisciplinares de saúde e comprometimento social. A doença, ainda que complexa e multifatorial, é amplamente evitável quando o cuidado é construído de forma integral, contínua e participativa. Assim, promover hábitos saudáveis não é apenas uma questão individual, mas um compromisso coletivo com o bem-estar e a qualidade de vida da população. Investir em prevenção significa investir em cidadania, em sustentabilidade social e em um futuro mais saudável para todos.
REFERÊNCIAS
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