PREVALENCE OF DEPRESSION, ANXIETY AND STRESS AMONG MEDICAL STUDENTS IN SOUTHERN MARANHÃO
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10199357
Rejane Moreira Pessoa de Matos1
Ângela Falcai2
Bruna Pereira Carvalho Sirqueira3
Anne Caroline Costa Pinheiro4
RESUMO
Introdução: Os problemas relacionados com a saúde mental apresentam prevalência elevada na população em geral. Os Transtornos Mentais Comuns (TMC) são estados de sofrimento psíquico de depressão, ansiedade e sintomas somatoformes que poderão ser manifestos em conjunto ou não. Objetivo: Descrever a prevalência de depressão, ansiedade e estresse em estudantes de Medicina no Sul do Maranhão. Método: Foi realizada uma pesquisa de natureza descritiva e exploratória com abordagem quantitativa com os discentes do Curso de Medicina do ciclo básico e clínico da Universidade Ceuma com dados coletados a partir de um questionário construído no Google Forms acerca das informações socioambientais e econômicas. Foi utilizada uma escala validada denominada DASS 21 (depression, anxiety and stress scale) que permite avaliação simultânea dos três estados emocionais com fácil aplicabilidade em ambientes clínicos e não clínicos e adequado para uso de diferentes faixas etárias. Os dados foram tabulados no Microsoft Office Excel e analisados de forma descritiva e expressos em percentual. O projeto foi aprovado no Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Ceuma CAEE: 38073020.8.0000.5084. Resultados: A amostra foi composta por 141 estudantes, com idade média de 23,55 ± 5,92 anos, de ambos os gêneros. Há uma maior prevalência de sintomas de depressão, ansiedade e estresse associados ao gênero feminino, idade entre 16-24 anos, estado civil solteiro e consumo excessivo de álcool. Conclusão: Há uma necessidade de rever as estratégias de ensino e acompanhamento dos estudantes de Medicina, a fim de assegurar a qualidade do curso e da assistência à saúde, produzindo fator protetor á saúde mental dos acadêmicos.
Palavras-chave: Transtornos Mentais. Prevalência. Estudantes de Medicina
1. INTRODUÇÃO
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e Organização Mundial da Saúde (OMS) os problemas relacionados com a saúde mental apresentam prevalência elevada na população em geral1. Os Transtornos Mentais Comuns (TMC) são estados de sofrimento psíquico de depressão, ansiedade e sintomas somatoformes que poderão ser manifestos em conjunto ou não2.
Nessa categoria sintomas não-psicóticos como insônia, dificuldade de concentração, problemas de memória, fadiga, irritabilidade, sentimentos de inutilidade e queixas somáticas podem afetar adultos jovens refletindo uma vulnerabilidade socioeconômica, com diminuição da capacidade produtiva, aumento da utilização de Serviços de Saúde e maiores necessidades de assistência social, justiça e cuidado informal2.
Nos últimos anos, a saúde mental dos universitários tornou-se foco de atenção não só de especialistas da área da saúde, mas da sociedade em geral. O universitário está constantemente exposto a situações de estresse, como cobrança dos pais, medo do fracasso e imposições do mercado de trabalho, nos quais a atuação de fatores patogênicos sobre disposições preexistentes, ou não, pode resultar em quadros de neurose e depressão3.
Assim, a depressão é um transtorno mental caracterizado por tristeza persistente e pela perda de interesse em atividades que normalmente são prazerosas, acompanhadas da incapacidade de realizar atividades diárias, durante pelo menos duas semanas. Além disso, pessoas com depressão normalmente podem apresentar perda de energia, mudanças no apetite, aumento ou redução do sono, ansiedade, perda de concentração, indecisão e apresentar pensamentos de suicídio ou de causar danos a si mesmo1,4.
A depressão entre estudantes de Medicina pode ser uma consequência advinda de uma crise, como alterações emocionais decorrentes das constantes mudanças ao longo de todo o curso médico e fatores predisponentes – escolares, pessoais, familiares e socioeconômicos – que podem levar a uma situação de crise e se não solucionada de forma adequada, pode desencadear diversas doenças, dentre estas, os transtornos mentais.
Nesta perspectiva, a ansiedade é uma reação desencadeada em momentos de tensão ou estresse. Essa reação caracteriza-se por sintomas cognitivos e físicos, dentre eles, o medo, estado de alerta e fuga, respiração acelerada, pelos ouriçados, taquicardia e suor5.
A depressão e a ansiedade são transtornos prevalentes entre os estudantes de Medicina quando comparado com outros grupos. Estima-se que de 15% a 25% dos universitários apresentam algum tipo de transtorno psiquiátrico durante a sua formação acadêmica. Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de São Paulo mostrou que 38,2% dos alunos do curso de Medicina apresentavam sintomas depressivos6.
Neste contexto, o estresse é uma reação fisiológica automática do corpo a circunstâncias que exigem ajustes comportamentais. Ou seja, é uma resposta do corpo as circunstâncias do cotidiano, podendo ser o indício de alguma doença ou apenas uma reação pontual a condições externas, negativas ou positivas7.
Além disso, o medo de falhar ou até frustrações quanto à realização profissional e reconhecimento são sentimentos comuns e que, se não forem bem administrados, podem trazer consequências ruins à saúde do futuro profissional, já que, frente ao erro, este pode ser tomado por sentimento de culpa, pelo fracasso e aparente impotência.
Por isso, em termos de saúde mental e devido às preocupações inerentes à profissão, a categoria médica constitui população de risco para vários distúrbios de comportamento, crises e tentativa de suicídio. Esse fato é comprovado pelo número crescente de acadêmicos de Medicina e médicos que optam pela interrupção de suas carreiras, e muitas vezes da própria vida, por causa de transtornos psíquicos.
Nesta perspectiva, o presente estudo teve como objetivo descrever a prevalência da depressão, ansiedade e estresse em estudantes de Medicina no Sul do Maranhão, uma vez que estes devem estar preparados para lidar com vidas humanas e suas condições psicológicas podem influenciar em sua formação e futura atuação. Logo, se faz necessário conhecer melhor as condições psíquicas que acometem esses acadêmicos, a fim de delinear estratégias para subsidiar na formação e qualidade de vida.
2. METODOLOGIA
Foi realizada uma pesquisa de natureza descritiva e exploratória com abordagem quantitativa com 141 discentes do Curso de Medicina do ciclo básico e clínico da Universidade Ceuma. Como critério de inclusão foram definidos: estudantes matriculados no curso de Medicina, do ciclo básico ou clínico e maior de 18 anos; e os critérios de exclusão foram: estudantes menores de 18 anos e que não assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os dados foram coletados a partir de um questionário construído no Google Forms acerca das informações socioambientais e econômicas, tais como (local de procedência, idade, gênero, semestre matriculado, desempenho acadêmico, uso de drogas lícitas e ilícitas, tentativas de suicídio, problemas com os pais, atividade física, motivação de escolher o Curso de Medicina, doenças crônicas, dentre outros). Foi utilizada uma escala validada denominada DASS-21 (depression, anxiety and stress scale). Permite a avaliação simultânea dos três estados emocionais de depressão, ansiedade e estresse, de fácil aplicabilidade em ambientes clínicos e não clínicos e adequado para uso de diferentes faixas etárias.
O modelo da DASS-21 apresenta adequada validade, confiabilidade e invariância fatorial entre amostras independentes e segundo sexo para a amostra de estudantes universitários. Os dados foram tabulados em planilha eletrônica do programa Microsoft Office Excel(r), analisados de forma descritiva e expressos em percentual.
Para análise dos dados, foram utilizadas ferramentas para avaliar a normalidade, a variação significativa entre as classes analisadas e as correlações entre os dados epidemiológicos. O projeto foi aprovado no Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Ceuma CAEE: 38073020.8.0000.5084.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
A amostra foi composta por 141 estudantes, com média de idade entre 23,55 ± 5,92 anos, de ambos os gêneros. A fim de viabilizar uma análise mais específica dos resultados obtidos, estes foram descritos em tabelas e gráficos.
De acordo com a Tabela 1, verifica-se que a amostra total é predominantemente composta por estudantes do sexo feminino (66,7%, n=94), faixa etária de 16 a 24 anos (73,8%, n=104), estado civil solteiro (80,1%, n=113), autodeclarados brancos (56%, n=79), residentes em Imperatriz (61%, n=86), situação atual de moradia com os pais (45,4%, n=64), nenhuma atividade remunerada (85,1%, n=120) e com renda familiar igual ou superior a 10 salários mínimos (54,6%, n=77).
Gênero | |
Feminino | 66,7% (94) |
Masculino | 33,3% (47) |
Idade | |
16 a 24 anos | 73,8% (104) |
25 a 29 anos | 9,9% (14) |
≥ 30 anos | 16,3% (23) |
Estado civil | |
Solteiro | 80,1% (113) |
Casado | 14,2% (20) |
Divorciado | 2,1% (3) |
Outros | 3,5% (5) |
Etnia | |
Branco | 56% (79) |
Pardo | 39% (55) |
Preto | 4,3% (6) |
Amarelo | 0,7% (1) |
Local de Procedência | |
Imperatriz | 61% (86) |
Outro município do Maranhão | 25,5% (36) |
Outro Estado | 13,5% (19) |
Situação atual de moradia | |
Sozinho | 31,2% (44) |
Com os pais | 45,4% (64) |
Pensionato/república | 4,3% (6) |
Com o cônjuge | 9,2% (13) |
Com outros familiares | 9,9% (14) |
Atividade remunerada | |
Nenhuma | 85,1% (120) |
Trabalho remunerado | 12,8% (18) |
Atividade acadêmica | 2,1% (3) |
Renda familiar | |
1 a 3 salários mínimos | 10,6% (15) |
4 a 5 salários mínimos | 13,5% (19) |
6 a 9 salários mínimos | 21,3% (30) |
≥ 10 salários mínimos | 54,6% (77) |
Em relação ao perfil de saúde mental dos estudantes, foram avaliados aspectos importantes como realização de tratamento psicológico e psiquiátrico, prática de atividade de lazer, uso de álcool e drogas, tabagismo e alimentação (Tabela 2).
Já fez tratamento psicológico | |
Não | 61,7% (87) |
Sim | 35,5% (50) |
Em andamento | 2,8% (4) |
Já fez tratamento psiquiátrico | |
Não | 73% (103) |
Sim | 22,7% (32) |
Em andamento | 4,3% (6) |
Faz atividades de lazer | |
Raramente | 14,9% (21) |
Esporadicamente | 41,1% (58) |
Sempre | 44% (62) |
Faz uso de álcool | |
Não | 46,1% (65) |
Sim | 53,9% (76) |
Faz uso de drogas | |
Não | 97,2% (137) |
Sim | 2,8% (4) |
Você é fumante | |
Não | 95% (134) |
Sim | 5% (7) |
Sua dieta é balanceada | |
Não | 44% (62) |
Sim | 56% (79) |
Com base nos aspectos de saúde mental avaliados por meio do instrumento de avaliação utilizado (DASS-21), foi possível determinar a prevalência dos sintomas de depressão, ansiedade e estresse e o grau de severidade (Tabela 3).
Depressão | |
Normal | 72,3% (102) |
Leve | 17,7% (25) |
Moderado | 9,2% (13) |
Severo | 0,8% (1) |
Extremamente severo | 0% |
Ansiedade | |
Normal | 63,8% (90) |
Leve | 9,2% (13) |
Moderado | 16,3% (23) |
Severo | 7,2% (10) |
Extremamente severo | 3,5% (5) |
Estresse | |
Normal | 78% (110) |
Leve | 14,2% (20) |
Moderado | 7,8% (11) |
Severo | 0% |
Extremamente severo | 0% |
Mediante os dados expostos na Tabela 4, quanto ao perfil socioambiental dos estudantes de Medicina no Sul do Maranhão, observa-se que há uma maior prevalência de sintomas de depressão associados ao gênero feminino (82,1%, n=32, p=0,017), idade entre 16 a 24 anos (89,7%, n=35, p=0,026), estado civil solteiro (84,5%, n=33, p=0,007) e situação de moradia com os pais e com outros familiares [(53,8%, n=21), (17,9%, n=7), p=0,045] em relação ao grupo com sintomas de depressão ausentes.
Gênero | |||
Feminino | 60,8% (62) | 82,1% (32) | 0,017 |
Masculino | 39,2% (40) | 17,9% (7) | |
Idade | |||
16 a 24 anos | 67,6% (69) | 89,7% (35) | 0,026 |
25 a 29 anos | 12,7% (13) | 2,6% (1) | |
≥ 30 anos | 19,6% (102) | 7,7% (39) | |
Semestre | |||
1º ao 5º | 47,1% (48) | 35,9% (14) | 0,232 |
6º ao 10º | 52,9% (54) | 64,1% (25) | |
Estado civil | |||
Solteiro | 78,4% (80) | 84,5% (33) | 0,007 |
Casado | 18,6% (19) | 2,6% (1) | |
Divorciado | 2% (2) | 2,6% (1) | |
Outros | 1% (1) | 10,3% (4) | |
Local de Procedência | |||
Imperatriz | 57,8% (59) | 69,2% (27) | 0,356 |
Outro município do Maranhão | 26,5% (27) | 23,1% (9) | |
Outro Estado | 15,7% (16) | 7,7% (3) | |
Situação atual de moradia | |||
Sozinho | 33,3% (34) | 25,6% (10) | 0,045 |
Com os pais | 42,2% (43) | 53,8% (21) | |
Pensionato/república | 5,9% (6) | 0% | |
Com o cônjuge | 11,8% (12) | 2,6% (1) | |
Com outros familiares | 6,9% (7) | 17,9% (7) | |
Atividade remunerada | |||
Nenhuma | 84,3% (86) | 87,2% (34) | 0,556 |
Trabalho remunerado | 12,7% (13) | 12,8% (5) | |
Atividade acadêmica | 2,9% (3) | 0% | |
Renda familiar | |||
1 a 3 salários mínimos | 9,8% (10) | 12,8% (5) | 0,529 |
4 a 5 salários-mínimos | 14,7% (15) | 10,3% (4) | |
6 a 9 salários-mínimos | 18,6% (19) | 28,2% (11) | |
≥ 10 salários-mínimos | 56,9% (58) | 48,7% (19) | |
Faz atividades de lazer | |||
Raramente | 12,7% (13) | 20,5% (8) | 0,469 |
Esporadicamente | 41,2% (42) | 41% (16) | |
Sempre | 46,1% (47) | 38,5% (15) | |
Faz uso de álcool | |||
Não | 51% (52) | 33,3% (13) | 0,060 |
Sim | 49% (50) | 66,7% (26) | |
Faz uso de drogas | |||
Não | 97,1% (99) | 97,4% (38) | 0,904 |
Sim | 2,9% (3) | 2,6% (1) | |
Você é fumante | |||
Não | 97,1% (99) | 89,7% (35) | 0,074 |
Sim | 2,9% (3) | 10,3% (4) | |
Sua dieta é balanceada | |||
Não | 43,1% (44) | 46,2% (18) | 0,747 |
Sim | 56,9% (58) | 53,8% (21) | |
Possui alguma doença crônica | |||
Não | 92,2% (94) | 84,6% (33) | 0,180 |
Sim | 7,8% (8) | 15,4% (6) |
A Tabela 5 evidencia a prevalência de sintomas de ansiedade associados ao perfil socioambiental. A partir dos resultados encontrados verifica-se que há uma maior prevalência de sintomas de ansiedade no gênero feminino (86,3%, n=44, p<0,001), idade entre 16 e 24 anos (90,2%, n=46, p=0,004), local de procedência de outros municípios do Maranhão (35,3%, n=18, p=0,040) e uso de álcool (66,7%, n=34, p=0,022), em relação ao grupo nível normal de sintomas de ansiedade.
Gênero | |||
Feminino | 55,6% (50) | 86,3% (44) | >0,001 |
Masculino | 44,4% (40) | 13,7% (7) | |
Idade | |||
16 a 24 anos | 64,4% (58) | 90,2% (46) | 0,004 |
25 a 29 anos | 13,3% (12) | 3,9% (2) | |
≥ 30 anos | 22,2% (20) | 5,9% (3) | |
Semestre | |||
1º ao 5º | 42,2% (38) | 47,1% (24) | 0,578 |
6º ao 10º | 57,8% (52) | 52,9% (27) | |
Estado civil | |||
Solteiro | 78,9% (71) | 82,4% (42) | 0,090 |
Casado | 17,8% (16) | 7,8% (4) | |
Divorciado | 2,2% (2) | 2,0% (1) | |
Outros | 1,1% (1) | 7,8% (4) | |
Local de Procedência | |||
Imperatriz | 62,2% (56) | 58,8% (30) | 0,040 |
Outro município do Maranhão | 20% (18) | 35,3% (18) | |
Outro Estado | 17,8% (16) | 5,9% (3) | |
Situação atual de moradia | |||
Sozinho | 32,2% (29) | 29,4% (15) | 0,171 |
Com os pais | 43,3% (39) | 49,0% (25) | |
Pensionato/república | 5,6% (5) | 2,0% (1) | |
Com o cônjuge | 12,2% (11) | 3,9% (2) | |
Com outros familiares | 6,7% (6) | 15,7% (8) | |
Atividade remunerada | |||
Nenhuma | 83,3% (75) | 88,2% (45) | 0,396 |
Trabalho remunerado | 13,3% (12) | 11,8% (6) | |
Atividade acadêmica | 3,3% (3) | 0% | |
Renda familiar | |||
1 a 3 salários mínimos | 11,1% (10) | 9,8% (5) | 0,943 |
4 a 5 salários mínimos | 12,2% (11) | 15,7% (8) | |
6 a 9 salários mínimos | 21,1% (19) | 21,6% (11) | |
≥ 10 salários mínimos | 55,6% (50) | 52,9% (27) | |
Faz atividades de lazer | |||
Raramente | 14,4% (13) | 15,7% (8) | 0,977 |
Esporadicamente | 41,1% (37) | 41,2% (21) | |
Sempre | 44,4% (40) | 43,1% (22) | |
Faz uso de álcool | |||
Não | 53,3% (48) | 33,3% (17) | 0,022 |
Sim | 46,7% (42) | 66,7% (34) | |
Faz uso de drogas | |||
Não | 97,8% (88) | 96,1% (49) | 0,559 |
Sim | 2,2% (2) | 3,9% (2) | |
Você é fumante | |||
Não | 95,6% (86) | 94,1% (48) | 0,706 |
Sim | 4,4% (4) | 5,9% (3) | |
Sua dieta é balanceada | |||
Não | 42,2% (38) | 47,1% (24) | 0,578 |
Sim | 57,8% (52) | 52,9% (27) | |
Possui alguma doença crônica | |||
Não | 91,1% (82) | 88,2% (45) | 0,583 |
Sim | 8,9% (8) | 11,8% (6) |
Quanto ao nível de sintomas de estresse, o grupo com níveis significativos apresentou uma maior prevalência do gênero feminino (87,1%, n=27, p=0,006) e do uso de álcool (71%, n=22, p=0,031), em relação ao grupo com sintomas de estresse em nível normal (Tabela 6).
Gênero | |||
Feminino | 60,9% (67) | 87,1% (27) | 0,006 |
Masculino | 39,1% (43) | 12,9% (4) | |
Idade | |||
16 a 24 anos | 70% (77) | 87,1% (27) | 0,149 |
25 a 29 anos | 10,9% (12) | 6,5% (2) | |
≥ 30 anos | 19,1% (21) | 6,5% (2) | |
Semestre | |||
1º ao 5º | 42,7% (47) | 48,4% (15) | 0,575 |
6º ao 10º | 57,3% (63) | 51,6% (16) | |
Estado civil | |||
Solteiro | 79,1 (87) | 83,9% (26) | 0,405 |
Casado | 16,4% (18) | 6,5% (2) | |
Divorciado | 1,8% (2) | 3,2% (1) | |
Outros | 2,7% (3) | 6,5% (2) | |
Local de Procedência | |||
Imperatriz | 60% (66) | 64,5% (20) | 0,422 |
Outro município do Maranhão | 24,5% (27) | 29% (9) | |
Outro Estado | 15,5% (17) | 6,5% (2) | |
Situação atual de moradia | |||
Sozinho | 31,8% (35) | 29% (9) | 0,139 |
Com os pais | 44,5% (49) | 48,4% (15) | |
Pensionato/república | 5,5% (6) | 0% | |
Com o cônjuge | 10,6% (12) | 3,2% (1) | |
Com outros familiares | 7,3% (8) | 19,4% (6) | |
Atividade remunerada | |||
Nenhuma | 83,6% (92) | 90,3% (28) | 0,530 |
Trabalho remunerado | 13,6% (15) | 9,7% (3) | |
Atividade acadêmica | 2,7% (3) | 0% | |
Renda familiar | |||
1 a 3 salários mínimos | 10,9% (12) | 9,7% (3) | 0,555 |
4 a 5 salários mínimos | 11,8% (13) | 19,4% (6) | |
6 a 9 salários mínimos | 20% (22) | 25,8% (8) | |
≥ 10 salários mínimos | 57,3% (63) | 45,2% (14) | |
Faz atividades de lazer | |||
Raramente | 14,5% (16) | 16,1% (5) | 0,549 |
Esporadicamente | 39,1% (43) | 48,4% (15) | |
Sempre | 46,4% (51) | 35,5% (11) | |
Faz uso de álcool | |||
Não | 50,9% (56) | 29% (9) | 0,031 |
Sim | 49,1% (54) | 71% (22) | |
Faz uso de drogas | |||
Não | 96,4% (106) | 100% (31) | 0,281 |
Sim | 3,6% (4) | 0% | |
Você é fumante | |||
Não | 95,5% (105) | 93,5% (29) | 0,666 |
Sim | 4,5% (5) | 6,5% (2) | |
Sua dieta é balanceada | |||
Não | 42,7% (47) | 48,4% (15) | 0,575 |
Sim | 57,3% (63) | 51,6% (16) | |
Possui alguma doença crônica | |||
Não | 90% (99) | 90,3% (28) | 0,958 |
Sim | 10% (11) | 9,7% (3) |
Este estudo permitiu descrever a saúde mental dos estudantes de Medicina no Sul do Maranhão, identificando que há uma prevalência de sintomas de depressão, ansiedade e estresse no gênero feminino, entre 16-24 anos, associado aos fatores socioambientais e sociodemográficos, a saber, consumo de álcool e estado civil solteiro.
Neste contexto, um estudo realizado por Mendes e Dias8 no Brasil sobre os sintomas de depressão, ansiedade e estresse em estudantes de Medicina corroboram com os achados deste estudo, apresentando uma relevância na associação de depressão, ansiedade e estresse, e o sexo feminino.
Verificou-se em um estudo similar realizado no Curso de Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) com 288 alunos, que há presença de estresse em 66,3% dos estudantes, sintomas ansiosos em 33,6% e sintomas depressivos em 28%9.
Em relação ao gênero, um estudo realizado no município de Montes Claros (MG) em três Instituições de Ensino Superior (IES) sinaliza que as mulheres apresentaram resultados piores na saúde mental, com diferenças estatisticamente significantes em relação ao componente mental da qualidade de vida e à presença de Transtornos Mentais Comuns (TMC)10.
Com relação aos sintomas ansiosos, ser mulher foi um fator associado à maior ansiedade. De acordo com Wahed e Hassan11, as mulheres são mais vulneráveis ao estresse e à ansiedade do que os homens e estão mais propensas a ter maior carga de atividades e mais sintomas físicos. Isso pode ocorrer em virtude da cobrança social dos múltiplos papéis, acompanhados pela necessidade de reafirmarem a sua competência em espaços liderados por homens, como também pelas alterações hormonais próprias do sexo feminino10,11.
Grether e colaboradores descrevem em seu estudo que as características da realidade da vida universitária e do processo de ensino têm sido relatadas como fontes geradoras de conflitos, afetando negativamente a saúde mental e o desempenho acadêmico dos alunos12.
As características sociodemográficas podem ter relação direta no desencadeamento de transtornos mentais, que quando somados a outros fatores podem precipitar quadros de ansiedade, depressão e/ou estresse8.
Portanto, as particularidades individuais, aspectos familiares e financeiros, à percepção do estudante sobre o curso e o desempenho acadêmico, são fatores que interferem na saúde e na qualidade de vida. Além disso, o uso de drogas lícitas e ilícitas, qualidade do sono, atividades de lazer, além dos aspectos psicológicos como presença de estresse e histórico de acompanhamento psicológico ou psiquiátrico podem ser gatilhos para TMC8.
Sobre os hábitos de vida, constatou-se um elevado consumo de álcool entre os estudantes. Estudo desenvolvido na Universidade Estadual de Feira de Santana apresenta que o uso de álcool é frequente entre discentes de Medicinaatribuindo-se ao uso excessivo de álcool um modo de escapar das preocupações diárias9.
Esse hábito é prejudicial e preocupante, visto que os estudantes experimentam mais eventos negativos (blackouts) do que alívio das dificuldades. O uso excessivo de álcool também está associado a comportamento agressivo, direção alcoolizada, relações sexuais desprotegidas e comportamentos sabidamente danosos9.
Os dados apontam que esporadicamente os estudantes usufruem de atividades de lazer em detrimento do curso possuir como característica carga horária extensa de aulas, além dos estudantes ainda dedicarem parte de seu tempo livre a outras atividades, como estudo individual, ligas acadêmicas, iniciação científica, monitorias e estágios. Assim, foi demonstrado que o menor número médio de horas de lazer por dia é associado a maior frequência de transtornos, indicando que este pode ser um fator de risco12.
Os achados afirmam que a maioria dos estudantes residem com os pais, estudos como de Leão et al aponta que há uma maior prevalência de depressão associada aos estudantes que possuem relacionamentos insatisfatórios com familiares, amigos, colegas de sala e professores14.
Quanto ao histórico de acompanhamento psicológico e psiquiátrico foi constatado que há uma baixa adesão. Neste sentido, a busca por acompanhamento psicológico deve ser uma prática estimulada entre os estudantes15.
Apesar de se tratar de um curso em que se esperam maior conhecimento e abertura para os problemas mentais, evidencia-se a existência do estigma de “frescura”, “drama”, “piti” e “loucura” entre os próprios estudantes, familiares, colegas de curso, professores e os outros profissionais da saúde. Esses preconceitos marcantes muitas vezes justificam o fato de os alunos postergarem a busca por acompanhamento15.
Há uma vasta literatura que discute sobre os fatores intrínseco e extrínseco que contribuem para o desencadeamento de sintomas de depressão, ansiedade e estresse dos estudantes de Medicina, podendo ser evidenciado um sofrimento psíquico com postergação na busca de qualidade de vida e acompanhamento frente as adversidades apresentadas no decorrer da graduação, condição que pode culminar em abandono do curso e/ou doença mental com quadro irreversível.
4. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há prevalência dos sintomas de depressão, ansiedade e estresse nos estudantes de Medicina de forma significativa, associado ao sexo feminino e consumo de álcool excessivo. Destarte, há a necessidade de rever as estratégias de ensino e acompanhamento dos estudantes de Medicina, a fim de assegurar a qualidade do curso e da assistência à saúde, produzindo fator protetor á saúde mental dos acadêmicos.
REFERÊNCIAS
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2 QUADROS LCM, QUEVEDO LA, GONÇALVES HD, HORTA BL, MOTTA JVS, GIGANTE DP. Transtornos mentais comuns e fatores contemporâneos: coorte de nascimentos de 1982. Rev Bras Enferm. 2020;73(1): 01-7.
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6 ARIÑO DO, BARDAGI MP. Relação entre fatores acadêmicos e a Saúde Mental de Estudantes Universitários. Rev. Psi. em Pesq. 2008. 12 (3): 44-52.
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8 MENDES TC; DIAS ACP. Sintomas de depressão, ansiedade, estresse e fatores associados em estudantes de medicina brasileiros: revisão integrativa. Res. Soc. and Dev. 2021. 10 (4): 1-10.
9 MEDEIROS MRB, et al. Saúde Mental de Ingressantes no Curso Médico: uma Abordagem segundo o Sexo. Rev. bras. edu. med. 2018. 42 (3): 214-21.
10COSTA DS, et al. Sintomas de Depressão, Ansiedade e Estresse em Estudantes de Medicina e Estratégias Institucionais de Enfrentamento. Rev. bras. educ. med. 2020. 44 (01).
11 MAIA HAAS, et al. Prevalência de Sintomas Depressivos em Estudantes de Medicina com Currículo de Aprendizagem Baseada em Problemas. Rev. bras. educ. med. 2020. 44 (03).
12WAHED WYA, HASSAN SK. Prevalence and associated factors of stress, anxiety and depression among medical Fayoum University students. Alex. Jou. of Med. 2017. 53(1):77-84.
13 GRETHER EO, et al. Prevalência de Transtornos Mentais Comuns entre Estudantes de Medicina da Universidade Regional de Blumenau (SC). Rev. bras. edu. med. 2019. 42 (1).
14 LEAO AM, et al. Prevalência e Fatores Associados à Depressão e Ansiedade entre Estudantes Universitários da Área da Saúde de um Grande Centro Urbano do Nordeste do Brasil. Rev. bras. edu. med. 2018. 42 (4).
15SILVA GCC, et al. Ansiedade e depressão em residentes em Radiologia e Diagnóstico por Imagem.Rev. bras. edu. med. 2010;34(2):199-206.
16 LOURENÇO TS, et al. “De todos os lados, eu me sentia culpada”: o sofrimento mental de estudantes de medicina. Rev. bras. edu. med. 2021. 45 (3).
17 CYBULSKI CA; MANSANI FP. análise da depressão, dos fatores de risco para Sintomas depressivos e do uso de antidepressivos entre acadêmicos do Curso de medicina da universidade Estadual de Ponta Grossa. rev. bras. Edu. Med. 2017. 41(1):92-101.
1 Médica pela UFC Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Ceuma Campus Imperatriz e-mail: remoreiramed@gmail.com
2 Biomedica pela UNIARA Docente do Curso Superior de Farmacia e Medicina da Universidade CEUMA Campus São Luis. Mestre em Imunologia (USP). e-mail: angelafalcai@gmail.com
3 Enfermeira pela UFMA Docente do Curso Superior de Medicina da Universidade Federal do Maranhão Campus Imperatriz e Mestre em Cirurgia e Pesquisa Experimental (UFPA). e-mail: bruna.carvalho@ufma.br
4 Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade CEUMA Campus Imperatriz e-mail: annecarolinecostapinheiro@hotmail.com