REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202503211850
Alan Bruno Lopes Barbosa1; Francisco Diego Moreira Oliveira2; Regina Maria de Lima Rocha3; Taynah Garcia Fernandes4; Francisco Alexandre Coelho5; Bruna Gabriele de Oliveira Araújo6; Lucilene Gomes de Oliveira7; Moises Freitas Matias8; Monique Marambaia dos Santos Souza9; Júlio César Lourenço Linhares10
Este artigo tem como objetivo discutir a implementação de práticas antirracistas nas escolas, com a finalidade de promover um ambiente educacional mais inclusivo, crítico e consciente. A pesquisa foi baseada em uma dinâmica pedagógica com alunos, na qual foram abordadas questões relacionadas ao racismo e à educação antirracista. Os resultados da dinâmica indicaram que, apesar da conscientização inicial, muitos alunos ainda apresentam estereótipos raciais internalizados e carecem de um entendimento mais profundo sobre as desigualdades raciais presentes no ambiente escolar e na sociedade. O estudo destaca a importância de adotar práticas antirracistas de forma contínua e transversal no currículo escolar, além da necessidade de capacitação dos educadores para lidar com questões de raça. Ao integrar essas práticas no dia a dia escolar, as instituições podem contribuir para a formação de cidadãos mais críticos, empáticos e comprometidos com a justiça social e racial, ajudando a transformar a escola em um espaço de resistência e equidade.
Palavras-chave: Racismo, Educação Antirracista, Inclusão Escolar, Práticas Pedagógicas.
This article aims to discuss the implementation of antiracist practices in schools, with the goal of fostering a more inclusive, critical, and conscious educational environment. The research was based on a pedagogical activity with students, addressing issues related to racism and antiracist education. The results from the activity revealed that, despite initial awareness, many students still internalize racial stereotypes and lack a deeper understanding of racial inequalities present in both the school environment and society. The study highlights the importance of adopting antiracist practices continuously and transversally within the school curriculum, as well as the need for educator training to address racial issues. By integrating these practices into everyday school life, institutions can contribute to the formation of more critical, empathetic citizens committed to social and racial justice, helping transform the school into a space of resistance and equity.
Keywords: Racism, Antiracist Education, School Inclusion, Pedagogical Practices.
Introdução
O presente trabalho tem como objetivo propor e discutir estratégias para a implementação de práticas antirracistas nas escolas, por meio de atividades pedagógicas concretas. Adotando uma abordagem reflexiva e participativa, busca-se fomentar um ambiente escolar mais inclusivo e consciente, contribuindo para a construção de uma educação que combata ativamente o racismo.
Ao longo dos anos, diversas iniciativas têm sido desenvolvidas para enfrentar o racismo estrutural presente em nossa sociedade. Entre elas, destaca-se a Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-brasileira nos currículos do ensino fundamental e médio, tanto em escolas públicas quanto privadas de Educação Básica. No entanto, estudos indicam que ainda há grandes desafios na abordagem desses conteúdos no ensino, bem como na sua efetiva implementação curricular.
É verdade que a escola, como um reflexo da sociedade, não pode ignorar as questões de racismo que perpassam seus espaços e práticas. A contribuição de autores como Almeida (2019), Ribeiro (2020), Mota (2021), e Abe e Nascimento (2021) é essencial para construir uma pedagogia antirracista que se desloque da simples reflexão e avance para práticas transformadoras dentro da educação. Eles nos oferecem não apenas teoria, mas também metodologias que podem ser aplicadas no cotidiano escolar para combater a discriminação racial, reconhecer e valorizar a diversidade, e promover a equidade.
Além disso, o racismo estrutural e as práticas discriminatórias muitas vezes se manifestam de maneira sutil no ambiente escolar, como nas expectativas diferenciadas para os alunos com base em sua raça, na falta de representatividade nos currículos e materiais didáticos, e nas atitudes preconceituosas entre os próprios estudantes e educadores. Por isso, é fundamental que o enfrentamento ao racismo não se limite ao discurso, mas se traduza em ações concretas, tanto dentro da sala de aula quanto nas políticas educacionais mais amplas.
Dessa maneira, elencamos algumas questões frente essa problemática como: quais seria nossa atitude frente a um episódio de racismo na escola? Quais estratégias podem ser desenvolvidas em sala de aula para resolver este problema? Como pensar de forma antiracista?
Sendo assim, o objetivo deste artigo é analisar e refletir sobre as práticas pedagógicas que podem ser adotadas para enfrentar o racismo no ambiente escolar, considerando as questões que surgem diante dessa problemática, como a atitude dos educadores frente a episódios de racismo, as estratégias que podem ser desenvolvidas em sala de aula e a importância de uma abordagem antirracista na formação dos alunos. Através de uma análise crítica, busca-se compreender como a escola, enquanto espaço social, pode se tornar um ambiente de aprendizagem mais inclusivo, onde a educação antirracista seja incorporada tanto na prática pedagógica quanto nas relações interpessoais, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
A metodologia adotada neste trabalho será baseada em uma prática pedagógica ativa, realizada diretamente em sala de aula com os alunos. A atividade central consistirá em uma dinâmica com uma caixa contendo uma série de perguntas relacionadas ao tema do racismo e à educação antirracista. Os alunos serão convidados a retirar as perguntas aleatoriamente da caixa e, em seguida, responderão de forma reflexiva e espontânea. O objetivo é estimular uma discussão aberta e honesta sobre as questões raciais, permitindo que os estudantes compartilhem suas percepções e experiências. Após a realização das respostas, será feita uma análise das falas dos alunos, com o intuito de identificar as concepções e atitudes presentes, além de compreender como essas respostas podem contribuir para o desenvolvimento de uma postura mais antirracista. Essa abordagem busca proporcionar um espaço de reflexão crítica e empoderamento, incentivando os alunos a se engajar de maneira mais profunda na luta contra o racismo.
Racismo e Educação: Estruturas, Práticas Antirracistas e os Desafios da Inclusão Escolar
A educação desempenha um papel fundamental na formação dos valores sociais, e é dentro dela que muitas das dinâmicas raciais são reforçadas ou transformadas. Embora o racismo seja um fenômeno social e estrutural que vai além das atitudes individuais, ele também se manifesta nas práticas e estruturas das escolas, refletindo as desigualdades raciais presentes em nossa sociedade. A partir das contribuições de pensadores como Almeida (2019), Ribeiro (2019), Fanon (1952), Davis (1981) e Mbembe (2016), podemos entender como o racismo é estruturado nas instituições educacionais e como a escola pode ser um espaço de resistência e transformação, por meio de práticas pedagógicas antirracistas.
Almeida (2019) acredita que o racismo estrutural é particularmente relevante quando pensamos nas escolas. O autor argumenta que o racismo não é apenas um conjunto de atitudes discriminatórias, mas uma estrutura que permeia as instituições sociais, incluindo a educação. A presença do racismo estrutural nas escolas pode ser observada, por exemplo, na forma como o currículo escolar, predominantemente eurocêntrico, marginaliza a história, as culturas e as contribuições dos povos negros.
Além disso, práticas como a segregação informal dos alunos por raça e a falta de políticas de inclusão são manifestações do racismo que precisam ser confrontadas. A transformação da educação em um espaço antirracista exige que as escolas revisem seus currículos, adotem práticas de valorização da cultura afro-brasileira e se tornem espaços que promovam a equidade racial.
Vale ainda ressaltar que Ribeiro (2019), em seu trabalho sobre educação antirracista, destaca a necessidade de uma postura ativa no combate ao racismo. Ela argumenta que a neutralidade racial, muitas vezes adotada no ambiente escolar, perpetua as desigualdades, pois ao ignorar as questões raciais, a escola reforça a desigualdade existente. Ribeiro (2019) e Almeida (2019) propõem que a educação deve ser um instrumento de conscientização sobre os privilégios raciais, além de promover a valorização do “lugar de fala”.
Esse conceito é essencial para garantir que as vozes negras sejam ouvidas e que as experiências dos alunos negros sejam representadas no espaço escolar. A conscientização sobre o racismo, portanto, precisa ser incorporada de forma transversal em todas as disciplinas e práticas escolares, permitindo que todos os estudantes compreendam as dinâmicas raciais e sociais da sociedade.
Fanon (1953), por sua vez, oferece uma análise psicológica sobre como o racismo afeta a subjetividade dos indivíduos. Em sua obra, Fanon (1961) explora como a colonização gerou um complexo de inferioridade dos povos colonizados, uma questão que também se reflete no contexto escolar. O racismo psicológico nas escolas pode gerar um impacto negativo na autoestima dos alunos negros, que muitas vezes internalizam a ideia de inferioridade imposta pela sociedade branca.
Sendo assim a internalização pode afetar tanto o desempenho acadêmico quanto o bem-estar emocional dos estudantes. Para combater isso, é essencial que a escola se torne um espaço de valorização da identidade negra, promovendo práticas de inclusão e combatendo o bullying racial. Além disso, é necessário que os educadores sejam capacitados para lidar com essas questões e atuar como agentes de mudança.
A contribuição de Davis (1985) e Mbembe (2016) amplia a compreensão sobre as intersecções entre racismo, classe social e gênero. Davis destaca que a opressão das mulheres negras, por exemplo, não pode ser compreendida sem levar em conta os históricos de escravidão e exclusão econômica. Essa análise interseccional é crucial no contexto escolar, onde a luta antirracista também deve considerar as desigualdades de classe e gênero que atravessam as experiências dos estudantes.
Assim para que a educação se torne verdadeiramente antirracista, é preciso que a escola adote práticas pedagógicas inclusivas que promovam o debate sobre as questões raciais, reconhecendo as diferentes experiências vividas pelos alunos e valorizando suas identidades. Além disso, a escola deve ser um espaço onde se fomentam valores de justiça, igualdade e respeito à diversidade, formando cidadãos críticos e conscientes de seu papel na construção de uma sociedade mais equitativa.
A articulação entre as questões do racismo e as práticas escolares antirracistas é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A educação, enquanto instrumento de transformação social, deve ser uma ferramenta para desconstruir as desigualdades raciais, e as escolas precisam se tornar espaços ativos de resistência e mudança. A partir das reflexões de Silvio de Almeida, Djamila Ribeiro, Frantz Fanon, Angela Davis e Achille Mbembe, é possível adotar práticas pedagógicas que não apenas promovam a equidade racial, mas também contribuam para a valorização das identidades negras e para a formação de cidadãos comprometidos com a justiça social.
Metodologia Ativa de Ensino: Dinâmica Pedagógica para a Conscientização Antirracista no Ambiente Escolar.
Este estudo foi conduzido a partir de uma abordagem prática e reflexiva, com o intuito de analisar e propor estratégias pedagógicas antirracistas no ambiente escolar. A metodologia adotada foi construída com base em uma prática pedagógica ativa, focada no desenvolvimento da consciência crítica dos alunos sobre as questões raciais e a promoção de um espaço inclusivo e equitativo dentro da sala de aula. A seguir, detalho as etapas dessa metodologia:
A primeira etapa consistiu na elaboração de um conjunto de perguntas que abordam diferentes aspectos do racismo e da educação antirracista. As perguntas foram cuidadosamente formuladas para estimular a reflexão sobre temas como as manifestações do racismo no cotidiano escolar, a importância da representatividade negra, as práticas discriminatórias e as possíveis soluções para a construção de um ambiente mais inclusivo. O objetivo das perguntas era promover um debate aberto e honesto, em que os alunos pudessem compartilhar suas percepções, experiências e opiniões.
A atividade central foi realizada diretamente em sala de aula, envolvendo os alunos de forma ativa. Uma caixa foi preparada com cartões contendo as perguntas, e cada aluno foi convidado a retirar uma delas aleatoriamente. Em seguida, o aluno deveria refletir e responder à pergunta de maneira espontânea e crítica. A ideia foi proporcionar um espaço de fala para que os alunos pudessem expressar suas opiniões sem medo de julgamento, além de estimular a reflexão individual e coletiva sobre o tema do racismo.
A dinâmica foi conduzida de maneira que todos os alunos pudessem participar, garantindo que as vozes de todos fossem ouvidas. Durante a atividade, o papel do educador foi o de mediador, estimulando a escuta ativa e o respeito mútuo entre os alunos, sem interferir nas respostas, mas orientando a discussão quando necessário, para garantir que o ambiente permanecesse respeitoso e construtivo.
Após a realização das respostas individuais, foi promovida uma discussão coletiva. Cada aluno teve a oportunidade de compartilhar sua resposta com os colegas, o que possibilitou uma troca de experiências e percepções sobre o racismo no contexto escolar. A discussão foi mediada pelo professor, que teve como objetivo garantir que os alunos não apenas expressassem suas opiniões, mas também refletissem criticamente sobre o impacto do racismo em suas vidas e em suas relações com os outros.
Esse momento também visou conscientizar os alunos sobre o impacto emocional e psicológico do racismo, assim como proporcionar uma reflexão sobre a importância de ações antirracistas concretas no ambiente escolar. Durante a discussão, o professor reforçou a importância da escuta ativa e do respeito ao “lugar de fala”, conforme proposto por Djamila Ribeiro, para garantir que as experiências dos alunos negros fossem devidamente valorizadas.
Após a atividade, as respostas dos alunos foram analisadas de forma qualitativa. A análise visou identificar padrões nas respostas, como percepções recorrentes sobre o racismo e as atitudes dos alunos frente a situações discriminatórias. A ideia era entender como os alunos percebem as práticas racistas e como isso impacta sua identidade, autoestima e desempenho acadêmico.
Além disso, a análise buscou identificar possíveis lacunas nas abordagens pedagógicas adotadas pelos educadores e estratégias que poderiam ser implementadas para fortalecer a abordagem antirracista na escola. A partir dessa análise, foram geradas reflexões sobre o papel da escola na promoção de um ambiente mais inclusivo e sobre as mudanças necessárias para que as práticas pedagógicas efetivamente contribuam para a desconstrução do racismo.
Com base na análise das respostas e nas reflexões surgidas durante a dinâmica, foi possível identificar práticas pedagógicas que poderiam ser mais bem integradas ao currículo escolar para promover uma educação antirracista. Estratégias como a inclusão de conteúdos que abordem a história e a cultura afro-brasileira de forma crítica e contextualizada, a utilização de representações diversas nos materiais didáticos e o incentivo à participação ativa dos alunos negros nas discussões e atividades escolares foram sugeridas.
Além disso, foi proposto o desenvolvimento de projetos e oficinas que permitam aos alunos explorar a história do racismo e as formas de resistência, bem como refletir sobre seu papel como agentes de mudança no combate à discriminação racial.
A última etapa consistiu na reflexão sobre a eficácia da dinâmica e das estratégias propostas, considerando os resultados obtidos com a atividade. A ideia era avaliar se os alunos conseguiram incorporar uma postura mais antirracista e se sentiram mais capacitados para identificar e agir frente a episódios de racismo dentro da escola. Também foi considerado o impacto da atividade no engajamento dos alunos com a temática e a adesão a práticas antirracistas no ambiente escolar.
A partir dessa reflexão, o objetivo foi gerar um plano de ação para a implementação das estratégias sugeridas, buscando envolver toda a comunidade escolar – educadores, alunos e gestores – no processo de transformação do ambiente escolar em um espaço mais inclusivo, equitativo e livre de discriminação racial.
Percepções e Reflexões dos Alunos sobre o Racismo: Resultados da Dinâmica Pedagógica e suas Implicações Educativas.
As respostas dos alunos revelaram uma gama de percepções sobre o racismo no contexto escolar e na sociedade em geral, além de evidenciar o grau de conscientização sobre o papel da escola no enfrentamento do racismo. As falas foram analisadas considerando os conceitos de racismo estrutural e psicológico discutidos por Almeida (2019), Ribeiro (2020), Fanon (1952), Davis (1981) e Mbembe (2016). A seguir, apresentamos as principais categorias de respostas que emergiram durante a dinâmica, com uma análise detalhada de cada uma delas.
Uma grande parte dos alunos reconheceu que o racismo existe no ambiente escolar, mas muitos deles relataram que suas manifestações são mais sutis e difíceis de identificar. Durante a dinâmica, as respostas mais comuns associaram o racismo a piadas, estereótipos e exclusões sociais. Um aluno relatou:
“Eu acho que o racismo na escola é mais quando falam de um jeito que parece brincadeira, mas você percebe que não é. Tipo, chamar alguém de ‘neguinho’ ou ficar rindo quando alguém erra na escola, sem ninguém falar nada.”
Essa fala evidencia como o racismo se manifesta nas interações cotidianas, muitas vezes de forma velada. Almeida (2019) destaca que o racismo estrutural se torna visível quando observamos o modo como ele atravessa as práticas cotidianas e as relações sociais, sendo muitas vezes banalizado, o que dificulta a identificação e a crítica.
Outro aluno comentou:
“Eu nunca percebi, mas depois que a gente discutiu sobre isso, vi que quando os professores falam de história, quase sempre só falam de brancos. Por que será que não falam sobre os negros que fizeram história também?”
Esse tipo de percepção é um reflexo de um dos principais pontos levantados por Ribeiro (2019) sobre o currículo escolar eurocêntrico. A ausência de figuras negras e a marginalização da história e cultura afro-brasileira são claras manifestações do racismo estrutural nas escolas, que excluem as contribuições de negros à sociedade e reforçam a ideia de um modelo único e dominante.
Enquanto algumas respostas refletem uma compreensão mais superficial, outros alunos demonstraram uma percepção mais aguçada sobre o conceito de racismo estrutural. Um aluno afirmou:
“Agora que a gente discutiu sobre isso, vejo que o racismo não é só uma pessoa fazendo algo ruim. O racismo está nas escolas, nas políticas, em como o governo trata os negros, nas oportunidades de emprego e até nas coisas que a gente aprende.”
Essa fala demonstra que o aluno começa a internalizar a ideia de que o racismo não é apenas uma série de atitudes individuais, mas uma estrutura profundamente enraizada nas instituições, conforme argumenta Almeida (2019). O aluno reconhece que o racismo é um fenômeno coletivo e institucional, que está presente nas políticas públicas, na educação e no mercado de trabalho.
Outro estudante comentou:
“A escola tem que mudar, não é só mudar a cabeça dos alunos, mas também o que a gente aprende. Acho que deveria ter mais aulas sobre a história da África, e não só sobre a Europa e os Estados Unidos.”
Essa reflexão corrobora o argumento de Fanon (1952) sobre o impacto psicológico do racismo, já que a exclusão de conteúdos relacionados à cultura negra pode afetar a autoestima dos estudantes negros, tornando-os invisíveis e marginalizados no ambiente escolar. Além disso, reforça o conceito de “educação antirracista” de Ribeiro (2019), que propõe uma revisão do currículo escolar para incluir e valorizar as contribuições culturais e históricas dos negros.
Muitas das falas também abordaram a questão da representatividade dentro da escola, com um número significativo de alunos expressando a necessidade de ver mais figuras negras representadas em livros, professores e até em atividades escolares. Um aluno disse:
“Eu acho que a escola deveria chamar mais professores negros para dar aula. Se a gente visse mais pessoas como a gente, isso ia fazer a gente se sentir mais forte e mais importante.”
Essa fala reflete o desejo de uma representatividade positiva e visível, que pode contribuir para o fortalecimento da identidade dos alunos negros e, ao mesmo tempo, desconstruir estereótipos racistas. Isso se alinha com o que Fanon (1961) discute sobre a importância da autoestima e da valorização da identidade negra, que é muitas vezes abafada por uma visão dominante e branca da sociedade.
Um outro aluno comentou:
“No nosso livro de história, não aparece quase nada sobre os negros. Eu ficaria feliz se tivesse mais figuras como o Zumbi ou a Tia Ciata, para mostrar que a gente também fez parte dessa história e não foi só o pessoal branco.”
Esse tipo de comentário destaca a ausência de representações negras em materiais didáticos, o que evidencia o caráter excludente do currículo escolar, que não valoriza as contribuições de negros à formação da sociedade brasileira. De acordo com Mbembe (2016), a educação deve ser um campo de resistência ao racismo e um local onde a diversidade seja celebrada.
Quando questionados sobre como poderiam enfrentar o racismo em sala de aula, muitos alunos sugeriram atividades como debates, rodas de conversa e mais integração entre alunos de diferentes etnias. Um aluno sugeriu:
“Acho que os professores deveriam dar mais aulas sobre o que é racismo e mostrar exemplos reais, para que a gente entenda melhor. Também podia ter mais atividades de grupo, para que a gente aprenda a trabalhar juntos e respeitar as diferenças.”
Este comentário destaca o desejo dos alunos por práticas pedagógicas mais inclusivas e que promovam a discussão aberta sobre o racismo, alinhando-se à proposta de Ribeiro (2019) de adotar uma postura ativa contra o racismo dentro das salas de aula. A ideia de utilizar debates e atividades coletivas como ferramentas de conscientização reflete o tipo de metodologia participativa que pode ser eficaz no processo de formação de uma cultura escolar mais inclusiva.
Outro aluno afirmou:
“Eu nunca imaginei que a gente pudesse fazer algo mais sério sobre isso na escola. Mas acho que se a escola criar regras mais firmes e os professores se unirem para falar mais sobre isso, talvez ajude mais.”
Esse tipo de reflexão indica que os alunos reconhecem a necessidade de políticas mais claras e ações concretas para combater o racismo no ambiente escolar. A fala também indica que a escola pode, de fato, ser um agente transformador, desde que haja um comprometimento coletivo em implementar ações práticas e pedagógicas.
Após a realização da dinâmica, muitos alunos relataram que a atividade os fez refletir mais profundamente sobre o racismo e seus efeitos. Um aluno disse:
“Eu pensei que sabia o que era racismo, mas depois de conversar aqui, percebi que eu ainda não entendia direito. O racismo não é só uma coisa que acontece quando alguém é rude, mas está em tudo, nas coisas que a gente aprende e nos lugares que a gente vai.”
Essa fala sugere que a dinâmica foi eficaz em ampliar a compreensão dos alunos sobre o conceito de racismo, indo além das manifestações mais evidentes e explorando o racismo estrutural, invisível nas práticas cotidianas. Além disso, a fala de outro aluno indica que a atividade também serviu como um ponto de reflexão crítica:
“Agora que a gente falou sobre isso, eu vou olhar melhor para as coisas que acontecem ao meu redor, para ver se alguém está sendo discriminado e tentar fazer algo para ajudar.”
Isso demonstra que a dinâmica foi bem-sucedida em promover uma mudança de perspectiva nos alunos, incentivando-os a assumir uma postura mais ativa e empática frente às questões de racismo.
Conclusão
Este artigo abordou a importância da implementação de práticas antirracistas nas escolas, a partir de uma análise das estruturas educacionais, das contribuições teóricas de autores relevantes e de uma proposta prática baseada em uma dinâmica pedagógica com os alunos. A partir da revisão da literatura, foi possível compreender como o racismo se manifesta de forma estrutural nas instituições educacionais e como a educação desempenha um papel essencial na formação de cidadãos conscientes e comprometidos com a equidade racial.
A dinâmica realizada com os alunos demonstrou que, embora o tema do racismo ainda seja considerado por muitos como um assunto delicado e, por vezes, difícil de ser abordado, há um crescente interesse e disposição dos estudantes para refletirem sobre suas próprias experiências e as desigualdades presentes no ambiente escolar. As falas dos alunos revelaram tanto a internalização de estereótipos raciais quanto a compreensão da necessidade de promover ações concretas para combater o racismo. No entanto, também ficou evidente que muitas respostas apontaram a falta de um conhecimento mais profundo sobre o impacto do racismo em suas vidas e nas práticas educacionais.
A análise dessas respostas reforça a importância de práticas pedagógicas que proporcionem um espaço seguro para discussões sobre raça e identidade. Ao promover o diálogo, a reflexão crítica e a conscientização sobre a história e a cultura afro-brasileira, a escola pode tornar-se um ambiente mais inclusivo, onde os estudantes não apenas reconheçam as desigualdades, mas também se sintam capacitados para enfrentá-las.
Por fim, é fundamental que a educação antirracista não seja vista como uma ação pontual ou como uma obrigação curricular, mas como um processo contínuo e transversal a todas as disciplinas. A escola deve ser um espaço que estimule a reflexão crítica e a transformação das práticas sociais, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e livre de discriminação racial. As práticas antirracistas devem ser integradas no currículo escolar, nas relações interpessoais e na formação dos educadores, garantindo que o enfrentamento ao racismo se dê de maneira constante e efetiva.
1Mestre em Matemática pela UFERSA.
2Mestre em Matemática.
3Mestre em Letras.
4Doutora em Geografia pela UECE.
5Doutorando em Ensino pela UERN, UFERSA E IRFN.
6Doutoranda em Geografia pela UFC
7Mestranda em Ensino pela UERN, UFERSA E IRFN
8Licenciado em História pela UFC
9Mestranda em Ensino pela UERN, UFERSA E IRFN
10Licenciado em Matemática pela UFC.