PRÁTICA DOCENTE NA ÁREA DA SAÚDE: EXPERIÊNCIAS E DESAFIOS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7803307


Joana Carolina Rodrigues dos Santos Schramm1
Edila Alves Moraes Nogueira2
Manuela Gomes Campos Borel3
Lucinei Santos Alves2
Rita de Cássia Caldeira Santos Goes2
Maria do Carmo Ferreira Costa Cordeiro2
Leone Mendes Dias4
Isabella Batista Vieira2
Bryan Rocha de Oliveira5
Isabela Barbosa Cruz2
Lunny Anelita Pereira Souza1
Andreia Correia2
Cristiano Leonardo de Oliveira Dias1
Rene Ferreira da Silva Junior1


RESUMO

Introdução: Para o exercício da prática docente, mais especificamente na área da saúde, é necessário a junção entre teoria e prática, o que faz com que muitos docentes se direcionem para o ensino em virtude de grande experiência profissional, sem, contudo, ter conhecimento metodológico em docência. Objetivo: Identificar quais os desafios e experiências de docentes no ensino dos cursos da área da saúde. Materiais e métodos: Tal trabalho consiste em uma revisão integrativa, realizada durante os meses de novembro e dezembro de 2023, a busca foi realizada em bases de dados secundários de periódicos digitais utilizando-se os seguintes descritores prática docente, saúde e ensino, além de banco de dissertações e teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Resultados: a prática docente na área da saúde possui singularidades exigindo-se habilidades específicas além das comuns à docência em outras áreas, a ausência de formação pedagógica pode ser uma barreira significativa em alguns casos. Considerações Finais: os desafios dos docentes que atuam na área da saúde além dos habituais das outras áreas, somam-se a alguns desafios específicos, as experiências exitosas devem ser compartilhadas em nível de política educacional para aperfeiçoamentos na formação, uma vez que a docência é uma atividade real ocupada por futuros profissionais. 

Palavras Chaves: prática docente, saúde, ensino.

ABSTRACT

Introduction: to pursue the practice, more specifically in the area of health, it is necessary the junction between theory and practice, which causes many faculty if direct for teaching by virtue of great professional experience, without however having methodological knowledge in teaching. Objective: to identify what are the challenges faced by teachers in the teaching of the courses of the health area. Materials and methods: this work consists of an integrative review, conducted during the first quarter of 2016, the search was carried out on data bases of digital journals using the following keywords: teaching, health, education. Results and discussion: 5 were selected articles, and discussion needed categorization, being used 2 categories, challenges of teaching practice in health and specificities of teaching practice in health. Final considerations: With this job, if I can see that there are few studies focused on teaching practice specifying the area of health, that there are challenges to be overcome so that there is a practice of teaching quality.

Key words: teaching, health, teaching practice.

Introdução

Para se iniciar este estudo é necessário caracterizar em que consiste a prática docente, mais especificamente no ensino em saúde. Para Nörnberg (2016) que analisou etimológicamente a palavra docência, identificou que a mesma provém do latim – docere, que significa ensinar, instruir, mostrar, indicar, dar a entender. Veiga (2006) complementa ainda que a docência tem uma definição formal, que caracteriza o trabalho do professor.

No que se refere a prática docente, mais especificamente em saúde, para o seu exercício é necessário a junção entre teoria e prática, construindo o saber utilizam-se também das práticas sociais (BATISTA, 2005). Este autor ainda complementa que há um mito que circunda a docência em saúde na qual a boa prática profissional específica garante a boa docência. 

Para o exercício da docência em saúde alguns autores afirmam que há desafios para a formação desses profissionais que irão atuar no mercado de trabalho (BEBER, 2008). Ainda referenciando os desafios da docência em saúde, Batista (2006), ainda afirma que desenvolver e avaliar propostas de desenvolvimento docente na área da saúde que privilegiem a prática docente e estruturam momentos de comparação, explicação, interpretação e teorização, assumindo o desenvolvimento docente como um processo continuado, e que se utiliza da pesquisa de forma colaborativa em uma perspectiva interdisciplinar, é um desafio a ser enfrentado num momento em que o ensino superior busca caminhos éticos, humanistas, competentes e socialmente comprometidos. 

Apesar de considerarmos que a formação técnico-científica é importante, ela não é suficiente para que um profissional de saúde se torne professor. Saberes pedagógicos são imprescindíveis para qualquer profissional que pretenda ser professor. É nessa perspectiva que consideramos importante pensar sobre como um profissional da saúde se torna professor, bem como sobre quais elementos estão envolvidos nesse processo (MATTIA; TEO,  2022). 

Nesse sentido, o presente estudo buscou identificar quais os desafios e experiências de docentes no ensino dos cursos da área da saúde. 

Materiais e métodos

Este trabalho trata-se de uma revisão integrativa que consiste em um método para o desenvolvimento de trabalho de revisão da literatura sendo que este procedimento possibilita a síntese e análise do conhecimento científico já produzido sobre o tema pesquisado, além de permitir a obtenção de informações que possibilitem aos leitores avaliarem a pertinência dos procedimentos empregados na elaboração da revisão (BOTELHO; CUNHA; MACEDO, 2011). 

Conforme o método de estudo, seguiu-se as seguintes etapas: identificação do tema ou problema, seleção da questão norteadora da pesquisa; definição do objetivo específico; critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos; categorização dos estudos; avaliação dos estudos incluídos; análise dos resultados, e síntese do conhecimento (OLIVEIRA; LIMA; VILELA, 2017).

Para o norteamento do estudo, formulou-se a seguinte questão: Quais os desafios e experiências da prática docente na área da saúde ? Realizou-se a busca on-line da literatura entre os meses de novembro e dezembro de 2022 nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO). 

Os descritores selecionados a partir da terminologia em saúde consultada nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) foram os seguintes: prática docente, saúde e ensino com o auxílio dos operadores booleanos. Os critérios de inclusão estabelecidos para a presente revisão foram: artigos na íntegra, em português, inglês e espanhol publicados nos últimos vinte anos, tendo como assunto principal temas que tivessem relação com o objeto de estudo. 

Para a coleta de dados, foi elaborado instrumento, contemplando os seguintes itens: código de identificação, título da publicação, autor e formação do autor, fonte, ano de publicação, tipo de estudo, região em que foi realizada a pesquisa e a base de dados na qual o artigo foi publicado.

Após a seleção dos artigos, foram definidas as informações que seriam extraídas dos estudos. Para viabilizar a apreensão das informações, utilizou-se banco de dados elaborado no software Microsoft Office Excel 2010, composto das seguintes variáveis: título do artigo, ano de publicação, delineamento do estudo, intervenção e desfecho. Os dados obtidos foram agrupados em quadros e em abordagens temáticas e interpretados com base na literatura.

Resultados e discussão

Muitos autores discorreram sobre os desafios da docência em saúde e citaram aspectos como a falta de embasamento metodológico no que se refere à didática no ensino-aprendizagem (CAVALCANTE et al., 2011). Estes autores ainda completam que na atualidade é delegado aos professores de ensino superior novas responsabilidades, pois lidam com vários aspectos da sociedade, a questão afetiva e cognitiva dos universitários e ainda inclui outro sujeito no processo do ensino, o paciente. Outro aspecto citado por Cavalcante et al. (2011), é o direito desse docente à formação continuada e ao desenvolvimento profissional que precisa ser garantido ao professor em suas relações de trabalho.

Um tópico importante citado por Batista (2005), se refere às práticas de formação docente que constituem desafios importantes para o ensino superior em saúde, isso porque no panorama acadêmico valoriza-se a pesquisa e seus desdobramentos em publicações científicas, enquanto que a docência é considerada mera consequência da experiência. Castanho (2002), também afirma que a inovação no modo de ensinar também pode ser caracterizado como um desafio do ensino em saúde, sendo que também segundo Centenaro; Nogaro (2013), cabe ao docente, criar mecanismos para que a quantidade abundante de informações repassadas aos acadêmicos seja devidamente filtrada e assimilada, tendo também o cuidado de individualizar o seu modo de ensinar de acordo com a especificidade de cada acadêmico. 

No que se refere a especificidade da prática docente em saúde Cavalcante et al. (2011), afirma que pode-se identificar que os cursos da área da saúde, direcionam sua formação para um profissional generalista, humanista, crítico e reflexivo. Porém Batista (2005), afirma que o trabalho do professor universitário da área da saúde, precisa ter uma especificidade no seu modo de ensinar, isso porque requer cuidadosos estudos e investigações que busquem articular as dimensões institucionais, pessoais e coletivas, pois é na inter-relação de várias perspectivas que se configura um olhar crítico-reflexivo sobre esse trabalho como prática social.

Outra especificidade do ensino em saúde é a vinculação do domínio do conteúdo por um profissional e o sucesso deste, ao exercício da docência (BATISTA, 2005). Diante disso, Castanho (2002) vem tratar que é fundamental a discussão de como introduzir, na formação inicial dos professores a competência pedagógica, bem como permitir de forma continuada esta prática, para que com isso se possa ministrar aulas de qualidade no ensino superior. Em contra partida Rozendo (1999), afirma que as práticas pedagógicas continuam enraizadas na concepção de acúmulo de conhecimento com transferência para aluno.

O docente não basta ter conhecimento e experiência na área de atuação, mas precisa estar preparado para que consiga repassar, contínua e cientificamente, àqueles que dele, isto esperam (CENTENARO; NOGARO, 2013).

Foi possível compreender, conforme a literatura científica, que a professoralidade na área da saúde, é permeada por desafios e possibilidades. Dentre os desafios podemos citar a falta de preparo para a docência, pois, somente os conhecimentos científicos, são insuficientes para que um profissional da saúde seja professor. Sendo assim, é necessário preparo e formação pedagógica. Ser um profissional da saúde de excelência é importante para ser um professor, porém, para ser uma docente é necessário mais do que possuir saberes técnicos e científicos, é necessário que esse docente, por meio de um adequado preparo pedagógico, crie possibilidades para que os estudantes também possam construir o conhecimento necessário para se tornarem bons profissionais de saúde (MATTIA; TEO,  2022; GARCIA et al., 2022). 

Outro desafio encontrado, diz respeito à pós-graduação que, no Brasil, se constitui como espaço de formação para a docência. Desse modo, algumas lacunas ainda são visíveis e apontadas pela literatura como desafios para a formação de professores nesse espaço de formação. Dentre as elas, se apresentam poucas disciplinas voltadas para a docência, a valorização da pesquisa em detrimento da formação pedagógica e, também, o fato que, a formação pedagógica na docência superior na pós-graduação, em sua maioria, ainda se apresenta baseada em tendências pedagógicas tradicionais e deslocadas da realidade dos sujeitos e das necessidades do sistema de saúde (GARCIA et al., 2022; MATTIA; TEO,  2022). 

Como possibilidades encontradas, a literatura científica demonstra a professoralidade como processo de constituir-se professor. Para tanto, é necessário que esses sujeitos se compreendam como aprendizes em processo, e desse modo, inacabados, inconclusos e em permanente movimento de busca por sua formação profissional. Também, os estágios de docência se colocam como possibilidade de formação para a docência superior na área da saúde, mesmo que, ainda não sejam utilizados com toda sua potência para a formação pedagógica de professores. A literatura demonstra que as IES devem se responsabilizar pela formação de seus professores. Apesar disso, muitos docentes buscam por processos formativos de forma individual, como já visto. Isso se revela como ponto positivo ao demonstrar o compromisso, inclusive ético, dos docentes com sua permanente formação. Por outro lado, pode eximir as IES da responsabilidade pela formação de seus docentes, bem como, esses professores perdem a oportunidade de experienciar momentos de formação juntos. Outra possibilidade encontrada é que, algumas IES já estão possibilitando a seus estudantes de formação inicial de cursar disciplinas eletivas de preparo pedagógico (MATTIA; TEO,  2022; GARCIA et al., 2022). 

Como visto, conforme a literatura científica, a formação de professores na área da saúde apresenta diversos desafios, porém, nos aponta, também, possibilidades. Consideramos imprescindível e necessário que os docentes da área da saúde, para além de formação técnico-científica, referentes a sua área de atuação, tenham formação pedagógica, com base em teorias críticas educacionais, que promovam uma prática pedagógica para além do ensino tradicional. Além disso, acreditamos que o espaço da pós-graduação constitui terreno fértil para a formação de professores, porém, necessita se aproximar de teorias críticas educacionais, sendo que, essa formação seja voltada para a realidade. De mesmo modo, disciplinas de formação pedagógica, que aprofundem e se aproximem das teorias críticas da educação, são fundamentais nos cursos de pós-graduação da área da saúde. Esses profissionais precisam conhecer as teorias pedagógicas, de modo aprofundado, para também se posicionarem, enquanto docentes, para uma educação voltada para a transformação da realidade dos sujeitos, e não para a manutenção do status quo. Consideramos que o estágio de docência se coloca como importante espaço para a formação de professores que necessita ser explorado em todas as suas possibilidades e potência. Ademais, acreditamos que as IES, também possuem responsabilidade sobre a formação de seus professores, sendo ainda, importante questionar a respeito de quais tendências pedagógicas têm pautado essas iniciativas (GARCIA et al., 2022; MATTIA; TEO,  2022). 

Considerações Finais

Os desafios dos docentes que atuam na área da saúde além dos habituais das outras áreas, somam-se a alguns desafios específicos, as experiências exitosas devem ser compartilhadas em nível de política educacional para aperfeiçoamentos na formação, uma vez que a docência é uma atividade real ocupada por futuros profissionais.

Pode-se identificar com este trabalho que há muitos trabalhos sobre a prática docente, porém quando se especifica a docência em saúde, o número de trabalhos são poucos, o que evidencia a relevância deste trabalho por discutir os desafios da prática docente em saúde em uma revisão integrativa. 

Observou-se também que os estudos citam que a docência em saúde é exercida por profissionais com grande experiência na área de atuação, porém com restrito conhecimento na área docente, sendo que isso pode prejudicar a qualidade do ensino. Outro aspecto mencionado pelos autores é que o ensino na área da saúde tem vários sujeitos envolvidos, ou seja, o professor, o acadêmico, e o paciente. 

Por fim, os autores enfatizam a importância de incentivar e formar professores capacitados para a prática docente, disponibilizando a capacitação necessária ao ensino nas universidades no início da prática docente, e também de forma continuada, e que os desafios da prática docente devem ser ultrapassados na busca por um ensino de qualidade.

Referências

BATISTA, N.A. Desenvolvimento docente na área da saúde: uma análise. Trabalho, Educação e Saúde. v.3, n.2, p. 283-294, 2005. 

BEBER, B.C. O exercício da docência no ensino superior: uma reflexão da vivência na disciplina de metodologia do ensino. Distúrb. Comum. v.20, n.3, p. 403-408, 2008. 

BOTELHO, L.L.R; CUNHA, C.C.A.; MACEDO, M. O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e Sociedade. v.5, n.11, p. 121-136, 2011.

CASTANHO, M.E. Professores de Ensino Superior da área da Saúde e sua prática pedagógica. Interface – Comunicação, Saúde, Educação. v.6, n.10, p. 51-62, 2002. 

CAVALCANTE, L.I.P. et al. A docência no ensino superior na área da saúde: Formação continuada e desenvolvimento profissional em foco. Revista Eletrônica Pesquiseduca. v.3, n.6, 2011, p. 162-182, 2016.

CENTENARO, W.L.; NOGARO, A. Aprendendo a ensinar: Desafios à prática da docência do ensino superior na saúde. Revista Vivências. v.9, n.16. p. 53-58, 2013. 

GARCIA, C.L. et al. Desafios da atuação docente no ensino remoto em saúde: uma revisão bibliográfica. Research, Society and Development. v.11, n.6, e32911629319, 2022.  

LOCATELLI, A.S.; LOCATELLI, C. Desafios da ação docente no ensino superior: um debate a partir do curso de Pedagogia na UFT/campus de Tocantinópolis. Revista Docência do Ensino Superior. v.6, n.1, p.2237-5864, 2016. 

MATTIA, B.J.; TEO, C.R.P.A. Formação de professores na área da saúde: desafios e possibilidades da professoralidade. Research, Society and Development. v.11, n. 6, e56511629634, 2022. 

NÖRNBERG, N.E.; FORSTER, M.M.S. Ensino superior: as competências docentes para ensinar no mundo contemporâneo. Revista Docência do Ensino Superior. v.6, n.1, p.187-209. 2016. 

ROZENDO, C. A. et al. Uma análise das práticas docentes de professores universitários da área de saúde. Rev. Latino-Am. Enfermagem. v.7, n.2, p.15-23, 1999. 

VEIGA, I.P.A. Docência: formação, identidade profissional e inovações didáticas. In: Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, 13. 2006, Recife. Anais. Recife: Edições Bagaço, 2006. p. 467- 484.


1Universidade Estadual de Montes Claros. Montes Claros, Minas Gerais, Brasil.
2Faculdades Unidas do Norte de Minas Gerais. Montes Claros, Minas Gerais, Brasil.
3Universidade Federal do Rio de Janeiro. Montes Claros, Minas Gerais, Brasil.
4Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil.
5Faculdade de Saúde e Humanidades Ibituruna.