POSSIBILITIES AND CHALLENGES OF PHYSICAL EDUCATION IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION: AN EXPERIENCE REPORT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202507041333
Júlio Rafael Assunção de Faria1
Jairo Teixeira Junior2
Cristina Gomes Oliveira Teixeira3
Patrícia Espindola Mota Venâncio4
Resumo
A Educação Física é um componente curricular de suma importância para o desenvolvimento integral na Educação Infantil, contudo, frequentemente enfrenta desafios de valorização e estruturação. Este artigo, configurado como um relato de experiência, descreve e analisa as práticas pedagógicas desenvolvidas durante um estágio supervisionado em uma escola pública de Pires do Rio, Goiás, com turmas da pré-escola. A metodologia baseou-se em observação participante e intervenções estruturadas em três momentos: aquecimento (atividades de locomoção e socialização), atividade principal (brincadeiras de correr, saltar, arremessar, circuitos com obstáculos, jogos com cones, bolas e arcos, e atividades de relaxamento) e volta à calma (relaxamento). Foi feita uma análise qualitativa, registrada diariamente ao final das sessões. Como resultados foi possível ver as amplas possibilidades da psicomotricidade no contexto da Educação Física. Contudo, desafios como a heterogeneidade do desenvolvimento motor exigiram adaptações constantes nos planejamentos. Com o estágio foi possível perceber a importância da ludicidade como fator determinante para o engajamento e a aprendizagem. Foi discutido os resultados com a literatura recente, que reforça a centralidade do corpo e do movimento. Conclui-se que uma prática pedagógica intencional e bem fundamentada em Educação Física, com foco na psicomotricidade, é essencial para a formação global da criança, apesar dos desafios estruturais e da necessidade de maior reconhecimento da área.
Palavras-chave: Ensino Infantil. Educação Física. Psicomotricidade.
1 INTRODUÇÃO
A Educação Infantil, primeira e fundamental etapa da Educação Básica, constitui-se como um período decisivo para o desenvolvimento humano. Nesta fase, que abrange do nascimento aos seis anos de idade, são estabelecidas as bases para o desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social da criança. As experiências vivenciadas neste estágio são fundamentais para a formação de habilidades e competências que repercutiram por toda a sua trajetória educacional e pessoal.
De acordo com Felix (2024), a Educação Infantil não se limita à preparação para o ensino formal, mas constitui um espaço propício para o fomento à curiosidade, à criatividade e à formação de vínculos sociais e afetivos. Nesse cenário, a Educação Física se destaca como um elemento essencial do currículo. Por meio de suas ações, proporciona atividades que promovem não apenas o aprimoramento motor, mas também a interação social e a manifestação corporal. Quando adequadamente organizadas, as práticas esportivas contribuem para o aprimoramento de habilidades motoras fundamentais, como a corrida, o salto e o arremesso, além de promover a autoconfiança e o respeito mútuo (Gomes et al., 2022).
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a Educação Infantil, embora não reconheça a Educação Física como um componente curricular específico, a incorpora de forma transversal no âmbito de experiências denominado “Corpo, gestos e movimentos”. Entretanto, observa-se que, em várias instituições de Educação Infantil, a Educação Física ainda é considerada secundária, apresentando métodos de ensino pouco estruturados e carência de recursos adequados. Uma investigação recente realizada pelo Instituto Península (2023) revelou que 94,7% dos docentes de Educação Física no Brasil consideram que os locais destinados às aulas requerem aprimoramentos, mencionando a condição inadequada das quadras e a escassez de materiais como desafios frequentes. A desvalorização compromete a qualidade das experiências motoras disponibilizadas, restringindo o pleno desenvolvimento das crianças. Maraschin e colaboradores (2024), juntamente com outras pesquisas, enfatizam que a carência de estímulos físicos devidamente estruturados na primeira infância pode ocasionar danos ao desenvolvimento motor e social.
Diante do exposto, este relato de experiência tem como objetivo descrever e realizar uma análise das práticas pedagógicas implementadas com ênfase na psicomotricidade durante o estágio supervisionado na área de Educação Física voltada para a Educação Infantil. A importância desta investigação fundamenta-se na urgência de valorizar a Educação Física na Educação Infantil, reconhecendo sua função indispensável no desenvolvimento integral do indivíduo e, simultaneamente, promover reflexões que auxiliem na formação de educadores mais conscientes e aptos a integrar movimento, brincadeira e aprendizagem de maneira eficaz.
2 METODOLOGIA
Este relato de experiência foi elaborado com base nas minhas vivências durante o Estágio Curricular Supervisionado na Educação Infantil, componente obrigatório do curso de Licenciatura em Educação Física. As atividades foram desenvolvidas em uma escola pública situada no município de Pires do Rio, Goiás, que atende 410 alunos distribuídos entre Educação Infantil, Anos Iniciais do Ensino Fundamental e Educação Especial (QEdu, 2024).
As ações do estágio ocorreram em duas turmas da pré-escola, compostas por crianças com idades entre 4 e 5 anos, com média de 20 alunos por turma. Inicialmente, foi realizado um período de observação nas salas de aula, com o objetivo de conhecer a rotina escolar, a estrutura física disponível e o nível de desenvolvimento motor das crianças. Esse momento também possibilitou a criação de vínculos com os alunos e professores, facilitando a adaptação e a receptividade às propostas pedagógicas.
No decorrer do estágio, foram realizadas reuniões regulares com a coordenadora encarregada, nas quais se abordaram estratégias, metodologias e metas para a elaboração dos planos de aula. As atividades sugeridas foram elaboradas levando em consideração as habilidades psicomotoras e as particularidades do desenvolvimento infantil, conforme a faixa etária contemplada, e sempre em consonância com os preceitos da Base Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil (BRASIL, 2017).
Realizaram-se duas sessões por turma na semana, com cada aula tendo uma duração média de 50 minutos e sendo organizada em três fases: aquecimento, atividade principal e volta a calma. Essa organização permitiu uma sequência lógica e progressiva, favorecendo o engajamento dos alunos e o aproveitamento pedagógico das vivências corporais.
Na etapa de aquecimento, o foco principal era preparar o corpo das crianças para as atividades seguintes, estimulando a movimentação global, despertando a atenção e promovendo a socialização. Brincadeiras de correr, parar, imitar animais ou movimentar-se ao som de músicas infantis foram utilizadas para envolver os alunos desde o início da aula.
A atividade principal era o momento central das intervenções, no qual se exploravam as capacidades psicomotoras das crianças. As brincadeiras planejadas tinham como objetivo desenvolver habilidades como coordenação motora global e fina, equilíbrio, tonicidade, lateralidade, esquema corporal, organização espacial e temporal. Jogos com cones, bolas, cordas e arcos foram utilizados para potencializar essas habilidades de forma lúdica e inclusiva.
Por fim, na etapa de volta à calma, eram propostas atividades de relaxamento e respiração, que visavam tranquilizar os alunos e facilitar a transição para as atividades em sala de aula. Este momento também era utilizado para promover o senso de responsabilidade, já que os alunos participavam da organização do espaço e da guarda dos materiais utilizados.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
A experiência prática nas turmas da Educação Infantil permitiu a observação de importantes avanços no desenvolvimento das crianças ao longo das aulas de Educação Física. Foi possível perceber melhorias significativas na coordenação motora ampla e no equilíbrio, especialmente a partir da segunda semana de intervenção, quando as crianças demonstraram maior controle dos movimentos durante atividades como circuitos com obstáculos, corridas e saltos.
Também foi notável o progresso na organização espacial e temporal. As crianças passaram a responder com mais precisão aos comandos verbais relacionados a direções e posições, como “em cima”, “embaixo”, “à frente” e “atrás”, além de compreenderem melhor a sequência das atividades e o tempo destinado a cada etapa da aula. Essa evolução facilitou a dinâmica das aulas e permitiu a realização de propostas mais complexas e desafiadoras.
Outro resultado relevante foi o aumento no engajamento e na participação dos alunos. As crianças demonstraram entusiasmo diante das propostas lúdicas, especialmente aquelas que envolviam músicas, personagens imaginários e histórias. A ludicidade foi um fator determinante para o envolvimento afetivo e cognitivo dos alunos, favorecendo o aprendizado por meio do brincar. A cada nova aula, observou-se maior familiaridade com as regras das brincadeiras e maior disposição em colaborar com os colegas e com a organização do espaço.
As interações sociais também se fortaleceram com o passar das semanas. As atividades em grupo favoreceram o desenvolvimento de atitudes de cooperação, empatia e respeito às regras estabelecidas. Houve redução de conflitos interpessoais e aumento da capacidade de resolver problemas por meio do diálogo, principalmente nas situações em que foi necessário esperar a vez ou compartilhar materiais com os colegas.
Apesar dos avanços observados, alguns desafios estiveram presentes durante o processo. A heterogeneidade no desenvolvimento motor das turmas exigiu adaptações constantes nas atividades, a fim de garantir a participação de todas as crianças. Algumas apresentavam domínio corporal avançado, enquanto outras demonstravam insegurança ou dificuldades em certos movimentos. Além disso, em determinados momentos, observou-se uma dificuldade de concentração por parte de alguns alunos, o que exigiu intervenções com recursos visuais e linguagem mais acessível para manter o foco da turma.
Mesmo diante desses obstáculos, a experiência permitiu a construção de práticas inclusivas, criativas e coerentes com a realidade escolar. A escuta ativa das crianças, o vínculo construído com os alunos e o apoio da coordenação pedagógica foram fundamentais para o sucesso das intervenções, resultando em aulas mais dinâmicas, acolhedoras e significativas para todos os envolvidos.
Os resultados alcançados ao longo da experiência de estágio corroboram a importância da Educação Física na Educação Infantil, atuando como facilitadora do desenvolvimento integral das crianças. O avanço nas capacidades motoras, como equilíbrio e coordenação, observado nas análises, confirma as conclusões de Quan et al. (2024), que sustentam que atividades físicas organizadas são eficientes para aprimorar o controle motor e a autoconfiança em crianças.
Os resultados desta pesquisa corroboram investigações recentes que destacam a importância da Educação Física na primeira infância como um elemento essencial para o desenvolvimento motor, cognitivo e socioemocional. De acordo com Felix (2024), a Educação Infantil deve priorizar experiências que estimulem a curiosidade e a criatividade. Dessa forma, as práticas corporais recreativas, como as realizadas neste estágio, estão alinhadas a essa abordagem. A progressão observada na coordenação motora e no equilíbrio das crianças alinha-se aos resultados expostos por Quan et al. (2024), que evidenciam que intervenções estruturadas de mobilidade aprimoram o controle postural e a autoconfiança durante a infância.
A evolução na organização espaço-temporal fundamenta pesquisas na área de psicomotricidade, conforme demonstrado por Brito (2021), que afirma que o movimento corporal é crucial para o desenvolvimento de conceitos relacionados ao espaço e ao tempo, os quais são essenciais para o raciocínio lógico-matemático. Além disso, a inclusão das crianças em atividades lúdicas fundamenta a argumentação de Souza e Rossetin (2024), que sustentam que a aprendizagem significativa na infância ocorre quando as propostas pedagógicas incorporam brincadeiras e narrativas criativas, de acordo com as diretrizes da BNCC (BRASIL, 2017).
Em relação ao aspecto sócio-emocional, o aumento da colaboração e a redução de desavenças estão em conformidade com as pesquisas de Gava e Jardim (2015), que evidenciam que a Educação Física representa um ambiente favorável para o desenvolvimento de habilidades sociais, tais como a empatia e a autorregulação. Todavia, os desafios enfrentados, tais como a diversidade motora e a falta de infraestrutura, evidenciam os dados do Instituto Península (2023), que apontam que 94,7% dos educadores enfrentam dificuldades devido à escassez de espaços e materiais. As dificuldades mencionadas são também enfatizadas por Cicílio, Teixeira Junior e Venâncio (2024), os quais evidenciam que a falta de formação específica resulta em práticas fragmentadas, prejudicando o desenvolvimento integral das crianças e restringindo as oportunidades pedagógicas relacionadas ao movimento.
Os resultados ressaltam a necessidade premente de adotar políticas públicas mais eficazes, conforme apontado por Morais, Bezerra e Alves (2024), com o objetivo de superar a visão da Educação Física como mera prática recreativa e garantir seu reconhecimento como elemento essencial do currículo na Educação Infantil. A experiência demonstrou que, mesmo em condições adversas, intervenções planejadas com precisão e orientadas para o caráter lúdico podem gerar avanços consideráveis, sublinhando a importância crucial da Educação Física no desenvolvimento integral das crianças.
4 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente relato de experiência possibilitou a análise da implementação prática dos fundamentos teóricos da Educação Física na Educação Infantil, confirmando sua grande relevância para o desenvolvimento integral das crianças, com ênfase nas oportunidades oferecidas pela psicomotricidade.
A experiência demonstrou que a eficácia das práticas está intimamente relacionada a um planejamento embasado, que leve em conta as particularidades da faixa etária e empregue a ludicidade como principal recurso metodológico para o desenvolvimento psicomotor. A relação afetiva estabelecida com as crianças, acompanhada de uma escuta atenta às suas necessidades, foi fundamental para a formação de um ambiente de aprendizagem que se mostrou seguro, acolhedor e significativo, mesmo frente aos desafios da diversidade e da atenção. A vivência no estágio não apenas consolidou os saberes acadêmicos, mas também fortaleceu o comprometimento com uma atuação docente que reconheça a importância do corpo, do movimento, do brincar e da infância em sua totalidade.
Recomenda-se, para investigações futuras, a realização de estudos longitudinais que monitorem o desenvolvimento infantil, além de pesquisas comparativas entre diversas abordagens pedagógicas na Educação Física voltada para a infância. Este estudo reitera que a aplicação de recursos em uma Educação Física de excelência desde os primeiros anos de vida, com ênfase na psicomotricidade, representa um investimento na formação de indivíduos mais saudáveis, capacitados e felizes.
REFERÊNCIAS
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1Discente do Curso Superior de Educação Física do Instituto Instituto Federal Goiano Campus Urutai, Goiás, Brasil, e-mail: jrafaelfaria@gmail.com
2Docente da Escola Superior de Educação Física do Estado de Goiás (Eseffego), e-mail: jairojuniorteixeira@hotmail.com
3Docente de Educação Física do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás/Campus
Anápolis. Goiás, Brasil, e-mail: cristina.teixeira@ifg.edu.br
4Docente do Curso Superior de Educação Física do Instituto Instituto Federal Goiano Campus Urutai. Goiás, Brasil, e-mail: patricia.venancio@ifgoiano.edu.br