POLÍTICAS PÚBLICAS, INTERCULTURALIDADE E INCLUSÃO DOS SUJEITOS: PERSPECTIVAS, DESAFIOS E EQUIDADE NA CONSTRUÇÃO DOS SABERES NA AMAZÔNIA RORAIMENSE

POLÍTICAS PÚBLICAS, INTERCULTURALIDAD E INCLUSIÓN DE SUJETOS: PERSPECTIVAS, DESAFÍOS Y EQUIDAD EN LA CONSTRUCCIÓN DEL CONOCIMIENTO EN LA AMAZÔNIA RORAIMENSE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411271419


Amilton de Lima Barbosa1
Angel Gregorio Martinez Rios2
Sérgio Luiz Lopes3


RESUMO:

Este foi o resumo que usamos pra o Simpósio Temático. Partindo do princípio dos Direitos Humanos, da Constituição Federal de 1988, e da LDBEN 9.394/96 vemos a necessidade de (re)leituradas formações dos sujeitos Amazônicos roraimenses e das políticas públicas para implementar a educação em consonância com a abordagem da diversidade que implica considere as singularidades das pessoas, suas vivências, experiências e suas formas particulares de ser e viver no mundo: condição física, idade, etnia, orientação sexual e identidade de gênero. O simpósio tem como objetivo dialogar sobre as políticas públicas e as práticas interculturais e inclusivas, sobre o olhar das minorias éticas do nosso Estado, os quais temos os LGBTQIAPN+, os migrantes, e os povos atendidos pelo DECRETO Nº 7.352, de 4 de novembro de 2010 e ainda os que atuam na educação no contexto da educação escolar indígena, da educação do campo e na educação especial dentro de uma estrutura currículo de acolhimento, atendimento e permanência destes no âmbito educacional na Amazônia roraimense. E assim, nesta proposta buscamos a discussão para uma construção destes saberes em consonância com as políticas públicas, a educação inclusiva (educação especial e as minorias étnicas e migrantes) bem como a educação escolar indígena e a educação do campo. As políticas públicas são instrumentos essenciais para promover o desenvolvimento das comunidades e garantir a inclusão de todos os sujeitos, especialmente em regiões tão ricas em diversidades culturais como a Amazônia roraimense. Neste contexto, a interculturalidade se torna fundamental para garantir a equidade na construção dos saberes e promover o respeito às diferenças.

Palavras-chave: Políticas públicas. Direitos humanos. Minorias étnicas. Inclusão dos sujeitos. Amazônia roraimense.

RESUMEN:

Con base en el principio de los Derechos Humanos, la Constituição Federal de 1988 y la LDBEN 9.394/96, vemos la necesidad de (re)leer la formación de los sujetos amazónicos de Roraima y las políticas públicas para implementar una educación acorde con el enfoque de diversidad que implica considerando las singularidades de las personas, sus vidas, vivencias y sus particulares formas de ser y vivir en el mundo: condición física, edad, etnia, orientación sexual e identidad de género. El simposio tiene como objetivo discutir políticas públicas y prácticas interculturales e inclusivas, desde la perspectiva de las minorías éticas de nuestro Estado, incluidas las LGBTQIAPN+, los migrantes y las personas atendidas por el DECRETO N° 7.352, del 4 de noviembre de 2010 y también quienes trabajan en educación en el contexto de la educación escolar indígena, la educación rural y la educación especial dentro de una estructura curricular de acogida, atención y permanencia de estas en el contexto educativo en la Amazonía roraimense. Por eso, en esta propuesta buscamos discutir la construcción de este conocimiento en línea con las políticas públicas, la educación inclusiva (educación especial y de minorías étnicas y migrantes), así como la educación escolar indígena y la educación rural. Las políticas públicas son instrumentos esenciales para promover el desarrollo de las comunidades y garantizar la inclusión de todos los sujetos, especialmente en regiones tan ricas en diversidad cultural como la Amazonía roraimense. En este contexto, la interculturalidad se vuelve fundamental para garantizar la equidad en la construcción del conocimiento y promover el respeto a las diferencias.

Palabras clave: Políticas públicas. Derechos humanos. Minorías étnicas. Inclusión de sujetos. Roraima Amazonas.

INTRODUÇÃO

A diversidade cultural é uma característica marcante da Amazônia roraimense, onde coexistem diferentes povos indígenas, povos dos campos e das águas, entre outros grupos étnicos. Para Walsh (2019), a interculturalidade surge como uma abordagem que reconhece e valoriza as diferentes culturas presentes na região, promovendo o diálogo entre elas e garantindo que todas tenham acesso igualitário aos recursos e oportunidades.

De acordo com o objetivo geral em dialogar sobre as políticas públicas e as práticas interculturais e inclusivas, sobre o olhar das minorias éticas do nosso Estado, os quais temos os LGBTQIAPN+, os migrantes, e os povos atendidos pelo DECRETO Nº 7.352, de 4 de novembro de 2010 e ainda os que atuam na educação no contexto da educação escolar indígena, da educação do campo e na educação especial dentro de uma estrutura currículo de acolhimento, atendimento e permanência destes no âmbito educacional na Amazônia roraimense

Segundo o professor Hage (2021), a construção de políticas públicas que promovam a interculturalidade e a inclusão dos sujeitos nas Amazônia, e por conseguinte a Amazônia roraimense ainda enfrenta desafios diversos. Um dos principais obstáculos que se soma a estes é a falta de reconhecimento e respeito às culturas tradicionais, que para Canclini (2019), o aspecto cultural deve manter-se imponente, para que não seja levado pela ótica da marginalização e exclusão desses grupos das sociedades locais, estaduais, regionais, nacionais e mundiais, partindo do micro para o macro. Bem como aos grupos dos migrantes, os LGBTQIAPN+, dos negros e pretos que formam a sociedade da Amazônia roraimense.

Para podermos exemplificar melhor os trabalhos que foram submetidos no Simpósio Temático 8 durante a I Semana das Humanidades do Centro de Ciências Humanas da Universidade Federal de Roraima demostraremos as categorias em que os mesmos foram divididos de acordo com Bardin (2016)

Quadro 1: Categorias de trabalhos submetidos no ST8[1].

CATEGÓRIASQUANTIDADE DE TRABALHOS
01INTERCULTURALIDADE2
02MIGRANTES2
03EDUCAÇÃO DO CAMPO1
04LGBTQIAPN+0
05POLÍTICAS PÚBLICAS2
06EDUCAÇÃO INDÍGENA1
07GÊNERO E INTERSECCIONALIDADE1

Fonte: Barbosa, 2024.

Vemos que os trabalhos no campo das políticas públicas com olhares para inclusão dos sujeitos dos campos, das florestas e das águas ainda são tímidos e quando partimos para as questões das minorias étnicas e referente as questões de gênero e interseccionalidades há uma diminuição em pesquisas referentes estas temáticas na Amazônia roraimense, porém pode-se notar que são linhas de pesquisas que estão em ascendência dentro do locus das pesquisas universitárias.

Dentro deste enfoque, vemos a necessidade de incentivos e investimento a educação e pesquisa, para que a mesmas sejam comecem a ser evidenciadas e realizadas dentro de padrões de qualidade. Vemos ainda a Extensão Universitária como mola propulsora destes enfoques (educação e pesquisa) e ainda programas de capacitação em âmbito universitários, para potencializar os as propostas de pesquisas científicas primordialmente nas temáticas em políticas públicas em relação as categorias dispostas no Quadro 1.

Neste sentido, é fundamental que as políticas públicas na região da Amazônia roraimense sejam pautadas com propostas que busquem a equidade e a valorização das diferentes culturas presentes na região segundo a visão de Candau (2012). Isso significa buscar garantir que todos os sujeitos tenham acesso a serviços de educação, saúde, moradia, entre outros, de forma igualitária e respeitando suas especificidades culturais e identitárias primordialmente.

Para isso, é necessário promover a participação ativa das comunidades na elaboração e implementação das políticas públicas, garantindo que seus interesses e necessidades sejam devidamente considerados. Além disso, é fundamental investir na formação de profissionais capacitados para lidar com a diversidade cultural, garantindo que os serviços oferecidos sejam culturalmente sensíveis e adequados às demandas de cada grupo étnico.

Neste sentido, o trabalho pretende analisar a urgência na qual a sociedade e seus representantes como um todo reconheçam a importância das necessidades de que os sujeitos tenham seus direitos garantidos e as políticas públicas propicie as condições de acesso, ´permanência e equidade aos sujeitos dentro do processo de educação e pesquisa na Amazônia roraimense. Para Canclini (2019) somente através do respeito e da valorização dos grupos minoritários, bem como das diferentes culturas, sendo assim, possível garantir a inclusão dos sujeitos e promover o desenvolvimento sustentável, a educação e a pesquisa corroborando em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) no Brasil[2], o de número 4, que é justamente a Educação de Qualidade.

A interculturalidade no processo de contribuição para inclusão dos sujeitos das minorias étnicas no processo de construção do conhecimento científico da Amazônia roraimense

Com o objetivo de sistematizar a interculturalidade e a inclusão dos sujeitos pertencentes as minorias étnicas quanto o processo da construção de conhecimentos.

A interculturalidade é um conceito que tem ganhado cada vez mais destaque no debate sobre inclusão social e respeito e equidade à diversidade étnica. Trata-se de uma abordagem que busca promover o diálogo e a troca de experiências entre diferentes culturas, com o objetivo de promover o respeito mútuo e a valorização das diferenças.

No contexto em relação as minorias étnicas, a interculturalidade desempenha um papel fundamental no processo de inclusão e empoderamento desses sujeitos. Através do respeito e do reconhecimento da diversidade cultural, é possível promover uma sociedade mais justa. Igualitária e equitativa, onde todas as pessoas têm seus direitos e identidades respeitados.

Para Candau (2012),

A afirmação das diferenças – étnicas, de gênero, orientação sexual, religiosas, entre outras – manifesta-se de modos plurais, assumindo diversas expressões e linguagens. As problemáticas são múltiplas, visibilizadas especialmente pelos movimentos sociais que denunciam injustiças, desigualdades e discriminações, reivindicando igualdade de acesso a bens e serviços e reconhecimento político e cultural.

Diferentes manifestações de preconceito, discriminação, diversas formas de violência – física, simbólica, bullying –, homofobia, intolerância religiosa, estereótipos de gênero, exclusão de pessoas deficientes, entre outras, estão presentes na nossa sociedade, assim como no cotidiano das escolas. A consciência desta realidade é cada vez mais forte entre educadores e educadoras. Como afirmou um professor numa das pesquisas que realizamos recentemente, “as diferenças estão bombando na escola”. (Candau, 2012, p. 236)

A promoção da interculturalidade e da inclusão dos sujeitos na construção dos saberes na Amazônia Roraimense também passa pela valorização da educação intercultural, das lutas dos diversos movimentos sociais pela equidade de acesso e permanência aos direitos. Ao reconhecimento e respeito as diferentes formas de culturas, identidades e conhecimento presentes na região. Isso para Candau (2012), significa a promoção de um diálogo entre os saberes científicos e tradicionais, garantindo que todos sejam reconhecidos e valorizados.

A integração dos saberes tradicionais na educação formal também é essencial para garantir a equidade na construção dos conhecimentos. Para Walsh (2013, p. 42) “[…] um sentido prático e concreto em favor das lutas de descolonização, libertação e humanização”, enfatiza que a valorização das tradições e práticas locais contribuem para o fortalecimento e construção de uma identidade cultural dos sujeitos de acordo com Candau (2002), evidencia para a promoção de uma educação mais inclusiva e diversificada em um contexto multicultural.

Em Libâneo (2010, p. 31) há uma definição sensata a respeito da educação informal que é justamente que:

A educação informal corresponderia a ações e influencias exercidas pelo meio, pelo ambiente sociocultural, e que se desenvolve por meio das relações dos indivíduos e grupos com o seu ambiente humano, social, ecológico, físico e cultural, das quais resultam conhecimentos, experiências, práticas, mas que não estão ligadas especificamente a uma instituição, nem são intencionais e organizadas.

Por fim, é importante destacar que a interculturalidade e a inclusão dos sujeitos na construção dos saberes na Amazônia roraimense não são apenas um desafio, mas também uma oportunidade única de promover o desenvolvimento sustentável, a equidade, a interseccionalidade e a valorização da diversidade cultural. Ao reconhecer e respeitar as diferentes culturas presentes na região, é possível construir uma sociedade mais justa, igualitária e respeitosa das diferenças.

Por esta ótica temos uma das principais contribuições da interculturalidade para a inclusão das minorias étnicas é a promoção do diálogo e da compreensão entre diferentes grupos. Ao estimular o contato e a convivência entre pessoas de culturas diferentes, a interculturalidade contribui na superação de ações e atividades preconceituosas e estereotipadas, incentivando a promoção da empatia e a solidariedade entre os diferentes grupos étnicos. Para Ribeiro (2018) nós esclarece que:

A consideração de “diversidade cultural” traz imediatamente para o primeiro plano questões de universalismo e particularismo. A própria expressão expressão “diversidade cultural”, poderia levar à crença de que nos encontramos no campo do relativismo cultural. A transformação da diversidade cultural em um discurso global, no entanto, indica que a universalização da diversidade é uma possibilidade real. […] (Ribeiro, 2018, p. 48).

Além disso, a interculturalidade também contribui para a valorização da diversidade cultural e o respeito às diferenças. Ao reconhecer e valorizar as diferentes culturas, a interculturalidade ajuda a combater a discriminação e a exclusão social, promovendo a igualdade de direitos e oportunidades para todos os sujeitos, independentemente de sua origem étnica.

Para Wlash (2019) a interculturalidade também atua como um instrumento de fortalecimento da identidade cultural das minorias étnicas. Ao proporcionar um espaço de reconhecimento e valorização das tradições e costumes das diferentes culturas, a interculturalidade ajuda a construir uma identidade mais positiva e inclusiva para os sujeitos das minorias étnicas, fortalecendo sua autoestima e sua autoconfiança.

Além disso, a interculturalidade também contribui para a construção de uma sociedade mais democrática e participativa. Ao promover o diálogo e a colaboração entre diferentes grupos étnicos, a interculturalidade ajuda a fortalecer os laços de solidariedade e cooperação, criando um ambiente mais propício para a construção de políticas públicas inclusivas e democráticas, que atendam às necessidades e demandas das minorias étnicas.

Por fim, a interculturalidade também desempenha um papel importante na promoção da paz e da coexistência pacífica entre os diferentes grupos étnicos. Ao promover o respeito mútuo e a valorização das diferenças, a interculturalidade ajuda a reduzir os conflitos e as tensões interétnicas, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e solidária, onde a diversidade étnica é vista como um patrimônio cultural a ser valorizado e preservado.

Partir  del  problema  estructural-colonial-racial  y  dirigirse  hacia  la  transformación de las estructuras, instituciones y relaciones sociales y la construcción de condiciones radicalmente distintas, la interculturalidad crítica – como práctica política – dibuja un camino que no se limita a las esferas políticas, sociales, y culturales, sino también se cruce a las del saber, ser y de la vida misma. Es decir, se preocupe también por/con la exclusión, negación y subalternización ontológica y epistémico-cognitiva de los grupos y sujetos racializados; por las prácticas – de deshumani-zación y de subordinación de conocimientos – que privilegian algunos sobre otros, “naturalizando”[3] la diferencia y ocultando las desigualdades que se estructuran y se mantienen a su interior. Pero y adicionalmente, se preocupe con los seres y saberes de resistencia, insurgencia y oposición, los que persistan a pesar de la deshumanización y subordinación. (Walsh, 2010, p.96)

Em resumo, a interculturalidade é uma abordagem fundamental para a promoção da inclusão e do respeito às minorias étnicas como um todo. Para Dietz (2018) ao promover o diálogo, a compreensão e a valorização das diferenças culturais, a interculturalidade contribui para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e democrática, onde todas as pessoas têm seus direitos e identidades respeitados. É importante que as políticas públicas e as instituições sociais promovam e incentivem a interculturalidade como um caminho para a promoção da inclusão e da diversidade étnica em nossa sociedade.

A interculturalidade desempenha um papel relevante no processo de inclusão e empoderamento das minorias étnicas, promovendo o diálogo, o respeito mútuo e a valorização das diferenças culturais. Ao estimular a convivência entre diferentes grupos, a interculturalidade contribui para a superação de preconceitos, a valorização da diversidade e a construção de uma cultural mais positiva e inclusiva para os sujeitos das minorias étnicas segundo Candau (2002). Além disso, fortalece a democracia e a paz, ao criar um ambiente propício para o desenvolvimento de políticas públicas inclusivas e para a redução de conflitos interétnicos. Portanto, é essencial que as políticas públicas e instituições sociais incentivem e promovam a interculturalidade como um meio eficaz para a promoção da inclusão e da diversidade das minorias étnicas em nossa sociedade.

Perspectivas, desafios e equidade na construção dos saberes na Amazônia roraimense: a construção do pensamento científico

A Amazônia Roraimense representa uma área de importância estratégica e biológica no cenário brasileiro por se locar em uma Tríplice Fronteira (Venezuela-Brasil-Guiana), caracterizada por sua vasta biodiversidade e pela presença de uma rica diversidade cultural, incluindo várias minorias étnicas. Apesar dessa riqueza natural e cultural, a região enfrenta inúmeros desafios na construção do pensamento científico. Tem como objetivo abordar as perspectivas, desafios e equidade no contexto formativo da Amazônia roraimense, examinando a relevância das políticas públicas, a consideração dos direitos humanos e a inclusão dos sujeitos no cenário educacional local.

A Amazônia roraimense é uma região de grande importância na construção de saberes, marcada por sua vasta biodiversidade e pela presença de diversas culturas e identidades, incluindo as variadas minorias étnicas. Apesar de sua riqueza natural e cultural, a região enfrenta diversos desafios no desenvolvimento do pensamento científico. Assim, discutindo as prerrogativas e as perspectivas, desafios e equidade nesse contexto amazônico local, destacando a relevância e a visibilidade das políticas públicas para a proteção dos direitos humanos e a inclusão dos diferentes sujeitos pertencentes as minoras étnicas no campo da construção das pesquisas científicas.

[…] as políticas públicas devem se configurar enquanto territórios de reconhecimento da diversidade sociocultural, racial, étnica, de gênero, religiosa e de fortalecimento da esfera pública, assumindo a responsabilidade com a formação de sujeitos críticos, a partir de seu lugar, e, ao mesmo tempo, capazes de colocar-se e entender-se em relação e interação com outros sujeitos e espaços sócio-políticos e culturais, em escala local e global, considerando as conflitualidades existentes e criando as bases, e ao mesmo tempo, sedimentando o princípio da interculturalidade, da fraternidade e da comunhão como componentes integrantes da formação humana, da convivência, de uma cultura política participativa e protagonista na Amazônia e de um projeto emancipatório, soberano e sustentável de sociedade. (Hage, 2022, p. 15).

O desenvolvimento educacional, científico e tecnológico é crucial para o progresso de qualquer sociedade, mas sua implementação nas regiões amazônicas, especialmente em Roraima, deve ser planejada e executada de forma a respeitar e integrar com os saberes locais e as particularidades culturais dentro da visão de Candau (2012). Historicamente, as minorias étnicas, incluindo povos indígenas, as questões raciais, de gênero e de interseccionalidades, têm enfrentado resistências de sua participação ativa na construção do conhecimento científico, uma situação que deve ser urgentemente remodelada por políticas inclusivas e equitativas.

A inclusão dos sujeitos na Amazônia Roraimense é um ponto crucial para garantir uma ciência que respeite e integre conhecimentos tradicionais e científicos. A participação ativa de comunidades locais não só enriquece as pesquisas com perspectivas únicas e valiosas, mas também possui o potencial de promover a equidade na distribuição de benefícios advindos do desenvolvimento científico. Esta abordagem requer, entretanto, a implementação de políticas públicas que promovam a inclusão e a representatividade destas comunidades nos projetos científicos.

Ao se estabelecer uma política pública também se estabelece uma tomada de decisão; esta decisão poderá partir de duas maneiras; está decisão poderá partir de duas maneiras; técnica ou política; A decisão puramente técnica talvez seja mais desejável do que a política. Porém, a conjuntura política poderá operacionalizar a decisão. […]. (Silva, 2015, p156).

Nas palavras de Silva (2015), há a necessidade de se conhecer que a política pública é que irá realizar a operacionalização técnica dentro do planejamento que foi pensado. Assim, as políticas públicas devem buscar primordialmente o incentivo à educação, as ciências e as tecnologias na Amazônia roraimense são fundamentais para superar desafios coloniais e históricos relacionados a exclusão social, a formação social, a formação das identidades e a econômica.

Estas políticas públicas devem ser moldadas com base no diálogo e na cooperação com as comunidades locais, tendo em vista que o respeito aos direitos humanos e à autodeterminação dos povos é um pilar fundamental para a construção de uma relação de confiança e reciprocidade, para Ferrarini (2022, p. 27), “[…] A Amazônia tem uma identidade. É um ambiente com características próprias,[…]”. A verdadeira inclusão dessas comunidades na ciência pode, assim, transformar a Amazônia Roraimense em um laboratório vivo de inovação sustentável e conhecimento intercultural.

As análises sobre o desenvolvimento, sustentabilidade, modernização e governabilidade a partir dos conteúdos de obras e fontes especializadas possibilitou a compreensão de obras e fontes especializadas possibilitou a compreensão de o modelo de desenvolvimento para a Amazônia ainda precisa ser desenhado. […]. (Silva, 2015, p156).

Contudo, Silva (2015) nos alerta que a implementação dessas políticas encontra inúmeros desafios. Primeiramente, a carência de infraestrutura básica para o desenvolvimento de atividades científicas limita tanto a formação de cientistas locais quanto a realização de projetos de pesquisa de longa duração. Além disso, o descompasso entre as políticas governamentais e as necessidades reais das populações locais muitas vezes resulta em iniciativas descontinuadas ou ineficientes.

Outro desafio notável é a necessidade de formação e capacitação de recursos humanos locais. Para Soares e Silva (2015) a criação de programas educacionais adaptados ao contexto amazônico, respeitando as especificidades culturais, identitários e linguísticas das minorias étnicas de Roraima, é indispensável para fomentar o interesse dos jovens pela tríade educação-ciência-tecnologia, para formar uma nova geração, a de cientistas comprometidos com suas comunidades. Dessa forma, a inclusão dos jovens nos parâmetros científicos deve começar desde a educação básica, ganhando profundidade no ensino superior, mediante programas de incentivo, bolsas de estudos e cooperação interinstitucionais.

As questões de direitos humanos são igualmente centrais na discussão sobre a construção de saberes na Amazônia Roraimense. Historicamente, esses direitos têm sido negligenciados em regiões periféricas, Caldart (2012, p. 123), nós alerta que estes discursos colonizadores “[…] são na realidade armadilhas, construções sociais com objetivos políticos perversos”.,  com a marginalização sistemática de minorias étnicas e culturais. Para reverter esse cenário, é essencial garantir que a produção científica contemple e respeite os direitos culturais e territoriais das populações locais.

Neste contexto, as universidades e centros de pesquisa desempenham um papel de liderança. É necessário que essas instituições repensem suas abordagens e metodologias, de modo a acolher e valorizar o conhecimento tradicional dentro da visão de Arroyo (2019, p.304), “[…] propostas e práticas pontuais de flexibilização dos agrupamentos são frequentes e vão construindo um estilo novo de equalizar e administrar os complexos processos de aprendizagem e de formação. […]”.

Dentro deste viés a promoção de minicursos, oficinas, seminários, encontros, colóquios e conferências abertas à comunidade são formas práticas de incluir diferentes vozes no debate científico. Uma vez que ao explicar o seu famoso axioma: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa asi mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”, Freire (1970). Bem como oportunizar aos pesquisadores que devam trabalhar para construir parcerias genuínas com as comunidades, baseadas no respeito mútuo, compartilhamento de benefícios e reconhecimento da legitimidade dos saberes locais.

A construção de um pensamento científico contextualizado na Amazônia Roraimense, portanto, requer a superação de paradigmas hegemônicos que historicamente desvalorizam o conhecimento tradicional e que Arroyo (2019, p. 39), nós alerta a necessidade que “[…] Docentes que militam nos movimentos sociais como mulheres, negros(as)[4], indígenas, sem teto ou sem terra reagem a tantas imagens preconceituosas com que forma vistos em nossa história social, cultural e pedagógica. […].” Essa transformação só será possível por meio de políticas inclusivas que assegurem a equidade e a justiça socioeconômica e cultural. Incorporar a diversidade de saberes não só enriquece a ciência, mas também fortalece as comunidades locais, oferecendo-lhes ferramentas e vias para o desenvolvimento sustentável e respeitoso com sua identidade e território.

Em síntese, para Silva (2015) as perspectivas para a construção do pensamento científico na Amazônia roraimense estão intrinsecamente ligadas à inclusão e à valorização de todas as vozes, especialmente aquelas que foram historicamente marginalizadas. A criação de políticas públicas que respeitem os direitos humanos e garantam a participação ativa das minorias étnicas é fundamental. Enfrentar esses desafios exige esforço conjunto, visão de longo prazo e compromisso com a transformação social e ambiental, elementos essenciais para um futuro equitativo e inovador na Amazônia roraimense.

CONCLUSÃO

Ao analisarmos os trabalhos apresentados no Simpósio Temático na qual fomos coordenadores, nos deparamos com trabalhos em construção, trabalhos em fase de finalização e recorte de dissertação de mestrado. Propostas interessantes e elaboradas dentro de premissas embasadas na construção do conhecimento em plena Amazônia roraimense, porém ainda elaborados de maneira misantropa, porém em desenvolvimento dentro dos vislumbres da cientificidade.

É essencial que haja investimentos em políticas públicas e capacitação para que esses jovens e professores possam explorar esse grande potencial científico que é a Amazônica de Roraima. É preciso incentivar a realização de estudos científicos, o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e a preservação da biodiversidade, da cultura, identidade e vivências local. Além disso, é importante que haja uma maior integração entre as instituições de ensino, as empresas e os órgãos governamentais, para que juntos possam promover o desenvolvimento científico, econômico e social do Estado de Roraima, de forma sustentável, responsável e equitativa. Portanto, a formação de jovens cientistas e pesquisadores em Roraima é essencial para o avanço da região e para a construção de um futuro mais próspero e equilibrado para todos os seus habitantes. É preciso investir no potencial humano e na educação de qualidade como pilares para o desenvolvimento sustentável da Amazônia roraimense.

REFERÊNCIAS

ARROYO, Miguel G. Imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. 9. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro, Vozes, 2019.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 17 mar. 2024.

_______. Decreto nº 7.352, de 4 de novembro de 2010. Dispõe sobre a política de educação do campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA. Brasília: Diário Oficial da União, 2010. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/d7352.htm. Acesso em: 12 abr. 2024.

CANCLINI, N. G. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. 4. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2019.

CANDAU, V. M. F. Diferenças culturais, interculturalidade e educação em direitos humanos. Educação & Sociedade, v. 33, n. 118, p. 235-250, 2012.

DIETZ, Gunther. Saberes, fazeres e poderes – a dimensão política da interculturalidade: um exemplo do ensino superior mexicano. IN: Interculturalidade(s): entre ideias, relatórios e práticas em cinco países da América Latina. (Orgs.) LIMA, Antonio C. de Souza; CARVALHO, Luis Felipe dos S; RIBEIRO, Gustavo Lins. Rio de Janeiro, Associação Brasileira de Antropologia, 2018.

FERRARINI, Sebastião A. Amazônia: berço acolhedor de tanta vida – as diferentes dimensões da violência. 1. Ed. São Paulo, Edições Loyola, 2023.

HAGE, Salomão Antônio Mufarrej. Transgressão do paradigma da (multi)seriação como referência para a construção da escola pública do campo. IN: Revista Educação & Sociedade, vol. 35, núm. 129, octubre-diciembre, 2014, pp. 1165-1182 Centro de Estudos Educação e Sociedade Campinas, Brasil.

HAGE, Salomão Mufarrej; SILVA, Hellen do S. de Araújo; FREITAS, Maria Natalina M. Escola pública do campo no contexto das políticas educacionais: desafios às práticas formativas do programa Escola da Terra no Brasil e na Amazônia paraense. IN: Rev. FAEEBA – Ed. e Contemp., Salvador, v. 30, n. 61, p. 299-314, jan./mar. 2021.

HAGE, Salomão Mufarrej. Interculturalidade, fraternidade e comunhão: referências para a sustentabilidade na Amazônia. 2022. Digitalizado. Disponível em: https://doceru.com/doc/v5s808e

RIBEIRO, Gustavo Lins. Diversidade cultural como discurso global. IN: Interculturalidade(s): entre ideias, relatórios e práticas em cinco países da América Latina. (Orgs.) LIMA, Antonio C. de Souza; CARVALHO, Luis Felipe dos S; RIBEIRO, Gustavo Lins. Rio de Janeiro, Associação Brasileira de Antropologia, 2018.

SILVA, Heloísa Helena C. Desenvolvimento com sustentabilidade: perspectivas nos processos de modernização e governabilidade no combate à pobreza e as desigualdades na Amazônia? IN: Desenvolvimento Regional na Amazônia: limites e possibilidades. (Orgs.) MAGALHÃES. Maria das Graças S. D. e LIRA JUNIOR, Américo A. Boa Vista, Editora da UFRR, 2015. (p. 149 a 166).

SOARES, Geisiane T.; SILVA, Heloísa Helena C. Sustentabilidade na Amazônia: um enfoque nos arranjos produtivos locais. IN: Desenvolvimento Regional na Amazônia: limites e possibilidades. (Orgs.) MAGALHÃES. Maria das Graças S. D. e LIRA JUNIOR, Américo A. Boa Vista, Editora da UFRR, 2015. (p. 167 a 185).

WALSH, C. Interculturalidade e decolonialidade do poder um pensamento e posicionamento “outro” a partir da diferença colonial. Revista Eletrônica da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pelotas, v. 5, n. 1, p.6-39, 2019.

_______. Interculturalidad y Educación Intercultural. Organizado pelo Instituto Internacional de Integración del Convenio Andrés Bello, La Paz, 9-11 de marzo de 2009.

_______. Interculturalidad y (de)colonialidad: Perspectivas críticas y políticas. Revista Visão Global, Joaçaba, v. 15, n. 1-2, p. 61-74, jan./dez. 2012.


[1] Simpósio Temático 8.

[2] A ONU e seus parceiros no Brasil estão trabalhando para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. São 17 objetivos ambiciosos e interconectados que abordam os principais desafios de desenvolvimento enfrentados por pessoas no Brasil e no mundo.

[3] Grifo da autora.

[4] Grifo do autor.


1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação Acadêmico em Educação (PPGE) da Universidade Estadual de Roraima e Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologias de Roraima (PPGE-UERR/IFRR). Boa Vista, Roraima, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0009-0006-5640-9579  E-mail: amilton.barbosa@alunos.uerr.com.br

2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Froteiras (PPGSOF) da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Boa Vista, Roraima, Brasil. ORCID: 0009-0001-2518-7081. E-mail: angel23martinez86@gmail.com

3 Professor Dr. do Curso de Licenciatura em Educação do Campo na Universidade Federal de Roraima. Professor do Programa de Pós-Graduação Mestrado Acadêmico em Educação da Universidade Estadual de Roraima e Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologias de Roraima (PPGE-UERR/IFRR). Boa Vista, Roraima, Brasil. E-mail: sergio.luiz@ufrr.br