REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202409230824
Michelly Amarante da Silva¹;
Elis Gomes².
RESUMO
Este objeto de estudo se trata de uma pesquisa bibliográfica com recorte temporal de 2019 a 2024, com objetivo de apontar as relações ideais para um aprendizado significativo que envolva um currículo com a presença de tecnologias e metodologias ativas. Foram realizadas pesquisas nas bases de dados do Google Acadêmico, periódico do CAPES, SciELO, considerados apenas trabalhos que possuem relevância, páginas em português e que apresentassem abordagem práticas. Os achados denotaram que um currículo enriquecido com a presença de tecnologias, metodologias interativas e ativas podem proporcionar maior autonomia e protagonismo aos estudantes no processo de aprendizagem. Contudo, as pesquisas encontradas versaram sobretudo sobre o seguimento do ensino superior e a educação a distância que utilizam as tecnologias e metodologias ativas como parte integrante de seu currículo. Demais seguimentos como Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio de escolas públicas apresentam iniciativas que utilizaram as tecnologias e metodologias ativas por ocasião da pandemia de COVID-19, porém, não ficou evidente nesta pesquisa se está prática se tornou componente do currículo em seus contextos.
Palavras-chave: Currículo. Tecnologias. Metodologias Ativas.
ABSTRACT:
This object of study is a bibliographical research with a time frame from 2019 to 2024, with the aim of pointing out the ideal relationships for meaningful learning that involves a curriculum with the presence of technologies and active methodologies. Searches were carried out in the databases of Google Scholar, CAPES journal, SciELO, considering only works that are relevant, pages in Portuguese and that presented a practical approach. The findings showed that a curriculum enriched with the presence of technologies, interactive and active methodologies can provide greater autonomy and protagonism to students in the learning process. However, the research found was mainly about higher education and distance education that use active technologies and methodologies as an integral part of their curriculum. Other segments such as Early Childhood Education, Elementary and Secondary Education in public schools present initiatives that used active technologies and methodologies during the COVID-19 pandemic, however, it was not evident in this research whether this practice has become a component of the curriculum in their contexts.
Keywords: Curriculum. Technologies. Active Methodologies.
1. Introdução
O mundo conectado mediado por diferentes tecnologias facilita a divulgação de informações, transforma as relações comerciais, de trabalho, interpessoais, educacionais, políticas, ou seja, todos os contextos da sociedade são transformados por esta inovação constante. A escola e os demais espaços educacionais não são uma ilha, os sujeitos que circulam e habitam por ali utilizam as tecnologias para diversos fins.
Os anos de ensino tradicional e metodologias engessadas em nosso país evidenciaram o fracasso nas habilidades de leitura, escrita, resolução de problemas matemáticos, operações básicas e outros (Ferreira & Pauli Teixeira, 2021). Por outro lado, estudos destacam as vantagens de enriquecer o currículo escolar com uso das Tecnologias Digitais (TD) e Metodologias Ativas (MA), (Scherer & Brito, 2020; Magalhães et al., 2023; Andrade et al., 2023).
Compreendendo a necessidade de pensar um currículo educacional que contemple como estratégias de ensino as TD e as MA este artigo realizou um estudo bibliográfico abordando de forma prática esse tema.
Esta pesquisa em um primeiro momento apresenta os conceitos isolados de currículo, tecnologias e metodologias ativas, desta feita, tais concepções são debatidas em perspectiva de um currículo com parte integrante da TD e MA, através de autores levantados. Em seguida é apresentado um exemplo prático e analisado os prós e contras desta experiência.
2. Currículo, tecnologias e metodologias ativas
O tema currículo tem um leque de óticas conceituais, no entanto, não intencionamos nos aprofundar nesse debate, desta feita, acolheremos o conceito de que “[…] o currículo também tem o sentido de construir a carreira do estudante e, de maneira mais concreta, os conteúdos deste percurso, sobretudo sua organização, aquilo que o aluno deverá aprender e superar e em que ordem deverá fazê-lo” (Sacristán, 2013, p. 16).
Em nosso país uma parte do currículo conhecida como Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2015), é pré-estabelecida com objetivo de assegurar uma equidade de conhecimento. Consecutivamente, cada esfera educativa junto com seus pares pode compor os conteúdos pertinentes as suas necessidades, assim como, estabelecer as estratégias, recursos e metodologias que serão parte integrante do seu currículo.
Com respeito a estratégias e metodologias podemos destacar o potencial do uso das tecnologias digitais combinadas com as metodologias ativas. As “[…] tecnologias digitais de informação e comunicação perpassem barreiras como tempo e espaço e, atualmente, os muros e paredes das escolas pautadas em diversos critérios com o objetivo de tornar o ensino mais atrativo e inserido na realidade social” (Magalhães et al., 2023, p. 5).
O maior objetivo do processo de ensino-aprendizagem por meio da tecnologia é fomentar a formação de alunos mais ativos e criativos de modo que o educador e a tecnologia se tornem mediadores desse processo, onde ambos congregam e fazem com que a aprendizagem seja mais eficaz (Andrade et al., 2023, p. 77).
Isso significa que as TD podem proporcionar aos alunos entendimentos mais amplos de conceitos abstratos, conhecer lugares por meio de visitas virtuais, explorar conceitos através de simulações, vídeos, realidades vitual, realidade aumentada, entre outras.
As MA “[…] dão ênfase ao papel de protagonista do aluno, ao seu envolvimento direto, participativo e reflexivo em todas as etapas do processo” (Moran, 2018, p. 4).
Existem diferentes tipificações de MA, entre estas, podemos destacar as pesquisas de Velozo e Gomes (2023) no qual evidenciam as mais conhecidas pelos professores do ensino Fundamental (Tabela 1).
Tabela 1 – Metodologias Ativas conhecidas pelos professores
A tabela acima citada frisa as MA mais conhecidas pelos professores, todavia, isso não representa que estes usem estas em sua prática pedagógica (Velozo & Gomes, 2023). Uma grande característica na abordagem da MA está no fato de que “[…] aprender de forma ativa envolve a atitude e a capacidade mental do aluno buscar, processar, entender, pensar, elaborar e anunciar, de modo personalizado, o que aprendeu. Muito diferente da atitude passiva de apenas ouvir e repetir os modelos prontos” (Ferrarini, Saheb & Torres, 2019, p. 5).
O que dizer de um currículo pensado e projetado com a presença de TD e MA.
Em suas pesquisas os autores Magalhães (2023) corroboram que:
Portanto, foi possível perceber que a associação entre as metodologias inovadoras, as novas tecnologias associadas à interatividade dos dias atuais, as quais a partir de interfaces cada vez mais intuitivas, permitir a ação do usuário sobre o conteúdo, se apresenta enquanto alternativa que contribui para a interação e a socialização do conhecimento.
[…]
Conclui-se que reflexões pertinentes à utilização das novas tecnologias, metodologias inovadoras em meio à interatividade são temas imprescindíveis na composição de um currículo inovador em uma era marcada pela conectividade em rede (Magalhães et al., 2023 p. 7, 8).
Observamos nas conclusões acima as possibilidades um ambiente de aprendizagem com os alunos motivados, com maior interação e autonomia para participarem do seu processo de aprendizagem. “Notadamente, a aplicação combinada das metodologias ativas e das tecnologias digitais favorecem um aprendizado mais efetivo e significativo aos alunos” (Velozo & Gomes, 2023, p. 8). A seguir iremos caracterizar uma experiência de aprendizagem prática que possui um currículo projetado com tecnologias digitais e
2. 1 Aprendizagem significativa através da prática
Abordaremos o estudo prático realizado na escola Padre Vitaliano Maria Vari em Capitão Poço no Pará feito por Melo (2023). A autora objetivou aplicar a MA da gamificação e as TD para trabalhar a área de linguagens com alunos do 1°, 2° e 3° ano do Ensino Médio.
A autora justifica sua escolha de incluir no currículo a estratégia das TD e a MA, pois, “[…] julgou-se importante refletir sobre as metodologias ativas de ensino como ferramentas que contribuem para um dos objetivos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC): o protagonismo estudantil. Simultaneamente, potencializa as práticas positivas dos professores da área de Letras” (Melo, 2023, p. 12). Durante a pesquisa foi criado coletivamente com os alunos do 1°, 2° e 3° ano do Ensino Médio o jogo roleta das linguagens (Imagem 1, 2).
A estrutura, objetivo e instruções de jogo segundo a autora são:
Roleta, 32 cartas com questões, manual de instruções. Responder o maior número de cartas corretamente, acumulando pontos. De 2 a 6 jogadores, acima de 14 anos, alunos do 1ª, 2ª e/ou 3ª anos do Ensino Médio, com a mediação de um tutor que pode ser um docente da área de Linguagens: Língua Portuguesa, Língua Estrangeira, Educação artística e Educação Física. O primeiro jogador deve girar a roleta, que terá 8 tópicos, que são: pergunta 5pts (Nível fácil); pergunta 10pts (Nível Médio); pergunta 50pts (Nível difícil); passa a vez; hora da prática (prendas); Ao girar a roleta, a seta indicará o nível da pergunta, então o mediador deverá pegar a carta correspondente e fazer a pergunta com quatro alternativas, apenas uma opção é considerada correta, a resposta certa está descrita de cabeça para baixo na carta em fonte pequena; Caso a resposta esteja certa, o aluno poderá girar a roleta novamente; O próximo jogador terá a vez, quando o participante anterior errar, ou quando a roleta parar na opção “passa a vez”. Ganha quem fizer o maior número de pontos. A premiação pode ser pontos ou até bombons, chocolates, um “vale cantina”, etc. (Melo, 2023, p. 22).
Durante a pesquisa todos os alunos do Ensino Médio jogaram a roleta das linguagens o que proporcionou grande interatividade e integração a conteúdos que outrora eram expositivos e com praticamente nenhuma participação discente (Melo, 2023).
Os participantes ao finalizarem expressaram a vontade de que o jogo tivesse cards novos para que pudessem continuar jogando. Além de que, comprovadamente o estudo “[…] proporcionou contribuições quanto às metodologias para o processo de ensino e aprendizagem na área de línguas no currículo do novo ensino médio da Escola Padre Vitaliano Maria Vari, em Capitão Poço, Brasil” (Melo, 2023, p. 24).
Diante do exposto, notamos o quão é potencializador a concepção de um currículo que integre não somente conteúdos basais e importantes, sobretudo, metodologias inovadoras e tecnologias que garantam ao aluno uma aprendizagem verdadeira e significativa. Identificamos exatamente esta preocupação na pesquisa de Melo (2023), entretanto, este estudo não encontrou práticas recentes para além do contexto de pandemia de COVID-19 em séries iniciais e finais do Ensino Fundamental.
3 Considerações Finais
As tecnologias digitais estão presentes em nosso dia a dia e o contexto educacional não pode se manter alheio a este fato. O ensino repetitivo, mecânico, descontextualizado, desplugado das tecnologias digitais e que considera o aluno como passivo no processo de ensino-aprendizagem somente produz o fracasso escolar.
Não cabe somente responsabilizar o professor por dizer que a este deve ser dado formação continuada, pois, em um estudo como este não se acha pesquisas práticas que versam sobre tecnologias digitais, currículos e metodologias ativas em seguimentos outros que não seja o Ensino Superior e com somente um achado no Ensino Médio. Podemos nos perguntar será responsabilidade apenas dos professores dos demais seguimentos não conseguirem incorporar as tecnologias digitais e as metodologias ativas nos currículos?
Quando esses em seu dia a dia gritam e lutam por condições de trabalho menos insalubres, quando são uma das poucas profissões que compram seus instrumentos de trabalho, a saber, pilot, apagador, cartolina, tesoura entre outros. E muitas vezes compram para os discentes lápis, borracha, caderno, entre outros.
Infelizmente as realidades distintas como faltas de aparelhos eletrônicos, conectividade e autonomia para decidir sobre o currículo podem impedir que os docentes realizem trabalhos voltados para o tema desta pesquisa, contudo, compreendendo a importância deste assunto recomendamos maiores pesquisas futuras nesta área.
Referências Bibliográficas
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Velozo, D. S.; & Gomes, M. A. S. Metodologias ativas e suas contribuições no ensino-aprendizagem nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Ciências Humanas. V. 28. Edição 129. Dezembro de 2023. Disponível em: https://revistaft.com.br/metodologias-ativas-e-suas-contribuicoes-no-ensinoaprendizagem-nas-series-iniciais-do-ensino-fundamental/. Acesso em: 20/07/2024.
¹Mestre em Diversidade e Inclusão pela Universidade Federal Fluminense – UFF. E-mail: michellyamarantedasilva@gmail.com
²Graduação em Educação Física pela Universidade Estácio de Sá. Especialização em Psicopedagogia. Mestrando em Tecnologias Emergentes em Educação pela Must University. E-mail: ellisgomesagostinho@yahoo.com.br