PERITONITE INFECCIOSA FELINA: RELATO DE CASO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410172019


Ariane Cristina dos Santos1;
Luiz Francisco Sanfilippo2;
Ricardo Luiz Alvarez Ferreira3;
Sandra Rocha Santos4


RESUMO

A Peritonite Infecciosa Felina (PIF) é uma doença fatal dos felinos, causada por um coronavírus entérico e é caracterizada por vasculite e serosite fibrinosa. A doença pode ser efusiva (úmida) caracterizada pelo acúmulo de líquido na cavidade torácica/abdominal, ou não efusiva (seca).. O diagnóstico da PIF é feito por meio da avaliação do histórico, achados clínicos, resultados laboratoriais e exclusão de doenças semelhantes. O diagnóstico definitivo é realizado por meio da necropsia e histopatologia. Essa pesquisa tem como objetivo relatar a ocorrência e o tratamento de PIF, com o uso de GS-441524, em um gato com sete meses de idade, sem raça definida, macho, castrado, pesando 2.750 kg. Este apresentou anorexia, inapetência, letargia, perda de peso, febre de 40,1 °C, diarreia, icterícia, abdômen distendido, sem presença de líquido na cavidade abdominal, constatado pela ultrassonografia, e uveíte no globo ocular esquerdo. Tanto os sinais clínicos quanto o resultado dos exames laboratoriais foram compatíveis com a doença. Estudos publicados nos últimos tempos têm demonstrado resultados promissores no uso da molécula GS-441524 para o tratamento da PIF. Sendo assim, o animal foi submetido a um tratamento de 12 semanas com o medicamento apresentando, logo após, melhora significativa no quadro e sem recidiva até o presente momento.

Palavras chave: peritonite infecciosa felina, coronavírus felino, vasculite, serosite, GS441524.

ABSTRACT

Feline Infectious Peritonitis (FIP) is a fatal feline disease caused by an enteric coronavirus, characterized by vasculitis and fibrinous serositis. The disease can be effusive or wet, characterized by fluid accumulation in the thoracic/abdominal cavity, or non-effusive (dry), without effusion. The diagnosis of FIP is made through the evaluation of history, clinical findings, laboratory results, and exclusion of similar diseases. A definitive diagnosis is made through necropsy and histopathology. This publication aims to report the occurrence and treatment of FIP using GS-441524 in a 7-month-old male, neutered, mixed breed cat weighing 2.750 kg, presenting with anorexia, inappetence, lethargy, weight loss, fever of 40.1°C, diarrhea, jaundice, distended abdomen without the presence of fluid in the abdominal cavity (as confirmed by ultrasound), and uveitis in the left eyeball. Both clinical signs and laboratory test results were consistent with the disease. Recent studies have shown promising results in the use of the molecule GS-441524 for the treatment of FIP. Thus, the animal underwent a 12-week treatment with the medication, showing significant improvement in the condition and no recurrence to date.

Keywords: feline infectious peritonitis, feline coronavirus, vasculitis, serositis, GS-441524.

INTRODUÇÃO

A peritonite infecciosa felina (PIF) é causada por um coronavírus. É uma doença viral sistêmica caracterizada por início insidioso e alta mortalidade. Acomete gatos de todas as idades, embora seja mais observada em felinos entre três meses a três anos ou acima de dez anos de idade. O coronavírus felino (FCoV) se replica localmente, nas células epiteliais do trato respiratório superior ou da orofaringe (TILLEY, 2003, p. 696).

 É mais comum em locais com alta densidade populacional de gatos devido a uma maior contaminação viral e aumento do número de cepas, expondo os animais a altas concentrações virais nas fezes (ETTINGER, 1997, p. 93). Outros fatores que influenciam o aparecimento da PIF são estresse, susceptibilidade genética, doenças intercorrentes, via de infecção e imunocompetência mediada por células (NORSWORTHY, 2004, p. 250). O vírus pode se disseminar pela via oronasal ou por inoculação direta (por mordidas ou lambedura de feridas abertas). Além do que, a transmissão no útero também pode ocorrer. A eliminação do vírus pode ocorrer via fecal, pois, após a infecção, o vírus se replica no epitélio intestinal (CARLTON, 1995, p. 401).

 Essa doença tem como agente etiológico o chamado Coronavírus Felino (FCoV), que é um agente viral podendo ocorrer em dois biótipos distintos: o coronavírus entérico felino (FECoV) e o vírus da PIF, sendo o segundo uma mutação do primeiro. 

 A PIF é uma doença com sintomatologia pouco específica (ADDIE et al., 2009, p. 601) e, de fato, os sinais clínicos observados são muito diversos, incluindo uma combinação de perda de peso, anorexia, dilatação abdominal (PIF efusiva), hipertermia, prostração, linfoadenomegalia, mucosas pálidas e/ou ictéricas, hiperproteinemia e hipoalbuminemia, dispneia, diarreia, sinais neurológicos e oculares (a maioria na forma não efusiva) (BARROS, 2014, p. 11).

 A perda de peso e a anorexia são os sinais clínicos mais frequentes, seguidos da febre não responsiva ao tratamento. Estes sinais são comuns a ambas as formas da doença, não permitindo distingui-las. A distensão abdominal é o sinal mais evidente na forma efusiva de PIF. A dispneia inspiratória também é encontrada com frequência, principalmente, em pacientes com efusão abdominal, concluindo-se que a causa desta alteração respiratória está associada à compressão diafragmática provocada pela ascite.  Relativamente aos exames complementares, o achado mais comum no hemograma é a trombocitopenia. A trombocitopenia pode refletir a presença de coagulação intravascular disseminada (CID) ou destruição plaquetária imunomediada (SYKES, 2014, p. 61).

As principais alterações encontradas no leucograma são linfopenia e leucocitose por neutrofilia. O diagnóstico na PIF pode ser difícil por causa da variabilidade das manifestações clínicas e do tempo de incubação (MINOVICH, 2003, p. 05). Todavia, em muitos casos, pode ser feito por meio da avaliação do histórico, achados clínicos, resultados laboratoriais, título de anticorpos para coronavírus e exclusão de doenças semelhantes (NORSWORTHY, 2004, p. 250). Porém, atualmente, a única maneira de realizar diagnóstico definitivo de PIF é pela histopatologia de tecidos coletados em necropsia ou biópsia. A avaliação da efusão tem grande importância no diagnóstico presuntivo de PIF (NELSON, 2001, p. 376).

 A PIF não é controlada facilmente, requer a eliminação do vírus do ambiente mediante alto padrão de higiene, quarentena, medidas imunoprofiláticas e, principalmente, manejo dos filhotes e de mães soropositivas para FCoV. Estes devem ser desmamados precocemente para interromper, assim, a transmissão viral. O tratamento pode ser realizado com prednisolona, ciclofosfamida e outros interferons imunossupressores que proporcionam a resposta temporária quando combinados ao tratamento suporte. O tratamento auxiliar pode ser feito com intervenção para o fortalecimento nutricional, fluidoterapia e remoção dos líquidos efusivos (NORSWORTHY, 2004, p. 249).

Atualmente, algumas moléculas com ação antiviral têm sido estudadas para o tratamento da PIF, entre elas está o GS-441524. Estas medicações provaram ter um certo efeito terapêutico sobre o a PIF. Alguns autores (PEDERSEN, N. C., PERRON, M., BANNASCH, M., MONTGOMERY, E., MURAKAMI, E., LIEPNIEKS, M., & LIU, H. 2019, p. 279) indicaram que uma combinação de medicamentos anticoronavírus potentes, e de amplo espectro, pode aumentar a eficácia e reduzir o surgimento de resistência aos medicamentos. Essa molécula inibe a replicação viral de duas maneiras muito diferentes, seja ao encerrar a transcrição do RNA viral ou ao bloquear a clivagem da poliproteína viral. O GS441524 é uma molécula pequena, análoga de nucleosídeo, que exibe atividade antiviral potente contra uma série de vírus de RNA, incluindo o coronavírus e, por isso, tem uma maior facilidade em adentrar as células (CAN-SAHNA, et al., 2007). Murphy, et al., (2018, p. 226) explana a hipótese existente de que o GS-441524 seria ativado em células felinas, atenuaria a replicação do vírus da PIF, teria baixa citotoxicidade em células felinas in vitro e trataria os gatos com a doença de forma eficaz. Os estudos de Pedersen, et al., (2019, p. 280) demonstram resultados promissores. A dose utilizada é de 2mg/kg a cada 24 horas por via subcutânea durante um mínimo de 12 semanas. No relato, 83% dos gatos sobreviveram às 12 semanas de tratamento. Destes, apenas 30% voltaram a recidivar e, após terem sido novamente submetidos ao protocolo de tratamento, alcançaram a remissão.

Alguns fatores levam ao prognóstico negativo, demonstrando um agravamento da doença, sendo esses a presença de efusão e a linfopenia (ADDIE, et al., 2009, p. 601). Estudos demonstram que o hematócrito, a contagem de linfócitos e as concentrações de albumina sérica, sódio, potássio e de globulinas diminuem com a progressão da doença, enquanto que a concentração de bilirrubina total e a das enzimas hepáticas aumentaram (TSAI, et al., 2011, p. 75).

A eutanásia deve ser considerada em gatos com doença severa que não respondem ao tratamento suporte num período de três dias (ADDIE, et al., 2009, p. 595).  No entanto, o prognóstico para gatos com PIF é sempre reservado, pois se trata de uma doença invariavelmente fatal. Quase todos os gatos com efusão diagnosticada morrem dentro de dias ou semanas. Em alguns casos, eles podem desenvolver a forma não-efusiva de PIF depois da resolução da efusão com tratamento.

Gatos com PIF não-efusiva podem sobreviver até um ano com tratamento suporte, desde que a doença seja diagnosticada numa fase inicial e antes de serem evidentes sinais neurológicos ou anorexia (RAMSEY; TENNANT, 2001, p. 160). 

Dessa maneira, essa pesquisa visa discorrer, por meio da exposição de caso apropriado e acompanhado, que GS-441524 é um antiviral promissor para o tratamento da PIF em gatos.  

OBJETIVO 

O objetivo desse relato de caso, sobre o uso do GS-441524, para o tratamento de PIF, é o de descrever detalhadamente o histórico do paciente, incluindo sinais clínicos, diagnóstico e evolução da doença, além de avaliar a eficácia do GS-441524, destacando a resposta clínica do paciente e a evolução dos sintomas. Também buscou-se identificar quaisquer efeitos adversos observados durante o tratamento e fornecer dados adicionais que possam ajudar outros veterinários e pesquisadores a entenderem melhor o uso desse medicamento no tratamento da PIF.

MATERIAIS E MÉTODOS

 Para o desenvolvimento do presente estudo, foram realizadas revisões sistemáticas de literatura já publicadas sobre o assunto, em livros, artigos científicos (papers), dissertações de mestrado e teses de doutorado a respeito do tema. Tal revisão bibliográfica teve como base as seguintes palavras chaves: peritonite infecciosa felina, coronavírus felino, vasculite, serosite, GS-441524. Entre as bases de dados científicos acadêmicos, pode-se citar tais como: SciELO.org, Google Academy, Academia.Edu, BVS-VET, Repositório da USP, todos com datas referentes aos últimos 20 anos e conforme disponibilidade de produções intelectuais durante o processo de desenvolvimento do mesmo.

RELATO DE CASO

Foi atendido em um Hospital Veterinário, em setembro de 2022, um paciente felino, sem raça definida (SRD), macho, com sete meses de idade, castrado, microchipado, pesando 2,750 kg; procedente de um abrigo, vacinado para raiva e primeira dose de V4; para dar continuidade ao protocolo vacinal. Após vinte e um dias, o animal retornou ao hospital para coleta de sangue, já agendada, para teste de FIV/FELV e aplicação da terceira dose de V4.  No final de novembro do mesmo ano, o paciente passou por nova consulta com queixa principal de que há uma semana o animal apresentava apatia, hiporexia, episódios de tosse bem proeminente, temperatura ao toque um pouco acima do normal, êmese sem tricobezoar e espirros esporádicos. No exame físico durante a inspeção, o paciente se apresentava discretamente ictérico, oscilando o comportamento entre estado mais alerta, discretamente prostrado com desidratação em grau leve (6%) e abdominalgia de leve a moderada durante a palpação. Os demais parâmetros estavam normais. Foram solicitados o hemograma, pesquisa de hematozoários teste para giárdia, PCR para Mycoplasma sp e ultrassom abdominal para auxiliar o diagnóstico. Foi medicado com antiemético, protetor gástrico, redutor da dor e estimulante de apetite.

O resultado do hemograma apresentou alterações como trombocitopenia, com valores de plaquetas de 108.000 células/μl, anisocitose, policromasia e icterícia. O teste para giárdia apresentou resultado positivo. O PCR para Mycoplasma sp obteve resultado negativo, assim como o teste para hematozoários. O ultrassom evidenciou alterações tais como: ecogenicidade reduzida do fígado, íleo com discreta perda de estratificação de camada e hipoecóico, abdômen caudal esquerdo apresentando um pequeno segmento intestinal de aproximadamente 1,80 cm de comprimento com paredes espessas e com perda de estratificação de camada, medindo cerca de 0,30 cm, e aumento de linfonodo mesentérico e cólico de aspecto homogêneo e hipoecogênico, medindo respectivamente cerca de 1,57 cm x 0,39 cm e 1,42 cm x 0,52 cm. 

 A giardíase foi tratada com a utilização de Giardicid Suspensão (BID durante 5 dias), iniciada após coleta de exames complementares de: bilirrubina total e fracionada, ureia, albumina, ALT e GGT para melhor avaliação da função hepática.  Antes da coleta de sangue programada, o paciente apresentou aumento da temperatura corporal para 39,7 ºC sem novos episódios de êmese. O exame demonstrou aumento da ALT (399,10 UI/L) e um aumento dos níveis de bilirrubina indireta (0,52 mg/dl). Para melhora da função hepática, foi indicado o uso de ácido ursodesoxicólico (50 mg SID por 30 dias) e Predsin (0,8 ml BID por 4 dias).  Cinco dias depois, o paciente voltou em consulta no hospital sendo relatada letargia, temperatura corpórea aumentada, protrusão bilateral aguda da terceira pálpebra e hiporexia, com piora após termino da medicação. Foi então realizado ultrassom controle e nova coleta de sangue.

 O ultrassom exibiu melhora, comparado ao anterior, mas o fígado ainda apresentou ecogenicidade reduzida, vesícula biliar repleta por conteúdo anecóico com discreto material amorfo ecoico sobrenadante (lama biliar), baço com dimensões aumentadas, aumento de linfonodo cólico de aspecto homogêneo e hipoecogênico, medindo cerca de 0,96 cm x 0,66 cm e jejuno apresentou estratificação parietal preservada, porém alguns segmentos com camada submucosa mais proeminente indicativo de doença inflamatória intestinal.  Foi mantida a medicação de base já prescrita com uso de anti-inflamatório, protetor gástrico, controlador da dor e promotor de apetite.

Após duas semanas, foi realizado o retorno do paciente tendo esse passado em outro hospital e tratado com Doxitec (50 mg ½ comprimido SID), SAMESID, Macrocard Pet (½ comprimido SID), obtendo melhora clínica. Na ocasião, foi realizada pesquisa através de exames para Coronavírus, Salmonela, Campylobacter, Clostridium, Cryptosporidium, Giárdia, Toxoplasma, Tritrichomonas, sendo todos os resultados negativos. A nova queixa foi o aparecimento, no dia anterior, de opacidade no olho esquerdo com fotossensibilidade. Foi constatada opacidade de córnea e presença de névoa branca no globo ocular esquerdo. Para o animal, portanto, foi indicado o uso de Tobradex colírio (1 gota no globo ocular esquerdo, a cada 12 horas, durante 7 dias) e Systane colírio (1 gota no globo ocular esquerdo, a cada 8 horas, durante 7 dias), com uso obrigatório de colar elisabetano.

 Em nova consulta, após vinte sete dias do ocorrido, o paciente apresentava piora progressiva do quadro com hiporexia, adipsia, oligúria, diarreia, êmese e diminuição da acuidade visual, chegando a chocar-se em objetos. Constatou-se, também, secreção nasal unilateral persistente, estado febril (39,5 ºC), com perda de peso expressiva (2,290kg).

Uma semana após, o paciente foi internado por 8 dias, em que, no decorrer da mesma, demonstrou uma evolução positiva no quadro. Nas primeiras 48hrs apresentou episódios epiléticos e sintomas neurológicos, amaurose, ausência de reflexo à ameaça, pouca responsividade de pupilas ao foco luminoso, midríase, decúbito lateral, dificuldade de apreensão de alimento, retenção urinária (necessitando de massagem vesical para esvaziamento), com normorexia e normodipsia, auxiliada e, apesar de todo o quadro, o hemograma demonstrou uma leucopenia que foi tratada com Filgrastim. 

Após 48hrs apresentou resposta positiva em hemograma controle, porém permaneceu com sintomas neurológicos. Foi coletado novamente amostra para hemograma e para realização de exame para Coronavirus Felino (PIF-IgG), metodologia ELISA (ImmunoComb Peritonite Infecciosa Felina – PIF), tendo este como resultado S5, o que caracteriza reação positiva forte – Paciente altamente suspeito para PIF (associar o resultado aos sinais clinicos).

O paciente permaneceu ainda oito dias internados e no quinto dia foi iniciado o tratamento da PIF com GS-441524. Houve melhora gradativa do quadro tendo o paciente recuperado parcialmente a visão, voltando a deambular e conseguindo apreender alimento normalmente.  

Foi necessário realizar reposição de potássio e cálcio nas últimas 72h de internação, todavia o paciente respondeu de forma positiva, apresentando melhora da icterícia. No entanto, o hematócrito apresentou diminuição gradativa. As medicações realizadas durante a internação para controle dos sintomas foram omeprazol, ondansetrona, prednisolona, fenobarbital, ampicilina + sulbactam, acetilcisteína, simeticona e Peg Lax.

A posologia utilizada no tratamento com GS, no primeiro e segundo dia, foi de 0,55 ml/kg. No terceiro dia houve a necessidade de ajustar a dose para 0,3 ml/kg. Do quarto ao sexto dia, a dose foi novamente aumentada para 0,5ml/kg. Do sétimo dia em diante, a dose diária foi fixada em 0,3 ml/kg por mais 77 dias, completando 12 semanas de tratamento.

Durante a internação, foram realizados hemograma, hemogasometria e A-fast para o controle da evolução do quadro. O paciente obteve alta da internação após a estabilização dos parâmetros e de resultados de exames satisfatórios. Durante os outros 77 dias de tratamento, o paciente foi monitorado por meio da realização dos exames supracitados periodicamente.  

Após as 12 semanas, sem recidiva do quadro, o tratamento com GS deu-se por finalizado. Lembrando que, mesmo com o sucesso do tratamento, é preciso que o paciente continue a ser monitorado por profissionais.

DISCUSSÃO

O presente relato de caso descreve o tratamento de um gato diagnosticado com PIF utilizando o análogo de nucleosídeo GS-441524. A PIF é uma doença viral grave, frequentemente fatal, causada por uma mutação do coronavírus felino. Tradicionalmente, o tratamento da PIF tem sido limitado a cuidados paliativos, com foco na melhoria da qualidade de vida do animal, uma vez que não havia tratamento eficaz conhecido conforme explica o trabalho de Cardoso (2022, p. 05).

Como já mencionado anteriormente, o GS-441524 é um antiviral que tem sido utilizado no tratamento da PIF, uma doença grave causada pelo coronavírus felino e caracterizada no caso estudado por inflamação, podendo afetar várias partes do corpo, causando sintomas diversos e, muitas vezes, fatais. O procedimento, em razão das exposições circunstanciais que tiveram efeito positivo, foi replicada.

Nesse caso, o paciente apresentou sinais clínicos clássicos de PIF não efusiva, incluindo letargia, anorexia, febre persistente, uveíte e perda de peso (MASSITEL, et al., 2021, p. 02).  

Apesar de a biopsia intestinal ter sido recomendada aos tutores como diagnóstico definitivo (HARTMANN, et al., 2005, p. 42), devido aos riscos e ao estado clinico do animal, os mesmos optaram por um método não invasivo.

A suspeita da doença, juntamente com os sinais clínicos e o resultado S5 do teste de ELISA, levaram ao diagnóstico de PIF (ALMEIDA, et al., 2019, p. 128). O tratamento com GS foi iniciado, seguindo um protocolo de dosagem baseado em estudos anteriores que demonstraram a eficácia do medicamento para o controle da doença.

Os resultados observados nesse caso foram promissores. O paciente mostrou uma melhora significativa nos sinais clínicos após alguns dias de tratamento, com retorno do apetite e melhora na responsividade, propriocepção e retorno total da visão. Esses achados estão em consonância com estudos anteriores que relataram uma alta taxa de sucesso no uso de GS-441524 para o tratamento da PIF.

Durante o processo de tratamento, foram observados alguns efeitos colaterais leves, como reações no local da injeção. No entanto, esses efeitos foram manejáveis e não comprometeram a continuidade da intervenção medicamentosa. A identificação e a administração dos efeitos colaterais são cruciais para garantir a segurança e o bem-estar do paciente durante o método de tratamento.

CONCLUSÃO

A PIF continua a ser uma doença desafiadora e complexa, grave e frequentemente fatal, em razão da falta, no momento, de uma cura definitiva. Apesar de os avanços recentes terem melhorado as opções de diagnóstico e tratamento, a luta contra a PIF está longe de estar concluída e necessita urgentemente de mais discussões e pesquisadores empenhados em seus desdobramentos. Aumentar a conscientização e promover a educação sobre a doença são passos importantes para melhorar o manejo clínico e a qualidade de vida dos gatos afetados. A continuidade da pesquisa e o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas serão fundamentais para enfrentar esse desafio e oferecer melhores perspectivas para os gatos e seus cuidadores. Nesse caso, a terapia deve incluir o uso de glicocorticoides para controle dos sintomas inflamatórios e, possivelmente, o uso de medicamentos antivirais emergentes, como o GS-441524. 

O relato destaca a necessidade de um tratamento individualizado e a importância de monitorar a resposta ao tratamento e ajustar conforme necessário. Destaca, também, os desafios e as complexidades associadas ao diagnóstico e ao tratamento dessa doença devastadora. 

Embora o tratamento possa oferecer algum alívio e melhorar a qualidade de vida do gato, a PIF continua sendo uma condição difícil de manejar.  A combinação de tratamento sintomático com terapias específicas, acompanhada de uma abordagem de cuidados de suporte e um entendimento contínuo das opções terapêuticas emergentes, é essencial para otimizar os resultados. 

Os achados de exame físico, anamnese e exames complementares auxiliaram no diagnóstico do animal do presente relato. O tratamento realizado com GS-441524 mostrou-se positivo até o momento, demonstrando ter bom potencial como terapia para a PIF. 

Como o uso do GS-441524 baseia-se na sua capacidade de inibir a replicação do vírus, ajudando a controlar a infecção, esse estudo demonstra que o tratamento pode levar à melhora clínica significativa em muitos gatos afetados pela PIF, resultando na remissão da doença, em alguns casos.

Portanto, para elencar de forma resumida, o GS-441524, sendo esse antiviral promissor para o tratamento da PIF, podemos destacar alguns dos benefícios associados ao seu uso, que incluem:

– Eficácia: estudos têm mostrado que o GS-441524 pode ajudar a reduzir a replicação do vírus da PIF e melhorar os sintomas clínicos em gatos afetados;

– Segurança: em comparação com outros medicamentos, o GS-441524 tem demonstrado ser seguro e bem tolerado pelos felinos, com baixa incidência de efeitos colaterais graves;

– Melhora da qualidade de vida: o tratamento com GS-441524 pode ajudar a melhorar a qualidade de vida dos gatos com PIF, diminuindo a progressão da doença e aliviando os sintomas associados;

– Potencial de cura: em alguns casos, o GS-441524, tem mostrado potencial para curar completamente a PIF em gatos, proporcionando uma perspectiva positiva para a recuperação. 

Acerca de todo o conteúdo e como já supracitado, é fundamental relembrar que o tratamento deve ser supervisionado por um veterinário, que este possa determinar a dosagem e a duração adequada do tratamento, além de monitorar possíveis efeitos colaterais, pois, embora o GS-441524 tenha mostrado resultados promissores, a PIF continua sendo uma condição complexa e o sucesso do tratamento pode variar de acordo com o estágio da doença e as condições gerais de saúde do gato.

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