REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202412031846
Sayonara Maria Dantas de Figueirêdo
RESUMO
O período de transição das vacas leiteiras, são de extrema importância para a produção leiteira, nesse período é necessário que se monte estratégias para que o animal apresente seu potencial produtivo por completo, além disso, é nele que podem ocorrer inúmeras doenças que podem comprometer a produção leiteira. Diante disso, um bom planejamento zootécnico e um manejo adequado visando a nutrição das vacas leiteiras garantem saúde e produtividade ao rebanho leiteiro.
Palavras Chave: transição, leiteira, nutricional, parto, lactação, manejo.
1. INTRODUÇÃO
O período de transição na vaca leiteira é compreendido pelo intervalo de três semanas antes e após o parto, nessa fase ocorrem mudanças drásticas no estado fisiológico, nutricional, anatômico e comportamental das fêmeas o que irá prepará-las para o parto e produção de leite. Para se oferecer um suporte adequado às mesmas é necessário que o Médico Veterinário tenha conhecimento do seu estado fisiológico e nutricional da necessidade de ingestão de nutrientes adequados a fim de evitar patologias relacionadas a essa fase. Portanto deve-se realizar o manejo nutricional adequado desses animais, visando à saúde e condições ideais para a lactação.
2. REVISÃO DE LITERATURA
O período de transição em vacas leiteiras caracteriza-se por ser o período de três semanas que antecedem o parto até três semanas após o parto, esse período é considerado uma fase crítica e é de extrema importância para a saúde, produção e rentabilidade do animal. Mudanças adaptativas ocorrem durante a fase final da gestação e o início da lactação, pois nessa fase ocorre o aumento expressivo da demanda de nutrientes para a produção do leite (RABELO; CAMPOS, 2009).
Neste período ocorrem mudanças metabólicas que envolvem alterações no fígado, tecido adiposo, músculo esquelético e a ação dos hormônios envolvidos na lactogênese e manutenção da lactação (SANTOS, W; SANTOS,G., 2001). Com isso, as práticas de alimentação e manejo usadas nas últimas semanas da gestação e nas primeiras semanas pós-parto afetam profundamente a incidência de doenças no início do período de lactação (OLSON, 2002).
As mudanças endocrinológicas e diminuição da ingestão da matéria seca que ocorrem no final da gestação irão influenciar no metabolismo que mobilizará a gordura contida no tecido adiposo e aumentar as taxas de glicogênio (BERTIES et al., 1992).
Os níveis de concentração de insulina plasmática diminuem no período de transição e apresentam picos agudos no dia do parto (KUNZ et al.,1985). Ocorre resistência à insulina e mobilização de AGNE (ácidos graxos não esterificados) (PETTERSON et al.,1994).
Ocorre aumento das concentrações plasmáticas do hormônio do crescimento com o pico durante a parição e mantendo-se moderadamente elevados durante o início da lactação. A glicose aumenta no parto o que pode ser causado pelo crescimento das concentrações de glucagon e glicocorticoides, o aumento da glicose também está relacionado ao aumento de sua demanda pelo tecido mamário para a produção de leite (VAZQUEZ-ANON, 1994).
O início da lactação leva, de forma abrupta, as exigências de cálcio causando um desequilíbrio na concentração do mesmo, pois todas essas mudanças ocorrem em um curto período de tempo, sendo insuficiente para que o animal consiga ativar os mecanismos existentes no organismo para realizar a manutenção desse mineral, dessa forma os animais podem sofrer com a falta de cálcio e desenvolver uma doença metabólica-nutricional (SANTOS, W; SANTOS,G., 2001).
Observam-se mudanças na dinâmica do rúmen em vacas durante o início e término do período seco. Essas alterações são nutricionalmente provocadas antes que ocorra a indução fisiológica. A mudança de dieta com alta proporção de concentrado para outra com alto teor de fibra causa alteração na microbiologia e nas características do epitélio ruminal. Muito concentrado na dieta favorece a produção do lactato ao invés do propionato. Muita fibra favorece as bactérias celulolíticas e a produção de metano, desfavorecendo as bactérias que produzem propionato e as que utilizam lactato. Enfim, os produtos da fermentação influenciam o crescimento das papilas ruminais (DIRKSEN et al., 1985).
Durante o período de transição, o estado imunológico da vaca fica comprometido, sendo que a função dos neutrófilos e dos linfócitos sanguíneos fica deprimida, bem como a concentração de outros componentes do sistema imune também se encontra diminuída (GOFF; HORST, 1997).
A concentração de estrógeno e glicocorticoides, que são agentes imunossupressores, aumentam com a aproximação do parto. A ingestão da vitamina A, E e outros nutrientes essenciais ao funcionamento do sistema imunológico está diminuída com a redução da ingestão da matéria seca durante o período seco (GOFF; HORST, 1997).
Para que as vacas leiteiras consigam passar pelo período de transição adequada, sem que desenvolva nenhuma patologia relacionada à produção de leite, é necessário que se faça a adoção correta de técnicas alimentares específicas para cada fase do processo produtivo, uma fase de grande importância e que oferece suporte ao período de transição é a fase em que as vacas estão secas. O período seco dura em média 60 dias o que irá permitir a regeneração das células epiteliais desgastadas, um bom acúmulo de colostro e assegurar um bom desenvolvimento do feto, bem como completar as reservas corporais, caso estas ainda não tenham ocorrido (SANTOS et al.,2001).
Deste modo, no início do período seco os animais podem ser alimentados com uma pastagem de boa qualidade, feno, silagem e ou a combinação destes, no entanto, no final do período seco onde ocorre um grande aumento no crescimento fetal, existe uma elevação da pressão interna nos órgãos digestivos, diminuindo desta forma o espaço ocupado pelos alimentos, este fato, associado com a grande variação hormonal no período pré-parto, ou seja, um aumento nas concentrações sanguíneas de estrógeno e corticoides e uma queda nas concentrações de progesterona (CHEW et al., 1979), reduz o consumo de matéria seca em até 30%, predispondo o animal a um balanço energético negativo .
A fase mais crítica na vida da vaca leiteira se situa nos primeiros 21 dias de lactação, onde ocorre a maior intensidade de mobilização de gordura e em menor proporção proteína corpórea, principalmente tratando-se de vacas de alta produção (CHILLIARD et al., 1983).
Em rebanhos manejados adequadamente, onde as vacas primíparas são agrupadas separadamente das multíparas, e têm acesso a uma dieta de transição bem formulada, há uma ocorrência mínima de animais com baixa produção, nos primeiros 3 meses do pós-parto (SANTOS et al.,2001).
Nas últimas 24 semanas de lactação a ingestão de alimentos pelo animal atende facilmente as suas necessidades de mantença e produção e ainda sobram nutrientes para o ganho de peso, desta forma, a concentração de nutrientes pode ser reduzida para eliminar os desperdícios e evitar o caso dos animais excessivamente gordos e também minimizar os gastos com alimentação (SANTOS et al., 1993).
3. CONCLUSÃO
O Período de transição é considerado, metabolicamente, a fase mais crítica durante a vida das vacas, pois é nele que ocorrem as maiores mudanças fisiológicas em seu organismo, o que requer grandes adaptações para que assim seja possível a produção de leite adequada para suprir as necessidades da cria. Diante disso, o conhecimento de tais mudanças, o planejamento de dietas de suporte adequadas e o manejo antes do parto são de suma importância para que os animais consigam atingir o máximo de sua produção leiteira sem afetar sua saúde.
REFERÊNCIAS
BERTIES, S. J. et al. Effect of prepartum dry matter intake on liver triglyceride concentration and early lactation. J. Dairy Sci. v. 75, p. 1914-1922, 1992.
CHEW, B.P., ERB, R.E., FESSLER, J.F. et al., Effects of ovariectomy during pregnancy and of prematuraly induce parturation on progesterone, estrogens, and calving traits. J. Dairy Sci., v.62, p.557-566, 1979.
CHILLIARD, Y.; REMOND, B.; SAUVANT, D.; VERMOREL, M. Particularités du métabolisme énergetique. In: Particularités nutritionnelles des vaches à haut potentiel de production. Bull. Tech. CRZV, v.53, p.37-64, 1983.
DIRKSEN, G. U.; LIEBICH, I. I. G.; MAYER, E. Adaptive changes of the ruminal mucosa and their functional and clinical signifi cance. Bovine Pract. v. 20, p. 116-120, 1985.
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KUNZ, P. L. et al. Effects of different energy intakes before and after calving on food intake, performance and blood hormones and metabolites in dairy cows. Anim. Prod. v. 4, p. 219-231, 1985.
OLSON, J. Estratégias de nutrición para vacas en transición. Hoard’s Dairyman, no. 88, abril, p. 288, 2002.
PETTERSON, J. A., R. SLEPETIS, R. A. EHRHARDT, F. R. DUNSHEA, AND A. W. BELL. Pregnancy but not moderate undernutrition attenuates insulin suppression of fat mobilization in sheep. J. Nutr. 124:2431-2442. 1994.
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SANTOS, G.T., PRADO, I.N., BRANCO, A.F. Aspectos do manejo do gado leiteiro especializado. Universidade Estadual de Maringá. 1993. 23 p. (Apontamentos, 22).
SANTOS, J.E.; SANTOS, F.A.P.; JUCHEM, S.O. Monitoramento do manejo nutricional em rebanhos leiteiros. In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia (38: 2001 : Piracicaba). Anais… CD-ROM, p. 1-18.
SANTOS, Wallacy Barbacena Rosa dos; SANTOS, Geraldo Tadeu dos. Dieta Aniônica, no Período de Transição, para Vacas Leiteiras. Maranhão, jan. 2001.
VAZQUEZ-ANON, M., S. J. BERTICS, M. LUCK, AND R. R. GRUMMER. Peripartum liver triglyceride and plasma metabolites. J. Dairy Sci. 77:1521-1528. 1994.