PERFIL E PREVALÊNCIA SOCIOEPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS SOROPOSITIVOS PARA HIV NOTIFICADOS NO ESTADO DO TOCANTINS ENTRE OS ANOS DE 2018 A 2022

Socioepidemiological profile and prevalence of HIV seropositive cases reported in the State of Tocantins between 2018 and 2022

Perfil socioepidemiológico y prevalencia de casos seropositivos al VIH notificados en el estado de Tocantins entre 2018 y 2022

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11182420


Daniele Pereira Dias1
Caio Costa Silva2
Mariani Dias Bezerra3
Suzanna Carreiro Costa4
Larissa Costa Ribeiro Leite5
Ketly Bruna Ribeiro Costa 6
Rúbia Caetano Cardoso7
Marllos Peres de Melo8
Euripedes Martins da Silva 9
Rômulo Caldeira de Souza Maia10
Alessandra Martins Correia11
Claudeilda de Morais Luna12
Orientadora: Kátia Bernardes Coelho13


RESUMO

O estigma e a epidemia da infecção por HIV persistem, apesar da evolução das estratégias de prevenção e terapia antirretrovirais. Para além de conhecer os efeitos gerados nos pacientes, se faz necessário conhecer o quantitativo dos portadores, para assim, ter uma melhor compreensão da doença. Diante desse cenário, esse estudo teve como objetivo analisar o perfil e a prevalência socioepidemiológica dos casos de HIV notificados no Estado do Tocantins, e reportar para a sociedade a realidade atual. No campo metodológico, tratou-se de um estudo epidemiológico descritivo, cujos dados foram obtidos por meio de consulta as bases de dados SINAN (Sistema de Informações de Agravos de Notificação), SIM (Sistemas de Informações sobre Mortalidade) e SISCEL (Sistema de Controle de Exames Laboratoriais da Rede Nacional de Contagem de Linfócitos CD4+/CD8 e Carga Viral), disponibilizados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), no endereço eletrônico (https://www2.aids.gov.br/cgi/deftohtm.exe?tabnet/br.def). Nos resultados encontrados, observou-se uma predominância de casos entre os homens, principalmente os heterossexuais, o que emerge uma urgência em ampliar as ações de prevenção abrangendo diferentes grupos sociais. Além disso, a infecção afetou especialmente adultos e jovens (30 a 49 anos e 20 a 29 anos respectivamente), com baixa escolaridade, evidenciando a necessidade de investimento em educação em saúde como estratégia na prevenção e controle da doença. Os dados ainda mostraram a população parda como maior incidência, realçando a precisão de ter políticas de saúde que combatam as desigualdades sociais e raciais.

Palavras-chave: Perfil. Prevalência. HIV. Notificação. Soropositivo.

ABSTRACT

The stigma and epidemic of HIV infection persist despite the evolution of antiretroviral prevention and therapy strategies. In addition to knowing the effects generated on patients, it is necessary to know the number of carriers, in order to have a better understanding of the disease. Given this scenario, this study aimed to analyze the profile and socio-epidemiological prevalence of HIV cases reported in the State of Tocantins, and report the current reality to society. In the methodological field, it was a descriptive epidemiological study, whose data were obtained by consulting the databases SINAN (Notifiable Diseases Information System), SIM (Mortality Information Systems) and SISCEL (Control System). of Laboratory Tests of the National Network for CD4+/CD8 Lymphocyte Count and Viral Load), made available by the Department of Informatics of the Unified Health System (DATASUS), at the electronic address (https://www2.aids.gov.br/cgi/deftohtm.exe?tabnet/br.def). In the results found, a predominance of cases was observed among men, especially heterosexuals, which highlights an urgency to expand prevention actions covering different social groups. Furthermore, the infection especially affected adults and young people (30 to 49 years old and 20 to 29 years old respectively), with low education, highlighting the need for investment in health education as a strategy for preventing and controlling the disease. The data also showed the brown population to have a higher incidence, highlighting the need to have health policies that combat social and racial inequalities.

Keywords: Profile. Prevalence. HIV. Notification. Seropositive.

Resumen

El estigma y la epidemia de la infección por VIH persisten a pesar de la evolución de las estrategias de prevención y terapia antirretroviral. Además de conocer los efectos que genera en los pacientes, es necesario conocer el número de portadores, para poder tener un mejor conocimiento de la enfermedad. Ante este escenario, este estudio tuvo como objetivo analizar el perfil y la prevalencia socioepidemiológica de los casos de VIH notificados en el Estado de Tocantins, e informar la realidad actual a la sociedad. En el ámbito metodológico, se trató de un estudio epidemiológico descriptivo, cuyos datos se obtuvieron mediante la consulta de las bases de datos SINAN (Sistema de Información de Enfermedades de Notificación), SIM (Sistemas de Información de Mortalidad) y SISCEL (Sistema de Control de Pruebas de Laboratorio de la Red Nacional de CD4+). /Recuento de Linfocitos CD8 y Carga Viral), puesto a disposición por el Departamento de Informática del Sistema Único de Salud (DATASUS), en la dirección electrónica (https://www2.aids.gov.br/cgi/deftohtm.exe?tabnet/br.def). En los resultados encontrados, se observó predominio de casos entre hombres, especialmente heterosexuales, lo que resalta la urgencia de ampliar las acciones de prevención abarcando diferentes grupos sociales. Además, la infección afectó especialmente a adultos y jóvenes (de 30 a 49 años y de 20 a 29 años respectivamente), con bajo nivel educativo, lo que pone de relieve la necesidad de invertir en educación sanitaria como estrategia de prevención y control de la enfermedad. Los datos también mostraron que la población morena tiene una mayor incidencia, destacando la necesidad de contar con políticas de salud que combatan las desigualdades sociales y raciales.

Palabras clave: Perfil. Predominio. VIH. Notificación. Seropositivo.

1 INTRODUÇÃO

O tema central deste estudo corresponde sobre o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Ambos são doenças mortais e que atingem um número expressivo de cidadãos ao redor do mundo. O HIV é o vírus causador da AIDS, atacando o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. As células mais atingidas são os linfócitos T CD4+. E é alterando o DNA dessa célula que o HIV faz cópias de si mesmo (BRASIL, 2020).

Desde que fora descoberto, ainda no século XX, o HIV representa um obstáculo para a ciência, uma vez que ainda não tem cura. Devido a sua alta taxa de incidência, é considerado um problema de saúde pública, com caráter pandêmico, pois qualquer pessoa pode ser infectada pelo vírus, não importando a sua condição financeira, social, cultural, geográfica, etc. (COSTA, 2018).

Apesar de ainda não se ter a cura do HIV, existem diversos avanços científicos sendo estudados fazendo com que a pessoa com a síndrome do vírus tenha qualidade de vida. O tratamento inclui atendimento periódico com médicos, psicólogos, enfermeiros, farmacêuticos e demais profissionais da área da saúde, onde são feitos exames cotidianos. O paciente assim que diagnosticado com a síndrome deve começar com a terapia medicamentosa antirretroviral quando os exames solicitados indicarem a precisão. Os medicamentos têm como finalidade manter o HIV estabilizado por um tempo maior dando qualidade de vida ao portador da síndrome (SOUZA et al., 2021).

Importante mencionar que no que concerne ao tratamento, o Sistema Único de Saúde (SUS) representa um importante programa de combate e de tratamento do HIV e da AIDS. É através deste programa que se tem a oferta gratuita de preservativos (masculinos e femininos) nas unidades de saúde, além de medicamentos direcionados ao tratamento destas doenças (CUETO; LOPES, 2021).

Tão importante quanto conhecer as características da doença é identificar a sua prevalência no país. Apenas com dados reais é que se pode ter a dimensão do HIV na sociedade brasileira. Nesse ponto, desde a sua expansão no mundo, ocorrida mais especificamente no fim da década de 80, o Brasil vem buscando identificar o quantitativo dos portadores de HIV.

Em dado mais recente, em 2021, 40,8 mil casos de HIV e outros 35,2 mil casos de AIDS foram notificados no Brasil por meio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), de acordo com o Boletim Epidemiológico de HIV/AIDS de 2022 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022).

Apenas com esse dado, verifica-se que os casos de HIV no Brasil ainda possuem alto indíce de prevalência. Segundo Lima (2023), a infecção pelo HIV é considerada estabilizada no Brasil, porém, ainda em patamares elevados. Trata-se de uma condição crônica que pode ser controlada por meio do diagnóstico oportuno e do tratamento, para que as pessoas vivendo com o vírus vivam mais, melhor e não transmitam HIV por via sexual.

De todo modo, a discussão desse tema se torna importante na medida em que cresce o número de pessoas que se tornam portadora do presente vírus. É preciso conhecer o número exato de infectados, para que Políticas Públicas direcionadas a esse público sejam criadas e executadas de forma direta e eficaz. 

Diante desse contexto, o presente estudo possui a seguinte questão problemática: Qual o perfil e a prevalência dos portadores de HIV no Estado do Tocantins? Com isso, o presente estudo teve o objetivo de determinar o perfil e a prevalência da infecção pelo HIV e analisar as características sociocomportamentais em usuários do Estado do Tocantins, atendidos no período de 2018 a 2022.

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo, cujos dados foram obtidos por meio de consulta as bases de dados SINAN (Sistema de Informações de Agravos de Notificação), SIM (Sistemas de Informações sobre Mortalidade) e SISCEL (Sistema de Controle de Exames Laboratoriais da Rede Nacional de Contagem de Linfócitos CD4+/CD8 e Carga Viral), disponibilizados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), no endereço eletrônico (https://www2.aids.gov.br/cgi/deftohtm.exe?tabnet/br.def), que foi acessado em 27 de março de 2024.

A pesquisa foi realizada entre os meses de março e abril de 2024, no Estado do Tocantins, Brasil. Este Estado é uma das 27 unidades federativas do Brasil e é dividida em 139 municípios. O território tocantinense equivale a 3,26% do brasileiro e com mais de 1,57 milhões habitantes (0,74% da população brasileira), o estado possui a décima maior área territorial e o vigésimo quarto contingente populacional dentre os estados do Brasil (IBGE, 2022).

A população investigada foi de todos os casos de indivíduos HIV positivo notificados entre 2018 e 2022 no Tocantins. Foram excluídos os casos não residentes no estado.

A coleta foi realizada através de uma investigação de fonte secundária de dados, cujas bases foram as do SINAM (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), do Ministério da Saúde, e a base de dados do Boletim Epidemiológico de HIV/AIDS, do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde (DCCI/SVS/MS), do Estado de estudo, no período de 2018 a 2022.

Como instrumento para coleta de dados foi utilizada uma planilha do programa Microsoft Excel® 2010 contendo as variáveis sociodemográficas: gênero, data de nascimento, grau de escolaridade, raça/cor, residência/zona e ainda a data de notificação.

Este estudo não foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa por se uma pesquisa cujas informações serão obtidas em materiais já publicados e disponibilizados na literatura, não havendo, portanto, intervenção ou abordagem direta junto a seres humanos. Contudo, ressalta-se terem sido mantidas as ideias originais dos autores no processo de sintetização de suas pesquisas.

4 resultadoS e discuSSõES

A priori, buscou-se apresentar os casos de HIV notificados no presente Estado. Essa informação é importante porque demonstra o quadro evolutivo de quantidade de infectados pelo vírus no Estado no período de 2018 a 2022, podendo com isso, apresentar os dados seguintes. O resultado dessa informação, encontrada no sistema digital do SINAN é apresentado no Quadro 1 abaixo:

Quadro 1 – Casos de HIV notificados no SINAN no Estado do Tocantins, segundo ano de diagnóstico entre 2018 a 2022

Fonte: Boletim Epidemiológico de HIV/aids (2023). Disponível em:file:///C:/Users/BOX/Downloads/Boletim_HIV_aids_%202022_internet_31.01.23.pdf. Acesso em: 15 abr. 2024.

Com o Quadro 1, percebeu-se que é alto o número de infectados pela HIV no respectivo Estado. Ainda que recentemente tenha diminuído o número quantitativo, percebe-se que o índice ainda é alto, visto que a população do Tocantins não possui habitantes numerosos quando comparado a outros Estados. Ao todo, foram infectados pelo HIV 1.284 tocantinenses no decorrer dos anos de 2018 a 2022.

Cabe salientar que esses números pode ser afetado em razão do período pandêmico ocorrido entre os anos de 2020 a 2022, ao qual o isolamento e distanciamento social foi fundamental para o combate e tratamento da Covid-19, o que diminuiu a possibilidade de averiguação de indivíduos infectados. De todo modo, os números apresentados demonstram que mesmo nessa situação de calamidade na saúde, o número registrado de infectados pelo HIV foi alto no Estado.

Na busca por um melhor entendimento sobre o perfil de cidadãos portadores do HIV no Tocantins, realizou-se a divisão pelas seguintes categorias: gênero, idade, raça/cor, escolaridade e orientação sexual. Destaca-se que foram coletados apenas os residentes no presente Estado.

Na questão gênero, existem disparidades significativas entre homens e mulheres no que diz respeito à prevalência do HIV, acesso ao tratamento, cuidados de saúde e impacto social e econômico da doença. Compreender essas diferenças é essencial para desenvolver intervenções eficazes (TRINDADE et al., 2019).

De acordo com Saada et al. (2022), o gênero desempenha um papel fundamental na forma como as pessoas vivenciam o HIV/AIDS. Normas sociais e culturais em torno do gênero podem influenciar o comportamento sexual, acesso aos serviços de saúde e a capacidade de negociar práticas de sexo seguro.

Os dados encontrados nessa categoria são:

Gráfico 1 – Casos de infecção de HIV por gênero nos períodos de 2018 a 2022 no Estado do Tocantins

Fonte: Dados primários (2024)

Como mostrado no Gráfico 1, os homens representam o maior quantitativo de infectados pelo HIV no Estado. Esse dado é semelhante ao estudo de Tavares et al. (2021) que buscou delinear o perfil epidemiológico da infecção por HIV/AIDS no Brasil entre 2013 e 2015 e que mostrou que os homens são os mais infectados pelo vírus no Brasil.

Segundo Martins et al. (2019), comportamentos sexuais desprotegidos, múltiplos parceiros sexuais e uso inconsistente de preservativos são fatores de risco importantes para a transmissão do HIV entre os homens. Isso inclui sexo desprotegido com parceiros do mesmo sexo ou do sexo oposto, bem como o compartilhamento de agulhas e equipamentos para uso de drogas injetáveis.

Ao analisar esse fato, Santos et al. (2020) em seu estudo afirmam que o estigma e a discriminação relacionados ao HIV podem impedir que os homens busquem testes e cuidados, bem como comprometer a adesão ao tratamento antirretroviral. Isso pode ser especialmente prevalente em contextos onde a masculinidade é fortemente associada à invulnerabilidade e ao risco.

A próxima categoria analisada foi a idade. Compreender como a prevalência do HIV varia entre diferentes faixas etárias é fundamental para direcionar recursos de prevenção, teste e tratamento de forma eficaz. Isso inclui identificar grupos etários com maior risco de infecção e implementar intervenções direcionadas (TRINDADE et al., 2019). Os resultados encontrados foram:

Quadro 2 – Número de casos de infecção de HIV por idade nos períodos de 2018 a 2022 no Estado do Tocantins

Fonte: Dados primários (2024)

Conforme exposto no gráfico supra, a faixa etária de idade que mais é cometida pelo vírus do HIV é a de 30 a 49 anos seguida por perto da idade de 20 a 29 anos. Essas faixas etárias é justamente a fase adulta dos indivíduos, onde se tem uma maior propensão à prática sexual, o que eventualmente aumenta as chances de contágio do vírus.

Em estudo semelhante foi apresentado por Amorim e Duarte (2021), cujo objetivo era descrever o perfil epidemiológico dos casos de Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) notificados no estado de Goiás, por meio de dados do Sistema de Informação de Agravos e Notificação (SINAN). A população alvo foi constituída de indivíduos diagnosticados com HIV notificados pelo SINAN no estado de Goiás, no período de 2015 a 2019. Foram registradas 7.575 notificações para HIV, que dentre os vários aspectos, apontou que 71,1% tinham entre 20 e 39 anos de idade.

Esse dado também está em conformidado aos índices expostos pelo SINAM referente à população brasileira em 2019, em que a faixa etária de maior prevalência de pessoas vivendo com HIV foi de 20 a 34 anos, equivalente a 52,7% dos casos (BRASIL, 2019).

Também foi pesquisado a relação idade-gênero. Nesse sentido, encontrou-se o seguinte resultado:

Quadro 3 – Número de casos de infecção de HIV por idade nos períodos de 2018 a 2022 no Estado do Tocantins

Fonte: Dados primários (2024)

Com base no Quadro 3 a faixa etária é a mesma correspondente do resultado anterior, ou seja, na faixa correspondente dentre 20 a 29 anos e 30 a 49 anos. No que tange ao gênero, o maior quantitativo encontrado se deu no sexo masculino. Pelo dado apresentado, observou-se uma maior prevalência entre homens na faixa etária de 20 a 29 anos. Esses números se mantiveram equilibrados no decorrer dos anos de 2018 a 2022, o que aponta que os homens jovens ainda continuam tendo relações sexuais sem proteção e cuidado.

Ao abordar essa questão Dias et al. (2020) trazem dois fatores determinantes para que os homens de 20 a 29 anos estarem em maio número nos casos de HIV: muitos deles se envolvem em comportamentos sexuais de risco, como ter múltiplos parceiros sexuais, não usar preservativos de forma consistente ou compartilhar seringas ao usar drogas injetáveis; e a pressão dos pares e as normas culturais que valorizam a masculinidade associada a múltiplos parceiros sexuais e à resistência ao uso de preservativos podem influenciar o comportamento sexual destes homens. Isso pode dificultar a adoção de práticas de sexo seguro e a busca por serviços de saúde.

Outra categoria analisada foi a de raça/cor. Saada et al. (2022) citam que em muitos países, incluindo os Estados Unidos, há disparidades significativas na prevalência do HIV entre diferentes grupos raciais e étnicos. Compreender essas disparidades é essencial para identificar as causas subjacentes e desenvolver estratégias eficazes de prevenção e tratamento.

Os resultados foram:

Gráfico 2 – Casos de infecção de HIV por raça/cor nos períodos de 2018 a 2022 no Estado do Tocantins

Fonte: Dados primários (2024)

Percebe-se que os pardos (70%) são os mais infectados pelo HIV no Tocantins, principalmente no período de 2018 a 2022. Resultado semelhante foi encontrado no estudo de Barroso Filho et al. (2023) que tinha o objetivo de descrever o perfil epidemiológico dos pacientes diagnosticados com HIV/AIDS cadastrados no município de Juazeiro-Bahia entre 1980 a 2022, ao qual os resultados mostraram que dos 906 casos detectados, houve um predomínio dos pardos (52,2%).

Silva e Cueto (2018) explicam que grupos vulneráveis, como os pardos e pretos, muitas vezes enfrentam desafios no acesso a serviços de saúde, incluindo testagem de HIV, prevenção e tratamento. Além disso, o estigma e a discriminação racial podem afetar o acesso ao teste, tratamento e cuidados relacionados ao HIV.

No estudo de Menezes et al. (2018) os autores afirmam que estudos já publicdos indicam que pessoas brancas realizam maior testagem para o vírus, enquanto as negras e pardas têm maior dificuldade no atendimento e acesso aos serviços de saúde.

Continuando, encontra-se a categoria referente à escolaridade. A pesquisa pode ajudar a avaliar o impacto da educação sobre o conhecimento e comportamento relacionados ao HIV, bem como identificar lacunas na compreensão do público (LOPES et al., 2020).

Para essa categoria, os resultados obtidos foram:

Quadro 4 – Número de casos de infecção de HIV por escolaridade nos períodos de 2018 a 2022 no Estado do Tocantins

Fonte: Dados primários (2024).

Pelos dados encontrados acima, nota-se que há um número significativo de indivíduos que possuem o Ensino Médio Incompleto e Completo. Há ainda uma crescente no quantitativo de infectados de 5º a 8º serie incompleto no último ano da pesquisa. Isso mostra, assim como tem-se apresentado os dados nacionais, que o nível de escolaridade é baixo.

Pinto et al. (2018) citam que estudos mostram uma correlação entre níveis mais baixos de educação e comportamentos de risco para o HIV, como relações sexuais desprotegidas e uso de drogas injetáveis.

A título de exemplo, na pesquisa de Amorim e Duarte (2021), os autores ressaltam que a infecção está intimamente ligada à baixa instrução e vulnerabilidade econômica, a grupos sociais que apresentam dificuldades no acesso aos serviços de saúde, tornando-os um público-chave para as ações e políticas de saúde pública.

Ferreira, Souza e Mota (2019) aduzem que indivíduos com níveis mais baixos de escolaridade podem enfrentar dificuldades no acesso a serviços de saúde, incluindo testagem de HIV, aconselhamento e tratamento. Quanto maior é o nível de escolaridade, maior é o acesso à informação e posteriormente ao conhecimento dos riscos de contágio do vírus. E isso acaba refletindo na diminuição de casos de infecção.

Por fim, buscou-se encontrar dados que indicassem a qual a preominância da orientação sexual dos infectados do Tocantins no período estipulado. A esse respeito, apresenta-se os resultados:

Gráfico 3 – Casos de infecção de HIV por orientação sexual nos períodos de 2018 a 2022 no Estado do Tocantins

Fonte: Dados primários (2024)

O Gráfico 3 demonstra que os portadores do vírus de HIV no Tocantins nos últimos 5 anos, em uma crescente quantidade, possuem orientação sexual heterossexual. De 2018 a 2022 o número de heterossexuais se manteve sempre acima das demais opções analisadas na pesquisa.

Esse dado acaba por ir na contramão de inúmeros dados epidemiológicos que sempre apontaram que os homossexuais eram o grupo que mais tinham infectados. Isso é explicado pelo fato de que desde o surgimento da HIV, em seus primórdios, a infecção era inteiramente ligada às relações homoafetivas. Durante décadas os homossexuais foram os principais alvos de infecção da HIV (RIBEIRO et al., 2020).

No entanto nos últimos anos, tem-se se percebido um aumento de casos, como mostra o deste estudo, ocorrendo em pessoas heterossexuais. Knauth et al. (2020) pontuou que há várias razões que podem contribuir para o crescimento do número de heterossexuais com HIV. Tem-se como exemplo, a educação sexual pode ser inadequada ou inexistente, o que leva a uma falta de compreensão sobre práticas seguras de sexo e prevenção do HIV; em algumas comunidades, pode haver falta de acesso a preservativos e outros métodos de prevenção, bem como a serviços de saúde onde o HIV possa ser testado e tratado; mudanças nos padrões de comportamento sexual, como o aumento do número de parceiros sexuais ou práticas sexuais de risco, podem aumentar o risco de transmissão do HIV, dentre outros.

Com esse cenário, fica claro que é preciso ampliar as formas de combate ao contágio de HIV nesses grupos. Nos casos dos homens heterossexuais, por exemplo, Gonçalves et al. (2021) afirmam que esses números refletem a relevância do   direcionamento de políticas e ações de prevenção para além da população vulnerável à exposição pelo HIV, expandindo medidas voltadas para os homens que se declaram heterossexuais, por exemplo, tendo em vista a grande quantidade de casos nesse grupo.

Em relação a idade e à escolaridade, é de suma importância o foco na educação. Nesse sentido, Paula et al. (2020) acreditam que a educação é uma ação importante na prevenção, combate e tratamento efetivo da HIV. Uma educação sexual abrangente nas escolas e comunidades é essencial para fornecer informações precisas sobre o HIV, incluindo como ele é transmitido e como pode ser prevenido. Isso deve incluir informações sobre contracepção, consentimento, e redução de riscos, principalmente para os jovens e adultos, grupo de maior infeccionados encontrado nesse estudo.

Além disso é crucial garantir que preservativos estejam amplamente disponíveis e acessíveis, juntamente com outros métodos de prevenção, como a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) para pessoas em alto risco. Da mesma forma é crucial combater o estigma em torno do HIV/AIDS, pois isso pode desencorajar as pessoas de buscar testes, tratamento e apoio. A educação e a sensibilização são fundamentais para mudar atitudes e promover uma cultura de aceitação e apoio (PAULA et al., 2020).

Promover a testagem regular do HIV é importante para identificar rapidamente casos de infecção e permitir que as pessoas vivendo com HIV iniciem o tratamento o mais cedo possível. Assim como, integrar os serviços de saúde sexual e reprodutiva com os serviços de HIV pode facilitar o acesso ao teste, aconselhamento e tratamento para o HIV, especialmente para populações vulneráveis (RIBEIRO et al., 2020).

5 conclusão

Com os dados coletados nessa pesquisa, permitiu traçar um perfil epidemiológico dos infectados pelo HIV no Estado do Tocantins entre os anos de 2018 a 2022. Observou-se uma predominância de casos entre os homens, principalmente os heterossexuais, o que emerge uma urgência em ampliar as ações de prevenção abrangendo diferentes grupos sociais.

Além disso, a infecção afetou especialmente adultos e jovens (30 a 49 anos e 20 a 29 anos respectivamente), com baixa escolaridade, evidenciando a necessidade de investimento em educação em saúde como estratégia na prevenção e controle da doença. Os dados ainda mostraram a população parda como maior incidência, realçando a precisão de ter políticas de saúde que combatam as desigualdades sociais e raciais.

Ademais, ficou claro que a compreensão dos padrões epidemiológicos é essencial para direcionar medidas eficazes de prevenção, diagnóstico e tratamento objetivando a diminuição do impacto do HIV no Estado.

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TAVARES, M. de P. M.; SOUZA, R. F. de; TAVARES, A. de P. M.; VILELA, M. F. de C.; DE SOUZA, V. F.; FONTANA, A. P.; MACHADO, L. C. de S. Perfil epidemiológico da AIDS e infecção por HIV no Brasil: Revisão bibliográfica. Brazilian Journal of Health Review, [S. l.], v. 4, n. 1, p. 786–790, 2021.

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1Graduando em Farmácia
Universidade de Gurupi (UnirG)
Endereço: Gurupi, Tocantins, Brasil.
E-mail: diasdaniele781@gmail.com

2Graduando em Farmácia
Universidade de Gurupi (UnirG)
Endereço: Gurupi, Tocantins, Brasil.
E-mail: kc.caio@hotmail.com

3 marianidbezerra@unirg.edu.br
Estudante de farmácia

4 suzanna.c.costa@unirg.edu.br
Estudante de farmácia

5 Larissa.c.r.leite@unirg.edu.br
Estudante de farmácia

6 ketly.b.r.costa@unirg.edu.br
Estudante de farmácia

7rubiacaetano9@gmail.com
docente Unirg e mestra em Ciências Contábeis

8 marllosperes@unirg.edu.br
Doutor em produção vegetal pela UFT

9 euripedesjunior1211@gmail.com
Graduação em Administração
Pós graduação em gestão de pessoas e Gestão do Agronegócio
*Mestrando em educação profissional e tecnológica.

10 romulosouzamaia@gmail.com
Graduação – Administração de Sistemas de Informação.
Especialização – Metodologia da Pesquisa Científica.
Gestão Educacional.
Mestrado – Administração e Desenvolvimento Organizacional.

11 alessandra2778@gmail.com Doutoranda pela FUCAPE Business School, em Ciências Contábeis e Administração em âmbito profissional e docente na Universidade de Gurupi – UNIRG.

12 cmluna.claudialuna@gmail.com

13Professora Mestre
Universidade de Gurupi (UnirG)
Endereço: Gurupi, Tocantins, Brasil.
E-mail: katia@unirg.edu.br