PERFIL DOS PACIENTES COM DOR CRÔNICA E MANEJO INICIAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11215233


Louise Fagundes Ribas Souza¹; Thifisson Ribeiro de Souza²; Amanda Barbosa Ribeiro³; Bianca Costa Fadini4; Bruno Venicio Donato5; Amanda Dassi6; Ana Luyza Fortunato de Oliveira7; Ohara de Oliveira Barboza8; Mariana Reis Carvalho9; Isabela Maria Cardoso Navarro10; Luciana Aparecida de Oliveira Gouveia¹¹.


Resumo

A dor crônica é um problema presente e relevante no Brasil. Isto deve ser investigado, pois estudos apontam que a prevalência em adultos pode variar entre 29,3% e 73,3%, demonstrando sua grande importância no cenário de saúde. Logo, esta revisão narrativa de literatura reuniu artigos das principais bases de dados objetivando elucidar o perfil dos pacientes que procuram atendimento na unidade básica de saúde devido a dores crônicas, o manejo inicial para a resolutividade do problema. Percebeu-se que o tratamento necessita de cuidados mais intensivos e com mais consultas. Independente do local acometido pela dor e das causas relacionadas a ela, por se tratar de algo que não tem cura, apenas cuidados recorrentes e de alívio momentâneo. As clínicas da família são os locais ideais para a prestação desse serviço. Porém, o manejo necessário para esse tipo de conduta necessita de profissionais mais especializados no tratamento da dor.

Palavras-chave: Dor Crônica; Perfil de Impacto da Doença; Prevalência; Medicina de Família e Comunidade.

1 INTRODUÇÃO

A dor crônica é um problema presente no Brasil. Isto deve ser investigado, já que estudos apontam que a prevalência em adultos pode variar entre 29,3% e 73,3%, demonstrando sua grande importância no cenário de saúde. Acerca deste assunto, Dellaroza et al. (2008) versa:

“A dor crônica pode ser definida como a dor contínua ou recorrente de duração mínima de três meses; sua função é de alerta e, muitas vezes, tem a etiologia incerta, não desaparece com o emprego dos procedimentos terapêuticos convencionais e é causa de incapacidades e inabilidades prolongadas. Para fins de pesquisa, a Associação Internacional para Estudo da Dor preconiza a dor crônica como aquela com duração maior que seis meses, de caráter contínuo ou recorrente (três episódios em três meses). Devido a sua longa duração, a dor crônica perde a função de manter a homeostase e de ser sinal de alerta, causa comprometimento funcional, sofrimento, incapacidade progressiva e custo socioeconômico. Sabe-se que a presença de dor crônica, independentemente da patologia de base, tem implicações na saúde dos pacientes. Isto faz com que esse sintoma mereça a atenção dos profissionais de saúde”

Ainda que existam propostas de intervenção para o manejo da dor crônica, não se sabe claramente a duração e o modo adequado para o tratamento. Enquanto isso, muitas pessoas têm de conviver com prejuízos físicos, emocionais e sociais ao lidar com este processo patológico e suas incapacidades associadas.

Neste contexto, torna-se cada vez mais importante investigar a eficácia do tratamento convencional por uso de antiinflamatórios e analgésicos e buscar outras formas de manejo para aumentar a qualidade de vida destes pacientes a fim de obter um alívio mais adequado de sua dor.

Diante dos parágrafos supracitados, o estudo presente tem como objetivo elucidar o perfil dos pacientes que procuram atendimento na unidade básica de saúde devido a dores crônicas, o manejo inicial para a resolutividade do problema.

2 METODOLOGIA

Esta obra trata-se de uma revisão narrativa de literatura acerca do manejo da dor crônica em pacientes que procuram atendimento em Clínicas da Família. Para a composição da pesquisa foram utilizados algumas bases de dados: Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Us National Library Of Medicine (PUBMED).

Para a composição dessa obra foram utilizados os artigos encontrados entre fevereiro e abril de 2024 nas línguas inglesa, portuguesa e espanhola. Um dos critérios de inclusão foi artigos publicados no período de 2010 a 2024 com o intuito de manter o estudo o mais atualizado (WHITTEMORE E KNAFL, 2005).

Para a busca foram utilizados os seguintes descritores: “dor crônica” + “atenção básica” + “clínica da família”. O operador booleano AND foi utilizado para intensificar as buscas. Foram encontrados 74 artigos nas bases de dados mencionadas anteriormente e utilizados 19 artigos para a composição deste trabalho, sendo selecionados aqueles que mais convergiam com o objetivo proposto inicialmente.

Deve-se ressaltar que, para melhor definir e conceituar os termos aqui utilizados, livros referência da medicina foram consultados durante a elaboração desta revisão bibliográfica.

Além disso, o presente estudo dispensou a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), tendo em vista que não aborda e nem realiza pesquisas clínicas em seres humanos e animais. Por conseguinte, asseguram-se categoricamente os preceitos dos aspectos de direitos autorais dos autores vigentes previstos na lei brasileira (BRASIL, 2013).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

A dor crônica (DC) é definida como um desconforto com duração superior a três meses que se apresenta de forma contínua ou episódica. No Brasil, a prevalência da DC varia de 30 a 70%, sendo mais comum nos serviços de atenção primária à saúde a dor crônica musculoesquelética, a qual afeta as atividades cotidianas e ocupacionais dos pacientes (DOMENICHIELLO e RAMSDEN, 2019; GUSSO, LOPES e DIAS, 2019; LINS al., 2021; RIKARD et al., 2023; RUVIARO et al., 2012).

Ao se avaliar o perfil dos pacientes que procuram atendimento na unidade básica de saúde devido a dores crônicas, no Brasil, é notório o maior número de pacientes do sexo feminino. Ampliando a análise desse grupo, observa-se acometimento maior de mulheres em comparação aos homens, de modo que o público feminino compõe mais de 85% dos pacientes. A prevalência é maior na faixa etária acima de 45 anos, majoritariamente em mulheres casadas e donas de casa. A escala de dor relatada foi superior a 7 no estudo em questão,  sendo as regiões de maior prevalência de queixas álgicas em ordem decrescente a região toracolombar, lombossacral, facial, face anterior dos joelhos e cervical (ZAKKA et al., 2024).

Quanto ao manejo inicial, é importante a realização de uma anamnese completa com o histórico médico detalhado do paciente alinhado com exame físico, avaliação psicossocial e diagnóstico diferencial para desconsiderar outras condições médicas que possam causar ou exacerbar a dor (GALVEZ-SÁNCHEZ e MONTORO, 2022).

Após a etapa inicial, um tratamento multidisciplinar pode ser considerado com ou sem o uso de farmacoterapia e através de fornecimento de informações ao paciente sobre a natureza da dor crônica e estratégias de autogestão. Além disso, deve-se realizar um plano de cuidado individualizado ao paciente, a fim de atender às necessidades de forma específica, monitorando e avaliando contínua e periodicamente (SHAHEED, MACHADO e UNDERWOOD, 2020; SKELLY et al., 2020).

Ademais, cabe ressaltar que uma equipe multidisciplinar, nesses casos, podem incluir médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e assistentes sociais. Deve-se considerar o encaminhamento para especialistas em dor, reumatologistas, neurologistas ou outros profissionais de saúde conforme necessário para avaliações mais detalhadas ou tratamentos mais específicos.

Sobre esta temática, Dydyk e Conermann (2023) acrescentam uma análise baseada na população dos Estados Unidos da América:

Mais de um quarto dos cidadãos dos Estados Unidos sofrem de dor crónica. Está entre as queixas mais comuns atendidas em ambulatório. A falha no manejo da dor crônica e a dependência de opioides associada à dor crônica podem resultar em morbidade e mortalidade significativas. Uma em cada cinco queixas de pacientes num ambulatório está relacionada com a dor, com mais de metade de todos os pacientes consultando o seu prestador de cuidados primários devido a uma ou outra queixa de dor. É fundamental que os prestadores de cuidados primários tenham um domínio firme sobre o tratamento de pacientes com dor crônica. Como país, os Estados Unidos gastam bem mais de 100 mil milhões de dólares por ano em custos de saúde relacionados com o tratamento da dor e a dependência de opiáceos. As despesas relacionadas à dor excedem as despesas combinadas com câncer, diabetes e doenças cardíacas.

A forma como a dor crônica de um paciente é tratada pode ter efeitos profundos e duradouros na qualidade de vida do paciente. A definição de dor crônica é qualquer dor que dure mais de três meses. Existem múltiplas fontes de dor crônica. A terapia combinada para a dor inclui terapias farmacológicas e opções de tratamento não farmacológico. Há uma redução mais significativa da dor com a terapia combinada em comparação com um único tratamento isolado. O escalonamento da terapia farmacológica ocorre em uma abordagem gradual. A depressão e a ansiedade comórbidas são comuns em pacientes com dor crônica. Pacientes com dor crônica também apresentam risco aumentado de suicídio. A dor crônica pode afetar todas as facetas da vida de um paciente. Assim, o diagnóstico e o manejo adequado dos pacientes com dor crônica são críticos.

Como abordado anteriormente, o tratamento da dor crônica inclui gastos significativos, seja para o paciente ou para a economia pública, fazendo com que a abordagem integrada e centrada no paciente se torne crucial para o manejo eficaz da dor na atenção primária à saúde, convertendo situações que possam interferir negativamente na vida do indivíduo.

4 CONCLUSÃO

O tratamento da dor crônica necessita de cuidados mais intensivos e com mais consultas. Independente do local acometido pela dor e das causas relacionadas a ela, por se tratar de algo que não tem cura, apenas cuidados recorrentes e de alívio momentâneo. As clínicas da família são os locais ideais para a prestação desse serviço. Porém, o manejo necessário para esse tipo de conduta necessita de profissionais mais especializados no tratamento da dor, sendo não somente médicos mas também fisioterapeutas e enfermeiro, que muitas das vezes não possuem emprego fixo nas clínicas da família.

Assim, os pacientes com dores crônicas geralmente são encaminhados para centros de tratamento especializados. Porém, nem todos os municípios possuem esse serviço disponível, sendo as clínicas da família responsáveis pelo acompanhamento desses pacientes, se tornando um desafio para a gestão de saúde nessas unidades.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei Nº 12.853. Brasília: 14 de agosto de 2013. Acesso em 01 de novembro de 2023.

DELLAROZA, M.S.G. et al. Caracterização da dor crônica e métodos analgésicos utilizados por idosos da comunidade. Revista Da Associação Médica Brasileira [on-line], v. 54, n. 1, p. 36-41, 2008.

DYDYK, A.M.; CONERMANN, T. Chronic Pain. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023.

DOMENICHIELLO, A.F.; RAMSDEN, C.E. The silent epidemic of chronic pain in older adults. Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry, v. 93:284-290, 2019.

GALVEZ-SÁNCHEZ, C.M.; MONTORO, C.I. Chronic Pain: Clinical Updates and Perspectives. J Clin Med, v. 11, n. 12, p. 3474, 2022.

GUSSO, G.; LOPES, J.M.C.; DIAS, L.C. Tratado de medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2019.

LINS, J.J.S.C. et al. Pensamentos catastróficos e incapacidade funcional em portadores de dor crônica na Atenção Primária à Saúde. Brazilian Journal of Pain, v. 4, n. 4, pp. 321-326, 2021.

RIKARD, S.M. et al. Chronic Pain Among Adults – United States, 2019-2021. MMWR Morb Mortal Wkly Rep, v. 72, n. 15, p. 379-385, 2023.

RUVIARO, L.F. et al. Prevalence of chronic pain a Basic Health Unit of a middle-sized city. Revista Dor, v. 13, n. 2, pp. 128-131, 2012.

SHAHEED, C.A.; MACHADO, G.C.; UNDERWOOD, M. Drugs for chronic pain. Br J Gen Pract, v. 70, n. 701, p. 576-577, 2020.

SKELLY, A.C. et al. Noninvasive Nonpharmacological Treatment for Chronic Pain: A Systematic Review Update [Internet]. Rockville (MD): Agency for Healthcare Research and Quality (US), 2020

WHITTEMORE, R.; KNAFL, K. The integrative review: updated methodology. Leading Global Nursing Research, v. 52, n. 5, p. 546-553, 2005.

ZAKKA, T. et al. Chronic pain: A big challenge. São Paulo Med J, v. 142, n. 1, p. e20231421, 2024.


¹Graduanda em Medicina pela Universidade de Rio Verde. louisefagundes123@gmail.com
²Graduando em Medicina pela Universidade de Rio Verde. thifissonribeiro@gmail.com
³Graduanda em Medicina pela Universidade de Rio Verde. mandinhamtribeiro@gmail.com
4Graduanda em Medicina pela Universidade de Rio Verde. biancacostafadini@hotmail.com
5Graduando em Medicina pela Universidade de Rio Verde. bdonatto44@gmail.com
6Graduanda em Medicina pela Universidade de Rio Verde. amanda.dassi@hotmail.com
7Graduanda em Medicina pela Universidade de Rio Verde. luyzana89@gmail.com
8Graduanda em Medicina pela Universidade de Rio Verde. oharabolandin@hotmail.com
9Graduanda em Medicina pela Universidade de Rio Verde. mamarireis@gmail.com
10Graduanda em Medicina pela Universidade de Rio Verde. isabelamarianavarro@gmail.com
¹¹Médica pela Universidade de Rio Verde. lucianagouveia.rv@gmail.com