PERFIL DO EMPREENDEDOR DE SUCESSO NO CONTEXTO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE DE CARACTERÍSTICAS E COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS DOS EMPREENDEDORES BEM-SUCEDIDOS NO BRASIL COM FOCO NAS HABILIDADES DE GESTÃO COMERCIAL

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.12735732


José Enivan de Oliveira¹
Francisco Wenderson Pereira de Souza²


RESUMO

As ações empreendedoras estão intrinsecamente ligadas às competências, pois representam a habilidade de identificar oportunidades, a capacidade de estabelecer relacionamentos em rede, as habilidades conceituais e a aptidão para gestão.  É sabido que a vontade e o desejo por si de empreender só não garantem sucesso no mercado, são necessárias competências e habilidades para a construção de um empreendedor de sucesso. O objetivo deste trabalho é identificar quais são as habilidades e competências presentes nos empreendedores brasileiros bem-sucedidos com foco nas habilidades de gestão comercial.  O estudo trata-se de uma revisão narrativa, de caráter qualitativo, em que a seleção de artigos é arbitrária, por meio de acesso às bases de dados, Scielo, Google Acadêmico e Ibict, que respondessem a pergunta norteadora, “quais são as habilidades e competências presentes nos empreendedores brasileiros bem-sucedidos com foco nas habilidades de gestão comercial?”. Nos resultados, encontrou-se um trabalho desenvolvido por Mesquita, com 231 empreendedores. Foi levantado o perfil do empreendedor brasileiro de sucesso, o qual mostrou que expressiva maioria de empreendedores são impulsionados por oportunidades. Isso caracteriza um grupo de empreendedores nacionais motivados por fatores que promovem negócios capazes de gerar mais renda e emprego na sociedade. Evidenciou, também, que as principais características comportamentais associadas ao perfil de sucesso observadas foram a exigência por qualidade e eficiência e o planejamento e monitoramento sistemático. Além disso, o estudo identificou a “busca por oportunidade e iniciativa” e “independência e autonomia como as mais presentes nas características comportamentais empreendedoras. Compreende-se, portanto, que a maioria dos empreendedores é motivada por oportunidades, o que leva à criação de negócios que geram renda e emprego na sociedade. Entre as principais características comportamentais associadas ao sucesso estão a busca por qualidade e eficiência, planejamento e monitoramento sistemático, bem como a busca por oportunidades e iniciativa, e independência e autonomia. No entanto, mais estudos são necessários para delinear as habilidades e competências do empreendedor brasileiro bem-sucedido, tendo em visto que foi uma dificuldade encontrada na construção do trabalho a disponibilidade de estudos que abordassem tal temática.

Palavras-chave: Empreendedor brasileiro. Competências empreendedoras. Empreendedor bem-sucedido. Perfil do empreendedor

ABSTRACT

Entrepreneurial actions are intrinsically linked to competencies, as they represent the ability to identify opportunities, the ability to establish network relationships, conceptual skills and management aptitude.  It is known that the will and desire to undertake alone do not guarantee success in the market, skills and abilities are necessary to build a successful entrepreneur. The objective of this work is to identify the skills and competencies present in successful Brazilian entrepreneurs with a focus on commercial management skills.  The study is a narrative review, of a qualitative nature, in which the selection of articles is arbitrary, through access to the databases, Scielo, Google Scholar and Ibict, which answered the guiding question, “what are the skills and skills present in successful Brazilian entrepreneurs with a focus on commercial management skills?” In the results, work developed by Mesquita was found, with 231 entrepreneurs. The profile of successful Brazilian entrepreneurs was raised, which showed that a significant majority of entrepreneurs are driven by opportunities. This characterizes a group of national entrepreneurs motivated by factors that promote businesses capable of generating more income and jobs in society. It also showed that the main behavioral characteristics associated with the success profile observed were the requirement for quality and efficiency and systematic planning and monitoring. Furthermore, the study identified the “search for opportunity and initiative” and “independence and autonomy as the most present in entrepreneurial behavioral characteristics. It is understood, therefore, that the majority of entrepreneurs are motivated by opportunities, which leads to the creation of businesses that generate income and employment in society. Among the main behavioral characteristics associated with success are the search for quality and efficiency, systematic planning and monitoring, as well as the search for opportunities and initiative, and independence and autonomy. necessary to outline the skills and competencies of the successful Brazilian entrepreneur, considering that the availability of studies that addressed this topic was a difficulty encountered in the construction of the work.

Keywords: Brazilian entrepreneur. Entrepreneurial skills. Successful entrepreneur. Entrepreneur profile

1 INTRODUÇÃO

Há um amplo interesse pelo empreendedorismo em todo o mundo devido à sua conexão com o desenvolvimento econômico e social. No aspecto econômico, o empreendedorismo possibilita o aumento da riqueza, da competitividade e da produtividade, através da criação de novas empresas e de novos modelos de produção. Já no aspecto social, o empreendedorismo viabiliza a redução da pobreza e o estímulo ao autoemprego, especialmente diante do aumento dos níveis de desemprego decorrentes do processo de globalização (CAMPOS, 2015).

Nesse contexto, o empreendedorismo pode ser visto como um processo cíclico, iniciado pelo reconhecimento de uma oportunidade de negócio por parte de um indivíduo com características empreendedoras. Esse empreendedor então mobiliza recursos para transformar a oportunidade em resultados desejáveis (CAMPOS, 2015).

De acordo com o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), o Brasil é identificado como um dos países com uma das maiores taxas de empreendedorismo, com cerca de 36 milhões de brasileiros entre 18 e 64 anos envolvidos em atividades empreendedoras, seja com negócios iniciantes, novos ou estabelecidos. Esses números refletem uma taxa total de empreendedorismo de 30,2%, superando a média mundial de 20,6% (XAVIER et al., 2012).

É importante ressaltar o aumento qualitativo dessa taxa. Atualmente, a cada 10 empresas abertas no Brasil, sete surgem por oportunidade, ou seja, os empreendedores visualizam uma nova oportunidade de negócio no mercado, buscando melhorias em sua condição de vida e independência. Apenas três empresas são abertas por necessidade, devido à falta de melhores alternativas profissionais no mercado de trabalho formal (XAVIER et al., 2012).

Assim, em um cenário marcado por desafios e incertezas, o progresso e a sobrevivência das organizações são intrinsecamente ligados a indivíduos capazes de identificar novas oportunidades de negócio, integrar recursos e habilidades de maneira inovadora, e liderar eficazmente o empreendimento. Esses líderes são aqueles que compreendem profundamente a interação entre a empresa, seus colaboradores e o ambiente competitivo do mercado (CORREA, 2023).

Essa pessoa também precisa estar pronta para enfrentar um mundo globalizado e altamente informatizado, o que demanda tanto habilidades técnicas quanto habilidades interpessoais. Esses requisitos são essenciais para a sobrevivência, especialmente em um contexto em que aprender a aprender é fundamental. Esses imperativos se refletem na prática de promover o crescimento organizacional através de processos recursivos de desenvolvimento de competências (CORREA, 2023).

Quando aplicado ao empreendedorismo, o conceito de competências assume novos significados. A competência empreendedora pode ser vista tanto como uma competência individual quanto como uma competência relacionada à prática administrativa, devido às diversas tarefas desempenhadas pelos empreendedores (ZAMPIER et al., 2012).

Eles identificam que as ações empreendedoras estão intrinsecamente ligadas às competências, pois representam a habilidade de identificar oportunidades, a capacidade de estabelecer relacionamentos em rede, as habilidades conceituais, a aptidão para gestão, a capacidade de análise situacional e o comprometimento com os interesses individuais e organizacionais (ZAMPIER et al., 2012).

Nesse sentido, é sabido que a vontade e o desejo por si de empreender só não garantem sucesso no mercado. São necessárias competências e habilidades para a construção de um empreendedor de sucesso. Por isso, este trabalho apresenta o objetivo de identificar quais são as habilidades e competências presentes nos empreendedores brasileiros bem-sucedidos com foco nas habilidades de gestão comercial.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Empreendedorismo

O empreendedorismo é caracterizado pela inovação, com o empreendedor desempenhando três papéis centrais: inovar, assumir riscos e expor continuamente a economia ao estado de desequilíbrio. Para que o fenômeno do empreendedorismo ocorra, é essencial a presença do empreendedor.

Segundo Dornelas, a maioria das definições de empreendedor inclui aspectos relacionados à criação, ao ensino e aos comportamentos praticados. Empreendedores são aqueles que criam negócios ou transformam os existentes, alterando ou agregando valor de maneira inovadora. O espírito empreendedor é uma característica distintiva tanto de instituições quanto de indivíduos (SILVA et al., 2023).

Já McClelland define o empreendedor como alguém que cria uma empresa ou um administrador que busca melhorar uma unidade organizacional através da introdução de mudanças produtivas. O empreendedor é uma pessoa cheia de energia, esperança e paixão pelo que faz, capaz de desenvolver uma visão de negócios, persuadir pessoas e identificar oportunidades de mercado que outros não percebem (SILVA et al., 2023).

 Assim, os empreendedores possuem visões que exigem tempo, comprometimento e imaginação para serem elaboradas, focadas no objetivo a ser alcançado e nos caminhos necessários para realizá-lo (SILVA et al., 2023).

Diferentemente dos gerentes e executivos tradicionais, que geralmente utilizam habilidades administrativas para atingir metas com os recursos disponíveis na estrutura organizacional, o empreendedor foca na definição de contextos e na organização dos recursos necessários para aproveitar oportunidades e enfrentar ameaças ambientais (SILVA et al., 2023).

Essa abordagem contribui significativamente para o desenvolvimento e a gestão de negócios, bem como para a interação com grupos internos e externos à organização. Portanto, não se trata de definir um “perfil” de empreendedor de sucesso, mas sim de identificar as habilidades que ele deve possuir ou desenvolver (SILVA et al., 2023).

2.2 Competências empreendedoras

Estudos iniciados por McClelland sustentam que o estoque de conhecimentos, habilidades e atitudes define o nível de competência de um indivíduo empreendedor. Entre os principais aspectos da motivação listados por ele, destacam-se: realização pessoal, considerada o principal fator de motivação para o empreendedorismo; pertencimento, que caracteriza relações emocionais positivas com outras pessoas; e necessidade de poder, que sugere preocupação com o status social e o exercício do poder sobre os outros (SILVA et al., 2023).

Zarifian afirma que a competência é uma compreensão prática das situações, baseada no conhecimento adquirido e aplicada com maior eficácia quanto mais complexas forem as situações. A competência refere-se à capacidade de uma pessoa de tomar a iniciativa, de ir além das atividades prescritas, de compreender e dominar novas situações de trabalho, e de assumir a responsabilidade e o reconhecimento por elas. Em geral, cabe ao indivíduo transformar o conhecimento, aplicando-o em sua vida diária (SILVA et al., 2023).

As competências são abordadas não apenas como o conjunto de conhecimentos teóricos e empíricos que o indivíduo possui, mas também pela capacidade de transferir aprendizado e se adaptar a novos cenários, além da disposição para agir e se dedicar plenamente (SILVA et al., 2023).

Para os autores Man e Lau a abordagem de competências representa um estudo das características individuais que contribuem para o desempenho de uma atividade ou para o sucesso organizacional. Os autores propuseram uma tipologia de competências empreendedoras que tem servido de base para diversas pesquisas. Segundo eles, são definidas seis competências empreendedoras fundamentais: oportunidade, relacionamento, conceituais, administrativas e estratégicas (SILVA et al., 2023).

Quadro 01: Competências empreendedoras segundo Man e Lau

Desse modo, a competência pode ser entendida como uma qualidade de alto nível, influenciada pela experiência, educação e treinamento do empreendedor, bem como pelas circunstâncias familiares, sociais e demográficas (BIRD, 1995).

2.3 Características empreendedoras de sucesso

Uma temática bastante explorada na área do empreendedorismo é sobre as características dos empreendedores de sucesso, acredita-se que essas características variam de acordo com as atividades que o empreendedor executa. Para o estudioso Dolabela, às características empreendedoras podem ser adquiridas e desenvolvidas (SILVA, 2014)

Identificar o perfil do empreendedor de sucesso é importante, pois auxilia no processo de aprender a agir, adotando comportamentos e atitudes adequadas para se tornar um empreendedor bem-sucedido (SILVA, 2014)

Além disso, Dornelas oferece outra perspectiva, definindo que o empreendedor de sucesso possui características adicionais. Além dos atributos típicos de um administrador, esses empreendedores combinam atributos pessoais com características sociológicas e ambientais, permitindo-lhes realizar diferenciações e inovações dentro da corporação (DORNELAS, 1971).

Algumas das características dos empreendedores de sucesso incluem: serem visionários, com uma visão de futuro para o negócio em que estão envolvidos, e a habilidade de implementar seus sonhos; saberem tomar decisões com segurança e lidarem bem com adversidades; serem indivíduos que fazem a diferença, agregando valor aos serviços e produtos que ajudam a colocar no mercado; e saberem explorar ao máximo as oportunidades disponíveis (DORNELAS, 1971).

De acordo com um trabalho desenvolvido pelo Sebrae, o Empretec identificou 10 características de um empreendedor de sucesso, baseadas em estudos da ONU. Segundo esse estudo, as características do empreendedor podem ser divididas em três categorias: relativas à realização, ao planejamento e ao poder (SEBRAE, 2023). Primeiramente, empreendedores de sucesso têm iniciativa e buscam oportunidades. Negócios criados por pessoas proativas sempre trazem novidades para seus clientes. Empreendedores com esse perfil estão atentos ao mercado e são capazes de antecipar possíveis dificuldades (SEBRAE, 2023).

Além disso, a persistência é essencial. Nem todos os negócios prosperam de imediato, por isso é crucial ter perseverança e continuar trabalhando. Acreditar nas próprias ideias e nos clientes, fazer um esforço e ir à luta são atitudes fundamentais. Com o tempo, o empreendedor aprenderá a aperfeiçoar sua empresa e a progredir, nunca desistindo (SEBRAE, 2023).

Correr riscos calculados é outra característica importante. No mundo dos negócios, a ousadia é fundamental. Empreendedores bem-sucedidos estão dispostos a assumir desafios, mas sempre planejam antes de arriscar, para que suas apostas não comprometam a saúde da empresa (SEBRAE, 2023).

Exigir qualidade no negócio também é essencial. Empreendedores devem sempre buscar fazer mais e melhor. Nunca se acomodam e procuram sempre crescer. O comprometimento é outra característica chave. Negócios de sucesso estão diretamente ligados à dedicação de seus donos. Ser empreendedor exige esforço e estar disposto a trabalhar intensamente na empresa (SEBRAE, 2023).

Estudar muito é vital para a sobrevivência do negócio. Manter-se atualizado sobre o mercado e o aprendizado constante alinha o empreendedor às demandas dos clientes. Ademais, outra característica é estabelecer metas claras, com objetivos consistentes, a empresa sabe para onde caminhar e dar passos sólidos rumo ao sucesso (SEBRAE, 2023).

Complementa-se, ainda, dentre as 10 características, criar sistemas de monitoramento. Para um empreendedor, é importante saber tudo o que acontece na empresa, desde o caixa até a saída dos produtos (SEBRAE, 2023).

Uma ampla rede de contatos faz se necessário para fazer negócios e ter uma ampla rede de clientes, que podem estar em diversos lugares do círculo de relacionamentos. Por fim, a autoconfiança é a principal característica de um empreendedor exemplar (SEBRAE, 2023).

Quadro 02: Características dos empreendedores de sucesso usadas pelo Sebrae

Fonte: Dornelas, 1971 

2.4 Tipos de empreendedores

Não existe um único tipo de empreendedor ou um modelo-padrão que possa ser identificado, apesar das várias pesquisas existentes sobre o tema tentarem encontrar um estereótipo universal. Por isso, é difícil rotulá-lo. Por outro lado, esse fato demonstra que tornar-se empreendedor é algo que pode acontecer a qualquer pessoa. Dornelas classifica os empreendedores em 8 tipos (DORNELAS, 1971).

2.4.1 Tipo 1 – O Empreendedor Nato (Mitológico)

Geralmente são os mais conhecidos e aclamados. Suas histórias são brilhantes e, muitas vezes, começam do nada e acabam criando grandes impérios. Esses empreendedores começam a trabalhar muito jovens, adquirindo habilidades de negociação e vendas. Em países ocidentais, muitos desses empreendedores natos são imigrantes ou descendentes de imigrantes (DORNELAS, 1971). 

Eles são visionários, otimistas, estão à frente do seu tempo e se comprometem 100% para realizar seus sonhos. Suas referências e exemplos a seguir geralmente vêm dos valores familiares e religiosos, e eles mesmos acabam se tornando grandes referências. Se você perguntar a um empreendedor nato quem ele admira, é comum que ele mencione a figura paterna, materna ou algum familiar próximo, ou em alguns casos, não cite nenhum exemplo específico (DORNELAS, 1971).

Exemplos: Bill Gates, Andrew Carnegie, Sílvio Santos, Irineu Evangelista de Souza (Barão de Mauá) etc. (DORNELAS, 1971).

2.4.2 Tipo 2 – O Empreendedor que aprende (Inesperado)

Este tipo de empreendedor tem sido muito comum. Normalmente, é uma pessoa que, inesperadamente, se depara com uma oportunidade de negócio e decide mudar de vida para se dedicar ao próprio negócio. É o clássico exemplo de quando a oportunidade bate à porta. Essa pessoa nunca havia pensado em ser empreendedor e, antes disso, via a carreira em grandes empresas como a única alternativa possível (DORNELAS, 1971).

O momento decisivo ocorre quando alguém o convida para fazer parte de uma sociedade ou quando ele próprio percebe que pode criar seu próprio negócio. Geralmente, demora um pouco para tomar a decisão de mudar de carreira, a menos que esteja prestes a perder o emprego ou já tenha sido demitido (DORNELAS, 1971).

 Antes de se tornar empreendedor, acreditava que não gostava de assumir riscos. Ele precisa aprender a lidar com novas situações e se envolver em todas as atividades de um negócio próprio. Muitas vezes, quem está pensando em uma alternativa à aposentadoria se encaixa nesse perfil (DORNELAS, 1971).

2.4.3 Tipo 3 – O Empreendedor Serial (Cria Novos Negócios)

O empreendedor serial é apaixonado não apenas pelas empresas que cria, mas principalmente pelo ato de empreender. É alguém que não se contenta em fundar um negócio e simplesmente administrá-lo até se tornar uma grande corporação. Por ser dinâmico, prefere os desafios e a adrenalina envolvidos na criação de algo novo em vez de assumir um papel executivo que envolve liderar grandes equipes (DORNELAS, 1971).

Normalmente, o empreendedor serial está sempre atento a tudo o que acontece ao seu redor e adora interagir com pessoas, participar de eventos, associações e construir sua rede de contatos. Para ele, a expressão “tempo é dinheiro” é muito significativa. Além disso, possui uma habilidade excepcional para formar equipes, motivar seus membros, captar recursos para iniciar novos negócios e colocar as empresas em funcionamento (DORNELAS, 1971).

Sua maior habilidade é identificar oportunidades e persistir até vê-las implementadas. Ao completar um desafio, busca imediatamente novos para manter-se motivado. Frequentemente, está envolvido em diversos negócios simultaneamente, e é comum enfrentar várias histórias de fracasso. No entanto, essas experiências servem como estímulo para superar o próximo desafio (DORNELAS, 1971).

2.4.4 Tipo 4 – O Empreendedor Corporativo

 O empreendedor corporativo tem ficado mais em evidência nos últimos anos, devido à necessidade das grandes organizações de se renovar, inovar e criar novos negócios. São geralmente executivos muito competentes, com capacidade gerencial e conhecimento de ferramentas administrativas (DORNELAS, 1971). 

Trabalham de olho nos resultados para crescer no mundo corporativo. Assumem riscos e têm o desafio de lidar com a falta de autonomia, já que nunca terão o caminho 100% livre para agir. Isso faz com que desenvolvam estratégias avançadas de negociação. São hábeis comunicadores e vendedores de suas ideias. Desenvolvem seu networking dentro e fora da organização (DORNELAS, 1971).

Convencem as pessoas a fazerem parte de seu time, mas sabem reconhecer o empenho da equipe. Sabem se autopromover e são ambiciosos. Não se contentam em ganhar o que ganham e adoram planos com metas ousadas e recompensas variáveis. Se saírem da corporação para criar o próprio negócio podem ter problemas no início, já que estão acostumados com as regalias e o acesso a recursos do mundo corporativo (DORNELAS, 1971).

2.4.5 Tipo 5 – O Empreendedor Social

O empreendedor social tem como missão de vida construir um mundo melhor para as pessoas. Ele se envolve profundamente em causas humanitárias, com um comprometimento singular. Seu desejo é criar oportunidades para aqueles que não têm acesso a elas, visando impactar positivamente a sociedade (DORNELAS, 1971).

Embora compartilhe características com outros empreendedores, a diferença fundamental é que o empreendedor social se realiza ao ver seus projetos gerarem resultados para os outros, não para si próprio. Esses empreendedores são um fenômeno global e desempenham um papel social crucial, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil. Através de suas ações e das organizações que criam, eles preenchem lacunas deixadas pelo poder público (DORNELAS, 1971).

Diferentemente dos outros tipos de empreendedores, o empreendedor social não busca acumular patrimônio financeiro como um de seus objetivos principais. Seu foco principal está em promover mudanças sociais e melhorar a qualidade de vida das pessoas (DORNELAS, 1971).

2.4.6 Tipo 6 – O Empreendedor por Necessidade

O empreendedor por necessidade inicia seu próprio negócio por falta de alternativas viáveis. Frequentemente, não possui acesso ao mercado de trabalho ou foi despedido, deixando-o sem outra opção senão o trabalho por conta própria. Esses empreendedores geralmente atuam em negócios informais, realizando tarefas simples ou prestando serviços, mas com retorno financeiro limitado (DORNELAS, 1971).

Este grupo representa um grande desafio social para os países em desenvolvimento. Apesar de sua iniciativa, trabalho árduo e esforços para garantir sua subsistência e a de seus familiares, os empreendedores por necessidade não contribuem significativamente para o desenvolvimento econômico. Eles são, de fato, vítimas do atual modelo capitalista por não terem acesso a recursos, educação adequada e condições mínimas para empreender de maneira estruturada (DORNELAS, 1971).

As iniciativas desses empreendedores são frequentemente simples e pouco inovadoras, e geralmente não contribuem com impostos e outras taxas. Isso acaba inflando as estatísticas empreendedoras dos países em desenvolvimento, como o Brasil. A existência em grande quantidade desses empreendedores representa um problema social significativo, ainda longe de ser resolvido no contexto brasileiro (DORNELAS, 1971).

2.4.7 Tipo 7 – O Empreendedor Herdeiro (Sucessão Familiar)

O empreendedor herdeiro é aquele que desde cedo recebe a responsabilidade de dar continuidade ao legado de sua família. Empresas familiares são uma parte essencial da estrutura empresarial em todos os países, e muitos impérios foram erguidos ao longo dos anos por famílias empreendedoras, que demonstraram habilidade em passar o bastão para cada nova geração (DORNELAS, 1971).

Recentemente, tem sido observada uma tendência de profissionalização na gestão das empresas familiares. Isso inclui a contratação de executivos do mercado para administrar a empresa e o estabelecimento de estruturas de governança corporativa, onde os herdeiros têm voz no conselho de administração, mas não necessariamente ocupam cargos executivos na empresa (DORNELAS, 1971).

O desafio principal do empreendedor herdeiro é aumentar o patrimônio recebido. Esse objetivo tem se mostrado cada vez mais complexo. O empreendedor herdeiro aprende a arte do empreendedorismo através de exemplos familiares e geralmente segue os passos de seus antecessores. Muitos começam a entender o funcionamento do negócio desde cedo e assumem responsabilidades na organização ainda jovens, eventualmente ascendendo a cargos de direção (DORNELAS, 1971).

2.4.8 Tipo 8 – O “Normal” (Planejado)

Toda teoria sobre o empreendedor de sucesso enfatiza o planejamento como uma das atividades mais cruciais. Nos últimos anos, isso tem sido comprovado, já que o planejamento aumenta significativamente a probabilidade de êxito de um negócio, incentivando mais empreendedores a adotarem essa prática para alcançar melhores resultados (DORNELAS, 1971).

 O empreendedor que realiza um planejamento meticuloso, que busca mitigar riscos, que se preocupa com os próximos passos do negócio, possui uma visão clara de futuro e trabalha orientado por metas, é aqui definido como “normal” ou planejado. Do ponto de vista do que se espera de um empreendedor ideal, esse tipo seria o mais completo (DORNELAS, 1971).

No entanto, não representa ainda uma parcela significativa dos empreendedores na prática, conforme indicam as estatísticas gerais sobre a criação de negócios. A maioria dos empreendedores ainda não se enquadra na categoria “normal”, sugerindo que há um espaço considerável para o desenvolvimento e a adoção de práticas mais planejadas e estratégicas no empreendedorismo atual (DORNELAS, 1971)

2.5 Empreendedorismo no Brasil

O povo brasileiro é amplamente reconhecido como um dos mais empreendedores do mundo, destacando-se no grupo de nações emergentes conhecido como BRICS, que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Um fator fundamental para essa realidade é que o quarto maior sonho dos brasileiros é ter o seu próprio negócio. Essa informação foi divulgada pelo painel de empreendedorismo do M&E Play 2016, onde se enfatizou a importância de investir em um sonho (MENDES, 2017).

No mesmo ano da pesquisa realizada pelo Sebrae, o país atingiu um recorde na taxa histórica de empreendedorismo, com quatro em cada dez brasileiros, entre 18 e 64 anos, desenvolvendo ações para criar um negócio. Nesse período, também foram alcançados mais dois novos recordes na taxa histórica do país: a maior taxa de empreendedores iniciais e a maior taxa de empreendedores estabelecidos (MENDES, 2017).

No entanto, em contrapartida a essas informações, 2015 também resultou no encerramento das atividades de 1,8 milhões de empresas de todos os portes no país. Esse fato representou o pior cenário desde 2010, com uma alta de 300% no indicador em comparação com 2014 (MENDES, 2017).

Esse contexto se deveu não somente pela crise econômica enfrentada no país, mas também pelas características do empreendedor brasileiro. Em geral, ele possui nível médio de escolaridade e uma educação financeira bastante limitada, o que dificulta a compreensão da importância de realizar um planejamento completo de viabilidade antes de iniciar seu próprio negócio (MENDES, 2017).

Embora disponha de uma quantia inicial de capital, a aplicação desse dinheiro frequentemente é feita de forma imprecisa, resultando em insuficiência de capital em pouco tempo. Isso leva a uma necessidade imediata de capital de giro logo após o início das atividades (MENDES, 2017).

Além disso, em uma lista de desafios levantados no empreendedorismo brasileiro pelo Sebrae encontra-se a alta carga tributária, burocracia, obtenção de crédito, permanência no mercado, inovação, marketing e vendas, gestão financeira, gestação de pessoas e capacitação profissional (SEBRAE, 2023).

Portanto, compreender o perfil do empreendedor brasileiro e suas habilidades na gestão comercial é fundamental para avaliar suas competências diante das dificuldades do empreendedorismo no país.

3 METODOLOGIA

3.1 Tipo de estudo

Trata-se de uma revisão narrativa, de caráter qualitativo, em que a seleção de artigos é arbitrária.

3.2 Fonte de dados

Foram acessadas as bases de dados, Scielo (Scientific Electronic Library Online), Google Acadêmico e Ibicit (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia). 

3.3 Critérios 

3.3.1 Inclusão

Foram escolhidos trabalhos que respondessem à questão norteadora: “Quais são as habilidades e competências presentes nos empreendedores brasileiros bem-sucedidos com foco nas habilidades de gestão comercial?”. Além disso, prezou-se por textos completos e gratuitos, meta-análise, revisões, revisão sistemática publicados nos últimos 10 anos, isto é, a partir de 2014, a fim de obter trabalhos mais atualizados, e na língua portuguesa. 

3.3.2 Exclusão

Textos disponibilizados somente na forma de resumo, publicados em fontes que não sejam disponíveis eletronicamente, como artigos, monografias, dissertações e teses; estudos duplicados, inconclusivos ou que apresentaram pouco enfoque nos temas. Trabalhos em outras línguas que não fossem redigidos em português.

3.3.3 Seleção dos artigos

Os artigos foram selecionados arbitrariamente após a realização das buscas realizadas nas bases de dados, ao todo foram incluídos 03 artigos para a confecção dos trabalhos, os quais respondiam a pergunta norteadora e se adequaram aos critérios de inclusão.

3.4 Aspectos éticos

Por se tratar de um estudo que analisa apenas dados secundários, sem a aplicação de questionários, não faz-se necessário a submissão ao Comitê de Ética.  

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Existe um debate amplo sobre a função e definição do empreendedor de sucesso. Ao revisar diversos artigos da literatura sobre o tema, incluindo trabalhos de grandes autores, não foi possível identificar uma definição precisa do significado epistemológico de “sucesso empreendedor” (MESQUITA, 2016).

No entanto, foi identificado um padrão significativo. A abordagem é consistentemente associada a um viés positivo. O sucesso é universalmente desejado pelos donos de empresas, sendo geralmente relacionado à longevidade da empresa e aos resultados financeiros (MESQUITA, 2016).

No trabalho de Gimenez, menciona que o dinheiro é uma medida tangível de sucesso, embora não seja o único fator orientador do comportamento empreendedor. Enquanto para Mcclelland afirma que empreendedores com perfil realizador veem o retorno financeiro como uma maneira de medir o sucesso, e não como uma recompensa ou incentivo (GIMENEZ et al, 2008; MCCLELLAND, 1972)

Druker argumenta que o aspecto comum entre empresários “bem-sucedidos” não reside em um perfil comportamental, como sugere McClelland, mas sim em uma orientação para a prática da inovação. Para Drucker, a inovação é uma função essencial da atividade empresarial, independentemente do tamanho ou tipo de empresa (MESQUITA, 2016; MCCLELLAND, 1972).

Nesse sentido, ao almejar entender o perfil do empreendedor brasileiro bem-sucedido, encontrou-se o trabalho desenvolvido por Mesquita. Este se trata de uma investigação explicativa que buscou esclarecer quais fatores comportamentais contribuem para o sucesso empreendedor nacional (MESQUITA, 2016).

A coleta de dados foi realizada por meio de e-survey, aplicados tanto pela web, quanto nas instituições presenciais.  Foram analisados fator motivacional, sucesso financeiro, perfil do empreendedor, conjuntos de habilidades, características do comportamento do empreendedor, busca de oportunidade e iniciativa, persistência, comprometimento, exigência de qualidade e eficiência, correr riscos calculados, estabelecimento de metas, buscas de informações, planejamento e monitoramento sistemático, persuasão de redes de contatos, independência e confiança (MESQUITA, 2016).

O estudo obteve 231 participantes e os dados obtidos foram analisados quantitativamente pelo modelo de comparação múltipla de médias, conhecido como teste-t, resultando em dados estatísticos. Desse modo, a pesquisa confirmou o potencial do empreendedorismo no país, com uma expressiva maioria de empreendedores impulsionados por oportunidades. Isso caracteriza um grupo de empreendedores nacionais motivados por fatores que promovem negócios capazes de gerar mais renda e emprego na sociedade (MESQUITA, 2016).

Nesse sentido, isso corrobora a definição de Davidsson, que descreve o empreendedor como alguém disposto a assumir riscos e a agir em busca de uma oportunidade percebida, dedicando esforços para alcançá-la (MESQUITA, 2016).

Ao analisar as características comportamentais empreendedoras, essas apresentam uma relação estatística com o modelo de sucesso, definido pelos indicadores de longevidade do empreendimento e sucesso financeiro. As principais características comportamentais associadas ao perfil de sucesso observadas foram a exigência por qualidade e eficiência e o planejamento e monitoramento sistemático (MESQUITA, 2016).

Nesse contexto, isso corrobora com McClelland, que destaca a importância de determinadas características para o perfil de um empreendedor bem-sucedido. Segundo o autor, o empreendedor de sucesso busca atingir excelência e está constantemente empenhado em melhorar seu negócio. Ele se esforça mais do que a média para alcançar seus objetivos e está disposto a revisar, persistir ou ajustar seus planos para alcançá-los. Indivíduos com esse comportamento estão sempre dispostos a fazer mais e melhor (MESQUITA, 2016; MCCLELLAND, 1972).

Ao mensurar quais características comportamentais empreendedoras estão relacionadas com o fator motivacional e o conjunto de habilidades, o estudo identificou as características “busca por oportunidade e iniciativa” e “independência e autonomia”. Isso está em concordância com McClelland, que afirma que empreendedores de sucesso tomam a iniciativa, confiam em si mesmos e no seu potencial de realização, além de buscar oportunidades para se desenvolverem (MESQUITA, 2016; MCCLELLAND, 1972). 

Esse comportamento também está alinhado com as características destacadas por Dolabela, que afirma que as oportunidades estão em toda parte e são alvos móveis, ou seja, a realização depende do empreendedor. Identificar essas oportunidades é um desafio constante, e cabe ao empreendedor aprimorar essa habilidade (MESQUITA, 2016).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entende-se, que a análise das características do empreendedor brasileiro bem-sucedido revela um conjunto de comportamentos e habilidades que são fundamentais para o sucesso no empreendedorismo nacional. O estudo identificou que a maioria dos empreendedores é motivada por oportunidades, o que leva à criação de negócios que geram renda e emprego na sociedade.

Entre as principais características comportamentais associadas ao sucesso estão a busca por qualidade e eficiência, planejamento e monitoramento sistemático, bem como a busca por oportunidades e iniciativa, e independência e autonomia. 

Portanto, o perfil do empreendedor brasileiro de sucesso é marcado por um alto nível de motivação, autoconfiança, proatividade e uma forte capacidade de planejamento e adaptação. Estes fatores comportamentais são essenciais para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades no dinâmico ambiente empresarial brasileiro.

Além disso, constatou-se, que mais estudos são necessários para delinear as habilidades e competências do empreendedor brasileiro bem-sucedido, tendo em visto que foi uma dificuldade encontrada na construção do trabalho a disponibilidade de estudos que abordassem tal temática.

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¹Acadêmico do Curso de Gestão Comercial do Instituto Federal de Rondônia
²Mestre em Políticas Públicas, Administrador e Bacharel em Direito, Professor Orientador do Instituto Federal de Rondônia