PERFIL DE RESISTÊNCIA A DROGAS EM PACIENTES COINFECTADOS COM TUBERCULOSE E HIV: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

DRUG RESISTANCE PROFILE IN PATIENTS CO-INFECTED WITH TUBERCULOSIS AND HIV: A BIBLIOGRAPHICAL REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11226046


Delyne Ferreira de Almeira¹;
Meily Cristini Frois Ribeiro Cavalcante²;
Msc. Samuel  Henrique Malcher de Castro³.


Resumo

A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis, afetando principalmente os pulmões e continua sendo um desafio global, especialmente em pacientes coinfectados com o vírus da imunodeficiência humana (HIV), onde a resistência a medicamentos é comum. A coinfecção por TB/HIV é um problema, e representa um desafio significativo para os sistemas de saúde em todo o mundo. A resistência às drogas antituberculose, especialmente em pacientes coinfectados com HIV, traz dificuldades devido à supressão imunológica e à interação medicamentosa entre os tratamentos para ambas as doenças. Sendo assim, o presente estudo visa analisar o perfil de resistência a medicamentos em pacientes coinfectados com TB e HIV, identificando os principais medicamentos utilizados para o tratamento, os fatores de risco associados a essa resistência e propondo recomendações para o aprimoramento do diagnóstico, assim como seu manejo e tratamento. Trata-se, portanto, de uma revisão bibliográfica de literatura, utilizando as bases de dados Google Acadêmico, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (Scielo), por meio da busca de artigos, teses e dissertações, entre os anos de 2018 a 2024. Os artigos foram escolhidos com base em sua relevância para o tema de tuberculose, HIV, coinfecção, resistência e medicamentos, destacando aspectos como prevalência de resistência, fatores de risco e estratégias de controle. A análise dos resultados enfatiza a complexidade da coinfecção TB/HIV, com vários determinantes identificados que influenciam os fatores de risco da resistência aos medicamentos antituberculose, incluindo a imunossupressão do HIV e a desnutrição com TARV (Terapia antirretroviral). Os comportamentos de risco e a nutrição pobre também contribuíram para piores desfechos do tratamento. Portanto, é aconselhável recorrer a intervenções integradas e formas abrangentes de políticas de saúde pública para melhorar o cuidado e mitigar o impacto da doença.

Palavras-chave: Tuberculose. Coinfecção. HIV. Resistência.

1 INTRODUÇÃO

A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa, causada pelo Mycobacterium tuberculosis, também conhecida como bacilo de Koch (BK), que afeta principalmente os pulmões e, em menor frequência, os rins, ossos e o sistema nervoso central (SNC). Os sintomas incluem tosse persistente, seca ou produtiva, por mais de duas semanas, às vezes acompanhada de escarro sanguinolento, febre, sudorese noturna, perda de peso e fadiga. A tosse prolongada é o principal sintoma indicativo de tuberculose pulmonar (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2024).

Foi originalmente descoberta pelo bacteriologista alemão Robert Koch em 1882 e é uma das doenças mais antigas do mundo. O gênero Mycobacterium (Mtb) existe há mais de 150 milhões de anos. Aproximadamente três milhões de anos atrás, um ancestral do Mtb pode ter infectado os primeiros hominídeos na África e entre 20.000 e 15.000 anos atrás, o ancestral comum do Mtb pode ter surgido. No Brasil, as primeiras transmissões tiveram início com a chegada dos jesuítas e colonos, que contaminaram os nativos que não tinham resistência à bactéria, o que contribuiu na primeira fase da colonização (MASSABNI et al., 2019).

A infecção é comumente transmitida por via aérea através de contato com gotículas ou aerossóis de pessoas infectadas. Existem vários fatores de risco que podem levar a infecção pelo M. tuberculosis, como, tabagismo, alcoolismo, uso de drogas, baixo índice de massa corporal, diabetes mellitus, hepatite C, depressão e HIV/AIDS. Embora os esforços para controlar a epidemia tenha reduzido sua mortalidade e incidência, é importante controlar esses fatores predisponentes para diminuir a carga da doença. Além disso, a presença de comorbidades e hábitos sociais pode complicar o tratamento clínico da tuberculose. (SOARES et al., 2020).

No Brasil, a tuberculose é diagnosticada conforme as orientações do Manual de Recomendações Para o Controle da Tuberculose, abrangendo diferentes métodos como diagnóstico clínico, bacteriológico, imagenológico, histopatológico, dentre outros testes cuja intenção seja diagnosticar patologias (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2024). O diagnóstico laboratorial é composto por três exames principais: o teste rápido molecular para tuberculose (TRM-TB) ou baciloscopia; a cultura; e o teste de sensibilidade aos fármacos. Sendo esses exames cruciais para detectar casos novos e monitorar o tratamento. Além disso, a avaliação médica é essencial e a radiografia do tórax é recomendada como método complementar para o diagnóstico da TB (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2024).

O tratamento contra a tuberculose é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) de forma gratuita com duração mínima de seis meses, utilizando-se rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol. Como formas de prevenção, existe a vacina BCG (bacilo Calmette-Guérin), também disponibilizado pelo SUS, que protege crianças contra as mais graves formas da doença, que são a tuberculose miliar e a tuberculose meníngea, assim como o diagnóstico e tratamento da Infecção Latente pelo Mycobacterium tuberculosis (ILTB), onde embora a doença esteja inativa primariamente, sem a devida atenção pode ser reativada e desenvolvida (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2024).

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2019, a tuberculose afetou aproximadamente 10 milhões de pessoas pelo mundo, e cerca de 1,5 milhões de óbitos (OMS, 2020). No Brasil, a estimativa é que cerca de 70 mil novos casos são registrados a cada ano e por volta de 4,5 mil mortes são relatadas, conforme dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde em 2024. Estes dados revelam o quanto a TB continua sendo um problema de saúde pública mundial.

A resistência bacteriana é um dos principais fatores que contribuem para a mortalidade (OLIVEIRA et al., 2021). Esta causa começou a ser observada na década de 1940, com a descoberta da estreptomicina para tratar a tuberculose. Existem três tipos de resistência: a natural, que surge durante a multiplicação normal da bactéria; a primária, quando o paciente é infectado por bactérias já resistentes aos medicamentos; e a resistência secundária ou adquirida, na qual pacientes inicialmente sensíveis aos medicamentos desenvolvem resistência ao longo do tratamento (OLIVEIRA et al., 2021).

A tuberculose é uma das infecções mais comuns em pessoas vivendo com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). No entanto, seu diagnóstico é desafiador devido à imunodeficiência causada pelo vírus, fator que pode levar a alterações na apresentação clínica e radiológica da TB, bem como a uma menor sensibilidade aos métodos de diagnóstico convencionais, como a baciloscopia. Essa coinfecção costuma ser mais frequente em indivíduos com supressão imunológica, o que aumenta o risco de progressão para estágios avançados da doença e de mortalidade (SANTOS et al., 2020).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) relatou 1,3 milhão de mortes por TB em 2019, com 214.000 dessas mortes ocorrendo em indivíduos coinfectados com o HIV (OMS, 2021). A interação entre o bacilo e o vírus modifica a evolução de cada infecção, com o HIV enfraquecendo o sistema imunológico e complicando o quadro clínico inicial, resultando em respostas variadas às terapias medicamentosas e prognósticos incertos ou desfavoráveis (VASCONCELOS et al., 2023).

Segundo alguns dados do Ministério da Saúde, entre 2007 até junho de 2023, foram notificados no SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) cerca de 489.594 casos de HIV no país e em 2022, especificamente, foram notificados 43.403 casos de infecção pelo vírus. A região Sudeste concentra o maior número de casos notificados (203.227), seguida pelas regiões Nordeste (104.251), Sul (93.399), Norte (49.956) e Centro-Oeste (38.761) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2023).

Pacientes coinfectados têm maior probabilidade de desenvolver resistência às drogas antituberculose, o que complica ainda mais o manejo clínico. A resistência a essas drogas pode surgir devido à complexidade do tratamento combinado, à supressão imunológica causada pelo HIV e à seleção de cepas resistentes. Estima-se que a resistência à rifampicina em pacientes com coinfecção TB/HIV seja significativamente maior do que em pacientes com tuberculose sem HIV.  (OMS, 2023).

O tratamento do HIV envolve a terapia antirretroviral (TARV), que consiste na combinação de medicamentos para suprimir a replicação do vírus e manter a contagem de células CD4 em níveis saudáveis, visando à redução da carga viral e à preservação da função imunológica. O Ministério da Saúde do Brasil recomenda o início da TARV para todos os pacientes com HIV, independentemente da contagem de células CD4, com o objetivo de alcançar a supressão viral e melhorar a qualidade de vida. A TARV geralmente consiste em uma combinação de pelo menos três medicamentos antirretrovirais de diferentes classes, selecionados com base nas características individuais do paciente e na resistência viral, e deve ser monitorada regularmente por profissionais de saúde especializados. Em casos de coinfecção com tuberculose, o tratamento deve ser ajustado para evitar interações medicamentosas e garantir a eficácia do tratamento para ambas as condições (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021).

A presente revisão bibliográfica busca analisar o perfil de resistência a medicamentos em pacientes coinfectados com TB/HIV, identificando os principais medicamentos utilizados para o tratamento, os fatores de risco associados a essa resistência e propondo recomendações para o aprimoramento do diagnóstico, assim como seu manejo e tratamento. Assim, pretendemos contribuir para a melhor compreensão desses aspectos, visando a melhoria dos cuidados de saúde oferecidos a pacientes coinfectados com ambas as doenças. O tema é abordado de maneira a identificar os motivos e o contexto no qual o problema de pesquisa foi identificado.

2 METODOLOGIA

O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica da literatura realizada utilizando as bases de dados Google Acadêmico, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (Scielo), por meio da busca de artigos, teses e dissertações relacionados ao tema aludido, entre os anos de 2018 a 2024. Ao todo foram encontrados 1409 estudos, onde apenas 10 foram selecionadas para esta revisão. Os descritores utilizados na coleta de dados foram: Tuberculose; HIV; Coinfecção; Resistência; Medicamentos.

Para a seleção dos artigos, teses e dissertações foram utilizados critérios de inclusão que consistiam em disponibilidade integral e de forma eletrônica na língua portuguesa. Para a exclusão, os critérios empregados foram assuntos que estavam focados apenas sobre tuberculose ou HIV que não tinham relevância para o tema, assim como publicações repetidas. Foi realizada a leitura dos títulos e resumos, e aqueles com temas como medicamentos utilizados, a resistência e sua prevalência, fatores de risco, estratégias de controle e tratamentos existentes foram selecionados para esta revisão (Figura 01). 

Figura 01 – Fluxograma metodológico da pesquisa bibliográfica.

Fonte – Dados da pesquisa, 2024.

3 RESULTADOS

Das 1409 pesquisas iniciais, apenas 10 foram selecionadas para a análise dos resultados para este estudo, sendo estas revisões integrativas, estudos transversais, qualitativos e quantitativos, coorte retrospectivo, descritivo-exploratórios e revisões bibliográficas.

A tabela 01 sintetiza os dez estudos selecionados, com informações relacionadas ao título, autores e ano de publicação, objetivo, metodologia e resultados de cada estudo.

Tabela 01 – Resumo das publicações selecionadas entre 2018 a 2022.

TítuloAutor/AnoTipo de estudoObjetivo do estudoMetodologiaResultados
Aspectos associados à drogarresistência em pessoas com Tuberculose/HIV: revisão integrativaSANTOS et al., 2020.ArtigoExaminar pesquisas científicas sobre os aspectos relacionados à resistência a medicamentos em pessoas com coinfecção de tuberculose e HIV.Revisão integrativaO estudo analisou diversos fatores que contribuem para o desenvolvimento da resistência aos medicamentos antituberculose em pessoas coinfectadas com HIV. Destacou-se a relação entre a imunossupressão causada pelo HIV e a multirresistência, além da desnutrição associada à TARV. A alta carga bacteriana do Mycobacterium tuberculosis também foi apontada como fator, especialmente em pessoas com tratamento anterior para TB. O abandono do tratamento, as reações adversas aos medicamentos, a não adesão ao tratamento e o tratamento inadequado foram identificados como causas importantes. Outros fatores como hospitalizações, contato com pessoas multirresistentes, e atraso no diagnóstico da TB drogarresistente também foram considerados. Para prevenir essas condutas, são sugeridas ações como sensibilização da equipe de saúde, teste de sorologia do HIV em pessoas com TB, e envolvimento político para melhoria da qualidade de vida e sobrevida desses pacientes.
Fatores relacionados ao óbito em pessoas coinfectadas por tuberculose/HIVNASCIMENTO et al., 2024.ArtigoInvestigar os fatores relacionados à mortalidade em pessoas coinfectadas por tuberculose e HIV.Revisão integrativaO estudo aponta que comportamentos de risco, como uso de tabaco, álcool e drogas, aumentam a mortalidade em casos de coinfecção TB/HIV. Condições socioeconômicas precárias, como pobreza e moradia inadequada, também influenciam. A falta de acesso a políticas públicas eficazes e tratamentos adequados aumenta a vulnerabilidade. A coinfecção TB/HIV é complexa, exigindo abordagens integradas. Destaca-se a necessidade de políticas de saúde pública abrangentes, intervenções para reduzir comportamentos de risco, promoção de estilos de vida saudáveis e consideração dos determinantes sociais da saúde.
Influência do HIV nos desfechos desfavoráveis do tratamento da TuberculoseVASCONCELOS et al., 2023.ArtigoInvestigar a relação entre a coinfecção pelo HIV e os resultados adversos do tratamento da tuberculose.Estudo transversalO estudo investigou casos de tuberculose com coinfecção pelo HIV no Ceará e São Paulo, comparando com casos sem coinfecção. Os resultados mostraram que os casos de coinfecção apresentaram maior proporção de desfechos desfavoráveis, como abandono do tratamento e menor taxa de cura. A coinfecção pelo HIV aumentou as chances de desfechos ruins, como abandono do tratamento e tuberculose resistente a medicamentos. Porém, não foi encontrada associação entre a coinfecção pelo HIV e tuberculose resistente a medicamentos em outro estudo no Ceará. Estudos internacionais também encontraram associação entre a coinfecção e desfechos desfavoráveis. A coinfecção pode favorecer a resistência aos medicamentos, sendo essencial a identificação precoce e a adesão ao tratamento. Em relação ao óbito por TB, embora o HIV não tenha apresentado associação com o desfecho neste estudo, pessoas com coinfecção TB-HIV possuem maior risco de óbito, devido à maior suscetibilidade à aids. No entanto, a porcentagem de óbitos por TB entre pessoas coinfectadas com HIV foi menor do que entre aquelas com apenas TB. Pessoas em uso de TARV apresentaram maior mortalidade.
Aspectos relacionados ao tratamento da tuberculose e HIV/aids: abordagens qualitativas e quantitativasRESENDE, Natália Helena de, 2022.TeseExaminar os elementos pertinentes ao tratamento da tuberculose e do HIV/AIDS durante o acompanhamento de pacientes coinfectados.Estudo qualitativo e quantitativoO estudo analisou a experiência de pacientes com tuberculose (TB) e coinfecção TB/HIV em relação ao abandono do tratamento, adversidades, aspectos socialmente construídos, resolução e ambivalência. O abandono do tratamento foi relacionado a vulnerabilidades sociais, falta de apoio familiar, arrependimento e uso de álcool e outras drogas. A adversidade envolveu reações adversas aos medicamentos, especialmente hepatite induzida por drogas. Os aspectos socialmente construídos influenciaram a percepção dos pacientes sobre os medicamentos, com alguns pacientes acreditando que medicamentos genéricos são menos eficazes e seguros. A resolução foi percebida quando os medicamentos solucionavam os problemas causados pela doença sem causar reações adversas que prejudicassem a vida diária. A ambivalência foi observada em pacientes que, apesar de aderirem ao tratamento, tinham medo e ansiedade em relação aos medicamentos. O tratamento da coinfecção TB e HIV/aids envolve dois esquemas distintos. Para a TB, utiliza-se uma combinação de quatro fármacos qu são rifampicina (R), isoniazida (H), pirazinamida (Z) e etambutol (E) por dois meses na fase intensiva, seguidos de dois fármacos (R e H) por quatro meses na fase de manutenção, podendo se estender em casos especiais. Para o HIV/aids em pacientes com TB, o tratamento inclui três antirretrovirais, geralmente TDF (Tenofovir), 3TC (Lamivudina) e EFV (Efavirenz), com a possibilidade de substituir a rifampicina por rifabutina em casos que necessitem de inibidores da protease. O DTG (Dolutegravir) foi incorporado ao tratamento do HIV, substituindo o EFV em pacientes iniciando o tratamento, sendo considerado uma opção favorável para pacientes coinfectados com TB e HIV/aids em 2019, devido a custos inferiores e à continuidade do tratamento inicial sem a necessidade de troca do tratamento ARV em decorrência do tratamento da TB. O esquema inicial de TARV a partir de 2019 para pacientes coinfectados com TB e HIV/aids inclui TDF+3TC+EFV como preferencial, com opções alternativas de TDF+3TC+DTG e TDF+3TC+RAL em casos específicos. 
Desfechos de tratamento e regimes terapêuticos usados para TB/HIVTAMOGAMI, Fernanda de Oliveira Demitto, 2020.TeseAnalisar a eficácia dos tratamentos, estudar os níveis de hemoglobina, investigar a relação entre anemia e inflamação, analisar a associação entre anemia persistente e desfechos adversos, e avaliar a sobrevida de pacientes com tuberculose e HIV durante o tratamento antituberculose.Estudo de coorte retrospectivo longitudinalEste estudo foi dividido em dois artigos, sendo que o primeiro estudo examinou os fatores de risco para a efetividade do tratamento antirretroviral (ARV) e a sobrevida em pacientes com e sem experiência prévia ao tratamento. Fatores como tuberculose prévia e abuso de álcool foram associados a piores resultados de tratamento em pacientes sem experiência prévia, enquanto carga viral elevada e tratamento com certos regimes de ARV foram associados a resultados menos favoráveis em pacientes com experiência prévia. A síndrome inflamatória de reconstituição imune (IRIS) foi significativa para mortalidade precoce em pacientes sem experiência prévia. Já o segundo estudo mostrou que o aumento dos níveis de hemoglobina ao longo do tratamento da tuberculose foi associado a melhores desfechos, sugerindo a hemoglobina como um marcador prognóstico importante para pacientes com tuberculose e HIV/AIDS. Também foi observada uma correlação entre anemia persistente e distúrbios inflamatórios, indicando uma ligação entre a gravidade da anemia e a inflamação.
O cuidado em saúde de pessoas com coinfecção tuberculose/HIV na perspectiva da equipe multiprofissionalSILVA et al., 2023.ArtigoEntender as visões da equipe multiprofissional sobre o cuidado de saúde oferecido a pessoas com coinfecção de TB/HIV, com foco especial no tratamento.Estudo descritivo- exploratórioO estudo investigou os discursos que influenciam o processo saúde-doença em pessoas com coinfeção TB/HIV, destacando a importância da fragilidade socioeconômica, precárias condições de vida e baixa escolaridade como barreiras ao acesso ao cuidado e serviços de saúde. Questões culturais também foram mencionadas como influenciadoras da adesão ao tratamento. Aspectos como dependência de álcool e outras drogas foram considerados barreiras ao tratamento, enquanto o apoio social e familiar, acolhimento dos profissionais de saúde e educação em saúde foram vistos como positivos para a adesão. Os participantes enfatizaram a importância de um atendimento integral e humanizado, considerando as necessidades específicas dos pacientes. Barreiras socioeconômicas, estigma, baixa renda e questões relacionadas ao serviço de saúde foram apontadas em estudos anteriores como desafios para a adesão ao tratamento, destacando a necessidade de políticas eficazes, capacitação da equipe de saúde e infraestrutura adequada para o tratamento efetivo da coinfeção TB/HIV.
Análise da resistência a medicamentos antituberculose e aspectos sociodemográficos e clínicos de pacientes atendidos em hospital referênciaBONIN et al., 2018.ArtigoInvestigar a resistência a medicamentos antituberculose e sua relação com características sociodemográficas e clínicas em pacientes de um hospital de referência.Estudo transversalO estudo envolvendo 104 pacientes, todos com resultados positivos para Mycobacterium tuberculosis, encontrou uma alta prevalência de resistência a drogas anti-tuberculose, atingindo 14,4%. Dentro desse percentual, 4,9% apresentaram monorresistência, 5,6% multirresistência e 3,9% polirresistência. Essa resistência geral foi um pouco mais elevada do que a encontrada em outros estudos realizados na região Norte de São Paulo e em Santa Catarina. A prevalência de coinfecção TB/HIV variou de 12,3% a 19,4%, confirmando os achados deste estudo. Destaca-se a importância do tratamento e da interrupção do ciclo de transmissão da TB pulmonar, que exigem um diagnóstico preciso e rápido. A baciloscopia realizada nos pacientes do hospital alcançou uma alta positividade (93,3% das amostras), permitindo um diagnóstico precoce e mais seguro para o controle da doença. Estudos mostraram uma associação significativa entre a resistência/multirresistência à TB e o diagnóstico de HIV em São Paulo e Manaus, mas essa relação não foi observada em Santa Catarina. Fatores como o uso continuado de tabaco, álcool e/ou drogas ilícitas foram considerados riscos adicionais. O estudo enfatiza a necessidade da implementação de políticas de saúde específicas para grupos com alto uso dessas substâncias.
Perfil epidemiológico de pacientes imunocomprometidos com tuberculose  SANTOS; AQUINO, 2019. ArtigoDescrever o perfil epidemiológico de pacientes imunocomprometidos com tuberculose, considerando seu contexto histórico, para avaliar o tempo até o diagnóstico e tratamento, destacando os principais motivos de abandono do tratamento.Revisão bibliográficaO estudo aponta que fatores como pobreza, desnutrição, condições precárias de moradia e saneamento, juntamente com o aumento do risco de HIV, tabagismo, consumo de álcool e diabetes, contribuem significativamente para a incidência da tuberculose. Estima-se que mais de um terço das pessoas com tuberculose não sejam diagnosticadas ou não recebam cuidados adequados. O diagnóstico precoce e o tratamento eficaz são essenciais para o controle da tuberculose, com medidas como tratamento da infecção latente em contatos e vacinação BCG. Pernambuco e o Rio de Janeiro apresentam altas taxas de incidência, sendo o Rio de Janeiro marcado por grandes contrastes sociais e uma significativa queda na incidência nos últimos anos. O HIV tem sido um fator importante para o ressurgimento da tuberculose, contribuindo significativamente para as mortes entre pessoas com HIV. Outras condições de imunossupressão, como diabetes, insuficiência renal crônica e uso de imunossupressores, também aumentam o risco de desenvolver tuberculose. Estudos têm demonstrado a associação entre diabetes e tuberculose, bem como a alta incidência de tuberculose em pacientes transplantados renais devido ao uso de imunossupressores.
Os desafios enfrentados no tratamento da tuberculose em portadores de HIVROSA et al., 2022.ArtigoResumir e analisar os resultados de pesquisas selecionadas de acordo com a problemática proposta.Revisão bibliográficaO estudo destaca a importância dos profissionais de saúde no manejo da coinfecção tuberculose/HIV, enfatizando a necessidade de estabelecer vínculos e oferecer atenção humanizada aos pacientes, o que pode reduzir o preconceito e contribuir para uma maior adesão ao tratamento. Os índices epidemiológicos da coinfecção têm aumentado, principalmente devido à baixa adesão dos pacientes à terapia da tuberculose, o que impacta negativamente nos resultados sorológicos para o HIV e aumenta a morbimortalidade. Questões socioeconômicas e ambientais influenciam diretamente na adesão ao tratamento, ressaltando a importância do cuidado nos serviços de saúde e do vínculo entre profissional e paciente. O estudo também destaca a necessidade de mais pesquisas sobre a resposta imune do hospedeiro, os desafios associados à terapia antirretroviral e fatores de risco específicos para indivíduos coinfectados. A percepção dos portadores da coinfecção ressalta o sofrimento, isolamento social e estigma associados, reforçando a importância de intervenções que reduzam as desigualdades sociais e promovam uma interação mais humanizada nos serviços de saúde.
A coinfecção tuberculose/HIV com enfoque no cuidado e na qualidade de vidaCARVALHO et al., 2022.ArtigoDescrever e analisar as percepções de pessoas que têm tanto tuberculose quanto HIV sobre a qualidade de vida e cuidados de saúde.Estudo descritivo- exploratórioO estudo investigou a perspectiva de pessoas com coinfecção TB/HIV sobre qualidade de vida (QV) e cuidados de saúde. A maioria dos entrevistados eram mulheres trans e homens que tinham relações sexuais com homens, infectados pelo HIV através do sexo. A descoberta da sorologia enquanto em relacionamentos estáveis destaca a necessidade de políticas públicas específicas. Apesar dos esforços de conscientização sobre o HIV, persistem vulnerabilidades, especialmente na interpretação desse cenário pela população em geral. Condições sociais impactaram significativamente a QV, exigindo políticas para reduzir desigualdades. O apoio da equipe de saúde foi fundamental, pois muitos desenvolveram TB apesar da carga viral baixa, destacando a importância da busca ativa por sintomas. O autoestigma e o medo da discriminação levaram ao isolamento social, ressaltando a importância do apoio emocional.

4 DISCUSSÃO

A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa que apresenta um desafio considerável para os sistemas de saúde, especialmente quando ocorre em conjunto com a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). A coinfecção por esses patógenos traz consigo complexidades únicas, afetando a resposta imunológica do hospedeiro e a eficácia dos tratamentos disponíveis. Além disso, o aumento da resistência aos medicamentos antituberculose tem ampliado essa preocupação, tornando o controle da TB em pacientes coinfectados com HIV ainda mais complexo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2024; OMS, 2023).

A análise do perfil de resistência a medicamentos em pacientes coinfectados com tuberculose e HIV é crucial para compreender os fatores que contribuem para a ineficácia dos tratamentos, além de desenvolver estratégias mais eficazes de prevenção, diagnóstico e tratamento. A revisão bibliográfica realizada tem como objetivo fornecer dados da literatura essenciais nesse sentido, identificando os principais medicamentos utilizados, os fatores de risco associados à resistência e propondo recomendações para aprimorar o manejo clínico desses pacientes.

Os resultados dessa revisão destacam a complexidade da coinfecção TB/HIV e os diversos fatores que influenciam a resistência aos medicamentos antituberculose nesses indivíduos. Por exemplo, a imunossupressão causada pelo HIV pode predispor os pacientes à resistência aos medicamentos, enquanto a desnutrição associada à terapia antirretroviral (TARV) pode complicar ainda mais o tratamento da TB. Além disso, a alta carga bacteriana do Mycobacterium tuberculosis, o abandono do tratamento, as reações adversas aos medicamentos e a não adesão ao tratamento foram identificados como causas importantes de resistência (SANTOS et al., 2020; RESENDE, 2022; BONIN et al., 2018).

Os estudos também ressaltam a importância de abordagens integradas e multidisciplinares no cuidado de pacientes coinfectados com TB/HIV, considerando não apenas os aspectos clínicos, mas também os sociais e comportamentais. Por exemplo, comportamentos de risco, como o uso de tabaco, álcool e drogas, foram associados a piores desfechos de tratamento e maior mortalidade nessa população. Ademais, condições socioeconômicas precárias, como pobreza e moradia inadequada, influenciam significativamente a vulnerabilidade dos pacientes (ROSA et al., 2022; CARVALHO et al., 2022; AQUINO, 2019).

As recomendações propostas incluem a sensibilização da equipe de saúde, o teste de sorologia do HIV em pessoas com TB, o envolvimento político para melhorar a qualidade de vida e sobrevida desses pacientes, bem como a implementação de políticas de saúde pública abrangentes e intervenções para reduzir comportamentos de risco. Em suma, a coinfecção TB/HIV representa um desafio significativo para os sistemas de saúde em todo o mundo, exigindo abordagens integradas e estratégias eficazes de prevenção, diagnóstico e tratamento. A compreensão do perfil de resistência a medicamentos nessa população é fundamental para melhorar os cuidados de saúde oferecidos a esses pacientes e reduzir a carga da doença (ROSA et al., 2022; CARVALHO et al., 2022;).

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A complexidade da coinfecção por tuberculose (TB) e vírus da imunodeficiência humana (HIV) requer uma abordagem abrangente e integrada para lidar de maneira eficaz com os desafios apresentados por essas respectivas doenças. Para além do desenvolvimento contínuo de tratamentos médicos e estratégias de prevenção, é crucial reconhecer e enfrentar os fatores sociais, comportamentais e estruturais que contribuem para a disseminação e gravidade dessas condições. Portanto, a colaboração entre profissionais de saúde, formuladores de políticas, pesquisadores e comunidades afetadas é essencial para melhorar os resultados de saúde e reduzir o impacto da coinfecção TB/HIV em escala global.

REFERÊNCIAS

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¹Discente do Curso Superior de Biomedicina do Centro Universitário do Norte (UNINORTE), Campus Centro. e-mail: delynealmeida2002@gmail.com
²Discente do Curso Superior de Biomedicina do Centro Universitário do Norte (UNINORTE), Campus Centro. e-mail: meilycristini01@gmail.com
³Docente do Curso Superior de Biomedicina do Centro Universitário do Norte (UNINORTE), Campus Centro. Mestre em Ciências Aplicadas a Dermatologia (UEA/UFAM). e-mail: msc.samuelhmalcher@gmail.com