PERFIL DA DISPENSAÇÃO DE GLICOCORTICÓIDES ORAIS SEM RECEITA MÉDICA EM UMA FARMÁCIA COMUNITÁRIA NO MUNICÍPIO DE BELÉM – PA

PROFILE OF THE DISPENSING OF ORAL GLUCOCORTICOIDS WITHOUT A PRESCRIPTION IN A COMMUNITY PHARMACY IN THE CITY OF BELÉM – PA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10105594


Valmira Progênio Soares1; Simone Machado Abud; Pedro Henrique dos Santos Fernandes; Nathalia Cunha de Carvalho; Ana Clívia Capistrano de Maria; Heliton Patrick Cordovil Brígido; Carlos Jefferson Santana de Souza; Mileny Lima Ferreira; Esdras Gonçalves Rocha; Orientador: Profº Antônio Rafael Quadros Gomes2*


Resumo

Introdução: Os glicocorticoides são pertencentes a classe dos antiinflamatórios esteroidais, sendo utilizado em diversas condições clínicas, como doenças autoimune, alergia, asma etc., no entanto, seu uso irracional tem se tornado comum entre a população, devido sua facilidade no acesso, o que se caracteriza uma preocupação acentuada.  Objetivo: Analisar o perfil da dispensação de glicocorticóides orais sem receita médica em uma farmácia comunitária no município de Belém, no Pará. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo, transversal de caráter quantitativo realizado em uma farmácia comercial localizada em Belém, no estado do Pará, no período de março a maio de 2023 visando caracterizar o perfil de vendas de GOs com e sem receita médica. Resultados: 828 (68,32%) das vendas das vendas foram sem a presença de receita médica, enquanto 384 (31,68%) com a presença da receita. Pode-se observar ainda que a betametasona obteve 4,20% com receita (CR) e 11,88% sem receita (SR), já a dexametasona apresentou 3,21% (CR) e 6,93% (SR), seguido prednisolona com 10,00% (CR) e 20,70% (SR). E por último a prednisona com cerca de 14,19% (CR) e 28,71% (SR), sendo a mais vendida dentre os medicamentos. Acerca do total de GOs mais dispensados, se destaca a prednisona (42,03%), seguido da prednisolona (30,43%), betametasona (17,39%) e dexametasona (10,14%). Conclusão: Constatou-se que a dispensação de GOs com ou sem a presença da receita médica foi bastante acentuada, caracterizando uma possível automedicação.

Palavras-chave: Glicocorticóides, Automedicação, Uso racional de medicamentos (URM).

1 INTRODUÇÃO

Os glicocorticóides (GCs) ou Antiinflamatórios Esteroidais (AIES), pertencem a uma classe de medicamentos esteroidais (estrutura química com colesterol) e são análogos dos GCs endógenos, os quais são sintetizados pela glândula adrenal, desempenham um papel vital na regulação de diversas funções metabólicas e imunológicas do organismo (CAIN & CIDLOWSKI, 2017). Seu mecanismo de ação envolve a ligação aos receptores de GCs presentes nas células-alvo formando um complexo hormônio-receptor que transloca para o núcleo celular. Nesse local, o complexo interage com elementos de resposta específicos do DNA, regulando a transcrição de genes associados a respostas anti-inflamatórias, supressão imunológica, metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios, além de modulação da resposta ao estresse (BARNES, 2010; HARDY, RAZA & COOPER, 2020).

A farmacocinética dos GCs sintéticos é caracterizada por uma rápida absorção após administração oral, intravenosa ou tópica, logo são facilmente administrados pelas vias oral, parenteral (intravenosa, intramuscular ou intrassinovial) e topicamente em formas de cremes, loções dermatológicas, pomadas, aerossol entre outras (CAVALCANTE et al., 2014). Esses compostos são amplamente metabolizados no fígado, principalmente por enzimas do citocromo P450, resultando em metabólitos ativos ou inativos. A meia-vida plasmática varia conforme o composto, podendo ser curta (como a hidrocortisona) ou mais prolongada (como a dexametasona). A distribuição é geralmente acompanhada por uma ligação a proteínas plasmáticas, como a globulina de ligação a corticoides. A eliminação ocorre principalmente pela via renal, sendo que os metabólitos são excretados na urina (WHALEN, FINKEL & PANAVELIL, 2016; KATZUNG & VANDERAH, 2022). 

Na prática clínica esses fármacos são utilizados como anti-inflamatórios e imunossupressores. Eles desempenham um papel fundamental no tratamento de uma variedade de condições clínicas, como doenças autoimunes, alergias, asma, artrite reumatoide e várias doenças inflamatórias crônicas. Além disso, são frequentemente prescritos para controlar a inflamação em condições agudas, como reações alérgicas graves e lesões esportivas.  (BERESHCHENKO, BRUSCOLI & RICCARDI, 2018).

Embora os GCs sejam muito eficazes no tratamento de várias condições médicas, podem apresentar efeitos adversos significativos quando de forma inadequada. Esses efeitos incluem: osteoporose, imunossupressão, ganho de peso, diabetes, catarata, glaucoma hipertensão arterial, mudanças de humor, além de problemas dermatológicos (ANTI, GIORGI & CHAHADE, 2008; VAN DER GOES et al., 2016). Além do aumento da susceptibilidade a infecções por fungos, bactérias, vírus e parasitas, podendo gerar infecções disseminadas graves (PEREIRA et al., 2007). 

O Brasil enfrenta problemas como diabetes, hipertensão e doenças infecciosas. O uso generalizado de GCs, muitas vezes auto-prescritos, pode agravar estes problemas e sobrecarregar um sistema de saúde já sobrecarregado. Além disso, o acesso limitado a orientações profissionais de saúde pode levar ao uso inadequado, aumentando a prevalência de efeitos adversos (LANNA, MONTENEGRO & PAULA, 2003; DE LIMA & DE ARAUJO, 2020).

De acordo Galato et al. (2008) garantir a dispensação adequada e a educação do paciente são essenciais para proteger o bem-estar do paciente e promover o uso responsável de medicamentos. No âmbito da farmacologia, os glicocorticóides orais (GOs) ressaltam o delicado equilíbrio entre a eficácia terapêutica e os riscos potenciais deste fármaco, destacando a importância de profissionais de saúde habilitados para orientar seu uso criterioso para obter os melhores resultados para os pacientes (BARNES, 2014). Estudos de Almeida & Chaves (2018) demonstraram que cerca de 51 % dos indivíduos de uma drogaria Feira de Santana – BA utilizavam GCs, sendo a betametasona e prednisonas as mais usadas, sendo que destes 30 % compravam sem receita médica e 45% se automedicavam.

As farmácias comunitárias exercem um papel fundamental como centros acessíveis onde os pacientes podem adquirir medicamentos de venda livre, fornecendo uma via conveniente para a obtenção de remédios essenciais sem a necessidade de retenção da receita médica, muita das vezes se automedicando (FERNANDES et al., 2010). A automedicação e o uso irracional de medicamentos podem trazer muitos danos à saúde do usuário, onde as manifestações de reações indesejáveis estão relacionadas com o tipo de preparação, posologia, dose, duração de uso, via e esquema de administração, idade e gênero, doença de base, associação com medicamentos que interferem na sua ação e o perfil individual de sensibilidade (LAXER, 2005). Os efeitos adversos de uma mesma dose de GCs são heterogêneos entre diferentes indivíduos, provavelmente devido à cinética, a diferentes concentrações plasmáticas das proteínas transportadoras desses medicamentos e a alterações da depuração (LAXER, 2005).

A prescrição médica de GOs tem uma enorme importância, pois não pode ser exagerada, dados os riscos potenciais associados ao seu uso inadequado ou excessivo (PINTO, DIAS & DA SILVA NEUMANN, 2018). Visto isso, a sua dispensação sem orientação médica adequada, levando ao uso indevido ou excessivo de GCs pode levar a uma série de efeitos adversos, incluindo osteoporose, hipertensão, supressão adrenal e distúrbios metabólicos (LOPES, 2014; DA CÂMARA et al., 2021). No estudo de Costa & Oliveira (2022) destacam a importância do profissional farmacêutico no que tange ao uso racional de medicamentos por meio da prática da atenção farmacêutica, com isso, diminuindo os potenciais efeitos indesejados, levando qualidade de vida aos pacientes, principalmente aos acometidos por doenças crônicas.

Considerando a venda frequente e o uso comum de AIES pela população em geral, há uma preocupação quanto ao seu uso indiscriminado. Sendo assim, o objetivo desse analisar o perfil da dispensação de glicocorticóides orais sem receita médica em uma farmácia comunitária no município de Belém, no Pará, com o intuito de compreender as tendências de utilização, os fatores que influenciam essa prática e suas implicações para a saúde pública e a segurança do paciente.

2 METODOLOGIA 

Trata-se de um de um estudo descritivo, transversal de caráter quantitativo realizado em uma farmácia comercial localizada em Belém, no estado do Pará, no período de março a maio de 2023 durante o horário de funcionamento do estabelecimento. A classe descritiva é uma forma de pesquisa científica que se concentra em descrever, caracterizar e analisar fenômenos, populações, eventos ou objetos sem a intenção de estabelecer relações de causa e efeito. Tais estudos são frequentemente empregados para coletar informações detalhadas sobre uma determinada questão de pesquisa, a fim de compreender sua natureza e características. A pesquisa transversal, também conhecida como estudo seccional, é um tipo de pesquisa que coleta dados em um único ponto no tempo, sem acompanhamento ao longo do tempo. Já a abordagem quantitativa é concentrada na coleta e análise de dados numéricos para responder a questões de pesquisa específicas (TURATO, 2005; CASTRO-JIMÉNEZ, M., CABRERA-RODRÍGUEZ, D. & CASTRO-JIMÉNEZ, M., 2007).

A pesquisa foi conduzida em uma farmácia comunitária localizada no bairro do Tapanã, devidamente regularizada pelo Conselho Regional de Farmácia do Estado do Pará (CRF-PA), no qual a presença do profissional farmacêutico é diária. Previamente, foi obtida a autorização do proprietário do estabelecimento para a realização da pesquisa. Em seguida foi realizada uma investigação retrospectiva com a finalidade de caracterizar e analisar dados acerca da automedicação e da presença ou ausência da prescrição médica no ato de aquisição dos GOs. Os dados coletados foram por meio de observação direta, sem contato direto com os pacientes, apenas verificando se estes apresentavam ou não as receitas médicas. Em seguida, os dados eram cadastrados em planilhas no software Microsoft Excel 2019 ® para análise posterior dos gráficos. 

Foram incluídos na pesquisa apenas GCs disponíveis na forma farmacêutica sólida de administração oral, indicados para maiores de 12 anos de idade e dispensados de forma isolada. Foram excluídos os GCs em outras formas farmacêuticas não orais, os indicados para pacientes pediátricos e aqueles dispensados juntamente com outras classes de medicamentos. Para a avaliar os resultados utilizamos a estatística descritiva.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Figura 1 indica a prevalência da dispensação dos quatro GOs mais dispensados com e sem a presença de receita médica durante os meses de março a maio de 2023 em uma farmácia comunitária localizada em Belém-PA. 

Figura 1. Prevalência da dispensação de corticoides com e sem prescrição médica em uma farmácia comercial em Belém/PA.

O total de dispensação de GOs foi de 1.212 caixas entre os meses de estudo. Destes, 828 tiveram sua dispensação por automedicação, o que corresponde a 68,32% de automedicação nas vendas, e 384 das vendas foram realizadas perante a presença da prescrição médica, o que corresponde a 31,68% (Figura 1).

Pode-se observar ainda que a betametasona obteve 4,20% (CR) e 11,88 (SR), já a dexametasona apresentou 3,21% (CR) e 6,93% (SR), seguido prednisolona com 10,00% (CR) e 20,70% (SR). E por último a prednisona com cerca de 14,19% (CR) e 28,71% (SR), sendo a mais vendida dentre as demais (Figura 1).   

Examinando os dados atingidos nessa pesquisa, foi possível destacar uma diferença no perfil de vendas dos GOs, no qual mais de 60 % destes foram adquiridos perante a automedicação, o que poderá indicar o uso irracional destes medicamentos. Nesse contexto, a pesquisa conduzida constatou que a comercialização de GOs foi bastante perceptível, sendo uma prática comum entre os pacientes. Estudos de Santos et al. (2013) destacaram sobre o uso de medicamentos entre idosos na cidade de Goiânia-GO, no qual foi observado que a automedicação ocorre devido à uniformidade das prescrições médicas, levando a população a adotar critérios pessoais para lidar com questões de saúde que aparentemente são menos arriscadas. A prática da automedicação está associada principalmente ao perfil socioeconômico, cultural, disponibilidade de informações e também ao nível educacional dos pacientes.

O medicamento mais dispensado dentre os demais foi a prednisona (42,03%), seguido da prednisolona (30,43%), betametasona (17,39%) e dexametasona (10,14%; figuras 1 e 2).  essa tendência pode ser atribuída ao fato de que esses medicamentos têm um custo mais acessível, o que pode incentivar a prática da automedicação destes pacientes. Além disso, a familiaridade da população com esses medicamentos e a disseminação de informações sobre sua eficácia podem contribuir para esse padrão de consumo, levando em consideração sua indicação terapêutica. Esse fenômeno foi destacado no estudo de Almeida & Chaves (2018), que investigou o uso indiscriminado dos corticosteroides no manejo das doenças respiratórias em uma drogaria em Feira de Santana – BA: ênfase na rinite alérgica. No estudo, foi revelado que 51% dos participantes estavam utilizando corticosteróides, como betametasona e prednisona (ambas com 27%). Notavelmente, 30% desses indivíduos adquiriam esses medicamentos sem a necessidade de receita médica, enquanto 45% optavam por autoadministrar os medicamentos, sendo que 80% dos entrevistados afirmaram estar cientes das indicações dos seus medicamentos.

Figura 2. Relação dos GOs dispensados.

O elevado índice de comercialização de prednisona vendido pode estar relacionado à repetição do tratamento com base em prescrições anteriores, evitando a necessidade de uma nova consulta médica. Isto ocorre devido à expectativa de resultados mais rápidos e à facilidade de aquisição desse medicamento, uma vez que não requer retenção de receita médica. Embora a pesquisa conduzida em Belém-Pa, não tenha abordado a escolaridade dos pacientes da farmácia, é sugerido que, devido à falta de acesso à educação em saúde no município, juntamente com a escassez de informações sobre o uso adequado de medicamentos, os usuários frequentes de prednisona possam continuar a usá-lo sem estar cientes dos potenciais riscos associados ao uso irracional deste medicamento. Outros estudos, como o de Carvalho et al. (2021), identificou em sua pesquisa que 92% dos entrevistados já fizeram o uso de medicamentos sem receita em algum momento da vida, visto que, três meses antes da pesquisa, 61% dos pacientes se automedicaram, sendo que cerca de 5% foram indicações de familiares e balconistas. 

A prednisona e a prednisolona, são classificadas como GCs sintéticos, atuando através da interação com receptores específicos em células-alvo, desencadeando uma modulação de processos biológico, sendo a principal diferença entre eles está no processo de biotransformação (SCHIJVENS et al., 2019). A prednisona é um pró-fármaco, o que significa que é inativa por si só e precisa ser convertida em sua forma ativa, a prednisolona, pelo fígado. Por outro lado, a prednisolona é a forma ativa diretamente, não necessitando dessa conversão metabólica (BERGMANN et al., 2012).

Devido a essa diferença na metabolização, a prednisolona tem uma ação mais imediata e eficaz, uma vez que não requer a conversão pela enzima hepática. Isso pode ser especialmente vantajoso em situações onde a resposta rápida é necessária, como em crises agudas de inflamação ou reações alérgicas graves (WILLIAMS, 2018). O quadro 1 relaciona os princípios ativos de acordo com a Denominação Comum Brasileira (DCB), com duração da ação, principais indicações terapêuticas e via de administração. 

Quadro 1. Características farmacológicas gerais dos GCs.

PRINCÍPIO ATIVO (DCB)DURAÇÃO DE AÇÃOPRINCIPAIS INDICAÇÕES TERAPÊUTICASVIA DE ADMINISTRAÇÃO
PrednisonaIntermediária (12-36 horas)Inflamações, Doenças AutoimunesOral
PrednisolonaIntermediária (12-36 horas)Inflamações, Asma, AlergiasOral, IV e IM
BetametasonaLonga (36-55 horas)Doenças Dermatológicas, Asma GraveTópico, intra-articular e IM
DexametasonaLonga (36-55 horas)Inflamações Graves, Edema Cerebral, Doenças AutoimunesOral, oftalmológica, tópico, IM e IV
Legenda: IM= intramuscular; IV= intravenosa.
Fonte: Whalen, Finkel & Panavelil (2016).

Os GCs reduzem a atividade das células do sistema imunológico, como linfócitos, monócitos e macrófagos que estão envolvidas no processo inflamatório e na destruição tecidual observada nas doenças autoimunes, como artrite reumatoide. Tais medicamentos suprimem a produção e a liberação de substâncias pró-inflamatórias, como prostaglandinas e leucotrienos, o que resulta em diminuição da ativação dos linfócitos T e B que desempenham papéis cruciais nas respostas autoimunes (CAIN & CIDLOWSKI, 2017). 

Segundo Cutolo et al. (2008), embora os GCs sejam eficazes no tratamento de diversas condições médicas, eles requerem uma abordagem cautelosa devido aos potenciais riscos e efeitos colaterais associados a administração prolongada, podendo levar a uma série de problemas de saúde, incluindo supressão do sistema imunológico, o que torna o corpo mais suscetível a infecções. Além disso, pode contribuir para o desenvolvimento de osteoporose, aumentando o risco de fraturas ósseas. Vale ressaltar que o metabolismo também pode ser afetado, potencialmente levando ao ganho de peso, hipertensão arterial e diabetes. Sendo assim, é crucial que os pacientes que requerem administração prolongada de GOs sejam regularmente monitorados por profissionais de saúde, que devem ajustar as doses conforme necessário e adotar medidas preventivas para minimizar os riscos. (HUNTER, IVY & BAILEY, 2014; SUH & PARK, 2017; BUCKLEY & HUMPHREY, 2018). 

Pinto, Dias & Da Silva Neumann, 2018, destaca que para mitigar os efeitos adversos da administração prolongada, é frequentemente adotada estratégias como a prescrição da menor dose eficaz possível e a busca de outras opções terapêuticas sempre que viável. Além disso, podem ser recomendadas mudanças no estilo de vida, como dieta balanceada e exercícios regulares, para ajudar a controlar os efeitos metabólicos dos GCs. Nesses casos, a interrupção dos GCs deve ser feita gradualmente, permitindo que o corpo se ajuste à diminuição da supressão do sistema adrenal induzida pelos medicamentos.

Nesse cenário, o profissional farmacêutico possui extrema importância, no que tange ao esclarecimento do uso adequado dos medicamentos, contribuindo para a segurança e eficácia do tratamento (DE FARIA JUNIOR & FERREIRA, 2022). Além de dispensar os medicamentos, o farmacêutico desempenha um papel como educador de saúde, fornecendo informações detalhadas sobre como os medicamentos devem ser tomados, incluindo dosagem correta, posologia, interações possíveis com outros medicamentos e alimentos, e potenciais efeitos colaterais (NICOLETTI & ITO, 2018). Essa orientação é especialmente crucial para evitar erros de administração e garantir que o paciente siga corretamente o plano de tratamento prescrito (CARDINAL & FERNANDES, 2014).  O cuidado farmacêutico possui um papel crucial na promoção da saúde e na segurança dos pacientes, estabelecendo uma relação estreita com o farmacêutico como um profissional de saúde altamente capacitado (DESTRO et al., 2021).

4 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante disso, após a análise dos dados constatou-se que a dispensação de GOs com ou sem a presença da prescrição médica foi bastante acentuada, no qual dentre os mais dispensados se destacou a prednisona. Esta comercialização atrelada a facilidade de acesso pode levar à automedicação inadequada, onde os pacientes podem subestimar a gravidade de suas condições ou não entender completamente os possíveis efeitos colaterais e interações medicamentosas. Isso pode resultar em uso excessivo, subdosagem ou uso prolongado não supervisionado, o que por sua vez, pode mascarar sintomas subjacentes mais graves, levar a complicações de saúde e atrasar a busca por tratamento médico adequado. 

Apesar destes medicamentos isentos de retenção de receita possam ser úteis para aliviar sintomas leves e temporários, é crucial que os pacientes sigam as instruções de dosagem e procurem orientação do farmacêutico para proporcionar o uso racional do medicamento, assim melhorando a sua farmacoterapia. 

REFERÊNCIAS

ALMEIDA AAB. Uso indiscriminado dos corticosteróides no manejo das doenças respiratórias em uma drogaria em Feira de Santana–BA: ênfase na rinite alérgica. 2018. 57 f. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Farmácia) – Faculdade Maria Milza, Governador Mangabeira, Bahia, 2018.

ANTI, Sônia Maria Alvarenga; GIORGI, Rina Dalva Neubarth; CHAHADE, Wiliam Habib. Antiinflamatórios hormonais: glicocorticóides. Einstein, v. 6, n. 1, p. 159-165, 2008.

BARNES, Peter J. Mechanisms and resistance in glucocorticoid control of inflammation. The Journal of steroid biochemistry and molecular biology, v. 120, n. 2-3, p. 76-85, 2010.

BARNES, Peter J. Glucocorticoids. In: History of Allergy. Karger Publishers, 2014. p. 311-316.

BERESHCHENKO, Oxana; BRUSCOLI, Stefano; RICCARDI, Carlo. Glucocorticoids, sex hormones, and immunity. Frontiers in immunology, v. 9, p. 1332, 2018.

BERGMANN, Troels K. et al. Clinical pharmacokinetics and pharmacodynamics of prednisolone and prednisone in solid organ transplantation. Clinical pharmacokinetics, v. 51, p. 711-741, 2012.

BUCKLEY, Lenore; HUMPHREY, Mary B. Glucocorticoid-induced osteoporosis. New England Journal of Medicine, v. 379, n. 26, p. 2547-2556, 2018.

CAIN, Derek W.; CIDLOWSKI, John A. Immune regulation by glucocorticoids. Nature Reviews Immunology, v. 17, n. 4, p. 233-247, 2017.

CARDINAL, L.; FERNANDES, C. Pharmaceutical intervention in validation process of prescription. Rev Bras Farmácia Hosp e Serviços Saúde, v. 5, n. 2, p. 14-9, 2014.

PEREIRA, Ana Líbia Cardozo et al. Uso sistémico de corticosteróides: revisión de literatura. Medicina Cutánea Ibero-Latino-Americana, v. 35, n. 1, p. 35-50, 2007.

CASTRO-JIMÉNEZ, Miguel Ángel; CABRERA-RODRÍGUEZ, Daladier; CASTRO-JIMÉNEZ, María Isabel. Evaluación de tecnologías diagnósticas: conceptos básicos en un estudio con muestreo transversal. Revista Colombiana de obstetricia y ginecología, v. 58, n. 1, p. 45-52, 2007.

CAVALCANTE H. A. O., et al. Prevalência e riscos do uso indiscriminado de corticoides orais sem prescrição médica dispensados em algumas farmácias comerciais do Município de Três Lagoas – MS. 2014. Disponível em: < http://www.aems.edu.br/conexao/edicaoanterior/Sumario/2014/downloads/2014. Acessado em: 19 de maio de 2023.

COSTA, Monize Evelin Araujo; DE OLIVEIRA, Joelma Coelho Pina. A importância da atenção farmacêutica no uso racional de medicamentos. SAÚDE & CIÊNCIA EM AÇÃO, v. 8, n. 1, p. 109-129, 2022.

CUTOLO, Maurizio et al. Use of glucocorticoids and risk of infections. Autoimmunity reviews, v. 8, n. 2, p. 153-155, 2008.

DA CÂMARA, Felipe Alves et al. Correlação do uso de glicocorticoides com manifestações adversas neuropsíquicas e metabólicas. Brazilian Journal of Health Review, v. 4, n. 1, p. 1811-1828, 2021.

DE CARVALHO, Maria do Carmo et al. Uso de medicamentos sem prescrição médica em Teresina, PI. ConScientiae Saúde, v. 10, n. 1, p. 31-37, 2011.

DE FARIA JUNIOR, Cleusmar Gonçalves; FERREIRA, Tairo Vieira. Desafios da atuação farmacêutica diante das atribuições comerciais inerentes aos estabelecimentos farmacêuticos. Revista Saúde Dos Vales, v. 1, n. 1, 2022.

DE LIMA, Lucas Pinheiro; DE ARAUJO, André Luiz Costa. A influência da desregulação hormonal no desenvolvimento de transtornos psicopatológicos. Revista Multidisciplinar em Saúde, v. 1, n. 2, p. 15-15, 2020.

DESTRO, Délcia Regina et al. Desafios para o cuidado farmacêutico na Atenção Primária à Saúde. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 31, p. e310323, 2021.

FERNANDES A, et al. Medicamentos não sujeitos a receita médica: razões mais frequentes de seu uso. Revista Lusófona de Ciências e Tecnologias da Saúde, v. 1, n. 7, p. 47-55, 2010.

GALATO, Dayani et al. A dispensação de medicamentos: uma reflexão sobre o processo para prevenção, identificação e resolução de problemas relacionados à farmacoterapia. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 44, p. 465-475, 2008.

HARDY, Rowan S.; RAZA, Karim; COOPER, Mark S. Therapeutic glucocorticoids: mechanisms of actions in rheumatic diseases. Nature Reviews Rheumatology, v. 16, n. 3, p. 133-144, 2020.

HUNTER, Robert W.; IVY, Jessica R.; BAILEY, Matthew A. Glucocorticoids and renal Na+ transport: implications for hypertension and salt sensitivity. The Journal of physiology, v. 592, n. 8, p. 1731-1744, 2014.

KATZUNG, Bertram G.; VANDERAH, Todd W. Farmacologia básica e clínica. 15. Porto alegre: Artmed Editora, 2022; 1329p.

LANNA, Carla M. M.; MONTENEGRO, Renan M. Jr.; PAULA, Francisco J. A. Fisiopatologia da osteoporose induzida por glicocorticóide. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, v. 47, p. 9-18, 2003.

LAXER, Ronald M. Pharmacology and drug therapy. Textbook of pediatric rheumatology. 5. Philadelphia: Elsevier, 2005. p. 76-141.

LOPES, Heno Ferreira. Genética e hipertensão arterial. Revista Brasileira de Hipertensão, Rio de Janeiro, v. 21, n. 2, p. 87-91, 2014.

NICOLETTI, Maria Aparecida; ITO, Rosilene Kinue. Formação do farmacêutico: novo cenário de atuação profissional com o empoderamento de atribuições clínicas. Revista Saúde-UNG-Ser, v. 11, n. 3/4, p. 49-62, 2018.

PINTO, Filipe Ribeiro; DIAS, Lucas Figueiredo Ruas; DA SILVA NEUMANN, Karine Rodrigues. O uso prolongado de fármacos glicocorticoides e o desenvolvimento da síndrome de cushing. Revista Multidisciplinar do Nordeste Mineiro, v. 1, n. 1, 2018.

SANTOS, Thalyta Renata Araújo et al. Consumo de medicamentos por idosos, Goiânia, Brasil. Revista de Saúde Pública, v. 47, n. 1, p. 94-103, 2013.

SCHIJVENS, Anne M. et al. Pharmacology and pharmacogenetics of prednisone and prednisolone in patients with nephrotic syndrome. Pediatric Nephrology, v. 34, p. 389-403, 2019.

SUH, Sunghwan; PARK, Mi Kyoung. Glucocorticoid-induced diabetes mellitus: an important but overlooked problem. Endocrinology and metabolism, v. 32, n. 2, p. 180-189, 2017.

TURATO, Egberto Ribeiro. Métodos qualitativos e quantitativos na área da saúde: definições, diferenças e seus objetos de pesquisa. Revista de Saúde pública, v. 39, p. 507-514, 2005.

VAN DER GOES, M. C. et al. Can adverse effects of glucocorticoid therapy be prevented and treated?. Expert Opinion on Pharmacotherapy, v. 17, n. 16, p. 2129-2133, 2016.

WHALEN, Karen; FINKEL, Richard; PANAVELIL, Thomas A. Farmacologia Ilustrada. 6. Porto Alegre: Artmed Editora, 2016, 670 p.
WILLIAMS, Dennis M. Clinical pharmacology of corticosteroids. Respiratory care, v. 63, n. 6, p. 655-670, 2018.


1Discente do Curso Superior de Bacharelado em Farmácia da Faculdade Cosmopolita Campus Belém e-mail: valmirasoares1802@gmail.com

2Docente do Curso Superior de Bacharelado em Farmácia da Faculdade Cosmopolita Campus Belém. Doutor em Inovação Farmacêutica (PPGIF/UFPA). e-mail: rafaelquadros13@hotmail.com