PERFIL CLÍNICO E NUTRICIONAL DE ADULTOS E IDOSOS INTERNADOS NO PRONTO-SOCORRO DE UM HOSPITAL PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202412120820


Matheus Reis da Costa de Oliveira
Crislaine Cristina Alves Lima
Gabriela Garcia Naves Maia Furtado
Orientadora: Msc. Vanessa Teles Felinto Mello
Co-orientadora: Nut. Esp. Hellen Ferreira Teles de Oliveira


Introdução: A avaliação do estado nutricional é de suma importância no acompanhamento de pacientes hospitalizados, pois investiga as alterações nutricionais precoces e tardias, garantindo uma intervenção nutricional adequada. O objetivo do trabalho é identificar o perfil nutricional de pacientes admitidos no pronto socorro de um hospital público do Distrito Federal. Metodologia: Trata-se de um estudo quantitativo, observacional, transversal e descritivo, com amostra constituída por 384 pacientes admitidos no pronto-socorro de um hospital público do Distrito Federal, no período de agosto de 2023 até dezembro de 2023. Coletou-se dados antropométricos  e demográficos, além de realizada a classificação de risco segundo a NRS 2002 e diagnóstico nutricional pela GLIM. Para coleta do perfil clínico dos pacientes, realizou-se consulta em prontuário eletrônico, tabulando as informações em planilha do Excel® . Todos os pacientes participantes da pesquisa que estavam com via de alimentação oral ou enteral receberam um informativo de alimentação saudável. A análise estatística foi realizada por meio do software Stata® (versão 13.0), sendo realizadas análises univariadas e multivariadas. Foram construídos modelos brutos e ajustados de Regressão de Poisson (RP) com variância robusta. Resultados: Um total de 354 paciente participaram do estudo, obtendo maior prevalência de idosos do sexo masculino. Cerca de 36,44% dos pacientes apresentaram eutrofia segundo o IMC e 26,27% baixo peso. Das condições clínicas avaliadas, as mais prevalentes foram as doenças endócrinas e metabólicas e as menos prevalentes as doenças hepáticas. Dos pacientes avaliados, 50,85% apresentaram risco nutricional, destes, 21,47% alcançaram as metas nutricionais prescritas. A maioria dos pacientes com risco nutricional estavam desnutridos pelo IMC (p=0,007) e com desnutrição segundo a circunferência da panturrilha (p<0,001). Pacientes com risco nutricional apresentaram menores medidas antropométricas quando comparados aos pacientes sem risco nutricional (p<0,001), e, pacientes com risco nutricional apresentaram maior prevalência para serem classificados como desnutridos pela circunferência da panturrilha e pelo índice de massa corporal (p<0,001). A prevalência de desnutrição foi menor quando comparada a estudos similares (26,27%). A análise bruta demonstrou que os pacientes com risco nutricional apresentaram maior prevalência para estarem em terapia nutricional oral e em uso de sonda nasoenteral (p<0,001). Conclusão: Os achados demosntram que o perfil é de pacientes idosos, do sexo masculino, com prevalência de doenças cardiovasculares e desnutrição. O estudo mostra a importância da nutrição como parte dos cuidados hospitalares, mostrando a importância da triagem nutricional, da avaliação de medidas físicas como CB e CP, bem como da necessidade de protocolos que melhorem a continuidade das ações nutricionais iniciadas na admissão.

Palavras-chave: Desnutrição hospitalar, adultos, idosos, perfil nutricional.

1.     ABSTRACT

Introduction: The assessment of nutritional status is of paramount importance in the follow-up of hospitalized patients, as it investigates both early and late nutritional changes, ensuring appropriate nutritional intervention. The aim of this study is to identify the nutritional profile of patients admitted to the emergency department of a public hospital in Brasília. Methodology: This is a quantitative, observational, cross-sectional, and descriptive study, with a sample of 384 patients admitted to the emergency department of a public hospital in the Federal District, from August 2023 to December 2023.. Anthropometric and demographic data were collected, along with risk classification according to the NRS 2002 and nutritional diagnosis according to GLIM. To collect the clinical profile of the patients, an electronic medical record review was conducted, and the information was tabulated in an Excel® spreadsheet. All study participants with oral or enteral feeding routes received an informational leaflet on healthy eating. Statistical analysis was performed using Stata® software (version 13.0), and both univariate and multivariate analyses were conducted. Raw and adjusted Poisson Regression (PR) models with robust variance were constructed. Results: A total of 354 patients participated in the study, with a higher prevalence of elderly male patients. Approximately 36.44% of patients had normal nutritional status based on BMI, and 26.27% were underweight. Among the clinical conditions evaluated, endocrine and metabolic diseases were the most prevalent, while liver diseases were the least prevalent. Of the patients assessed, 50.85% were at nutritional risk, of which 21.47% reached the prescribed nutritional goals. The majority of patients at nutritional risk were malnourished according to BMI (p=0.007) and had malnutrition based on calf circumference (p<0.001). Patients at nutritional risk had lower anthropometric measurements compared to those without nutritional risk (p<0.001), and those at nutritional risk had a higher prevalence of being classified as malnourished by calf circumference and BMI (p<0.001). The prevalence of malnutrition was lower when compared to similar studies (26.27%). The raw analysis showed that patients at nutritional risk had a higher prevalence of being on oral nutritional therapy and using a nasoenteric tube (p<0.001). Conclusion: The findings demonstrate a profile of elderly male patients with a prevalence of cardiovascular diseases and malnutrition. The study highlights the importance of nutrition as part of hospital care, emphasizing the need for nutritional screening, the assessment of physical measurements such as calf circumference (CC) and calf perimeter (CP), and the necessity for protocols that improve the continuity of nutritional actions started at admission.

Keywords: Hospital malnutrition, adults, elderly, nutritional profile.

2.     INTRODUÇÃO

A avaliação do perfil nutricional é de suma importância para o acompanhamento de pacientes hospitalizados, pois tem o propósito de investigar as alterações nutricionais precoces e/ou tardias, proporcionando uma intervenção nutricional adequada para a recuperação e manutenção da saúde do paciente (SOUSA et al, 2018). A análise de risco nutricional é fundamental, por possibilitar à equipe multiprofissional, principalmente aos nutricionistas, o início imediato de terapia nutricional adequada e individualizada, diminuindo o  sinergismo  entre  a  desnutrição  e  os  demais  fatores  clínico-sociais  relacionados (TAQUES et al 2022).

A desnutrição é um sério problema de saúde em pacientes hospitalizados e está relacionada ao aumento da taxa de morbimortalidade (MEDEIROS et al 2021).  A desnutrição predispõe uma série de complicações graves, entre elas a propensão a infecções, falência respiratória, insuficiência cardíaca congestiva, diminuição da síntese de proteínas que gera dificuldade de cicatrização de feridas, diminuição da filtração glomerular, entre outras (SOUSA et al 2018). Além disso, pode levar a uma maior incidência de internações hospitalares prolongadas, elevado custo hospitalar, maior readmissão hospitalar e diminuição da qualidade de vida (MEDEIROS et al 2021).

Um estudo retrospectivo realizado na enfermaria de Cardiologia do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) apontou que os idosos apresentaram 3,7 vezes mais risco de desnutrição em relação aos adultos  (FERNANDES et al 2012). A idade avançada é um fator de risco. Muitos idosos já chegam ao hospital desnutridos, por fatores fisiológicos, patológicos, isolamento social, pobreza e/ou diminuição da capacidade cognitiva (BONILLA-PALOMAS et al 2011).

     Outra patologia relacionada  ao estado nutricional é a obesidade,  considerada uma doença crônica não transmissível (DCNT) e tem como característica o excesso de gordura corporal, a qual é fator para desenvolvimento de diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares. Nos dias atuais a antropometria é o método mais utilizado para o diagnóstico da obesidade, por ser mais acessível e de fácil aplicabilidade. (CEZINI, A.M; SOARES, L.O.Q, 2019) Pacientes obesos apresentam complicações que influenciam no manejo de cuidados como alterações na anatomia da cervical o que dificulta intubação; doença pulmonar que interfere na ventilação; risco aumentado de trombose venosa profunda e tromboembolismo pulmonar; anatomia alterada o que complica o acesso e a manutenção do acesso venoso central, entre outras (COMPRINI et al 2010). 

    Segundo Martins e colaboradores 2017, existem diversas ferramentas para avaliação do estado e do risco nutricional em pacientes hospitalizados. Pode-se citar os métodos objetivos como a antropometria, exames bioquímicos e composição corporal, bem como os métodos subjetivos que incluem exame físico, dados dietéticos, história clínica, e triagens nutricionais. Dentre os métodos objetivos, a antropometria é um importante instrumento de avaliação nutricional por fornecer os valores de composição corporal, massa magra e tecido adiposo  (SOUSA et al 2018). E dentre os subjetivos há as triagens nutricionais, destacando-se o Nutritional Risk Screening (NRS 2002), triagem de Risco Nutricional desenvolvido e validado para detectar precocemente o risco nutricional de adultos e idosos hospitalizados, de preferência logo após a admissão (TAQUES et al 2022).

Levando em consideração que a intervenção nutricional precoce e apropriada é eficaz na redução das complicações clínicas em pacientes hospitalizados (TAQUES et al 2022),  a  ausência de  pesquisas do perfil nutricional de pacientes hospitalizados em Brasília e o  interesse em traçar esse perfil, esse trabalho tem o objetivo de identificar o perfil nutricional de pacientes admitidos no pronto socorro de um hospital público do Distrito Federal

3. OBJETIVOS

3.1. OBJETIVO GERAL

Identificar o perfil nutricional e clínico de pacientes adultos e idosos internados no pronto socorro de um hospital público do Distrito Federal.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

●   Caracterizar o perfil demográfico da amostra;

●   Identificar o perfil clínico da amostra;

●   Identificar pacientes com risco nutricional;

●   Comparar risco e estado nutricional de adultos e idosos;

●   Classificar a amostra segundo o diagnóstico nutricional em pacientes com risco nutricional;

●   Identificar as comorbidades mais prevalentes;

●   Relacionar o risco nutricional com a utilização de Terapia Nutricional.

5.     METODOLOGIA

5.1  DESENHO DO ESTUDO

Trata-se de um estudo quantitativo, observacional, transversal e descritivo, com amostra constituída por 384 pacientes admitidos no pronto-socorro de um hospital público do Distrito Federal, no período de agosto de 2023 até dezembro de 2023.

5.2  CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Pacientes adultos e idosos, com idade superior ou igual a 18 anos, de ambos os sexos, admitidos em até 24 horas no pronto-socorro, entre os meses de agosto a dezembro de 2023,  mediante aceite de participação na pesquisa e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), próprio ou de acompanhante em caso de incapacidade física, motora, cognitiva ou de qualquer outra natureza.

5.3  CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Exclui-se do estudo pacientes gestantes e amputados. Também serão excluídos os pacientes admitidos no pronto-socorro ginecológico e ortopedia do hospital.

5.4  POPULAÇÃO E AMOSTRA

Serão coletados dados de pacientes adultos e idosos, de ambos os sexos, internados no pronto-socorro da Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Sala Amarela e Sala Vermelha. Para o cálculo do tamanho da amostra, utilizou-se o software Open Epi (Versão 3.03), a partir da quantidade de pacientes, adultos e idosos, internados no Pronto Socorro do hospital em que ocorreu o estudo.  Adotou-se cinco parâmetros para o cálculo, obtendo-se uma amostra mínima de 384 pacientes.

(1)   População total de pacientes adultos e idosos internados no pronto-socorro nos últimos 5 meses (n= 3955);

(2)   Prevalência de 48% de desnutrição hospitalar (WAITZBERG, CAIAFFA, CORREIA, 1999);

(3)   Erro tolerável 5%;

(4)   Nível de confiança 95%;

(5)   Acréscimo de 5% de perdas na coleta e 5% de fatores de confusão

5.5  ETAPAS DA PESQUISA

Os dados serão coletados a partir do preenchimento do formulário elaborado pelos pesquisadores (Âpendices 1 e 2) que conterá informações de dados antropométricos e demográficos: sexo, idade, peso, altura, circunferência do braço (CB), circunferência da panturrilha (CP), altura do joelho (AJ), índice de massa corporal (IMC) e comorbidades. Em seguida será realizada a triagem de risco nutricional (NRS 2002) (Anexo 1).  Caso o paciente apresente risco nutricional, será feito o diagnóstico nutricional através da Global Leadership Initiative on Malnutrition (GLIM 2018) adaptado (Anexo 2), proposto pela European Society for Parenteral and Enteral Nutrition (ESPEN) (KONDRUP et al, 2003). Também será utilizado o sistema de prontuário eletrônico da instituição para coleta de dados (InterSystems TrakCare®).

Para participação na pesquisa, o paciente ou acompanhante será convidado pelos pesquisadores, de forma clara, objetiva e com linguagem acessível, acerca da participação na pesquisa. Serão considerados, obrigatoriamente,  apenas os participantes que concordarem com os termos de aceite esclarecidos por meio do TCLE. Serão apresentados os riscos e benefícios da pesquisa, de maneira objetiva, clara e educada, evitando-se que o participante se sinta constrangido a participar da pesquisa, a fim  de que compreenda os procedimentos e opte por participar da pesquisa por espontânea vontade, com abertura de espaço para dúvidas e leitura do TCLE.

A aferição do  peso será em balança digital (até 150kg), com mínimo de roupa e sem calçados para os pacientes que deambulam. Em caso de impossibilidade da medida, será utilizada a fórmula descrita por Chumlea et al, 1988 (ANEXO 3), para predição. Para classificação do IMC, será considerada a classificação da Organização Mundial de Saúde (2009) para adultos e a classificação da Organização Pan Americana de Saúde (2002) em idosos.

Para aferição da altura, será utilizado a medida de altura recumbente, na qual o paciente fica em posição supina, com leito posicionado horizontalmente. Poderá ser aferida em qualquer lado, sendo realizada da base do pé ao topo da cabeça, utilizando fita métrica inelástica. Também poderá ser realizada a estimativa da altura por meio da altura do joelho (AJ), em caso de impossibilidade de aferir a altura recumbente.

A circunferência da panturrilha (CP) será realizada utilizando-se a fita métrica inelástica, na parte mais protuberante da panturrilha, considerando-se o paciente sentado ou deitado com um ângulo de 90°, com três medidas distintas, sendo considerada a de maior valor, sendo utilizado o ponto de corte de menor ou igual a 34 cm para homens e 33 cm para mulheres. Já a circunferência do braço, será realizada utilizando-se como referência o ponto médio entre o acrômio da escápula e o olécrano da ulna, com paciente deitado ou sentado, flexionando o braço em direção ao tórax, com um ângulo de 90°.

A avaliação de triagem de risco nutricional será realizada por meio do questionário da NRS 2002, desenvolvido por  Kondrup et al e certificado pela European Society for Parenteral and Enteral (ESPEN). O instrumento avalia o risco nutricional de pacientes internados e  deverá ser realizado nas primeiras 24 horas a partir do momento da internação (BARBOSA, 2019). O mesmo é dividido em duas etapas, sendo que a primeira etapa considera o IMC, a perda de peso, redução da ingestão alimentar e gravidade do quadro do paciente. Caso o paciente não pontue segundo os pontos de corte da primeira etapa, será considerado sem risco nutricional. Caso pontue em algum item da primeira etapa, deve-se seguir para a segunda etapa. Na segunda etapa são considerados a gravidade da doença e o estado nutricional do paciente, e em caso de idade maior ou igual a 70 anos, receberá um ponto adicional. Em caso de pontuação acima ou igual a três, o paciente terá risco nutricional e deverá ser reavaliado semanalmente.

Para realizar o diagnóstico nutricional, será utilizado o método GLIM que é uma ferramenta utilizada em meio hospitalar para que se possa classificar e traçar o diagnóstico do estado nutricional de pacientes internados (CEDERHOLM, Tommy et al 2019). A ferramenta possui domínios etiológicos e domínios fenotípicos. Os domínios etiológicos consideram a ingestão e absorção alimentar, além da presença de componente inflamatório. Já os domínios fenotípicos consideram a perda ponderal, perda de massa magra e o índice de massa corporal, sendo necessário pontuar em pelo menos um dos aspectos de cada um dos domínios para diagnóstico de desnutrição. A ferramenta classifica a desnutrição entre moderada e severa, além de relacionar à doença crônica com inflamação, doença crônica sem inflamação ou inflamação mínima, doença aguda com inflamação severa ou fatores não motivados por componentes inflamatórios.

Desta forma, a triagem  e a antropometria serão realizadas em todos os pacientes, no mesmo momento, pelo pesquisador, dentro das 24 horas desde a admissão do paciente. A avaliação e conclusão do diagnóstico nutricional pela GLIM será realizado apenas nos pacientes que forem classificados com risco nutricional, nas primeiras 24 horas de internação.

O perfil clínico dos pacientes será traçado por meio de busca em prontuário eletrônico (InterSystems TrakCare®), para preenchimento da “tabela de dados demográficos e clínicos” (apêndice 1), para posterior tabulação dos dados em planilha de Excel® e análise estatística.

A terapia nutricional (TN) será preenchida na “tabela de dados demográficos e clínicos” (Apêndice 1), que contemplará a via de administração. Quanto às características da terapia, não serão consideradas as características específicas como: valor energético total da terapia nutricional, osmolaridade, composição de macronutrientes e micronutrientes e demais características, considerando-se apenas o uso e qual o tipo de terapia escolhida para o quadro clínico do paciente, sendo estas: terapia nutricional por via oral, nutrição enteral e nutrição parenteral. Os dados serão tabulados em planilha do Excel® para posterior análise estatística.

Todos os pacientes participantes da pesquisa que estiverem com via de alimentação oral ou enteral receberão um informativo de alimentação saudável. Esses informativos foram criados pelos pesquisadores com base no guia alimentar da população brasileira 2014 (Apêndice 3 e 4).

5.6  ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados serão digitados em uma planilha do Excel® e as análises estatísticas analisadas por meio do software Stata® (versão 13.0).

Serão realizadas análises univariadas e multivariadas. As estatísticas descritivas serão usadas para caracterizar a amostra. Nessa etapa, cada variável será apresentada por meio da distribuição de frequências e estimativa de medidas de tendência central e de dispersão. A normalidade das variáveis do estudo será avaliada pelo teste de Shapiro-Wilk. Além dos testes de normalidade, serão utilizados métodos gráficos (histograma), curtose e assimetria para classificar as variáveis quanto à normalidade, bem como a avaliação de outliers.

Poderão ser usados os testes T de Student ou Mann-Whitney (para 2 grupos independentes) e ANOVA ou Kruskal-Wallis (para 3 grupos ou mais). O teste do Qui-quadrado de Pearson, Exato de Fisher e o Qui-quadrado de tendência linear para as análises qualitativas.

Serão construídos modelos brutos e ajustados de Regressão de Poisson (RP) com variância robusta. A razão de prevalência (RP) será calculado com intervalo de confiança de 95% (IC95%) sendo utilizado como medida de efeito. Para todas as hipóteses testadas o nível de significância adotado será menor que 0,05 (α = 5%).

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A amostra foi composta por 354 pacientes, internados no pronto-socorro. Destes, há prevalência de idosos e do sexo masculino, conforme a tabela 1. Dado diferente encontrado na literatura, visto queestudos revelam um maior percentual de atendimentos a pessoas do sexo feminino (OLIVEIRA, 2011). Indivíduos do sexo masculino possuem um estigma a respeito da sua saúde e de busca por serviços de saúde. Desta forma, há dificuldade de realização de prevenção e diagnóstico, fator este que pode estar relacionado com uma maior prevalência de internação, devido a demora pela procura de serviço especializado e agravamento do quadro (DE PAULA, VADOR, BARBOSA., 2021 ). 

A prevalência de hospitalização de idosos é multifatorial, visto que, diversos fatores atuam de forma mais acentuada nesta população, corroborando para um maior percentual de pacientes internados idosos (CARNEIRO, et al., 2016).

Tabela 01 – Caracterização do perfil demográfico de pacientes adultos e idosos internados no pronto socorro de um hospital público de Brasília (2024) (N=354)

VariáveisN%
Idade Adultos16245,76
Idosos19254,24
SexoFeminino16045,20
Masculino19454,80

N: Tamanho amostral; %: percentual.

Destaca-se a avaliação do Índice de Massa Corporal (IMC), no qual é evidenciada uma prevalência de pacientes eutróficos (36,44%), porém, com alto índice de pacientes com baixo peso (26,27%), seguido de sobrepeso (22,32%), e obesidade em menor quantidade. Analisando-se o percentual de adequação da circunferência da panturrilha, há prevalência de eutrofia. Ademais, 35,41% da população do estudo apresenta desnutrição, estando abaixo do percentual de desnutrição do inquérito brasileiro realizado em 1998, conhecido como IBRANUTRI, com a prevalência de 48,1% de desnutrição hospitalar (TOLEDO, et al., 2023). 

Tabela 02 – Estado nutricional de pacientes adultos e idosos internados no pronto socorro de um hospital público de Brasília (2024) (N=354)

                                    Variáveis                                  N                         %

Índice de Massa Corporal

Eutrofia12936,44
Baixo peso9326,27
Sobrepeso7922,32
Obesidade grau I3610,17
Obesidade grau II92,54
Obesidade grau III
Circunferência da Panturrilha (N=353)
82,26
Eutrofia22864,59
Desnutrição12535,41

N: Tamanho amostral; %: percentual.

Observando-se as comorbidades que afetam o público internado no pronto-socorro, percebe-se uma alta prevalência para doenças endócrinas e metabólicas (59,32%), seguido das doenças cardiovasculares (46,89%) e outras doenças (44,92%). As comorbidades menos prevalentes foram doenças hepáticas (5,65%), neoplasia (7,34%) e doenças do aparelho geniturinário (8,19%), conforme a tabela 3.  Segundo dados do Vigitel (BRASIL, 2023), a prevalência de hipertensão e diabetes no Brasil é de cerca de 27,9% e 10,2%, respectivamente. Estas estão entre as principais causas de agravamento do estado de saúde relacionadas à doenças cardiovasculares e metabólicas, aumentando a prevalência do público internado com estas características.

VariáveisDoenças CardiovascularesN%
Não18853,11
Sim
Doenças Endócrinos e Metabólicas
16646,89
Não14440,68
Sim
Doenças Renais
21059,32
Não28781,07
Sim
Doenças Hepáticas
6718,93
Não33494,35
Sim
Doenças do Aparelho Respiratório
205,65
Não27677,97
Sim
Doenças do Aparelho Geniturinário
7822,03
Não32591,81
Sim
Doenças do Aparelho Digestivo
298,19
Não31388,42
Sim4111,58

Tabela 03 – Presença de comorbidades em pacientes adultos e idosos internados no pronto socorro de um hospital público de Brasília (2024) (N=354)

Doenças do Sistema Nervoso  
Não28079,10
Sim
Neoplasias
7420,90
Não32892,66
Sim
Trauma/Ortopedia
267,34
Não28480,23
Sim
Outras Doenças
7019,77
Não19555,08
Sim15944,92

N: Tamanho amostral; %: percentual.

Comorbidades que apresentam necessidade de atendimento de especialistas, são encaminhados para a enfermaria especializada, diminuindo a prevalência no pronto socorro, apesar dos dados do INCA que estimam que são esperados cerca de 704 mil novos casos de câncer por ano entre 2023 e 2025 (BRASIL, 2022)

Quanto à via de alimentação, percebe-se uma prevalência da utilização de terapia nutricional por via oral, e baixa utilização de sonda nasoenteral e ausência de pacientes internados com utilização de GTT e JTT. Há uma prevalência de 50,85% de risco nutricional, destes, 21,45% não atingiu a recomendação calórica proposta (tabela 5).

Tabela 04 – Tipo e local de terapia nutricional de pacientes adultos e idosos internados no pronto socorro de um hospital público de Brasília (2024) (N=354)

VariáveisN%
Terapia Nutricional por Via Oral
Não
23666,67
Sim11833,33
Terapia Nutricional por Sonda Nasoenteral
Não
32992,94
Sim257,06
Terapia Nutricional por GTT ou JTT
Não
354100,00
Sim00,00

N: Tamanho amostral; %: percentual; GTT: Gastrostomia; JTT: Jejunostomia

Estabelecer metas nutricionais e atingi-las,  garante um menor tempo de internação e recuperação adequada do paciente (COLLA et al., 2024). Estudo que avaliou indicadores de qualidade em terapia nutricional demonstrou que cerca de 44,97% dos pacientes analisados não conseguiram alcançar as metas nutricionais propostas, número maior quando comparado aos valores encontrados.  (ALVES, BORGES, 2023).

05 Risco nutricional e adequação às metas prescritas de pacientes adultos e idosos internados no pronto socorro de um hospital público de Brasília (2024) (N=354)

VariáveisN%
Presença de Risco Nutricional
Não
17449,15
Sim18050,85
Paciente atingiu a meta
Sim
27878,53
Não7621,47

N: Tamanho amostral; %: percentual; GTT: Gastrostomia; JTT: Jejunostomia

Com relação ao risco nutricional avaliado pela triagem nutricional (NRS 2002), a  metade  dos  pacientes  50,85% (180)  foram classificados com  risco  nutricional,  fato este que corrobora com o estudo de Carvalho et al., 2021, onde avaliaram o estado nutricional de pacientes internados em um hospital de Minas Gerais e obtiveram resultado semelhante, com quase a  metade  dos  pacientes  44,3%  avaliados com  risco  nutricional. Já o estudo de Martins e colaboradores 2017, avaliou 302 pacientes em uma unidade hospitalar e  92% foram classificados com risco nutricional.

Dos 354 pacientes avaliados no estudo, 278 (78,5%) pacientes atingiram a meta energética proposta e 76 pacientes (21,47%) não atingiram a meta, fato este que traz preocupação para os profissionais da saúde, pois isto ao longo da internação contribui com déficit energético, desnutrição intra-hospitalar, aumento do tempo de internação e também de custos hospitalares. Segundo a literatura, a diferença entre o prescrito e o ofertado (tanto para via oral e enteral) na maioria das vezes é causada por interrupções na oferta, jejum para procedimentos, atraso no início da terapia nutricional, inadequação da dieta, falta de individualização, ou até o estado inflamatório em que o paciente se encontra (TOLEDO, et al., 2023). 

É de extrema importância a participação dos pacientes no seu processo alimentar, a fim de garantir uma adequada ingestão do que é prescrito. Sabe-se que a saciedade precoce, bem como a  intolerância alimentar,  inapetência,  náuseas, vômitos  e  disfagia,  atrapalham o paciente de atingir a meta proposta,  interferindo no  sucesso  da  terapia nutricional.  Além disso, há o estado emocional,  que  muitas vezes é atribuído  à  alimentação.  A perda  da autonomia em relação às preferências alimentares e as mudanças no padrão alimentar, podem ser causas de conflito gerando sentimentos de raiva, ansiedade e por vezes depressão (CARVALHO, et al., 2021).

Tabela 06 Associação entre o risco nutricional com a utilização de terapia nutricional de pacientes adultos e idosos internados no pronto socorro de um hospital público de Brasília (2024) (N=354)

VariáveisTerapia Nutricional por Via OralRisco NutricionalP valor
Não N (%)Sim N (%)
Não142 (60,17)94 (39,83)<0,001*
Sim
Terapia Nutricional por Sonda Nasoenteral¹
32 (27,12)86 (72,88) 
Não174 (52,89)155 (47,11)<0,001*
Sim0 (0,00)25 (100,00) 

N: Tamanho amostral; %: percentual; GTT: Gastrostomia; JTT: Jejunostomia.

Qui-Quadrado de Pearson. ¹Teste Exato de Fisher. *p<0,005= significância estatística.

Observa-se que, os pacientes em utilização de TNVO e SNE apresentam risco nutricional, conforme demonstra a tabela 6, com significância estatística para os dados (P <0,001*).

    Dos pacientes avaliados no estudo, os que tinham risco nutricional e que estavam com a TNVO foram 86 (72%) e 25 (100%) estavam com alimentação enteral. Todos os pacientes que estavam com TNE tiveram risco nutricional (100%). É interessante afirmar que a NRS 2002 é um instrumento sensível para definir o risco nutricional, sendo assim, a maioria dos pacientes com critério de TNE podem se encaixar na pontuação de estado nutricional da NRS-2002 somados ao estado metabólico e idade ( idoso > 70 anos). É de extrema importância que pacientes com TNE sejam triados precocemente na admissão hospitalar, a fim de definir qual o melhor e mais adequado tratamento nutricional (KONDRUP, ALLISON, PLAUTH, 2003).

Tratando-se do risco nutricional, os pacientes com TNVO e em risco nutricional 86 (72%) foram a maioria no respectivo estudo, trazendo a ideia que a alimentação via oral tenha impacto significativo no estado nutricional dos pacientes. Um estudo de taques et al 2022 mostrou que pacientes com  risco nutricional (73,5%), estavam com a alimentação via oral e estes pacientes tiveram aceitação declarada como ‘’ruim’’, contribuindo assim para o risco nutricional (TAQUES, et al., 2022). Por isso a importância da visita diária e visita definida em protocolo institucional, estabelecendo prioridade para pacientes em risco nutricional, pois o início imediato de uma terapia nutricional oral ou enteral adequada e individualizada minimiza os efeitos da desnutrição e de fatores de risco associados.

07 Associação entre o risco nutricional e estado nutricional de pacientes adultos e idosos internados no pronto socorro de um hospital público de Brasília (2024) (N=354)

Estado NutricionalÍndice de Massa Magra (IMC)¹Risco NutricionalP valor
Não N (%)Sim N (%)
Eutrofia70 (54,26)59 (45,74)0,007*
Desnutrição11 (11,83)82 (88,17) 
Excesso de Peso
Circunferência da Panturrilha
93 (70,45)39 (29,55) 
Eutrofia141 (61,84)87 (38,16)<0,001*
Desnutrição32 (25,60)93 (74,40) 

N: Tamanho amostral; %: percentual; GTT: Gastrostomia; JTT: Jejunostomia.

¹Qui-quadrado de Tendência Linear, Qui-Quadrado de Pearson. *p<0,005= significância estatística.

Analisou-se a associação entre o risco nutricional e o estado nutricional dos pacientes, observando-se que a maioria dos pacientes com risco nutricional estavam desnutridos pelo IMC (p=0,007) e com desnutrição segundo a circunferência da panturrilha (p<0,001) (tabela 7).

Os pacientes com risco nutricional avaliados pelo IMC como eutróficos foram 59 (45%), desnutridos 82 (88%) e excesso de peso 39 (29%). O estudo trouxe que a maioria dos pacientes em risco nutricional eram desnutridos tanto pelo IMC (88%), quanto pela CB (74,4%).  Entretanto, é importante destacar que o uso isolado do IMC não é um bom parâmetro, uma vez que ele não detecta alterações da composição corporal e presença de edema. O IMC apresenta-se como um bom parâmetro de avaliação nutricional quando combinado com outras medidas para avaliação de compartimentos corporais, por isso o estudo trouxe a CB como método de combinação (FIGUEIRA, et al, 2023).

A CB representa a soma das áreas constituídas pelos tecidos ósseo, muscular e gorduroso do braço, é uma medida rápida e fácil de aplicar e é correlacionada com a massa muscular sendo utilizada para diagnosticar alterações da massa muscular corporal total e, assim, o estado nutricional proteico. Em relação a CB verificou-se que a maioria dos indivíduos apresentaram depleção da CB, o que condiz com o estudo de Figueira et al. 2023 que avaliou o estado nutricional de 42 pacientes internados em um hospital do sul do Espírito Santo, sendo 18 (45%) classificados como depleção de CB.

Quando comparado pacientes com risco de desnutrição e com a CB classificada como  desnutrição, estudo é semelhante ao de Marins et al 2017, onde todos os pacientes classificados com desnutrição, tiveram depleção de CB ( 95%).

Tabela 08 – Estado nutricional segundo o GLIM de pacientes adultos e idosos internados no pronto socorro de um hospital público de Brasília (2024) (N=354)

                                                             GLIM                                                   N    %

Não desnutrido26173,73
Desnutrição moderada relacionada a doença aguda123,39
Desnutrição moderada relacionada a doença crônica205,65
Desnutrição moderada relacionada a doença crônica com inflamação164,52
Desnutrição grave relacionada a doença aguda102,82
Desnutrição grave relacionada a doença aguda com inflamação20,56
Desnutrição grave relacionada a doença crônica51,41
Desnutrição grave relacionada a doença crônica com inflamação287,91

N: Tamanho amostral; %: percentual.

 Analisando-se o estado nutricional dos paciente segundo o diagnóstico nutricional pelo GLIM (tabela 5), percebe-se que há uma prevalência de pacientes não desnutridos (73,73%) e, cerca de 26,27% de pacientes com algum grau de desnutrição, sendo o mais prevalente a desnutrição grave relacionada a doença crônica com inflamação (7,91%).

A prevalência de desnutrição hospitalar encontrada no estudo de Laty et al, 2023,  evidencia cerca de 46,8%, número consideravelmente maior ao encontrado no estudo atual. O estudo de Moraes et. al. 2023, evidencia também um alto número de prevalência de desnutrição hospitalar, com cerca de 50,5% dos pacientes avaliados com desnutrição. Este resultado encontrado no estudo pode ser explicado pelo perfil da clínica estudado, visto que, o tempo de permanência do paciente no pronto-socorro é reduzido quando comparado com outras clínicas, sendo menos suscetível aos determinantes da desnutrição (PRESTES, MARCUS, et. al, 2019).

09 – Associação entre risco nutricional e medidas antropométricas de pacientes adultos e idosos internados no pronto socorro de um hospital público de Brasília (2024) (N=354)

Medidas antropométricasRisco Nutricional      Não             SimMédia±DP  Média±DPP valor
Índice de Massa Magra (Kg/m²)27,52±5,25  23,12±5,84<0,001*
Peso (Kg)75,33±16,13 61,99±18,05<0,001*
Circunferência da Panturrilha (cm)33,77±4,42   30,70±5,16<0,001*
Circunferência do Braço (cm)30,81±4,45   27,67±5,02<0,001*

DP: Desvio Padrão. Teste de Mann-Whitney. *p<0,005= significância estatística.

Analisou-se a associação entre risco nutricional e as medidas antropométricas dos pacientes internados, observando-se que pacientes com risco nutricional apresentaram menores medidas antropométricas quando comparados aos pacientes sem risco nutricional (p<0,001), (tabela 9).

Informação que vai ao encontro dos dados coletados em pesquisa realizada em um serviço de emergência de um hospital público, universitário, referenciado e de alta complexidade, onde evidenciou-se que os pacientes sem risco possuíam valores medianos de 29,1 cm e 34,2 cm para os indicadores CB e CP, respectivamente. Em contrapartida, aqueles do grupo de risco nutricional apresentaram valores médios significativamente menores, 26,0 cm e 31,8 cm para os indicadores CB e CP, respectivamente. Os valores de IMC também acompanharam a tendência dos grupos (SILVA, F. R. et al). 

A análise bruta demonstrou que os pacientes com risco nutricional apresentaram maior prevalência para serem classificados como desnutridos pela circunferência da panturrilha e pelo índice de massa corporal (p<0,001). A associação se manteve mesmo após ajustes por sexo e idade (p<0,001).

Tabela 10 – Regressão bruta e ajustada entre a presença de risco nutricional e estado nutricional pacientes adultos e idosos internados no pronto socorro de um hospital público de Brasília (2024) (N=354)

VariáveisCircunferência daPanturrilhaRPIC 95%pRPIC 95%p
Eutrofia1     
Desnutrição IMC1,941,60-2,36<0,001*1,781,46-2,18<0,001 *
Eutrofia e excesso de peso1  1  

         Desnutrição         2,34   1,97-2,79  <0,001*    2,15     1,79-2,58         <0,001

* RP: razão de prevalência, IC 95%: intervalo de confiança de 95%.

Variáveis ajustada por sexo e idade. *p<0,005= significância estatística.

Os resultados encontrados nesse estudo estão em consonância à análise de SILVA, F. R. et al, que também utilizou a NRS/2002 como parâmetro nutricional e encontrou mais da metade da população estudada em risco, sendo os idosos a população mais vulnerável. Na análise citada, os pacientes do grupo de risco nutricional apresentaram valores médios significativamente menores, 26,0 cm (18,5 – 37,0) e 31,5 cm (21,5 – 45,0) para os indicadores CB e CP, respectivamente e os valores de IMC também se mostraram significativamente menores entre os pacientes identificados em risco nutricional, tanto em adultos quanto em idosos. (SILVA, F. R. et al). 

Por fim, a análise bruta demonstrou que os pacientes com risco nutricional apresentaram maior prevalência para estarem em terapia nutricional oral e em uso de sonda nasoenteral (p<0,001). A associação se manteve mesmo após ajustes por sexo e idade (tabela 11).

De acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n. 63 de 06/07/2000, da Agência  Nacional  de  Vigilância  Sanitária  (ANVISA),  a  Terapia  Nutricional  Enteral  (TNE)  é  constituída  por alimentos para fins especiais, com ingestão controlada de nutrientes, na forma isolada ou combinada, especialmente elaborada para uso por via oral, sonda ou ostomias de nutrição, para substituir ou complementar a alimentação do paciente, permitindo o alcance das necessidades proteico-calóricas em pacientes desnutridos ou em risco nutricional, conforme suas necessidades nutricionais, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando à síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas (ANVISA, 2000).

Há correlação entre pacientes em risco nutricional e necessidade aumentada para o recebimento de suplementações orais e enterais em comparação aos que não estão em risco, tendo em vista que o paciente em risco geralmente tolera volumes reduzidos de dieta, devido ao quadro da patologia e a associação de medicamentos que sensibilizam o sistema gastrointestinal. Nesta realidade, a suplementação se mostra eficaz por apresentar uma maior concentração de nutrientes em menor volume, aumentando o aporte nutricional recebido pelo paciente e consequentemente, uma melhor evolução do quadro de saúde (FUJINO, 2007).

11 – Regressão bruta e ajustada entre a presença de risco nutricional e tipo de terapia nutricional pacientes adultos e idosos internados no pronto socorro de um hospital público de Brasília (2024) (N=354)

VariáveisRPIC 95%pRPIC 95%p
Terapia NutricionalOral
Não
1     
Sim1,821,51-2,21<0,001*1,701,41-2,06<0,001 *
Terapia NutricionalVia SondaNasoenteral Não1  1  
Sim2,121,89-2,38<0,001*1,831,59-2,11<0,001 *

RP: razão de prevalência, IC 95%: intervalo de confiança de 95%.

Variáveis ajustada por sexo e idade. *p<0,005= significância estatística

7.  CONCLUSÃO

Este estudo avaliou o perfil nutricional de pacientes internados em um pronto-socorro de um hospital público do Distrito Federal e mostrou que a maioria dos pacientes do estudo eram idosos, e o sexo masculino teve a maior porcentagem de internação. A prevalência de hospitalização de idosos é multifatorial, e existem diversos fatores que implicam neste achado, tais como a prevalência de doenças cardiovasculares, renais e metabólicas que foram as mais encontradas no estudo. Quanto ao IMC, a maioria dos pacientes foram classificados com eutrofia e desnutrição, sendo que essa última tem implicações significativas para a abordagem clínica e intervenções terapêuticas.

O estudo destaca a importância de realizar triagem nutricional precoce, uma vez que que a maioria dos pacientes foram triados com risco nutricional e quase metade dos pacientes não tiveram a meta nutricional atingida. Da mesma forma, o estudo trouxe a relevância da realização do diagnóstico nutricional (GLIM 2018), para classificar a desnutrição dos pacientes triados com risco nutricional. Diante desta realidade, a utilização do protocolo de triagem nutricional NRS (2002) e diagnóstico nutricional (GLIM – 2018)  são necessários para definir o início de uma terapia nutricional adequada, seja ela por via oral, enteral ou parenteral, visando a recuperação e manutenção do estado de saúde, assim como na prevenção da desnutrição hospitalar, principalmente na população idosa. É sabido que abordagens individualizadas e estratégias preventivas são de suma importância para melhorar a condição nutricional em pronto-socorros, a fim de minimizar os efeitos da desnutrição hospitalar.

Em suma, a pesquisa enfatiza a importância da nutrição como parte dos cuidados hospitalares, mostrando a importância da triagem nutricional, da avaliação de medidas físicas como CB e CP, bem como da identificação das principais comorbidades e da necessidade de protocolos que melhorem a continuidade das ações nutricionais iniciadas na admissão, favorecendo a melhor adesão ao tratamento nutricional e mimetizando os efeitos deletérios da má nutrição.

8.  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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