REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202509041925
Nágila Santos Januário
Orientadora Professora Doutora: Lídia Maria Ruv Carelli Barreto
RESUMO
A conservação das abelhas tem sido reconhecida como prioridade internacional devido ao seu papel ecológico e à importância para a manutenção da biodiversidade e da segurança alimentar. Nesse contexto, a apicultura (criação de abelhas com ferrão) e a meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão) emergem não apenas como atividades econômicas e culturais, mas também como ferramentas pedagógicas relevantes para a educação ambiental. O presente estudo teve como objetivo analisar as percepções de professores da rede municipal acerca da apicultura e da meliponicultora, identificando o nível de conhecimento prévio, a disposição para trabalhar o tema e os principais desafios à sua implementação pedagógica. A pesquisa caracteriza-se como descritiva, de abordagem qualiquantitativa, realizada por meio de questionário online estruturado em perguntas de múltipla escolha, aplicado aos docentes da rede municipal. Os resultados apontaram que 95% dos professores possuem conhecimento prévio sobre apicultura e meliponicultora, 68% reconhecem a importância ecológica das abelhas e 55% demonstraram interesse em capacitações sobre o tema. Contudo, 100% afirmaram nunca ter desenvolvido atividades pedagógicas relacionadas, indicando uma lacuna entre teoria e prática. Também foram mencionados desafios institucionais e de infraestrutura, como ausência de materiais e resistência cultural. Conclui-se que há elevado potencial para integrar a temática ao currículo escolar, desde que sejam garantidas formações continuadas, suporte institucional e recursos adequados, fortalecendo a educação ambiental crítica e interdisciplinar no contexto escolar.
Palavras-chave: Apicultura; Meliponicultora; Educação Ambiental; Professores; Ensino Interdisciplinar.
1. INTRODUÇÃO
A classe inseto ocupa um papel central nas interações ecológicas entre animais e plantas, especialmente no processo de polinização (DEL-CLARO; TOREZAN-SILINGARDI, 2006; SILVA et al., 2019). Este fenômeno consiste na transferência de grãos de pólen das anteras (estrutura reprodutora masculina) para o estigma (estrutura reprodutora feminina) da mesma flor ou de outra da mesma espécie, permitindo a fecundação e, consequentemente, a produção de sementes e frutos (NASCIMENTO et al., 2012; GOMES et al., 2010).
Entre os diversos polinizadores existentes, as abelhas se destacam como agentes fundamentais devido à sua eficiência e ampla diversidade, estimada em mais de 20.400 espécies, que apresentam variados modos de vida e níveis de organização social — desde espécies solitárias até aquelas altamente sociais e especializadas em polinização (IMPERATRIZ-FONSECA; DIAS, 2004; MICHENER, 2007).
As abelhas constituem um grupo monofilético, ou seja, compartilham um ancestral comum que viveu há cerca de 135 milhões de anos, no período Cretáceo, concomitantemente ao surgimento das primeiras plantas com flores (SILVEIRA et al., 2002). Pertencem à ordem Hymenoptera (do grego hymen = membrana; pteron = asa), subordem Apocrita, superfamília Apoidea, estando distribuídas principalmente em regiões tropicais e subtropicais. Aproximadamente 20.400 espécies já foram descritas, divididas em sete famílias, das quais cinco ocorrem no Brasil: Apidae (abelhas nativas sem ferrão e do gênero Apis), Colletidae, Halictidae, Andrenidae e Megachilidae (CANE, 1983; SAKAGAMI; MICHENER, 1987; ROIG-ALSINA et al., 1993; SCHIESTL; AYASSE, 2000; NATES-PARRA; GONZALEZ, 2000; SILVEIRA et al., 2002; MELO; GONÇALVES, 2005; CANE et al., 2007; MICHENER, 2007).
No interior da família Apidae, as abelhas sem ferrão (Meliponini) constituem um grupo particular cujo ferrão é atrofiado. Essa característica levou à evolução de estratégias alternativas de defesa, como a liberação de compostos voláteis, mordeduras e enroscamento nos pelos de predadores (FRANCKE et al., 2000; RECH et al., 2013). No Brasil, há registro de mais de 300 espécies de abelhas sem ferrão, sendo as mais criadas racionalmente: uruçu verdadeira (Melipona scutellaris), uruçu amarela (Melipona rufiventris), jataí (Tetragonisca angustula), mandaçaia (Melipona quadrifasciata) e tiúba amarela (Melipona compressipes).
O mel das abelhas sem ferrão apresenta características sensoriais e físico-químicas distintas em relação ao produzido pelas Apis mellifera, incluindo menor viscosidade, aroma mais pronunciado, coloração variada e sabor mais ácido. Além de seu valor gastronômico, possui propriedades funcionais benéficas à saúde humana, como atividades antimicrobianas, antioxidantes e anti-inflamatórias (NOGUEIRA-NETO, 1997; CARVALHO et al., 2003).
A conservação das abelhas é reconhecida internacionalmente como prioridade devido ao seu papel ecológico, especialmente na manutenção da biodiversidade e na garantia da segurança alimentar. Nesse contexto, a apicultura (criação de abelhas com ferrão) e a meliponicultora (criação de abelhas sem ferrão) representam não apenas atividades econômicas e culturais relevantes, mas também ferramentas pedagógicas potentes para promover educação ambiental, estimular o pensamento científico e fortalecer o vínculo entre sociedade e natureza.
No Brasil, apesar da rica diversidade de espécies, a inserção da temática no currículo escolar ainda é incipiente, especialmente em municípios com forte perfil agropecuário, nos quais é urgente promover a conexão entre produção e conservação. Nesse sentido, compreender o conhecimento, as percepções e o interesse dos professores é passo essencial para planejar intervenções educativas.
Assim, o presente estudo tem como objetivo analisar as percepções de professores da rede municipal sobre apicultura e meliponicultora, identificando o nível de conhecimento prévio, a disposição para trabalhar o tema e os principais desafios percebidos para sua implementação pedagógica.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa desenvolvida caracteriza-se como descritiva, de abordagem qualitativa e quantitativa, pois buscou compreender percepções e conhecimentos dos professores da rede municipal a respeito da apicultura e da meliponicultura, ao mesmo tempo em que quantificou a frequência das respostas por meio da aplicação de questionário estruturado (MONDADA, 1997; TRIVIÑOS, 1987).
O instrumento de coleta de dados consistiu em um questionário online, elaborado em formato de perguntas fechadas e de múltipla escolha. O questionário foi organizado em blocos temáticos, abordando: (i) perfil profissional dos docentes (escola de atuação, disciplina, tempo de serviço); (ii) conhecimento prévio sobre apicultura e meliponicultora; (iii) fontes de informação utilizadas; (iv) experiências pedagógicas relacionadas ao tema; (v) percepção sobre a importância das abelhas; (vi) possibilidades de interdisciplinaridade; (vii) interesse em capacitação; e (viii) principais desafios para inserção do tema nas escolas.
A aplicação foi realizada de forma remota, por meio de formulários digitais enviados via e-mail institucional e grupos de mensagens aos professores da rede municipal. Essa estratégia foi adotada visando facilitar a participação dos docentes, garantir maior alcance e otimizar a coleta de dados em um contexto de restrições de tempo e deslocamento (GUAZI, 2021; DE OLIVEIRA, GUIMARÃES, DE LIMA FERREIRA, 2023).
As respostas obtidas foram automaticamente tabuladas pela plataforma online e, posteriormente, organizadas em planilhas eletrônicas. A análise quantitativa foi conduzida a partir da distribuição percentual das alternativas, representadas em gráficos de colunas e setores, possibilitando a visualização das tendências predominantes. Já a análise qualitativa foi realizada com base na interpretação dos resultados, relacionando-os à literatura científica sobre educação ambiental, apicultura e meliponicultora (SANTOS, 2017; NETO, 2017; BOLFE, 2025).
Assim, a metodologia adotada permitiu articular dados estatísticos descritivos e análises interpretativas, fornecendo um panorama consistente acerca das percepções, interesses e desafios identificados pelos professores em relação à integração da temática no contexto escolar (DE CASTRO, DE OLIVEIRA, 2022).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A amostra concentrou-se em duas escolas municipais (54,5% e 45,5%), caracterizando amostragem de conveniência e exigindo cautela na generalização dos achados. As áreas de docência mais frequentes foram, Matemática (19%), Biologia (14%), Português (14%) e Ciências (14%), com participação adicional de História (9%), Geografia (10%), Educação Física (10%) e Arte (5%).

Como observa Fontes (2019, p. 45):
“Os professores com maior tempo de atuação demonstram maior abertura para práticas pedagógicas que se relacionem diretamente com o cotidiano do aluno, especialmente quando envolvem questões socioambientais, pois percebem nelas um potencial de engajamento e motivação no processo de ensino-aprendizagem.”
O tempo de atuação docente foram predominantemente de 5 anos (35%), seguido por 3 anos (20%), 4 e 7 anos (15% cada) e 6 anos (10%), indicando um corpo relativamente experiente, mas ainda em fase de consolidação de práticas pedagógicas.

Esse perfil indica um cenário propício à implementação de práticas pedagógicas inovadoras. Assim, professores mais experientes tendem a valorizar metodologias que estabeleçam vínculos com a realidade socioambiental, o que fortalece a relevância de integrar a apicultura e a meliponicultora ao currículo. A familiaridade com o tema mostrou-se elevada: 95% afirmaram já ter ouvido falar de apicultura. Entretanto, apenas 68,2% conhecem a diferença entre abelhas com ferrão (Apis mellifera) e sem ferrão (meliponíneos), enquanto 31,8% não sabem ou têm apenas “alguma ideia”. Essa discrepância entre conhecimento geral e literacia específica aponta para lacunas conceituais relevantes.

O consumo de mel é igualmente significativo: 95,5% já consumiram mel de abelhas sem ferrão e 100% consideram o mel importante para a saúde. Esse capital simbólico positivo pode ser mobilizado em projetos escolares. Imperatriz-Fonseca e Dias (2004, p. 29) lembram que “o reconhecimento do papel ecológico das abelhas como agentes polinizadores é fundamental para compreender a relação entre biodiversidade e segurança alimentar”, o que justifica a necessidade de ampliar o enfoque para além do produto mel.

A mídia (TV, rádio, internet, redes sociais) foi citada por 95% dos respondentes como principal fonte de informação, enquanto escola e universidade aparecem marginalmente. Consequentemente, a relevância das abelhas foi associada quase exclusivamente à produção de mel (95%), e apenas 5% mencionaram polinização e manutenção da biodiversidade.

Esse viés utilitarista, já identificado em outros estudos, reforça a necessidade de mediações críticas e formais. Silveira et al. (2002, p. 57) destacam que “a dependência da produção agrícola em relação aos polinizadores é inquestionável”, e que a redução das populações de abelhas compromete tanto a biodiversidade quanto a subsistência humana.
Nenhum dos docentes declarou já ter participado ou promovido atividades pedagógicas sobre abelhas. Apenas 27,3% relataram alguma iniciativa na escola, contra 72,7% que afirmaram não haver práticas nesse campo. Apesar disso, 100% concordaram que o tema pode ser trabalhado de forma interdisciplinar. Biologia (54,5%) e Ciências (36,4%) foram as áreas mais citadas, mas houve menções integradoras envolvendo Geografia, Matemática, História e Artes.

Os principais desafios apontados foram:
- Aceitação dos alunos (40,9%);
- Aceitação institucional ou dos docentes (~36,4%);
- Falta de tempo, infraestrutura e receios relacionados a alergias.
Essas barreiras possuem tanto natureza sociocognitiva (medos, desconhecimento) quanto organizacional (tempo curricular, carência de materiais). Nogueira-Neto (1997, p. 112) já indicava quea criação racional de abelhas indígenas sem ferrão pode superar tais entraves ao articular conhecimento científico, experiência prática e consciência ecológica.
A maioria dos docentes (95,5%) manifestou interesse em formação específica sobre apicultura/meliponicultura. Os principais temas de interesse foram:
- Criação de abelhas sem ferrão (81,8%);
- Produção de mel e derivados (68,2%);
- Polinização e biodiversidade (68,2%);
- Práticas pedagógicas e sustentabilidade/economia local (50%).
Esse cenário evidencia a oportunidade de desenvolver um currículo em espiral, que pode iniciar em conceitos básicos e segurança, avançar para serviços ecossistêmicos da polinização, conectar-se às cadeias de valor locais e culminar em projetos interdisciplinares (hortas escolares, feiras, trilhas polinizadoras).
Os dados sustentam a viabilidade de um programa de formação continuada modular, com materiais abertos, atividades de baixo risco (foco em meliponíneos) e parcerias com universidades e associações de meliponicultores.
Esse programa deve contemplar:
- Alfabetização científica (ecologia, biodiversidade, serviços ecossistêmicos);
- CTS/STEAM (experimentação, análise de dados, geografia de paisagens polinizadoras, artes para comunicação científica);
- Saúde e alimentação (nutrição, segurança do alimento, combate a fraudes);
- Territorialização da bioeconomia (contexto regional e arranjos produtivos locais).
Ferreira et al., 2012) reforçam que a implantação de meliponários em ambientes escolares demanda um suporte institucional consistente, sustentado por condições estruturais, pedagógicas e culturais que viabilizem sua efetiva integração ao contexto educacional.
Os resultados obtidos revelam um perfil docente caracterizado por significativa experiência profissional, o que sugere maturidade no exercício da docência e, consequentemente, maior potencial para refletir criticamente sobre a inserção de novas temáticas em sala de aula. Esse dado é relevante, pois, conforme aponta Moura (2024), professores com maior tempo de atuação tendem a valorizar práticas pedagógicas inovadoras quando percebem nelas sentido socioambiental e interdisciplinar.
No que se refere ao conhecimento prévio, observou-se elevado índice de familiaridade com a apicultura e, sobretudo, com a meliponicultura. Tal dado demonstra que os professores reconhecem a importância das abelhas e já possuem uma base conceitual sobre o tema, o que constitui terreno fértil para a implementação de práticas pedagógicas. Essa percepção converge com Santos (2024), ao destacar a relevância das abelhas como agentes polinizadores e como elo entre biodiversidade e segurança alimentar. Contudo, apesar do reconhecimento teórico, constatou-se a ausência de experiências práticas relacionadas ao tema nas escolas, indicando uma lacuna entre conhecimento e aplicação pedagógica.
Essa dissociação reflete um cenário em que a educação ambiental ainda encontra barreiras institucionais e culturais para consolidar-se de forma transversal no currículo. Monteiro (2020) e Santos (2024) ressaltam que a meliponicultora, além de representar uma atividade de conservação, possui grande potencial educativo, justamente por possibilitar vivências práticas e despertar nos estudantes a compreensão da interdependência ecológica. Nesse sentido, a ausência de projetos aplicados evidencia uma oportunidade não explorada de aproximar teoria e prática no espaço escolar.
Outro aspecto relevante revelado pelos dados é o interesse da maioria dos professores em participar de capacitações sobre o tema. Tal resultado indica abertura para o aprimoramento profissional e demonstra que, se houver políticas de formação continuada e suporte institucional, o tema pode ser incorporado de maneira efetiva ao ensino. A disposição para capacitação reforça o potencial interdisciplinar da apicultura e da meliponicultora, sobretudo nas áreas de Ciências e Biologia, mas também com desdobramentos possíveis em Geografia, História e Matemática, quando associada ao estudo de produção, estatística e manejo sustentável.
Por fim, os desafios apontados pelos professores evidenciam a necessidade de enfrentar barreiras relacionadas à aceitação institucional e cultural. Observa-se que a ausência de infraestrutura adequada e de materiais didáticos específicos constitui um entrave significativo à implementação de projetos de caráter prático. Essa constatação converge com Silva (2024), ao enfatizar a relevância de espaços adaptados, como os meliponários escolares, para potencializar a experiência educativa.
Dessa forma, a análise dos resultados indica a existência de um contexto amplamente favorável à inserção da apicultura e da meliponicultora como recursos pedagógicos, desde que sua implementação seja acompanhada por estratégias de formação docente, suporte técnico qualificado e efetiva valorização institucional.
A análise dos gráficos evidencia que há um conhecimento inicial significativo sobre a meliponicultora entre os participantes, embora permeado por lacunas que podem limitar a aplicação prática do tema em ambiente escolar. A maioria (86%) declarou conhecer ou já ter ouvido falar sobre a criação de abelhas sem ferrão, mas apenas 68% afirmaram distinguir o mel produzido por melíferas (Apis melífera) e meliponídeos, o que revela que o contato com a temática não se traduz necessariamente em compreensão aprofundada. Esse dado reforça a necessidade de ações formativas que consolidem conceitos básicos e ampliem a apropriação pedagógica do tema.

Do ponto de vista do consumo, os resultados indicam uma valorização quase unânime do mel, seja pela experiência sensorial (95% já consumiram mel de meliponídeos) ou pela percepção de seu valor nutricional e medicinal (100% consideram o mel um alimento importante para a saúde). Esse reconhecimento social positivo constitui uma oportunidade para articular práticas pedagógicas com hábitos culturais já enraizados, fortalecendo a relevância da proposta.

Quanto às possibilidades de inserção curricular, observa-se predominância das disciplinas de Biologia e Ciências, embora apareçam menções à Geografia, Artes, Matemática e Português. Isso sinaliza tanto o potencial interdisciplinar do tema quanto a necessidade de maior estímulo para que diferentes áreas do conhecimento se engajem na abordagem da meliponicultora, evitando sua restrição ao campo das ciências naturais.
Apesar desse cenário promissor, 73% dos participantes afirmaram não ter vivenciado iniciativas de educação ambiental relacionadas às abelhas em suas escolas, o que indica uma lacuna prática entre o reconhecimento da importância do tema e sua efetiva implementação pedagógica. Esse hiato é agravado pelos desafios apontados: aceitação institucional (41%), resistência docente (23%) e dificuldades ligadas à ludicidade e à adequação ao contexto local (14%).
Tais barreiras revelam que, para além da infraestrutura, é fundamental construir um ambiente de sensibilização cultural e pedagógica capaz de legitimar a meliponicultora como recurso educativo.

Outro aspecto relevante é a alta adesão à proposta de capacitação docente (95%), o que demonstra disposição para superar limitações atuais. As sugestões coletadas reforçam essa percepção, com destaque para a demanda por atividades práticas (implantação de meliponários escolares, apiários em áreas arborizadas e oficinas de criação de abelhas sem ferrão), bem como a valorização de conteúdos aplicados (produção de mel, própolis, cera, pólen, sustentabilidade e conservação da biodiversidade).

Os dados revelam um contexto marcado por forte receptividade, mas ainda permeado por lacunas formativas e institucionais. A inserção da meliponicultora e da apicultura como ferramentas pedagógicas depende, portanto, de estratégias que aliem formação docente contínua, suporte técnico e valorização institucional, de modo a transformar o interesse latente em práticas educativas efetivas e sustentáveis.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo evidenciou que os professores da rede municipal possuem elevado nível de conhecimento prévio sobre apicultura e meliponicultora, bem como reconhecem a importância ecológica das abelhas para a biodiversidade e para a manutenção da segurança alimentar. Esses resultados revelam um cenário promissor para a inserção da temática no ambiente escolar, especialmente diante do interesse manifestado por parte significativa dos docentes em participar de capacitações específicas.
Apesar desse potencial, constatou-se a ausência de experiências pedagógicas relacionadas ao tema, demonstrando a existência de uma lacuna entre o conhecimento teórico e a prática educativa. Além disso, desafios institucionais e estruturais, como a falta de materiais didáticos, de infraestrutura adequada e de apoio da gestão escolar, foram destacados como entraves para a consolidação de projetos pedagógicos baseados na apicultura e na meliponicultora.
Nesse sentido, torna-se necessário o desenvolvimento de políticas educacionais e estratégias de formação continuada que possibilitem aos professores não apenas o aprofundamento teórico, mas também o acesso a práticas educativas concretas, como a implantação de meliponários escolares e a produção de materiais didáticos adaptados à realidade local. A inserção dessa temática no currículo, de forma interdisciplinar, pode contribuir para uma educação ambiental crítica, aproximando ciência, sociedade e natureza, além de estimular nos estudantes valores ligados à sustentabilidade e à conservação da biodiversidade.
Conclui-se que a valorização da apicultura e da meliponicultura no contexto escolar representa uma oportunidade de inovação pedagógica, capaz de fortalecer vínculos entre conhecimento científico e práticas socioambientais, promovendo uma formação cidadã mais consciente e engajada com os desafios contemporâneos da conservação ambiental.
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