PERCEPÇÕES E DESAFIOS VIVENCIADOS POR MULHERES NO CLIMATÉRIO ATENDIDAS NA ATENÇÃO BÁSICA

PERCEPTIONS AND CHALLENGES FACED BY WOMEN IN CLIMACTERIC PHASE ASSISTED IN PRIMARY HEALTH CARE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202508190644


Nicolly Polaro dos Santos Bahia1
Lorena Santana Pinheiro1
Ana Paula Oliveira Gonçalves2


Resumo

O climatério é uma fase biológica natural marcada pela transição do período reprodutivo para o não reprodutivo na vida da mulher, acompanhada por diversas transformações físicas, emocionais e sociais. Este estudo teve como objetivo compreender os saberes populares de mulheres climatéricas atendidas em uma Unidade Básica de Saúde de Belém do Pará. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com entrevistas semiestruturadas analisadas por meio da técnica de análise de conteúdo. Emergiram quatro categorias principais: desconhecimento sobre o climatério, impacto dos sintomas no cotidiano, ausência de busca por cuidados em saúde e dúvidas sobre tratamentos disponíveis. Os resultados evidenciaram carência de informação e de acolhimento por parte dos serviços, o que reforça a necessidade da atuação educativa da enfermagem na atenção básica, a fim de promover escuta, orientação e cuidado integral às mulheres nesse período.

Palavras-chave: Climatério. Saúde da Mulher. Enfermagem. Educação em Saúde. Atenção Primária.

Abstract

The climacteric is a natural biological phase marked by the transition from the reproductive to the non-reproductive period in a woman’s life, accompanied by various physical, emotional and social transformations. The aim of this study was to understand the popular knowledge of climacteric women attending a Basic Health Unit in Belém do Pará. This is a qualitative study, with semi-structured interviews analyzed using the content analysis technique. Four main categories emerged: lack of knowledge about the climacteric, impact of symptoms on daily life, lack of seeking health care and doubts about available treatments. The results showed a lack of information and reception by the services, which reinforces the need for nursing education in primary care in order to promote listening, guidance and comprehensive care for women during this period.

Keywords: Climacteric. Women’s health. Nursing. Health Education. Primary Care.

1 Introdução

O interesse pelo tema surgiu durante as aulas práticas realizadas na Unidade Básica de Saúde do Guamá, enquanto desenvolvemos uma atividade de extensão vinculada à disciplina de Saúde da Mulher na Atenção Básica. A ação teve como foco o climatério, momento crucial na vida da mulher, e durante a realização da atividade, abordamos seu significado, as fases, os principais sintomas e as opções de tratamento disponíveis. Ao interagir com as participantes, notamos que muitas mulheres não apenas desconheciam as diferentes fases do climatério, mas também estavam desinformadas sobre as opções de tratamento disponíveis. Além disso, ficou evidente a falta de informação sobre a existência de acompanhamento na atenção secundária voltado para esse período de transição. Essa lacuna de conhecimento nos impactou profundamente, gerando uma inquietação que permaneceu na mente das autoras deste trabalho. A partir desse momento, sentimos a necessidade de aprofundar a discussão sobre o climatério, buscando promover maior conscientização e apoio para as mulheres que atravessam essa fase. Acreditamos que, ao oferecer informações claras e acessíveis, podemos contribuir para que elas se sintam mais empoderadas em relação à sua saúde e bem-estar.

O evidente crescimento da população idosa em muitos países revelou uma busca crescente por melhorias na qualidade de vida da sociedade em geral. Nessa perspectiva, o avanço tecnológico tem desempenhado um papel significativo na área da saúde, promovendo o desenvolvimento de diversos recursos que podem prolongar a longevidade das pessoas (Cerri, 2007). Nesse sentido, o Brasil está alinhado a esse cenário e vivencia mudanças significativas em sua estrutura etária, com destaque para o envelhecimento populacional, especialmente entre a população feminina (Lima et al., 2019). Segundo dados do IBGE (2022), a expectativa de vida das mulheres é de 79,0 anos, isso indica que a expectativa de vida vem aumentando consideravelmente e que um grande número de mulheres enfrentará o climatério.

O climatério é um processo biológico, ou seja, uma fase natural da vida da mulher que corresponde a uma transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo, geralmente com início por volta dos 35 anos e encerrando-se aos 65 anos. Esse período é dividido em três fases: pré-menopausa, perimenopausa e pós-menopausa, que são fases marcadas por grandes mudanças de ordem biológica, psicológica e social (Patrício et al., 2020). Durante as fases do climatério as mulheres podem experimentar uma série de sintomas, incluindo ondas de calor, sudorese noturna, ressecamento vaginal levando à dor durante a relação sexual, diminuição da libido, mudanças de humor, irritabilidade, ansiedade, depressão, insônia e vários outros que têm o potencial de afetar significativamente o bem-estar da mulher (Patrício et al., 2020).

A falta de informação leva muitas mulheres a confundirem esses sintomas com simples sinais de envelhecimento, tornando-as vulneráveis a uma condução inadequada desse quadro. Diante disso, destaca-se a criação do Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM), iniciado em 1984, que tinha como objetivo abordar todas as fases da vida da mulher. Em 2003, houve a inclusão de ações de saúde para mulheres no climatério na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher que refletiu o compromisso de atender às necessidades específicas da mulher, promovendo a integralidade e humanização do cuidado (Brasil, 2008). No entanto, apesar dos esforços, o climatério muitas vezes permanece desconhecido para muitas mulheres, podendo passar despercebido devido à sua natureza assintomática ou à confusão com sintomas do envelhecimento. É fundamental, em ambos os casos, garantir um acompanhamento adequado para preservar a saúde e o bem-estar.

Sabe-se que muitas mulheres estão familiarizadas com o termo menopausa, dada a sua representação frequente na sociedade. Estas mulheres que costumam frequentar as unidades de atenção primária não recebem as devidas orientações desta fase, pois o programa é oferecido na atenção secundária. Essa lacuna se torna evidente quando nota-se que o Programa de Promoção de Saúde da Mulher no Climatério ainda não atingiu a amplitude necessária para fornecer orientações adequadas às mulheres que estão nessa fase da vida. Diante disso, faz-se necessário disseminar as informações sobre o climatério e os cuidados necessários durante esse período, visando melhorar a qualidade de vida das mulheres nesse estágio nas unidades de atenção  primária.

Nesse contexto, o presente estudo busca compreender os saberes populares de um grupo de mulheres sobre o climatério e com tais conhecimentos poder subsidiar práticas educativas em saúde que atendam suas reais necessidades.

2 Fundamentação Teórica

2.1 O climatério

A Organização Mundial da Saúde define o climatério como uma fase biológica da vida da mulher que é marcada por uma transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo. Embora frequentemente confundido com a menopausa, é importante destacar que são conceitos distintos. A menopausa é caracterizada pela ausência da menstruação por um período de 12 meses, resultante da diminuição da função folicular ovariana. Já o climatério abrange o período em que a menopausa ocorre, destacando a transição reprodutiva na vida da mulher (Andrade et al., 2013).

O climatério é dividido em três fases: pré-menopausa, perimenopausa e pós-menopausa. De acordo com o Ministério da Saúde, a pré-menopausa é o período que precede a menopausa, geralmente se inicia a partir dos 35 anos com a redução de progesterona e diminuição da fertilidade em mulheres com ciclos menstruais regulares; a perimenopausa tem seu início dois anos antes da última menstruação e possui algumas alterações endócrinas; e a pós-menopausa começa 12 meses após a última menstruação (Andrade et al., 2013).

Durante as fases desse período o corpo das mulheres passa por diversas modificações. Ocorre uma diminuição dos níveis hormonais que acaba gerando algumas alterações físicas, fisiológicas e psicológicas, das quais destacam-se: sudorese noturna, enxaqueca, ondas de calor, insônia, irritabilidade, depressão, variações de humor e fadiga (Figueredo et al., 2021). Nesse sentido, nota-se que é um período muito intenso e com mudanças internas significativas tanto por conta do período reprodutivo quanto pelo processo de envelhecimento.

Dessa forma, aliado aos sintomas de ordem biológica, é neste período também que muitas mulheres estão enfrentando problemas pessoais como a saída dos filhos da casa, aparecimento de doenças, estresse e incompreensão do parceiro. Essas mudanças de ordem psicológica podem causar uma série de consequências para o bem-estar e autoestima da mulher (Alves et al., 2015). No entanto, a maioria dessas mulheres vivencia o climatério em silêncio, com poucas informações sobre essa temática. Assim, é fundamental compreender a percepção de cada mulher sobre esse fenômeno para que haja um manejo adequado do cuidado integral (Serpa, 2019).

2.2 A percepção das mulheres sobre o climatério

Vivenciar essa fase pode ter um significado diferente, nem todas as mulheres a encaram da mesma maneira. Para algumas delas surge uma preocupação quanto à sua representação enquanto mulher na sociedade, família e ciclo social, já que é justamente nesse estágio que diversas mudanças começam a ocorrer. Entretanto, outras mulheres já conseguem lidar melhor com esse período sem tanto medo do que está por vir (Alcântara et al., 2018).

Em uma pesquisa realizada por Gazetta (2015), foi possível inferir que muitas mulheres desconhecem o significado de climatério, em alguns relatos nota-se que muitas delas nunca ouviram falar sobre. Em alguns dos casos percebe-se que muitas têm dúvidas tanto no que diz respeito à terminologia quanto à sintomatologia. Ainda neste estudo é possível conferir que muitas mulheres confundem essa fase com a menopausa, associando alguns dos sintomas à ausência da menstruação.

No estudo realizado por Serpa (2019), essa visão de desconhecimento também foi encontrada. Além disso, neste estudo, também foi possível notar que as mulheres não fazem a dissociação do climatério e processo de envelhecimento e ainda associam esse período à perda da juventude. Neste mesmo trabalho, notou-se que algumas mulheres acreditam que as alterações que acontecem no corpo fazem parte da vida e que devem ser vivenciadas como qualquer outra fase. No entanto, observou-se que esse processo é em sua maioria relacionado a adoecimento e sofrimento.

Na pesquisa realizada por Alcântara et al. (2018), foi possível notar relatos que associavam tristeza e sofrimento a essa fase. Dessa forma, nota-se que as políticas de saúde ainda não atendem a todas as necessidades da mulher nesse período. Diante disso, é necessário que os profissionais da área da saúde fiquem atentos, acolhendo e prestando os cuidados adequados para o melhor manejo, considerando que muitas mulheres ainda não possuem conhecimento sobre a fase que estão vivenciando, o que pode implicar no momento de procurar ajuda de um profissional (Silva et al., 2016).

2.3 O papel do enfermeiro como educador

A enfermagem é uma profissão que tem como princípio fundamental o cuidado integral, que busca atender todas as necessidades do paciente, sejam elas físicas, psicológicas, sociais ou culturais. Dessa forma, o enfermeiro assume diversas responsabilidades, sendo uma das mais importantes a educação em saúde, que atua como uma ferramenta essencial no processo de capacitação do paciente, promovendo sua autonomia e incentivando o autocuidado (Arruda et al., 2014).

A educação em saúde é utilizada como um recurso que facilita a promoção da qualidade de vida de indivíduos e comunidades por meio da valorização do desenvolvimento da consciência crítica das pessoas. Ademais, também é usada como um instrumento para estabelecer diálogo e reflexão entre enfermeiro e paciente, com objetivo de favorecer a conscientização sobre o processo saúde-doença e para que o indivíduo possa se entender como o sujeito da sua própria transformação (Sousa et al. 2010).

É importante ressaltar que a educação em saúde não é uma prática exclusiva de uma única categoria profissional, mas ela está presente diariamente no contexto profissional do enfermeiro que desenvolve ações importantes para a comunidade com o objetivo de melhorar a saúde da população em geral. Nesse cenário, o enfermeiro desempenha um papel de educador e tem como objetivo orientar e mostrar alternativas que aumentem a qualidade de vida da população.

Nesse sentido, é importante reconhecer que a função do enfermeiro como educador tem um papel relevante na assistência, já que a educação em saúde desempenha um papel importante na formação de vínculo entre o profissional e o paciente durante a realização das atividades. A criação desse vínculo facilita a prática educativa, fazendo com que ela se torne mais próxima e aumente a participação da comunidade nas ações (Kirsch; Veronezi 2019).

3 Metodologia

Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, com delineamento descritivo voltado à compreensão das percepções de mulheres no climatério atendidas na atenção básica. O estudo foi realizado na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Guamá, no município de Belém do Pará.

Participaram da pesquisa 20 mulheres com idades entre 35 e 65 anos, que se encontravam vivenciando o climatério e frequentavam regularmente a UBS. Os critérios de inclusão contemplaram mulheres nessa faixa etária, em qualquer fase do climatério, que concordaram em participar do estudo mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídas aquelas que se recusaram a participar ou que não assinaram o TCLE.

A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas, compostas por 8 perguntas abertas relacionadas ao conhecimento prévio sobre o climatério, sintomas vivenciados, procura por serviços de saúde, formas de acompanhamento e tratamentos realizados. As entrevistas foram conduzidas pelas próprias autoras, individualmente, em espaço reservado na unidade de saúde, com média de duração de 10 minutos cada. Todas as entrevistas foram gravadas, mediante autorização das participantes, e posteriormente transcritas integralmente.

A análise dos dados seguiu a técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin (2016) que envolve as etapas de pré-análise, codificação, categorização e interpretação, sendo realizadas de forma manual. Duas pesquisadoras participaram do processo de leitura, codificação e categorização das falas. As categorias foram construídas de forma indutiva, emergindo diretamente do conteúdo das entrevistas. O critério de saturação teórica foi adotado para encerrar a coleta de dados, sendo observado o momento em que as falas passaram a apresentar repetição e ausência de novas informações relevantes.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o CAAE nº 87569625.2.0000.0018. Todas as participantes tiveram seus direitos preservados conforme os princípios éticos estabelecidos pela Resolução nº 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde. Para manter o anonimato e garantir o sigilo, os depoimentos foram identificados por nomes fictícios de flores.

4 Resultados e Discussão

Através da análise das transcrições das entrevistas foram definidas 4 categorias acerca da temática: 1°) A falta de conhecimento sobre o significado do período do climatério; 2°) A forma como os sinais e sintomas podem afetar o cotidiano; 3°) A ausência da procura dos serviços de saúde durante essa fase da vida; 4°) Tratamentos: dúvidas e incertezas. Essas categorias serão trabalhadas na sequência:

1. A falta de conhecimento sobre o significado do período do climatério

A elaboração dessa categoria surgiu a partir da pergunta: “Você já ouviu a palavra climatério?” ao analisar os relatos das mulheres que participaram das entrevistas foi possível observar uma deficiência quanto à percepção do significado do climatério, conforme nota-se nas falas a seguir:

 “Não, não faço ideia do que pode ser. Queria até um esclarecimento.” (GARDÊNIA)

“Não… Tem alguma coisa a ver com clima?” (CAMÉLIA)

A partir dos relatos é possível inferir que há uma lacuna significativa quanto ao conhecimento das participantes sobre o tema. A ausência dessas informações reflete não apenas uma falha na educação em saúde, mas também a invisibilidade do tema nas discussões cotidianas e nos serviços de saúde. A ausência desse conhecimento pode comprometer a identificação de sinais e sintomas característicos dessa fase, dificultando a adoção de medidas que possam garantir o manejo adequado do caso.

Conforme aponta Alcântara et al. (2020), a falta de conhecimento sobre o climatério pode contribuir para um sofrimento silencioso, tendo em vista que as mulheres muitas vezes não compreendem o que estão vivenciando ou não associam os sintomas a esse período.

Observou-se, durante a realização desta pesquisa, que muitas mulheres associavam o climatério exclusivamente à menopausa, como se todo esse período se restringisse apenas à ausência da menstruação, desconsiderando outras alterações e manifestações que o caracterizam, como se observa nas seguintes falas:

“[…] É o período que vai terminando, a última menstruação.” (ORQUÍDEA)

“[…] É o momento que a mulher tá entrando na menopausa.” (lÍRIO)

“[…] É quando a mulher para de menstruar.” (CRAVO)

Essa associação também foi observada em outros estudos semelhantes, como o de Alcântara et al. (2020). Nesse sentido, foi possível inferir que ambos os termos são amplamente confundidos ou identificados como o mesmo período.

Apesar de se tratar de um período natural, ainda é uma fase que pode trazer mudanças significativas para a vida da mulher. Sabe-se que, mesmo se tratando de um tema relevante, as informações sobre essa temática ocupam pequenos espaços, o que dificulta a disseminação de informações (Scalabrin et al., 2025). Dessa forma, é possível notar que o tema não é trabalhado de forma efetiva, promovendo assim um despreparo em buscar a assistência de saúde adequada.

2. A forma como os sinais e sintomas podem afetar o cotidiano.

Os relatos das participantes revelaram que os sintomas vivenciados durante o climatério provocam mudanças importantes no cotidiano. Muitas descreveram desconfortos que vão além do físico, afetando a autoestima, o convívio social e até a forma como lidam com tarefas diárias. As falas a seguir exemplificam essas percepções:

“É uma fase até constrangedora porque quando eu estou trabalhando vem aquele calor, aquele suor… trabalhando num ambiente refrigerado e o suor intenso, às vezes ficava constrangida, porque as pessoas ficavam perguntando se eu tava passando mal… (GARDÊNIA)

“Tive muito calor e uma canseira nas pernas. O desejo sexual diminuiu muito também.” (JASMIM)

“Olha, eu ando muito estressada, qualquer coisa me irrita […]” (CRAVO)

“Tenho um suor intenso, fora que ganhei muito peso e por causa do calor eu mal conseguia dormir..” (FLOR DE CEREJEIRA)

Entre os sintomas mais mencionados estavam os fogachos, insônia, irritabilidade, fadiga e diminuição da libido. Esses sinais interferem diretamente na rotina das mulheres, afetando seu bem-estar físico e emocional. Segundo Silva et al. (2024), tais manifestações podem repercutir negativamente na autoestima, nas relações interpessoais e na vida profissional, gerando insegurança e sofrimento, especialmente quando enfrentadas sem acolhimento ou orientação.

Outro aspecto relevante é o silêncio que envolve essas vivências. Muitas mulheres relataram dificuldades em compartilhar o que estão sentindo, seja por vergonha, por medo de julgamento ou por desconhecer que esses sintomas fazem parte de uma fase natural da vida. Isso reforça a necessidade de espaços de escuta e apoio, onde as mulheres possam falar abertamente sobre o que sentem e receber o suporte necessário.

Também foi possível observar muitos relatos quanto à autoestima diretamente afetada por conta das transformações físicas e emocionais enfrentadas nesse período. As alterações hormonais somadas às modificações no corpo e no ritmo das atividades de vida diária influenciam diretamente a maneira como essas mulheres se sentem em relação a si mesmas (Tedesco; Silveira, 2021).

“[…] muita coisa mudou… já não tenho mais vontade de sair, me arrumar.” (GARDENIA)

“Não tenho mais vontade de passear, gosto mais de ficar em casa.” (GIRASSOL)

“Não tenho mais tanta vontade de sair, de namorar… fiquei caseira agora.” (ROSA)

Esses relatos refletem uma queda no interesse por atividades sociais e de lazer, o que pode se relacionar diretamente a sentimentos de desânimo e desconexão com aquilo que antes era considerado uma fonte de prazer. A retração no convívio social pode estar ligada não apenas às mudanças fisiológicas, mas também à falta de compreensão e acolhimento do entorno, o que pode acentuar a sensação de solidão e contribuir para o afastamento emocional.

Nesse sentido, o reconhecimento dessas mudanças se torna essencial para construir alternativas de cuidado que incluam a escuta ativa, apoio psicológico e valorização das experiências individuais, ajudando as mulheres a darem um novo sentido a essa fase da vida com mais autonomia.

3. A ausência da procura dos serviços de saúde durante essa fase da vida.

Durante as entrevistas realizadas, um aspecto recorrente foi a baixa procura pelos serviços de saúde pelas mulheres que vivenciam o climatério. Muitas relataram não ter buscado acompanhamento profissional, mesmo diante de sintomas físicos e emocionais que alteraram significativamente sua rotina. Veja alguns relatos:

“[…] faz muitos anos que não procuro o serviço de saúde.” (JASMIM)

“Não cheguei a procurar.” (ORQUÍDEA)

“Nunca procurei.” (DÁLIA)

Esses relatos mostram a naturalização da mulher em lidar com os sintomas dessa fase sem buscar ajuda, seja por desconhecimento, medo, vergonha ou por não considerar que os sinais mereçam atenção. Dessa forma, o sofrimento é encarado como algo natural da idade, o que contribui para que ele seja vivido em silêncio e sem o suporte necessário.

Segundo Berni et al. (2007), a dificuldade em reconhecer o climatério como uma fase que demanda cuidado em saúde está relacionada à falta de informação acessível, ao preconceito sobre o envelhecimento feminino e à baixa valorização da saúde da mulher na meia-idade. Isso contribui para que os sintomas sejam subestimados, tanto pelas próprias mulheres quanto pelos profissionais de saúde, o que perpetua o silêncio e a negligência.

Portanto, a ausência de vínculo com os serviços e a escassez de ações educativas voltadas para essa etapa da vida agravam o quadro. É essencial que os serviços de saúde, especialmente os de atenção primária, adotem estratégias proativas de acolhimento e escuta, promovendo espaços de orientação, diálogo e valorização da experiência feminina no climatério.

4. Tratamentos: dúvidas e incertezas

Ao serem questionadas sobre a realização de algum tipo de tratamento durante o climatério, a maioria das mulheres entrevistadas afirmou não ter buscado nenhum cuidado específico. Para muitas, não havia clareza sobre a existência de tratamentos voltados para os sintomas dessa fase. Essa ausência de acompanhamento evidencia uma lacuna importante na orientação oferecida pelos serviços de saúde.

 “[…] Eu nunca aceitei.” (ORQUÍDEA)

“Não, sempre achei que era normal da idade.” (HIBISCO)

Entre aquelas que relataram algum tipo de tratamento, as respostas foram pontuais e pouco detalhadas, sem acompanhamento sistemático ou orientações complementares.

 “Foi indicado a reposição hormonal, mas eu não fiz.” (GARDENIA)

Essas falas refletem não apenas a insegurança quanto aos tratamentos disponíveis, mas também a ausência de diálogo efetivo entre as mulheres e os profissionais de saúde. Em diversos relatos, ficou evidente que as participantes não receberam informações claras sobre os efeitos, indicações ou alternativas possíveis. Isso contribui para o abandono precoce da terapêutica ou, ainda, para a completa não adesão ao cuidado.

De acordo com Bisognin et al. (2023), a falta de conhecimento sobre as opções terapêuticas no climatério reforça inseguranças e mitos, dificultando o protagonismo feminino no processo de autocuidado. Estratégias como o uso de medicamentos hormonais, intervenções não farmacológicas (atividade física, alimentação, apoio psicológico) e o acompanhamento contínuo ainda são pouco divulgados e acessíveis.

Portanto, torna-se essencial que os serviços de saúde ofereçam abordagens mais educativas e acolhedoras, favorecendo o acesso a informações compreensíveis e a escolha consciente do tratamento mais adequado para cada mulher. Fortalecer a escuta e o vínculo nesse momento é uma forma de promover saúde, autonomia e qualidade de vida.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das entrevistas realizadas com mulheres atendidas na atenção básica, foi possível compreender, com maior profundidade, as vivências, os saberes e os desafios enfrentados durante o climatério. As falas revelaram que esse período, apesar de ser um processo natural e previsível do ciclo de vida feminino, ainda é marcado pelo desconhecimento, pela ausência de acolhimento e pela desinformação nos serviços de saúde.

O estudo evidenciou que a maioria das mulheres entrevistadas desconhecia o termo climatério ou o confundia com menopausa, o que demonstra a escassez de ações educativas e de orientação profissional voltadas especificamente para essa fase. Os sintomas físicos e emocionais relatados, como fogachos, insônia, irritabilidade e queda da libido, afetaram diretamente o cotidiano, a autoestima e a vida social dessas mulheres. Além disso, ficou evidente que muitas não procuraram ajuda profissional por acreditarem que tais manifestações seriam naturais do envelhecimento ou por não saberem que havia tratamento disponível.

A ausência de diálogo com os serviços de saúde e o medo ou insegurança em relação aos tratamentos também se mostraram como barreiras importantes para o cuidado integral. As participantes expressaram dúvidas quanto à reposição hormonal, desconhecimento de alternativas terapêuticas e, principalmente, falta de apoio durante essa fase. Isso reforça a importância de um olhar mais sensível e ampliado por parte dos profissionais da atenção primária à saúde, especialmente da enfermagem, que pode assumir papel central na escuta, no acolhimento e na educação em saúde voltada à mulher no climatério, assim como a referência ao serviço especializado.

Portanto, é necessário que as políticas públicas de saúde sejam efetivamente aplicadas e que o cuidado à mulher no climatério seja incorporado de forma transversal nas ações da atenção básica. A escuta ativa, o respeito às subjetividades e o fortalecimento do vínculo profissional-usuário são estratégias fundamentais para promover o empoderamento feminino, melhorar a qualidade de vida e garantir um cuidado mais humanizado, integral e resolutivo. Desta feita sugerimos a confecção de um material educativo do tipo cartilha com informações sobre conceito, sinais, sintomas e tratamentos para mulheres no climatério.

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1Discentes do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Pará (UFPA).
2Docente do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Pará (UFPA).