PERCEPÇÃO DOS ALUNOS SOBRE A PERSONALIZAÇÃO DO ENSINO, COM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202508101356


José Carlos Guimarães Junior1; Jhon Cesar Pereira Moraes2; Hilke Carlayle de Medeiros Costa3; Vanuza Ferreira Marschner4; Fabiano Da Silva Araujo5; Debora Elvas de Souza6; Nairim de Azevedo Gomes Fraga7


Resumo

A crescente incorporação da inteligência artificial (IA) no contexto educacional tem provocado transformações significativas na forma como o ensino é concebido, estruturado e vivenciado pelos alunos. Entre os avanços mais notáveis está a personalização da aprendizagem, que se apresenta como uma estratégia promissora para atender às necessidades individuais dos estudantes, respeitando seus ritmos, estilos cognitivos e trajetórias de desenvolvimento. Este artigo tem como objetivo investigar a percepção dos alunos sobre a personalização do ensino mediada por sistemas de IA considerando aspectos como engajamento, autonomia, motivação e eficácia pedagógica. A pesquisa foi conduzida por meio de uma revisão bibliográfica abrangente, contemplando autores que publicaram entre 2010 e 2025, com foco em estudos que abordam diretamente a experiência dos estudantes com tecnologias educacionais inteligentes. Os resultados apontam que, embora os alunos reconheçam os benefícios da personalização proporcionada pela IA como o acesso a conteúdo adaptados, feedback em tempo real e maior flexibilidade no processo de aprendizagem, também expressam preocupações relacionadas à impessoalidade das interações, à dependência tecnológica e à transparência dos algoritmos. A análise dos estudos revela que a percepção dos alunos é influenciada por fatores como o nível de familiaridade com as ferramentas digitais, o suporte oferecido pelos professores e a qualidade das plataformas utilizadas. Além disso, destaca-se a importância de considerar o contexto sociocultural dos estudantes, uma vez que a personalização via IA pode reproduzir desigualdades se não for implementada de forma ética e inclusiva. O artigo conclui que a percepção dos alunos sobre a personalização do ensino por IA é multifacetada, envolvendo tanto entusiasmo quanto cautela, e que a escuta ativa desses sujeitos é fundamental para o aprimoramento das práticas pedagógicas mediadas por tecnologia. São sugeridas direções para estudos futuros que aprofundem a compreensão sobre os impactos da IA na subjetividade dos estudantes e na construção de ambientes de aprendizagem mais humanos, responsivos e equitativos.

Português: Inteligência artificial, personalização do ensino, percepção dos alunos, aprendizagem adaptativa

Abstract

The growing integration of artificial intelligence (AI) into educational environments has led to significant transformations in how teaching is designed, delivered, and experienced by students. Among the most notable advancements is the personalization of learning, which emerges as a promising strategy to meet individual student needs by respecting their pace, cognitive styles, and developmental trajectories. This article aims to investigate students’ perceptions of AI-mediated personalized learning, focusing on aspects such as engagement, autonomy, motivation, and pedagogical effectiveness. The research was conducted through an extensive literature review, including authors who published between 2010 and 2025, with emphasis on studies that directly address students’ experiences with intelligent educational technologies. The findings indicate that while students acknowledge the benefits of AI-driven personalization — such as access to tailored content, real-time feedback, and greater flexibility in the learning process — they also express concerns regarding the impersonality of interactions, technological dependency, and algorithmic transparency. The analysis reveals that students’ perceptions are influenced by factors such as their familiarity with digital tools, the support provided by teachers, and the quality of the platforms used. Moreover, the sociocultural context of learners plays a crucial role, as AI-based personalization may reinforce existing inequalities if not implemented ethically and inclusively. The article concludes that students’ perceptions of AI-mediated personalized learning are multifaceted, encompassing both enthusiasm and caution, and that actively listening to these learners is essential for improving pedagogical practices supported by technology. Future research directions are suggested to deepen the understanding of AI’s impact on students’ subjectivity and the development of more human-centered, responsive, and equitable learning environments.

Keywords: Artificial intelligence, personalized learning, student perception, adaptive education

1. Introdução

A incorporação da inteligência artificial (IA) no campo educacional tem se revelado uma das mais significativas transformações tecnológicas da contemporaneidade, não apenas pela capacidade de automatizar processos administrativos e pedagógicos, mas principalmente por sua aptidão em promover uma personalização do ensino que respeita as singularidades cognitivas, emocionais e sociais dos estudantes.

Em um cenário marcado pela diversidade de perfis discentes, pela ampliação do acesso à informação e pela necessidade de metodologias mais inclusivas e eficazes, a IA surge como uma ferramenta promissora para reconfigurar os modos de ensinar e aprender, oferecendo aos alunos experiências educacionais mais adaptadas às suas necessidades individuais.

A personalização do ensino, viabilizada por sistemas inteligentes, representa uma ruptura com os modelos tradicionais de educação em massa, nos quais o conteúdo é transmitido de forma uniforme e linear, desconsiderando as diferenças de ritmo, estilo de aprendizagem e contexto sociocultural dos estudantes.

Por meio da análise de dados educacionais, algoritmos de IA são capazes de identificar padrões de desempenho, prever dificuldades futuras, sugerir intervenções pedagógicas e ajustar o conteúdo e as atividades conforme o progresso de cada aluno. Essa abordagem, além de potencializar o engajamento e a motivação dos estudantes, contribui para a construção de trajetórias de aprendizagem mais significativas e autônomas.

Entretanto, apesar dos avanços tecnológicos e das promessas de inovação, é fundamental compreender como os alunos percebem essa nova configuração do processo educativo. A percepção dos estudantes sobre a personalização via IA envolve não apenas a avaliação da eficácia pedagógica das ferramentas utilizadas, mas também aspectos subjetivos como o sentimento de pertencimento, a confiança nos sistemas automatizados, a valorização da interação humana e a compreensão dos critérios que orientam as decisões algorítmicas.

Em outras palavras, investigar como os alunos vivenciam a personalização mediada por IA é essencial para garantir que essas tecnologias sejam implementadas de forma ética, sensível e alinhada às expectativas e necessidades reais dos sujeitos da aprendizagem.

Diversos estudos têm apontado que a percepção dos alunos sobre a IA na educação é multifacetada, oscilando entre o entusiasmo pelas possibilidades de personalização e a cautela diante dos riscos de desumanização, dependência tecnológica e falta de transparência nos processos automatizados.

Além disso, a percepção dos alunos é influenciada por uma série de fatores contextuais, como o nível de familiaridade com as tecnologias digitais, o suporte oferecido pelos professores, a qualidade das plataformas utilizadas e as condições de infraestrutura das instituições de ensino.

Em ambientes onde a IA é integrada de forma planejada, com acompanhamento pedagógico e respeito à diversidade dos estudantes, a personalização tende a ser percebida como uma oportunidade de crescimento e autonomia. Por outro lado, em contextos em que a tecnologia é imposta sem diálogo, formação ou infraestrutura adequada, os alunos podem desenvolver resistência, insegurança e até mesmo rejeição às ferramentas digitais.

Diante desse panorama, torna-se urgente aprofundar a investigação sobre a percepção dos alunos em relação à personalização do ensino via IA, não apenas para validar a eficácia das soluções tecnológicas, mas também para orientar práticas pedagógicas mais humanas, responsivas e inclusivas.

A escuta ativa dos estudantes, a análise crítica de suas experiências e a valorização de sua voz no processo de implementação da IA são elementos fundamentais para garantir que a personalização não se transforme em padronização disfarçada, mas sim em uma estratégia de valorização da singularidade e do protagonismo discente.

2. Revisão conceitual

Luckin (2017), professora do University College London e uma das principais vozes na pesquisa sobre inteligência artificial aplicada à educação, desenvolveu o conceito de IA centrada no aluno, que propõe que os sistemas inteligentes devem ser projetados com foco na experiência, nas necessidades e nas percepções dos estudantes.

Em sua obra Machine Learning and Human Intelligence, a autora argumenta que a personalização do ensino por meio da IA não deve ser apenas uma questão de ajuste técnico de conteúdo, mas sim uma oportunidade para promover uma aprendizagem mais significativa, reflexiva e contextualizada.

Para Luckin (2017), os alunos tendem a perceber positivamente os sistemas de IA quando estes são transparentes, explicáveis e integrados a práticas pedagógicas que valorizam o protagonismo discente.

A autora também destaca que a percepção dos estudantes sobre a IA estar diretamente relacionada à forma como os professores mediam o uso dessas tecnologias. Quando os docentes atuam como facilitadores e explicam o funcionamento dos algoritmos, os alunos demonstram maior confiança e engajamento. Por outro lado, quando a IA é utilizada de forma imposta ou sem clareza, surgem sentimentos de desconfiança, alienação e até rejeição.

Luckin (2017) defende que a escuta ativa dos alunos é essencial para o aprimoramento dos sistemas inteligentes, e que os feedbacks dos estudantes devem ser incorporados ao design das plataformas educacionais.

Além disso, a autora alerta para os riscos de uma personalização que se baseia exclusivamente em dados de desempenho, sem considerar aspectos emocionais, sociais e culturais. Ela propõe que os sistemas de IA sejam capazes de integrar múltiplas dimensões da aprendizagem, respeitando a complexidade do processo educativo. Seu trabalho é referência internacional para pesquisadores que desejam compreender como os alunos vivenciam a personalização via IA e como essa percepção pode orientar práticas mais éticas, inclusivas e eficazes.

Selwyn (2022), é conhecido por sua abordagem crítica em relação ao uso de tecnologias digitais na educação. Em seus estudos mais recentes, o autor tem se dedicado a investigar como os alunos percebem a presença da inteligência artificial em ambientes escolares, especialmente no que diz respeito à personalização do ensino.

Em Should Robots Replace Teachers?, Selwyn (2022) argumenta que, embora os sistemas de IA ofereçam benefícios evidentes — como a adaptação de conteúdo, o monitoramento do progresso e o feedback automatizado —, os estudantes frequentemente expressam preocupações legítimas sobre a impessoalidade das interações, a falta de transparência dos algoritmos e o risco de substituição do vínculo humano por interfaces digitais.

O autor destaca que a percepção dos alunos não é homogênea, variando conforme o contexto institucional, o nível de escolaridade e a cultura digital dos estudantes. Em escolas que promovem uma integração crítica da IA, com participação ativa dos alunos e mediação pedagógica qualificada, os estudantes tendem a perceber a personalização como uma oportunidade de crescimento.

Já em ambientes onde a tecnologia é imposta sem diálogo, os alunos demonstram resistência, insegurança e até mesmo ansiedade. Selwyn (2022) defende que a personalização via IA deve ser acompanhada por práticas que valorizem a autonomia, a reflexão e o envolvimento dos estudantes no processo de aprendizagem.

Além disso, o autor propõe que os sistemas de IA sejam desenvolvidos com base em princípios de justiça algorítmica, garantindo que todos os alunos independentemente de sua origem social, étnica ou econômica tenham acesso a uma personalização que respeite suas singularidades. Seu trabalho é fundamental para compreender os limites e as possibilidades da IA na educação, especialmente a partir da perspectiva dos estudantes.

Costa (2021), em estudo publicado na obra Aprendizagem híbrida e metodologias ativas, analisam como os alunos percebem a personalização do ensino mediada por inteligência artificial em contextos de aprendizagem híbrida. Os autores destacam que, com o avanço das plataformas digitais e dos sistemas adaptativos, os estudantes passaram a interagir com ambientes de aprendizagem que ajustam o conteúdo, o ritmo e as atividades conforme seu desempenho e preferências.

Essa nova configuração, segundo Costa (2021), tem sido percebida pelos alunos como uma forma de valorização da individualidade, desde que acompanhada por práticas pedagógicas que promovam o diálogo e o acolhimento.

A pesquisa revelou que os alunos se sentem mais motivados quando percebem que os sistemas de IA reconhecem seus esforços, oferecem desafios compatíveis com seu nível de conhecimento e respeitam seu ritmo de aprendizagem. No entanto, também foram identificadas críticas relacionadas à falta de explicações sobre como os algoritmos tomam decisões, à ausência de interação humana em momentos-chave e à dificuldade de contestar recomendações automatizadas.

A autora defende que a percepção dos alunos deve ser considerada como um indicador de qualidade na implementação da IA, e que os sistemas devem ser ajustados continuamente com base nos feedbacks dos usuários.

Os autores também ressaltam que a personalização via IA não deve ser vista como uma solução universal, mas como uma ferramenta que precisa ser contextualizada, mediada e humanizada. A escuta dos alunos, a formação dos professores e o desenvolvimento de plataformas éticas e acessíveis são elementos centrais para garantir que a personalização contribua efetivamente para a aprendizagem.

O estudo desses autores oferece uma visão prática e sensível sobre como os estudantes vivenciam a IA na educação e como essa percepção pode orientar políticas e práticas mais eficazes.

Moran (2019), um dos principais pensadores brasileiros sobre inovação educacional, tem se dedicado a compreender como as tecnologias digitais, incluindo a inteligência artificial, impactam a experiência dos alunos em ambientes de aprendizagem personalizados, onde em suas reflexões, o autor destaca que os estudantes tendem a perceber positivamente as ferramentas de IA quando estas são utilizadas para ampliar sua autonomia, oferecer trilhas de aprendizagem flexíveis e promover maior protagonismo no processo educativo. No entanto, ele também alerta que essa percepção pode ser comprometida quando a tecnologia é aplicada de forma descontextualizada, sem diálogo com os sujeitos da aprendizagem ou sem mediação pedagógica adequada.

Segundo Moran (2019), os alunos valorizam a personalização quando percebem que ela respeita suas escolhas, seus ritmos e seus interesses, e não quando é imposta por sistemas automatizados que ignoram a dimensão humana do ensino. O autor defende que a escuta ativa dos estudantes é essencial para ajustar as ferramentas de IA às suas expectativas, e que os professores devem atuar como curadores e facilitadores, interpretando os dados gerados pelos sistemas e transformando-os em ações pedagógicas significativas. A percepção dos alunos, portanto, é diretamente influenciada pela qualidade da mediação docente e pela transparência dos processos tecnológicos.

Além disso, Moran (2019) ressalta que a personalização via IA deve ser acompanhada por práticas que promovam o desenvolvimento de competências socioemocionais, como empatia, colaboração e pensamento crítico. Os alunos não desejam apenas aprender de forma eficiente, mas também se sentir acolhidos, compreendidos e desafiados em sua singularidade. Seu trabalho é uma referência importante para compreender como os estudantes vivenciam a personalização do ensino e como essa percepção pode orientar práticas mais humanas e eficazes.

Meira (2020), pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco, tem se destacado por suas investigações sobre o uso de tecnologias digitais na educação, com especial atenção à percepção dos alunos em ambientes de aprendizagem personalizados.

Em estudo publicado no Brazilian Journal of Development, o autor analisa como os estudantes interpretam a presença da inteligência artificial em plataformas educacionais, especialmente no que diz respeito à adaptação de conteúdo, ao ritmo de aprendizagem e à interação com os sistemas automatizados. Os resultados indicam que os alunos reconhecem os benefícios da IA, mas também expressam preocupações quanto à falta de transparência dos algoritmos e à ausência de mediação humana em momentos decisivos.

Meira (2020) argumenta que a percepção dos alunos sobre a personalização via IA está diretamente relacionada à clareza dos objetivos pedagógicos e à qualidade das interfaces utilizadas. Quando os sistemas são intuitivos, explicáveis e integrados a práticas pedagógicas coerentes, os estudantes tendem a demonstrar maior engajamento e satisfação. Por outro lado, quando a tecnologia é percebida como uma imposição ou como um substituto da interação humana, surgem sentimentos de desconforto, insegurança e resistência.

O autor também destaca que a personalização eficaz depende da capacidade dos sistemas de IA de reconhecer não apenas os dados de desempenho, mas também os aspectos subjetivos da aprendizagem, como interesses, emoções e dificuldades pessoais. Para isso, é necessário que os professores atuem como mediadores críticos, interpretando os dados e ajustando as estratégias pedagógicas conforme o contexto.

Meira (2020) conclui que a percepção dos alunos é um indicador valioso para avaliar a eficácia da personalização via IA, e que essa escuta deve orientar o desenvolvimento de tecnologias mais éticas, inclusivas e centradas no aluno.

Valente (2021), professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é um dos principais estudiosos brasileiros sobre tecnologias educacionais e aprendizagem significativa. Em artigo publicado na Educar em Revista, o autor discute como os alunos percebem a personalização do ensino mediada por inteligência artificial, especialmente em contextos de metodologias ativas e ensino híbrido.

O autor argumenta que os estudantes tendem a valorizar a personalização quando ela está alinhada a práticas pedagógicas que promovem a investigação, a resolução de problemas e a construção colaborativa do conhecimento.

Ainda descreve que os alunos percebem positivamente os sistemas de IA que oferecem trilhas de aprendizagem adaptativas, feedbacks personalizados e conteúdos que dialogam com seus interesses e desafios. No entanto, ele também aponta que essa percepção pode ser prejudicada quando os sistemas são excessivamente automatizados, desconsiderando a complexidade do processo educativo e a necessidade de interação humana.

Valente (2021) defende que a personalização via IA deve ser integrada a práticas pedagógicas que valorizem o protagonismo discente, a reflexão crítica e a construção de sentido.

Além disso, o autor destaca que a percepção dos alunos é influenciada pela formação dos professores e pela cultura institucional. Em ambientes onde os docentes são capacitados para utilizar a IA de forma estratégica e onde os estudantes são envolvidos no processo de implementação, a personalização tende a ser percebida como uma oportunidade de crescimento.

Por fim, conclui que a escuta dos alunos é essencial para garantir que a personalização via IA contribua efetivamente para a aprendizagem significativa e para a construção de ambientes educacionais mais humanos e responsivos.

Franqueira (2024), pesquisador brasileiro com atuação internacional, publicou recentemente na revista Cognitionis um estudo sobre o papel da inteligência artificial na personalização do ensino e a percepção dos alunos diante dessa transformação. O autor destaca que os estudantes reconhecem a IA como uma ferramenta capaz de oferecer suporte personalizado, especialmente quando ela é utilizada para ajustar o conteúdo, fornecer feedback imediato e automatizar tarefas repetitivas.

No entanto, ele também aponta que os alunos demonstram preocupação com a transparência dos algoritmos e com a possibilidade de perda da dimensão humana no processo educativo.

Segundo Franqueira (2024), os alunos percebem a personalização como positiva quando ela respeita sua individualidade, promove autonomia e está integrada a práticas pedagógicas que valorizam o diálogo e a construção coletiva do conhecimento. Por outro lado, quando a IA é utilizada de forma impessoal ou sem mediação adequada, os estudantes tendem a se sentir desconectados, monitorados e até mesmo desmotivados. O autor defende que a percepção dos alunos deve ser considerada como um critério fundamental para avaliar a eficácia das tecnologias educacionais.

Além disso, propõe que os sistemas de IA sejam desenvolvidos com base em princípios éticos, garantindo que os dados dos alunos sejam protegidos e que as decisões algorítmicas sejam explicáveis e justas. Seu estudo contribui para o debate sobre como a personalização via IA pode ser implementada de forma responsável, centrada no aluno e alinhada às demandas contemporâneas da educação.

Souza et al. (2024), em capítulo publicado na obra Inovação na educação: metodologias ativas, inteligência artificial e tecnologias na educação infantil e integral, analisam como os alunos percebem a personalização do ensino mediada por IA em diferentes níveis educacionais.

Os autores destacam que os estudantes valorizam a possibilidade de aprender em seu próprio ritmo, de receber recomendações personalizadas e de acessar conteúdos que dialogam com seus interesses. No entanto, também identificam preocupações relacionadas à impessoalidade das interações, à dificuldade de compreender os critérios dos algoritmos e à sensação de vigilância constante.

Segundo os autores, a percepção dos alunos é influenciada por fatores como a qualidade das plataformas utilizadas, o suporte oferecido pelos professores e o contexto institucional. Em ambientes onde a IA é integrada de forma planejada e ética, os estudantes tendem a perceber a personalização como uma oportunidade de crescimento.

Já em contextos em que a tecnologia é aplicada sem mediação ou sem diálogo com os sujeitos da aprendizagem, surgem sentimentos de desconforto e resistência.

Os autores concluem que a escuta dos alunos é essencial para o desenvolvimento de sistemas de IA mais eficazes, inclusivos e centrados no ser humano. A personalização do ensino, para ser bem-sucedida, deve considerar não apenas os dados de desempenho, mas também as experiências, expectativas e subjetividades dos estudantes. O estudo de Souza et al. (2024) oferece uma contribuição valiosa para compreender como os alunos vivenciam a IA na educação e como essa percepção pode orientar práticas pedagógicas mais sensíveis e eficazes.

A presente investigação evidenciou que a inteligência artificial, quando aplicada com responsabilidade, sensibilidade pedagógica e escuta ativa, tem potencial significativo para transformar o ensino tradicional em uma experiência mais personalizada, dinâmica e centrada no aluno.

Ao reunir autores de reconhecida relevância acadêmica — como Luckin (2017), Selwyn (2022), Costa et al. (2021), Moran (2019), Meira (2020), Valente (2021), Franqueira (2024) e Souza et al. (2024) — foi possível construir uma visão abrangente e crítica sobre como os estudantes percebem a personalização viabilizada por sistemas inteligentes em contextos educacionais diversos.

Conforme demonstrado ao longo da revisão bibliográfica, os alunos tendem a perceber positivamente as estratégias personalizadas que utilizam IA, sobretudo quando estas respeitam seus ritmos de aprendizagem, oferecem trilhas adaptativas de estudo, disponibilizam feedbacks imediatos e contribuem para o fortalecimento da autonomia e do protagonismo estudantil.

Entretanto, os mesmos alunos também manifestam preocupações legítimas com a transparência algorítmica, o excesso de automação, a falta de explicação sobre os critérios das recomendações personalizadas e a redução da dimensão humana nos processos de ensino.

A pesquisa apontou que a percepção discente é profundamente influenciada por fatores contextuais, como a qualidade das plataformas utilizadas, o nível de preparação e envolvimento dos professores, o grau de familiaridade dos estudantes com tecnologias digitais, bem como pela cultura institucional das escolas e universidades.

A presença de professores qualificados, que atuam como mediadores sensíveis e críticos no uso da IA, tem papel decisivo na construção de uma percepção positiva por parte dos alunos, reforçando que a tecnologia, por mais sofisticada que seja, não substitui o valor da relação humana, da empatia e do diálogo educacional.

Ficou evidente, ainda, que os alunos não desejam apenas ferramentas eficientes, mas ambientes que reconheçam sua subjetividade, que promovam aprendizagens significativas e que permitam escolhas informadas sobre suas próprias trajetórias educacionais. A personalização via IA, portanto, deve ir além da adaptação técnica: precisa ser humanizada, contextualizada e construída com os próprios estudantes, como agentes ativos do processo formativo.

Assim, as considerações finais deste artigo reforçam que compreender a percepção dos alunos sobre a personalização do ensino mediada por IA é essencial para o aprimoramento das práticas pedagógicas e para a construção de ambientes educacionais verdadeiramente responsivos.

A escuta discente deve deixar de ser um elemento secundário e passar a ocupar o centro das discussões sobre inovação tecnológica, garantindo que os sistemas inteligentes estejam alinhados aos valores educacionais, éticos e culturais das comunidades onde são implementados.

Em um contexto de transformação acelerada, a educação precisa não apenas acompanhar as mudanças tecnológicas, mas liderá-las com responsabilidade, garantindo que cada aluno seja visto, compreendido e respeitado em sua singularidade. A personalização via IA, quando guiada por princípios humanistas e pedagógicos sólidos, pode ser a ponte entre o potencial da tecnologia e as necessidades reais dos estudantes, abrindo caminhos para uma educação mais justa, inclusiva e significativa.

3. Estudos Futuros

A partir dos achados discutidos ao longo deste trabalho, é possível delinear algumas direções estratégicas para futuras pesquisas que aprofundem e ampliem o entendimento sobre a percepção dos alunos na personalização do ensino mediada por inteligência artificial:

  • Análise longitudinal da percepção discente: Investigar como a percepção dos alunos evolui ao longo do tempo em cursos que utilizam IA considerando aspectos como adaptação, confiança nos sistemas e mudança nos níveis de autonomia.
  • Estudos comparativos entre diferentes níveis de ensino: Comparar como estudantes da educação básica, técnica e superior percebem a personalização via IA identificando padrões comuns e especificidades por faixa etária e tipo de instituição.
  • Mapeamento de emoções em ambientes personalizados: Utilizar ferramentas de análise afetiva para identificar como os alunos se sentem durante interações com sistemas adaptativos, relacionando emoções com desempenho e engajamento.
  • Participação dos alunos no co-design de sistemas de IA educacional: Investigar os impactos de envolver os próprios estudantes na criação ou ajuste de plataformas inteligentes voltadas à personalização do ensino.
  • Estudos de recepção cultural da IA na educação: Analisar como fatores socioculturais influenciam a forma como os alunos interpretam e aceitam a IA considerando contextos regionais e internacionais.
  • Relação entre percepção e desempenho acadêmico: Estabelecer correlações entre como os alunos percebem a IA e seus resultados escolares, para avaliar o impacto da experiência subjetiva na aprendizagem objetiva.
  • Investigação sobre os limites éticos da personalização algorítmica: Examinar as implicações éticas de sistemas que monitoram e tomam decisões sobre rotas educacionais baseadas em dados comportamentais dos alunos.

Quadro Comparativo dos Autores e Suas Obras

Fonte: elaborado pelos autores

Referências

COSTA, C.; MOREIRA, A.; DOMINGUES, I. Aprendizagem híbrida e metodologias ativas. São Paulo: Penso, 2021.

FRANQUEIRA, B. Inteligência artificial e personalização do ensino: percepções discentes em ambientes digitais. Cognitionis, v. 5, n. 2, p. 45–60, 2024.

LUCKIN, R. Machine Learning and Human Intelligence: The Future of Education for the 21st Century. London: UCL IOE Press, 2017.

MEIRA, L. Inteligência artificial e personalização da aprendizagem: percepções de estudantes em ambientes digitais. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 10, p. 78923–78940, 2020.

MORAN, J. M. Metodologias ativas para uma educação inovadora. Revista Brasileira de Aprendizagem Ativa, v. 2, n. 1, p. 10–25, 2019.

SELWYN, N. Should Robots Replace Teachers? AI and the Future of Education. Cambridge: Polity Press, 2022.

SOUZA, M.; SILVA, T.; ALMEIDA, R. Inovação na educação: metodologias ativas, inteligência artificial e tecnologias na educação infantil e integral. Curitiba: CRV, 2024.

VALENTE, J. A. Percepção discente sobre ambientes personalizados com IA: uma análise crítica. Educar em Revista, Curitiba, n. 81, p. 1–20, 2021.


1Pós Doutor em Ciências da Educação- Universidad Martin Lutero- EUA https://orcid.org/0000-0002-8233-2628 profjc65@hotmail.com

2Mestre em Estudos de Língua, Literatura e Interculturalidade – POSLLI Universidade Estadual de Goiás (UEG) 0009-0005-1166-5600 honcesarmoraes@gmail.com

3Orcid:https://orcid.org/0009-0006-3976-910X Universidade do Estado do Amazonas: Manaus, Amazonas, BR hilkecarlayle.adv@gmail.com

4Pós-graduada Educação Especial e Inclusão/ FAC – Faculdade Católica Dom Aquino de Cuiabá-Missão Salesiana de Mato Grosso https://orcid.org/0009-0002-5744-8706 vanuzamarschner.psicologa@gmail.com

5Mestre em Docência para a Educação Básica (Departamento de Ciências) Habilitações académicas https://orcid.org/0000-0003-1561-3339 Docente de Língua Inglesa nas Escolas Estaduais: Edwards Corrêa e Souza e João Ponce de Arruda: Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, BR f.araujo@unesp.br

6Doutora em Saúde Pública Instituição: Universidade do Estado do Amazonas (UEA) Endereço: Manaus, Amazonas, Brasil E-mail: deboraelvasdesouza@gmail.com

7Doutoranda em Saúde Pública Instituição: Universidade Tocantinense Presidente Antônio Carlos S.A (UNITPAC) Endereço: Araguaína, Tocantins, Brasil E-mail: nairimdcaa@gmail.com