PARTICIPAÇÃO DAS COMUNIDADES LOCAIS NA GESTÃO DE QUEIMADAS DESCONTROLADAS NO DISTRITO DE CHIÚRE, NORTE DE MOÇAMBIQUE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202409121012


Dalmildo Agostinho Máquina1;
Adérito Jeremias Vicente da Silva2;
Amorim António da Costa3;
Famindo Lâmina4;
Sataca Omar Uacherequele5


RESUMO

Os números e frequência de incêndios em áreas florestais associado a queima sem controle e sem finalidade precisa estão aumentando em muitas partes do mundo. Este cenário afeta milhões de hectares de florestas em todo o mundo, incluindo Moçambique. O objetivo desta pesquisa foi avaliar a participação das comunidades na gestão de queimadas descontroladas no Posto Administrativo de Ocua (PAO). A metodologia deste estudo constituiu em entrevistas semiestruturadas e inquéritos por questionários a 92 habitantes em três comunidades, distribuídos da seguinte forma: 29 na comunidade de Ocua sede, 41 na comunidade de Samora Machel e 22 na comunidade de Mahipa. Os dados qualitativos e quantitativos foram processados pelo Software IBM SPSS versão 25 e Microsoft Excel 2013. Os resultados mostram que as causas das queimadas descontroladas no PAO estão relacionadas com práticas de atividades agrícolas impróprias, caça, exploração de carvão, renovação de campos de pasto e apicultura. Os procedimentos tomados pelas famílias das comunidades do PAO, antes da realização da queima são a realização de aceiros, observância das condições meteorológicas, aviso aos régulos e chefes das aldeias e as autoridades distritais. Existe uma parte que não segue nenhum procedimento para a realização da queima do material combustível nos seus campos. Contudo, as principais formas de gestão de queimadas descontroladas incluem: controlo que é feito pela parte dos régulos e chefes das aldeias, restrição das florestas locais, necessitando duma autorização prévia e a realização da prática de agricultura sem uso do fogo. 

Palavras-chaves: queimadas descontroladas, comunidade local e floresta.

1. INTRODUÇÃO 

Os números e frequência de incêndios em áreas florestais, associado a queima sem controle e sem finalidade precisa estão aumentando em muitas partes do mundo (Jurvélius, 2004). Durante os anos entre 1980 e 1900 um rápido crescimento do uso de fogo foi observado a nível mundial (De Melo & Durigan, 2010; Goldammer, 2013), sendo o mesmo utilizado a nível global de forma tradicional (Myers, 2006). Só no ano 2012 cerca de 30 milhões de hectares foram afectados por queimadas descontroladas em todo mundo, e no território moçambicano, para o mesmo ano, foram afetados cerca de 3.1 milhões de hectares de florestas (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura – FAO, 2009). 

Moçambique é um dos poucos países da região da África Austral com elevado potencial de florestas nativas e matas remanescentes (Sitoe et al., 2012), sendo o mais extensivo tipo as florestas de miombo (Ribeiro et al., 2002). Essas florestas contribuem para o desenvolvimento socioeconômico das comunidades rurais através da agricultura, exploração e comercialização de produtos florestais não madeireiros entre outros, (Sebukeera et al., 2006). O fogo é parte integral nestes ecossistemas ocorrendo regularmente e frequentemente na estação seca, sucedendo um dos fatores chaves na dinâmica da regeneração, desenvolvimento e distribuição espacial de inúmeras espécies de fauna e flora (Chidumayo, 1988; Trapnell, 1959).

Muitos destes fogos acabam tornando-se descontrolados por incapacidade de as controlar devido às proporções que atingem, outras vezes por desconhecimento das melhores práticas para o seu controle e às vezes por simples negligência (Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental – MICOA, 2008). As queimadas descontroladas destroem em média 15 milhões de hectares de florestas de Miombo anualmente (Direcção Nacional de Terras e Florestas – DNTF, 2002). Estima-se que, presentemente, quase todas as florestas do Centro e Norte com 73,6% de extensão de Moçambique sofrem queimadas pelo menos uma vez por ano (FAO, 2005; Sitoe et al., 2013). As queimadas ocorrem anualmente em todo país na época seca, e as principais razões incluem o uso de fogo para abertura de campos agrícolas, a caça, coleta de mel, fabrico de carvão, renovação de áreas de pastagens bem como para afugentar animais bravios das zonas residenciais rurais (Saket, 2000; Mwitu, 2009; Nhongo, 2018; Fernandes, 2009).

As queimadas afetam sobretudo os solos, os recursos hídricos, a fauna e a flora. Contudo, os seus efeitos podem ser tanto positivos como negativos (Mwito, 2009). Por exemplo, as queimadas podem ser positivas em florestas de miombo por ser tão dependente do fogo de tal forma que a ausência total de queimadas reduz a riqueza de espécies (Zolho, 2005 e Chidumayo, 1988). Por outra, as mesmas são negativas que segundo (Mwito, 2009) provoca a erosão e o empobrecimento dos solos, destrui e altera o certo tipo de flora e a biodiversidade. Elas são também responsáveis pela emissão de Gases de Efeitos Estufa (GEE) que são responsáveis pelas mudanças climáticas, mais concretamente o aquecimento global (Nhamussua, 2015).

Supõe-se que o elevado nível queimadas descontroladas no Posto Administrativo de Ocua seja agravada pelo facto das comunidades locais geralmente sentirem-se discriminadas nos processos de tomada de decisão sobre a exploração e utilização dos recursos. De Acordo com Jurvélius (2004); Mwito (2009) indicam que uma das questões centrais dos esforços nacionais e internacionais para desenvolver estratégias de mitigação para queimadas descontroladas é como abordar as causas humanas de queimadas descontroladas, ou seja, alterando o comportamento humano. Por outro lado, a participação da comunidade local na planificação de gestão das queimadas descontroladas é necessária para reduzir o número de queimadas descontroladas, bem como a sua propagação. O trabalho objetiva avaliar o contributo da comunidade para a gestão de queimadas descontroladas no Posto Administrativo de Ocua.

2. METODOLOGIA 

2.1. Localização da área de estudo 

O estudo foi realizado no Posto Administrativo de Ocua (PAO), situado no distrito de Chiúre, parte sul da província de Cabo Delgado confinado a Norte com o distrito de Ancuabe, a Sul com a província de Nampula através do rio Lúrio a Este com distrito de Mecufi e a Oeste com os distritos de Namuno e Montepuez. O distrito de Chiúre tem uma superfície de 5.320 km2 e uma população estimada em 208.834 habitantes, com uma densidade populacional de 42.5 hab/km2 (Ministério de Administração Estatal – MAE, 2005). O Posto Administrativo de Ocua em particular possui uma população estimada de 59681 e 14921 agregados familiares. 

2.2. Técnicas de colecta de dados

O trabalho de campo foi realizado no Posto Administrativo de Ocua em três comunidades, nomeadamente Ocua Sede, Samora Machel e Mahipa. Para a recolha de dados, trabalho combinou-se as técnicas de entrevistas semiestruturadas, Inquérito por questionário e Observação por se verificar como mais apropriado para o alcance dos objetivos da pesquisa.

A escolha de entrevistas semiestruturadas, como técnica fundamental de produção de dados, tem a ver com o facto de se tratar de um meio que possibilita captar o saber, as percepções, as representações dos actores locais, um elemento indispensável para a compreensão social. A entrevista semiestruturada é respondida dentro de uma conversação, onde o entrevistador tem liberdade de desenvolver cada situação em qualquer direção que considere adequada (Markoni & Lakatos, 2003; Gil, 2008). 

O inquérito por questionário foi uma técnica que visou obter informação de uma maneira sistemática e ordenada, acerca da população estudada, das variáveis quantitativas que são objecto do estudo. Assim sendo, o questionário aplicado passou por uma etapa de pré-teste, num universo reduzido, para que se possam corrigir eventuais erros de formulação.

O questionário foi elaborado de modo a encontrar resposta a questões centrais tais como (a) caracterizações socioeconômicas das famílias entrevistadas; (b) Práticas do uso de fogo pelas comunidades (d) factores que Influenciam a práticas de actividades que causam queimadas descontroladas, (e) formas de participação de gestão de queimadas descontroladas. Foram também realizadas observações diretas nas áreas em que as comunidades realizam as suas actividades relacionadas ao uso de fogo e locais onde ocorreram queimadas descontroladas.

2.3. Participantes da Pesquisa e Amostragem 

Segundo Administração do Posto no sector de Planificação e Desenvolvimento Local, o Posto Administrativo de  Ocua possui uma população estimada de 59681 os quais Homens e Mulheres com 22453 e 29133 respectivamente e 16507 agregados familiares. O trabalho de campo consistiu em entrevistas e inquéritos por questionário a 92 habitantes das três comunidades (Ocua Sede, Samora Machel e Mahipa) distribuídos em um número de 29, 41 e 22 entrevistados respectivamente. FAO (1990) recomenda, para uma população superior a 1000 agregados familiares, um tamanho de amostra mínimo de 50 indivíduos.

Para a obtenção e selecção dos elementos da amostra foi usada a técnica de amostragem não probabilística do tipo Snow ball (Bola de neve), onde os pesquisadores estava interessado e focalizado na opinião, acção ou intenção dos elementos seleccionados que foram deliberadamente escolhidos certos elementos para pertencer à amostra, por julgar tais elementos estarem mais ligado a actividades que envolvem o uso de fogo.

Para a escolha dos indivíduos que participaram na entrevista e inquérito por questionário, primeiro identificou-se e contactou-se um residente da comunidade local que sua atividade principal de fonte de renda está diretamente relacionada com o uso de fogo e a partir deste foram identificados outros. 

2.4. Análise e Processamento de Dados

Após a coleta de dados através do inquérito por questionário e entrevistas, foram verificados, corrigidos os possíveis erros e validados. Para facilitar a análise, foi criada uma base de dados em que todas as respostas posteriormente foram codificadas.

Os dados foram processados no programa estatístico Statistical Package Science Social (SPSS) (Pacote Estatístico para Ciências Sociais na tradução para português) versão 25 no Microsoft Excel 2013 foram produzidos gráficos, tabelas, além de análises complementares para comparar diferentes posicionamentos dos entrevistados e inquiridos. Os programas estatísticos usados permitiram trabalhar com a distribuição de frequências, tabulações cruzadas, determinação de médias e outras análises estatísticas. Depois do processamento, os resultados obtidos permitiram dar uma ideia geral da situação atual da área de estudo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

3.1. Uso e Maneio de Fogo

De acordo com os dados fornecidos pelos entrevistados das três comunidades do Posto Administrativo de Ocua, constatou-se a agricultura, a caça, o pastoreio e a produção de carvão e outras (prática de apicultura e renovação de pasto) como as principais actividades relacionadas com o uso e maio do fogo conforme ilustra a figura abaixo (figura 1). A prática de atividades agrícolas constitui a principal atividade realizada no seio das comunidades do Posto Administrativo de Ocua, servindo assim de base para o sustento da maioria dos agregados, ela é praticada tanto por homens, assim como pelas mulheres. Este facto está aliado às necessidades e as condições socioeconômicas da comunidade naquela região.

Figura 1. Atividades praticadas no PAO relacionada com o uso do fogo. Fonte: Autores (2024).

3.2. Procedimentos Adotados na Realização da Queima

Os resultados da figura 2 referente ao procedimento tomado pelas famílias das comunidades do PAO, antes da realização da queima, a maioria dos entrevistados afirmaram não seguirem nenhum procedimento para a realização da queima do material combustível nos seus campos, os restantes indicam os seguintes procedimentos: realização de aceiros, observância das condições meteorológicas, avisa aos régulos e chefes das aldeias e as autoridades distritais. 

Figura 2. Procedimentos tomados na realização de queima no campo de cultivo agrícola. Fonte: Autores (2024).

De acordo com as comunidades do PAO a não tomada de qualquer procedimento antes da prática da queima em seus campos deve-se a demora que os procedimentos levam e pelo fraco conhecimento dos mesmos, facto este que pode influenciar no aumento de taxas de queimadas descontroladas colocando em risco a biodiversidade daquela região. 

No seu guião prático para queima de maneio, o Parque Nacional de Quirimbas – PNQ, (2017) definiu os critérios básicos a seguir para a realização das queimadas sobretudo a abertura de aceiros; protecção dos animais; aviso a comunidades circunvizinhas; manter pessoal equipado na área para evitar que o fogo se alastre; vigilância durante a queima; realização de queimas durante temperatura mais baixa e a umidade mais elevada da vegetação; e divisão da área a ser queimada caso seja extensa. 

Portanto, alguns dos agregados familiares afirmaram realizar a abertura dos aceiros antes de qualquer actividade de uso de fogo assim como na queima do material combustível, em contra facto alguns dos agregados afirmaram que nunca receberam capacitação sobre o maneio e uso de fogo, situação esta que pode influenciar no fraco nível de conhecimento da população em relação os padrões aceitáveis e normas básicas requeridas na abertura de aceiros no que diz respeito às dimensões da largura da faixa, implicando assim na influência a despiste do fogo para outras áreas causando as queimadas descontroladas.

Empoderamento comunitário no uso do fogo, enfatiza a necessidade de inclusão das comunidades no maneio adequado do uso do fogo, de modo que possam ser tiradas vantagens do uso do fogo, em actividades de estimulação de pasto e forragem e maneio de pragas (Heikkilä et al., 2010; FAO, 2011). 

3.3. Procedimento tomado para fogo fora de controlo 

Concernente ao procedimento tomado no seio das comunidades do PAO quando o fogo sai do controlo, maior parte dos agregados familiares entrevistados afirmaram não realizar mecanismos de combate deixando assim que o fogo se propague na sua forma normal característica esta que mostra o nível de incapacidade da população no combate às queimadas descontroladas e que possa criar implicâncias na destruição da diversidade biológica local, alguns realizavam qualquer procedimento de combate, conforme ilustra a figura 3.

Figura 3. Procedimento tomado quando o fogo sai de controle. Fonte: Autores (2024).

Em relação ao procedimento tomado quando o fogo sai de controle, outros agregados familiares entrevistados afirmou que no caso em que o fogo sai do controle chamam as autoridades competentes (líderes locais), uns chamam vizinhos e os restantes criam outros meios para o combate às queimadas descontroladas. De acordo com Haltenhoff (1998) relata que em caso de queimadas descontroladas, não se pode extinguir o fogo com os recursos ordinários, compete não só ao executor do fogo como a qualquer outra autoridade pública requisitar os meios materiais e convocar os homens em condições de prestar auxílio.

3.4. Épocas de Ocorrência de Queimadas Descontroladas 

No que diz respeito às épocas das ocorrências das queimadas descontroladas nas comunidades do PAO, dos agregados entrevistados, maior parte (80%) afirmaram que os meses com maiores índices de ocorrências de queimadas descontroladas são os de Setembro à Novembro, os outros restantes indicaram os meses de Abril à Agosto (17%) e por último Dezembro a Março (3%), conforme a figura 6.

Figura 4. Épocas das ocorrências das queimadas descontroladas. Fonte: Autores (2024).

Os resultados do presente estudo se assemelham com os da Direcção Nacional de Terras e Floresta –DNTF, (2005) afirmando que em Moçambique, o registo de elevados índices de queimadas descontroladas compreende entre Junho a Novembro, devido a caracterização e baixo índice de precipitação, desfolhagem das árvores, alta concentração de gramíneas ou material combustível pronto a ignição, coincidindo assim com a fase de preparação da terra para a prática de actividades agrícolas e a caça.

Nas florestas de miombo do país, as queimadas tendem a ocorrer na época seca, entre os meses de Agosto e Novembro (Cangela, 2014; Nanvonamuquitxo et al., 2014). Os meses com maior ocorrências de queimadas descontroladas nas comunidades de PAO, distrito de Chiúre, é semelhante aos outros distritos do país, citados por MICOA (2007) onde consideram que os meses de maior ocorrência de incêndios florestais encontram-se no período seco, em particular nos meses de Agosto, Setembro, Outubro e Novembro.

3.5. Formas de gestão de queimadas descontroladas no P.A de Ocua

Dos cerca de 62%, afirmam que uma das formas de gestão e evitar queimadas descontroladas tem sido através do controle que é feito pela parte dos Régulos e chefes das aldeias. Por outro lado, cerca de 21% afirmam que outra forma de gestão é a exploração restrita das florestas, necessitando de uma autorização prévia. De salientar que estas mesmas florestas, são usadas para práticas culturais e em caso de alguém fazer o uso não autorizado ou praticar acções de queima, é denunciado e posteriormente sancionado dai que a probabilidade de ocorrência de queimadas nesses locais onde as florestas estão implantadas é muito menor. Esta estratégia de gestão não chega a limar o problema das queimadas na totalidade, visto que ainda não abrange todo o Posto Administrativo e as áreas florestais ainda encontram-se em número maior. Os restantes 17% afirmam realizarem a prática de agricultura sem usar o fogo, fazendo com que evitem a ocorrência de queimadas descontroladas. 

3.5.1. Realização de palestras de sensibilização das comunidades sobre queimadas descontroladas. 

Cerca de 69% afirmaram que através dos programas (Ex: programa Sustenta) que os Serviços Distritais de Actividades Económicas (SDAE) e tem prestado anualmente através de encontros com as comunidades locais e líderes comunitários para sensibilização das comunidades no sentido de haver uma motivação no seio gestão das queimadas e incentivo para a prática de agricultura de conservação. Essas ações são conduzidas em forma de mensagens instrumentalizadas que alertam o perigo das queimadas descontroladas e trazem consigo a importância de uma floresta na preservação do meio ambiente. 

Cerca de 32% mencionaram receberem treinamento em matéria de Agricultura Sustentável (agricultura respeitosa ao ambiente) no ano de 2020 pelos formandos e formadores do Instituto Agrário de Bilibiza/Ocua (IABil/Ocua) através do Departamento de Pesquisa e Extensão e Departamento de Florestas e Fauna Bravia no âmbito de implementação do programa de “Engajamento Comunitário” da Fundação Aga Khan (AKF sigla em Inglês). Cerca de 21% indicam que foram fixadas placas sobre os perigos das queimadas descontroladas e não uso de fogo em florestas das comunidades, o que também se torna uma forma de sensibilização das comunidades. 

Apesar de estas acções serem levadas a cabo por algumas instituições, e apesar de existência de instituições e empresas ligadas a ramo de agricultura e florestas na região a nível do PAO como é o caso de Ouro Verde, Instituto Agrário de Bilibiza/Ocua, Plexus e Jacarandá, foi possível notar que parte das habitantes da comunidade 23% não tem conhecimento sobre como preservar uma floresta, os riscos de uso de fogo tanto nas machambas assim como florestas e afirmaram não possuir o conhecimento a respeito da legislação sobre o uso de fogo em vigor em Moçambique. Estes factos todos estão relacionados com alguns factores fundamentais:

  • O baixo envolvimento comunitário na gestão das queimadas e florestas nas comunidades;
  • Número baixo de técnicos extensionistas para capacitar as comunidades. Por exemplo na comunidade de Samora Machel foi observado a existência de dois técnicos, esta comunidade é dita como a mais populosa no Posto Administrativo de Ocua;
  • Negligência por parte de alguns habitantes na aderência dos treinamentos e campanhas de sensibilização relacionados a queimadas descontroladas, conservação da dos recursos naturais, agricultura sustentável, e divulgações de legislações sobre o uso de fogo. 

Como forma de solucionar esta preocupação sobre os indivíduos sem conhecimento sobre como preservar uma floresta, os riscos de uso de fogo tanto nas machambas assim como florestas e não possuir conhecimento a respeito da legislação sobre o uso de fogo em vigor em Moçambique, mitigar e prevenir a ocorrência de queimadas descontroladas alguns entrevistados apontam afirmam o seguinte:

  • As instituições responsáveis (exemplo SDAE) devem fortalecer as comunidades para criação de Comités Comunitários de modo a garantir uma gestão sustentável das queimadas descontroladas através de implantação de um programa permanente de educação ambiental a nível distrital particularmente do Posto administrativo de Ocua visando a sua consciencialização sobre os prejuízos decorrentes das queimadas;
  • Instituições de ensino (como por exemplo Instituto Agrário de Bilibiza/Ocua e outras ligadas a conservação do ambiente devem apoiar, formar e trabalhar com as comunidades em matéria de gestão ambiental através de financiamento de programas de prevenção ambiental;
  • Os agricultores devem abrir seus campos agrícolas usando o sistema sem usar as queimadas.
  • Os produtores de carvão deveriam produzir o carvão vegetal em zonas limpas para facilitar o controle do fogo.

4. CONCLUSÕES 

As causas das queimadas descontroladas no PAO estão relacionadas com práticas de atividades agrícolas impróprias, caça, exploração de carvão, renovação de campos de pasto e outras (prática de apicultura e renovação de pasto). 

Os procedimentos tomados pelas famílias das comunidades do PAO, antes da realização da queima são a realização de aceiros, observância das condições meteorológicas, aviso aos régulos e chefes das aldeias e as autoridades distritais. Mas existe uma parte que não seguem nenhum procedimento para a realização da queima do material combustível nos seus campos.

As principais formas de gestão de queimadas descontroladas incluem: controle que é feito pela parte dos régulos e chefes das aldeias, restrição das florestas locais, necessitando de uma autorização prévia e a realização da prática de agricultura sem uso do fogo. São também realizadas palestras de sensibilização das comunidades sobre queimadas descontroladas e agricultura sustentável.

Referências Bibliográficas 

Cangela, A. (2014). Caracterização e mapeamento do regime de queimadas na Reserva Nacional de Niassa. 63 p. Universidade Eduardo Mondlane. Maputo.

Chidumayo, E. N. (1988). A Re-Assessment of Effects of Fire on Miombo Regeneration in the Zambian Copperbelt. Journal of Tropical Ecology . 4:361-372.

De Melo, A. C.G & Durigan, G. (2010). Impacto do fogo e dinâmica da regeneração da comunidade vegetal em borda de Floresta Estacional Semidecidual (Gália, SP, Brasil). Revista Brasil. Bot., V.33, n.1, p.37-50, jan.-mar.

Direcção Nacional de Terras e Floresta –DNTF. (2002). Estratégia Nacional de Prevenção e Controle de Queimadas Florestais em Moçambique. Draft. DNFFB, Maputo, 2002.

Fernandes, A. dos M. (2009). Análise Preliminar das Queimadas Descontroladas: INGC Alterações Climáticas Relatório. Maputo.

GIL, A. (2008). Métodos de Pesquisa Social. 6. São Paulo : Atlas.

Goldammer, J. G. (2013). Vegetation Fires and Global Change: Challenges for Concerted International Action A White Paper directed to the United Nations and International Organizations. A Publication of the Global Fire Monitoring Center (GFMC).

Haltenhoff. (1988). Manual Técnico N° 18: Silvicultura Preventiva, Santiago, Chile.

Heikkilä, T., Gronvist, R., & Jurvélius, M. (2010). Wildland fire management: handbook for traininers – Food and agriculture organization of the United Nations, forest management team, Forestry Department. Rome. Pág 83-125.

Jurvélius. M. (2004). La Gestión comunitaria de los incêndios em África meridional. Unasylva 217, Vol.55.

Marconi, M. A. & Lakatos, E. M. (2003). Fundamentos da metodologia Cientifica. 5. São Paulo: Atlas.

Ministério de Administração Estatal – MAE. (2005). Perfil do distrito de Chiúre, provincial de Cabo Delgado. Maputo.

Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental – MICOA. (2007). Plano de acção para a prevenção e controlo as queimadas descontroladas 2008-2018. Aprovado pela 32ª Sessão do conselho de Ministros. Maputo.

Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental – MICOA. (2008). Queimadas descontroladas, soluções locais para um problema global. Maputo, Moçambique;

Mwitu, J. (2009). Manual de Educação Ambiental para as áreas de conservação Aplicado ao Parque Nacional do Limpopo. Parque Nacional de Limpopo, Moçambique.

Myers, R. L. (2006). Convivendo com o Fogo – Manutenção dos Ecossistemas & Subsistência com o Manejo Integrado do Fogo. Iniciativa Global para o Manejo do Fogo. The Nature Conservancy. Tradução de Margaret Batalha. U.S.A.

Nanvonamuquitxo, S. J., Rojas, F. G. & Rodríguez, M. P. R.. (2014). Perfil de los incendios de la vegetación en la provincia de Zambézia, Mozambique de 2007 a 2011. Revista Cubana de Ciencias Forestales, 1(2). 

Nhamussua, R. R. (2015). Avaliação das emissões de gases de efeito estufa a partir de queimadas florestais nos ecossistemas de Mopane e Miombo na província de Manica. Dissertação de Mestrado em Maneio e Conservação de Biodiversidade. Universidade Eduardo Mondlane. Maputo.

Nhongo, E. J. S. (2018) Estudo Sobre Incêndios Florestais Na Floresta De Miombo Reserva Do Niassa-Moçambique, Com Base Em Dados De Sensoriamento Remoto. Tese de Doutor em Sensoriamento Remoto. Brasil.

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura – FAO. (2005) Miombo Woodlands and HIV/AIDS interactions: Mozambique country report. Forestry Policyand Institutions, Working Paper 2. Roma.

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura – FAO. (1990). The community’s toolbox: idea, methods and tools for assessment, monitoring and evaluation in community forestry field Manual 2. Italy – Rome. 188 pp.

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura – FAO. (2009). Forest fires and the law – A guide for national drafters based on the Fire Management voluntary guidelines. Legislative Study 99:112.

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura – FAO. (2011). Community-based fire management, A Review. Rome. Pág. 4-13

Parque Nacional de Quirimbas – PNQ. (2017). Guião Prático para Queimadas de Maneio. Repartição de Conservação, Turismo e Desenvolvimento Comunitário do PNQ. Cabo Delgado.

Ribeiro, N., Sitoe, A. A., Guedes, B. S. & Staiss, C. (2002). Manual de silvicultura tropical. Maputo: UEM.

SAKET, M. (2000). Fire Situation in Mozambique. FAO Corporate Document Repository.

Sebukeera, C., Muramira, E., Momokama C., Elkholei A., Elbagouri, I., Masumbuko B. & Rabesahala, V. (2006). Forests and woodlands. in: Africa environment outlook 2. Our environment, our wealth. UNEP. ISBN: 92-807-2691-9.

Sitoe, A. A., Guedes, B. S. & Nhantumbo, I. (2013). Monitoria, Relatório e Verificação para o REDD+ em Moçambique. Relatório do País. Moçambique – Maputo.

Sitoe, A., Salomão, A. & Wertz-Kanounnikoff, S. (2012). O contexto de REDD+ em Moçambique: causas, actores e instituições. Publicação ocasional nr. 76, 56p. Center for International Forestry Research (CIFOR), Bogor, Indonesia.

Trapnell, C. G. (1959). Ecological Results of Woodland and Burning Experiments in Northern Rhodisia. The Journal of Ecology. Vol. 47(1): 129-168.

Zolho, R. (2005). Effect of Fire Frequency on the Regeneration of Miombo Woodland in Nhambita, Mozambique. Master of Science Dissertation. University of Edinburgh. Scotland –UK.


1Mestrando em Agronegócio na Universidade Lúrio – UniLúrio Business School (UBS); Universidade Rovuma (UniRovuma) – Faculdade de Ciências Alimentares e Agrárias (FCAA); dalmildomaquina@gmail.com;
2Mestrando em Desenvolvimento Rural na Universidade Lúrio (UniLúrio) – Faculdade de Ciências Agrárias (FCA); Direcção Nacional de Agricultura Comercial; Departamento de Insumos Agrários; dasilva.aderito28@gmail.com;
3Mestrando em Segurança Alimentar e Nutricional em Contexto de Mudanças Climáticas na Universidade Rovuma (UniRovuma); Instituto Polivalente de Marrere; amoryyymdacosta900@gmail.com;
4Mestrando em Segurança Alimentar e Nutricional em Contexto de Mudanças Climáticas na Universidade Rovuma (UniRovuma); famindolamina@gmail.com;
5Mestrando em Segurança Alimentar e Nutricional em Contexto de Mudanças Climáticas na Universidade Rovuma (UniRovuma); Direcção Provincial de Agricultura e Pescas, Departamento de Desenvolvimento Rural; suacherequele@gmail.com