Camilla Yana de Oliveira Rodrigues¹
Adria Yared Sadala²
1 Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista – UNIP.
² Doutoranda, Fisioterapeuta, Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista – UNIP.
Endereço: Av. Joaquim Nabuco, 1232, Centro│Manaus│AM│CEP: 69020-030│ (92) 3212-5000.
ROLE OF THE PHYSIOTHERAPIST IN THE AWARENESS TO DECISION-MAKE NATURAL CHILDBIRTH: A LITERATURE REVIEW.
Resumo
Introdução: O parto natural planejado de acordo com a American College of Obstetricians and Gynecologists (2013) é apropriado, seguro e deve ser recomendado quando não houver indicação materna ou fetal para a cirurgia cesariana. Objetivo: Determinar o papel do fisioterapeuta no pré-natal na busca da conscientização da escolha do parto natural, através de uma revisão de literatura. Metodologia: O presente estudo constituiu de uma pesquisa de caráter exploratório, descritivo e que se vale da Revisão Integrativa da Literatura. A pesquisa aos artigos foi realizada pelas seguintes bases de dados: Mendeley, Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e PubMed®; utilizando descritores em português como: Fisioterapia, parto natural, gestação, pré-natal; e na língua inglesa: physical therapy, physiotherapy, natural childbirth, pregnancy, antenatal. Resultados: Foi demonstrado a atuação fisioterapêutica no pré-natal pode ser eficaz na redução de cirurgias cesarianas e que o medo existente seja minimizado nas gestantes. Considerações finais: O presente estudo demonstrou a necessidade do fisioterapeuta estar inserido em equipes de hospitais e maternidades, podendo orientar em: padrões respiratórios, beneficiando sua própria oxigenação quanto a do feto; na conscientização corporal, transmitindo a segurança de que a mesma não necessita de intervenções externas no período expulsivo, estando em baixo risco.
Palavras-chave: Fisioterapia, parto natural, gestação, pré-natal.
Abstract
Introduction: Natural childbirth planned according to the American College of Obstetricians and Gynecologists (2013) is appropriate, safe and should be recommended when there is no maternal or fetal indication for cesarean surgery. Objective: Within this context, the objective of this project to determine the role of physiotherapists in prenatal care in the search for awareness of the choice of natural childbirth. Methodology: The present study consisted of an exploratory, descriptive research that uses the Integrative Literature Review. The search for articles was limited by the following databases: Mendeley, Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) and PubMed®; using descriptors in Portuguese such as: Physiotherapy, natural childbirth, pregnancy, women\’s health; and in English: physiotherapy, physiotherapy, natural childbirth, pregnancy, childbirth. Results: It was possible to prove the reduction in the occurrence of MAP dysfunctions both at the end of pregnancy and up to 6 months after delivery, making the transition from prenatal to the puerperium more satisfactory and guaranteeing greater confidence in the decision making of natural childbirth. Conclusion: The present study does not require the physiotherapist to have a defined role in hospital and maternity teams, being able to guide on: breathing patterns, benefiting their own oxygenation as that of the fetus; in body awareness, transmitting the assurance that it does not calculate external sources in the expulsive period, on low risk.
Key-words: physiotherapy, physical therapy, natural childbirth, pregnancy, antenatal1
1. INTRODUÇÃO
O parto natural planejado de acordo com a American College of Obstetricians and Gynecologists (2013) é apropriado, seguro e deve ser recomendado quando não houver indicação materna ou fetal para a cirurgia cesariana.
Atualmente o parto natural está consolidado em nosso meio, para que haja um condicionamento hábil da dilatação do colo uterino, proveniente de contrações dolorosas e rítmicas. A transição entre os períodos de pré-parto e o parto em si é gradativo, pois não existe uma demarcação exata, o que torna árduo caracterizar o início das atividades da dilatação. (MONTENEGRO; FILHO, 2017).
Estimam-se que no Brasil houve o total de 2.944.932 partos no período de 2018, onde 43,99% foram partos vaginais e 55,94% cirurgias cesarianas e 0,06% foram ignorados (BRASIL, 2018). Em serviços de saúde públicos, os partos normais demonstraram maiores proporções das internações (7,2%) que a cirurgia cesariana (5,9%) e já em serviços de saúde privados, ocorreu o contrário: partos normais (2,1%) foram abaixo dos valores de internações das cirurgias cesarianas (9,7%). Entre 01/01/2012 e 27/07/2013, 45,3% realizaram parto natural e 54,7% cirurgia cesariana, porém dentre essas mais da metade (53,5%) foram agendadas com antecedência. (BRASIL, 2013).
Para minimizar a decisão ou escolha por cesariana, é importante o prénatal obter esclarecimentos para o parto como um processo natural e fisiológico e quando bem conduzido, não há necessidade de intervenções externas. Sabese que é extrema importância que a gestante reconheça o seu papel nesse processo, bem como aceitar suas rejeições em relação as condutas que causem constrangimentos e dor (BRASIL, 2016). A fisioterapia tem um papel definido no pré-natal, podendo influenciar positivamente esse processo às gestantes que buscam prevenir, tratar e reabilitar as manifestações físicas em seus corpos.
Dentre as condutas existentes da fisioterapia no pré-natal, destacam-se propostas e estratégias educativas como preparação para o parto, palestras educativas com intuito de tranquilizar e conscientizar a gestante sobre as vantagens do parto natural. O fisioterapeuta na área de Saúde da Mulher atua na conscientização corporal da gestante bem como erradicar quaisquer dúvidas referentes as vias de parto, oferecendo segurança, confiança e tranquilidade no momento do parto como também na gestação. Devido às mudanças biológicas, físicas e sociais da gestante, a Fisioterapia adentra todos estes meios a fim de promover prevenção e melhorias nas alterações já previstas e citadas anteriormente. (ZAMBIAZZI, 2014).
Dentro desse contexto, o objetivo do presente projeto foi determinar o papel do fisioterapeuta no pré-natal na busca da conscientização da escolha do parto natural.
2. METODOLOGIA
O presente estudo constituiu-se de uma pesquisa de caráter exploratório, descritivo e que se vale da Revisão Integrativa da Literatura direcionada ao papel do fisioterapeuta na conscientização para tomada de decisão do parto natural. Os estudos selecionados foram: artigos científicos, periódicos, monografias e bancos de dados atualizados de 2010 até 2020 e que retratassem a fisioterapia como parte essencial tanto da gestação quanto na escolha do parto.
A pesquisa aos artigos foi delimitada pelas seguintes bases de dados: Mendeley, Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e PubMed®; utilizando descritores em português como: Fisioterapia, parto natural, gestação, pré-natal; e na língua inglesa: physical therapy, physiotherapy, natural childbirth, pregnancy, antenatal. Logo a seguir a figura 1, demonstra como os dados foram levantados e o seu progresso da revisão integrativa de literatura.
Figura 1 – Fluxograma básico demonstrando o processo metodológico cumprido.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Mediante aos artigos revisados na literatura, o quadro abaixo demonstra o resultado desta pesquisa a partir do autor, título, tipo de estudo, revista e seus respectivos resultados.
Quadro 1 – Artigos que abordam o papel do fisioterapeuta na conscientização para tomada de decisão do parto natural, 2010 a 2020
Autor/Ano | Título | Tipos de estudo | Revista | Resultado do artigo |
BAVARESCO et al, 2011. | O fisioterapeuta como profissional de suporte à parturiente | Revisão bibliográfica | Ciência & Saúde Coletiva | Observou-se que o fisioterapeuta tem participação fundamental em tornar o parto mais natural e ativo possível, porém na maioria dos hospitais e maternidades não oferecem atendimento deste profissional. |
PADILHA J. F.; GASPARETTO A.; BRAZ M. M. 2015. | Atuação da fisioterapia em uma maternidade: percepção da equipe multiprofissional de saúde | Estudo de caso | Fisioterapia Brasil | A maioria dos entrevistados recorreu à Fisioterapia nos trabalhos de parto e puerpério imediato com o sentimento de calma e tranquilidade, tendo maior conhecimento do que está acontecendo com seu corpo e o feto. |
MøRKDEV; Bø, 2014. | Effect of pelvic floor muscle training during pregnancy and after childbirth on prevention and treatment of urinary incontinence: a systematic review | Revisão sistemática | Br J Sports Med | O treinamento da musculatura do assoalho pélvico (MAP) pode prevenir e tratar disfunções como incontinência urinária (IU). Há necessidade de atualizações nas eficácias das diretrizes de gravidez. |
KOCAöZ S.; EROğLU K.; SIVASLıOğLU A. A., 2012. | Role of Pelvic Floor Muscle Exercises in the Prevention of Stress Urinary Incontinence during Pregnancy and the Postpartum Period | Randomizado | Gynecologic and Obstetric Investigation | Foi possível prevenir a incontinência urinária de esforço durante a gestação e o pós-parto. |
MIQUELUTTI M. A.; CECATTI J. G.; MAKUCH M. Y, 2015. | Developing strategies to be added to the protocol for antenatal care: An exercise and birth preparation program | Ensaio clínico | CLINICS | Os resultados mostraram-se ineficazes para redução da dor lombo pélvica em exercícios oferecidos apenas em consultas prénatais. Já em exercícios de maior frequência como semanalmente, podem ser uma melhor estratégia de prevenção da dor lombo pélvica. |
ARAÚJO et al, 2018. | Prescription of breathing orientations given by the healthcare team during labor: a crosssectional study | Estudo transversal | O Mundo da Saúde | O fornecimento de orientações respiratórias foi capaz de promover maior satisfação materna nos períodos de trabalho de parto. |
HYAKUTAKE et al, 2018. | PregnancyAssociated Pelvic Floor Health Knowledge and Reduction of Symptoms: The PREPARED Randomized Controlled Trial | Ensaio clínico randomizado | Journal of Obstetrics and Gynaecology Canada: JOGC | Na prevenção da incontinência urinária comparada com os cuidados habituais, as gestantes que realizaram treinamento de MAP provavelmente tem um baixo risco de relatar IU no final da gestação. |
BAVARESCO et al (2011), afirma que a parturiente na maioria dos casos encontra-se bastante inquieta, levando a realização de respirações breves que por sua vez aumentam os níveis de ansiedade e fadiga e que podem ser diminuídos com a presença do fisioterapeuta, pois o mesmo tem a importante função de orientar e conscientizar a gestante na tomada de decisão, desenvolvendo sua confiança e segurança. Porém, ainda existem dificuldades na inserção do fisioterapeuta que atuam em hospitais e maternidades pois não oferecem este atendimento que já se mostrou necessário na contribuição do serviço humanizado e ao parto independente da via.
De acordo com PADILHA et al (2015), a proposta de um protocolo de intervenção baseada na escala visual analógica da dor evidenciou que não houve aumento até uma hora após a intervenção, sendo considerado como positivo a intervenção fisioterapêutica neste caso. Neste mesmo estudo foi possível obter conclusões de que a mobilidade pélvica contribui na evolução da dilatação, já a ação muscular auxilia na progressão do trabalho de parto e o uso consciente do corpo, por fim, favorece o parto vaginal. A amostra composta por 81 parturientes concluiu que o tempo do trabalho de parto foi reduzido em 51% nas primíparas e 33% em multíparas, apontando a fisioterapia como contribuinte na redução de tempo do trabalho de parto.
MøRKDEV (2012) relata redução significativas em episódios de incontinência urinária ou uma menor porcentagem em mulheres com IU no final da gravidez como também durante os três meses após o parto. Concluiu-se também que mulheres que não apresentaram IU anteriormente e foram guiadas pelo treinamento da MAP foram 56% menos propensas a relatar IU no final da gestação e cerca de 30% até 6 meses após o parto.
KOCAöZ et al (2012) também discorre no parecer da redução da incidência e gravidade da incontinência urinária, pois está ligado ao fato da mulher se sentir motivada a prosseguir o treinamento da MAP e assim taxa de sucesso do tratamento aumenta. Foram obtidos estudos que investigam a eficácia do treinamento da MAP feito no pré-natal na IU ou Incontinência Urinária de Esforço.
MIQUELUTTI et al (2015), determinou um programa chamado Birth Preparation Program (BPP) através de encontros nos dias das consultas de pré-natal realizados por fisioterapeutas e supervisionado por obstetra e psicóloga. Foi demonstrado que a participação de gestantes de baixo risco no BPP pode ser eficaz na redução de cirurgias cesarianas e que o medo existente foi minimizado nas gestantes que participaram de exercícios orientados pelo fisioterapeuta no pré-natal.
No estudo de ARAÚJO et al (2018), grande parte entre as mulheres não receberam nenhuma orientação sobre a respiração adequada no momento do parto. Em contrapartida, as gestantes que foram devidamente orientadas nas primeiras fases do trabalho de parto foram de quatro a seis vezes mais propensas a ficarem satisfeitas do aquelas que não tiveram orientação. Isto pode ser justificado com a presença de um profissional habilitado a orientar os padrões respiratórios adequados para suportar o parto nos momentos de dor e ansiedade, adotando a participação ativa das gestantes através do feedback fisiológico do parto.
HYAKUTAKE et al (2017) cita um estudo randomizado controlado que aborda o conhecimento da saúde do assoalho pélvico associado à gestação e a redução dos sintomas. Os achados demonstraram a mudança logo após a participação do workshop, com 58,3% das mulheres praticando treinamento da MAP diariamente após o parto e apenas 22,9% no grupo controle. Logo em seguida há uma orientação aos provedores da saúde que garantam que as oficinas educativas sejam acessíveis a todos e atendam a cada necessidade específica.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo demonstrou evidências quanto na atuação fisioterapêutica no pré-natal e em como pode contribuir na tomada de decisão ao parto natural. Foi possível analisar os benefícios, tais como: padrões respiratórios, beneficiando sua própria oxigenação quanto a do feto; consciência corporal, transmitindo segurança de que a mesma não necessita de intervenções externas no período expulsivo, estando em baixo risco; redução do tempo de trabalho de parto, evitando que a mulher alcance a fadiga prevenção a lesões, reduzindo a ocorrência de disfunções osteomusculares, tornando a transição do pré-natal para o puerpério mais satisfatória e garantindo maior confiança em si e na escolha do parto natural. Atualmente observa-se uma ampliação da atuação fisioterapêutica na assistência a mulher, mas também há dificuldade em achar evidências que definam técnicas específicas. Entretanto, faz-se necessário agregar novos estudos clínicos para mais comprovações de evidências nesta área.
5. REFERÊNCIAS
MONTENEGRO, C. A. B.; FILHO, J. R. REZENDE OBSTETRÍCIA, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017
BRASIL, Ministério da Saúde/ Secretaria de Vigilância em Saúde/Departamento de Análise da Situação de Saúde – Nascidos Vivos – Brasil – Brasília:Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos, 2018.
BRASIL, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas/ Coordenação de Trabalho e Rendimento: acesso e utilização dos serviços de saúde, acidentes e violências: Brasil, grandes regiões e unidades da federação – Rio de Janeiro: Pesquisa Nacional de Saúde, 2013.
BRASIL, Biblioteca Virtual de Saúde – A importância do pré-natal – Brasília: Ministério da Saúde, 2016.
ZAMBIAZZI, J.M. Percepções das gestantes em relação a fisioterapia na saúde da materna. 2012. n. 44-45. – UNIVATES, Lajeado, 2014.
BAVARESCO G. Z. et. al. O fisioterapeuta como profissional de suporte à parturiente. v. 16, n. 3259-3266. – Ciência & Saúde Coletiva, Coqueiros, 2011.
MøRKDEV S.; Bø K. Effect of pelvic floor muscle training during pregnancy and after childbirth on prevention and treatment of urinary incontinence: a systematic review. v. 48, n. 299-310 – Br J Sports Med, Trondheim, 2014.
KOCAöZ S.; EROğLU K.; SIVASLıOğLU A. A. Role of Pelvic Floor Muscle Exercises in the Prevention of Stress Urinary Incontinence during Pregnancy and the Postpartum Period. v. 75,n.34–40 – Gynecol Obstet Invest, Basel, 2013.
MIQUELUTTI M. A.; CECATTI J. G.; MAKUCH M. Y. Developing strategies to be added to the protocol for antenatal care: An exercise and birth preparation program. v. 70, n. 231-236 – CLINICS, Campinas, 2015.
PADILHA J. F.; GASPARETTO A.; BRAZ M. M. Atuação da fisioterapia em uma maternidade: percepção da equipe multiprofissional de saúde. v. 16,n. 8-13 – Fisioterapia Brasil, Santa Maria, 2015.
HYAKUTAKE et. al. Pregnancy-Associated Pelvic Floor Health Knowledge and Reduction of Symptoms: The PREPARED Randomized Controlled Trial. v. 40, n. 418-425 – Journal of Obstetrics and Gynaecology Canada: JOGC, Vancouver, 2018.