PANORAMA ATUAL DOS PROGRAMAS DE CESSAÇÃO DE TABAGISMO DA SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL

CURRENT OVERVIEW OF SMOKING CESSATION PROGRAMS OF THE FEDERAL DISTRICT HEALTH DEPARTMENT

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11373647


LEÃO, João Vitor de Oliveira1;
DOS SANTOS, Fabrícia Paola Fernandes Ribeiro2;
SANTOS, Eduardo Cardoso3.


RESUMO

O tabagismo é uma doença crônica causada pela dependência à nicotina, classificada como um transtorno mental segundo a CID-11. É a principal causa evitável de doenças e mortes precoces mundialmente, sendo um grande problema de saúde pública no Brasil. Este estudo visa retratar o panorama do programa de cessação de tabagismo na Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF), utilizando dados da Biblioteca Virtual do Tabagismo e do Vigitel 2023. Trata-se de um estudo transversal de base populacional com dados de entrevistas telefônicas, envolvendo adultos do Distrito Federal publicados na Vigitel 2023. Além de análise e comparação com dados do Programa de Combate ao Tabagismo do DF. Assim evidenciou-se que a prevalência de fumantes adultos no DF foi de 8,4%, com uma alta taxa de fumantes passivos no domicílio (10,4%). Em 2023, 33 unidades ofertaram tratamento para tabagismo, com uma taxa de cessação de 20,4%. E os resultados indicam a importância do programa no tratamento do tabagismo e o destaque da APS neste cenário. No entanto, destaca-se também a necessidade de melhorar a fiscalização das leis anti-fumo e expandir os serviços de suporte psicológico, especialmente nas unidades CAPS. As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) foram instrumentos utilizados como adjuvantes durante o tratamento.

Palavras-chave: Tabagismo, Atenção Primária à Saúde, Saúde mental.

ABSTRACT

Smoking is a chronic disease caused by nicotine dependence, classified as a mental disorder according to ICD-11. It is the leading preventable cause of disease and premature death worldwide, being a major public health problem in Brazil. This study aims to depict the overview of the smoking cessation program at the Federal District Health Department (SES/DF), using data from the Virtual Smoking Library and Vigitel 2023. It is a cross-sectional population-based study with data from telephone interviews involving adults from the Federal District, published in Vigitel 2023. In addition, the study includes an analysis and comparison with data from the DF Smoking Control Program. The findings showed that the prevalence of adult smokers in the DF was 8.4%, with a high rate of passive smokers at home (10.4%). In 2023, 33 units offered smoking treatment, with a cessation rate of 20.4%. The results highlight the importance of the program in treating smoking and the prominence of Primary Health Care (APS) in this context. However, it also underscores the need to improve the enforcement of anti-smoking laws and expand psychological support services, especially in CAPS units. Integrative and Complementary Health Practices (PICS) were instruments used during treatment.

Keywords: Smoking, Primary Health Care, Mental Health.

INTRODUÇÃO

O tabagismo é reconhecido mundialmente como uma doença crônica causada pela dependência à nicotina presente nos produtos à base de tabaco. De acordo com a Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11), ele integra o grupo de “transtornos mentais, comportamentais ou do neurodesenvolvimento” em razão do uso de substâncias psicoativas (OMS, 2022). Ele também é considerado a maior causa evitável isolada de adoecimento e mortes precoces em todo o mundo (Drope et al., 2018).

O ato de fumar diz respeito à utilização do tabaco, que é uma planta (Nicotiana tabacum) cujas folhas são utilizadas na confecção de diferentes produtos que têm como princípio ativo a nicotina, que causa dependência (Brasil, 2016). Há diversos produtos derivados de tabaco: cigarro, charuto, cachimbo, cigarro de palha, cigarrilha, tabaco para narguilé, rapé, fumo-de-rolo, dispositivos eletrônicos para fumar e outros.

No Brasil, o tabagismo é considerado um problema de saúde pública e a epidemia do tabaco é a principal causa de morte, doença e empobrecimento, segundo a OPAS/OMS. Um ponto importante a ser destacado é que, recentemente, a Resolução da Diretoria Colegiada n.º 855, de 23 de abril de 2024, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), proibiu a fabricação, a importação, a comercialização, a distribuição, o armazenamento, o transporte e a propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar (ANVISA, 2024).

O tabagismo, além de ser considerado um transtorno mental, comporta-se como uma doença crônica e seu tratamento deve ser valorizado, fazendo parte das rotinas de atendimento das unidades de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) da mesma forma que é feito para hipertensão e diabetes. Associado ao uso do tabaco, menciona-se também diversos tipos de câncer, que atualmente têm sido um dos maiores desafios de saúde pública global, sendo uma das principais causas de morte e uma das barreiras para o aumento da expectativa de vida em todo o mundo (INCA, 2022). Em muitos países, é a primeira ou a segunda causa de morte prematura antes dos 70 anos. No contexto de suas causas, o tabagismo tem merecido uma abordagem diferenciada por se tratar também de uma doença gerada pela dependência de nicotina.

O Programa de Controle do Tabagismo existe no DF desde 1996, mas somente a partir de 2006 tiveram início os atendimentos e pesquisas, de acordo com o Vigitel, que monitora a frequência e a distribuição de fatores de risco e proteção para doenças crônicas não transmissíveis em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal (BRASÍLIA, 2023).

Em 2023, o Distrito Federal (DF) contava com 65 unidades cadastradas para o tratamento do tabagismo, distribuídas nas sete regiões de saúde. Os centros de referência funcionam em locais como as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). (Distrito Federal, 2023). Entretanto, apenas 33 encontravam-se ativos e receberam pelo menos 10 pacientes no grupo. Considera-se ainda o não registro por parte dos profissionais, quando dados podem ser perdidos.

Com o objetivo de desenvolver ações de controle do tabagismo, por meio da informação e mobilização da população sobre seus malefícios, o Programa de Controle do Tabagismo no DF segue a orientação da Coordenação Nacional do Programa de Controle do

Tabagismo/Instituto Nacional do Câncer (INCA/MS). Ações educativas, de comunicação e de atenção à saúde são promovidas e potencializadas através de iniciativas legislativas e econômicas para prevenir a iniciação do tabagismo, promover sua cessação pelos fumantes e proteger a população dos riscos do tabagismo passivo.

Dessa maneira, o presente estudo visa retratar o panorama atual do programa de cessação de tabagismo na Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF), à luz dos dados públicos disponibilizados pela Biblioteca Virtual do Programa de Controle do Tabagismo desta secretaria e do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) Brasil 2023, traçando-se um paralelo com a literatura atual pertinente.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo transversal de base populacional que utilizou dados da plataforma pública da SES/DF — Biblioteca Virtual do Programa de Controle do Tabagismo e da Vigitel/2023. Este tipo de estudo foi selecionado por permitir a análise de prevalência em um ponto específico no tempo, facilitando a identificação de padrões de comportamento relacionados ao tabagismo. Foram considerados indivíduos de 18 anos ou mais, moradores do Distrito Federal, considerando fumante todo indivíduo que fuma, independentemente da frequência e intensidade do hábito de fumar. O Vigitel foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa para Seres Humanos do Ministério da Saúde (CAAE: 65610017.1.0000.0008) e o consentimento foi obtido verbalmente no contato telefônico com os entrevistados.

A primeira etapa da amostragem do Vigitel consistiu no sorteio de, no mínimo, 64 mil linhas telefônicas por cidade (44 mil linhas de telefonia fixa e 20 mil de telefonia móvel). Esse sorteio foi realizado a partir do cadastro eletrônico de linhas residenciais fixas e móveis da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), sendo metade das linhas sorteadas referentes a telefones fixos e a outra metade a móveis. No caso dos telefones fixos, uma segunda etapa da amostragem foi empregada. Essa consistiu na seleção de um adulto (≥18 anos de idade) para a entrevista, sorteado entre os residentes no domicílio uma vez constatada sua elegibilidade (realizado no momento do contato inicial com o domicílio, com base em listagem de moradores com 18 anos de idade ou mais fornecida pelo respondente). No caso dos telefones móveis, após verificada sua elegibilidade, a entrevista se deu sempre com o usuário do número (≥18 anos de idade).

Assim, obteve-se para o Distrito Federal um total de 1.053 linhas telefônicas elegíveis, das 8.783 sorteadas. Um total de 399 entrevistas foram realizadas para telefone fixo (126 homens e 273 mulheres) e 403 para telefone móvel (196 homens e 207 mulheres). As entrevistas telefônicas do Vigitel 2023 foram realizadas por uma empresa especializada, entre 26/12/2022 e 24/4/2023.

Os dados da Biblioteca Virtual foram obtidos por meio da plataforma do Programa de Controle do Tabagismo no DF e foram coletados em cada unidade seguindo os procedimentos padronizados do programa, garantindo a consistência e confiabilidade das informações de acordo com orientações fornecidas pela Coordenação Nacional do Programa de Controle do Tabagismo/ Instituto Nacional do Câncer (INCA/MS). Esse programa tem como intuito promover e potencializar ações educativas, de comunicação, de atenção à saúde, com ações legislativas e econômicas para prevenir a iniciação do tabagismo, promover sua cessação pelos fumantes e proteger a população dos riscos do tabagismo passivo. Além dos dados advindos dos boletins epidemiológicos, relatórios dos serviços e informes referentes ao ano de 2023, foram utilizados dados compilados pelas unidades de saúde e que haviam sido enviados à coordenação do programa. Estes foram obtidos por meio de fichas de registro de inscrição, registro de frequência e dispensação de medicações pelas equipes das unidades.

RESULTADOS

Segundo dados do Vigitel, no conjunto das 27 cidades estudadas (26 capitais e o Distrito Federal), a frequência de fumantes adultos foi de 9,3% (IC 95% 8,4-10,1). O percentual de adultos fumantes no Distrito Federal foi de 8,4% (IC 95% 6,0-10,7). Na população masculina foi de 10,7% (IC 95% 7,1-14,3), o que corresponde a 17ª posição no ranking brasileiro. No sexo feminino, a prevalência foi de 6,4% (IC 95% 3,2-9,5) ocupando a 11ª posição.

Dados da Bibliotera Virtual apontam que no conjunto de pacientes que buscaram tratamento para a cessação do tabagismo no DF, em 2023, o percentual de mulheres foi maior do que o dos homens (56% no sexo masculino contra 44% no feminino).

Outros dados coletados pela Vigitel dizem respeito ao percentual de fumantes passivos no domicílio e no local de trabalho, definidos como indivíduos que convivem com pelo menos um fumante dentro do domicílio ou ambiente de trabalho, respectivamente. O Distrito Federal lidera o ranking, com percentual de 10,4% (IC 95% 6,7-14) na população adulta geral, em 1º lugar em ambos os sexos: masculino (10,5%) e feminino (10,2%) – dados acima da média nacional de 6,4% da população adulta.

Em relação ao ambiente de trabalho, 6,7% (IC 95% 3,7-9,7) são fumantes passivos no Distrito Federal, sendo 10,2% (IC 95% 4,5-16) no sexo masculino e 3,6% (IC 95% 1,4-5,9) no sexo feminino. Dados estes muito próximos aos dados compilados do estudo, que correspondem a 7,0% (IC 95% 6,2-7,9) da amostra.

Para complementar este panorama, apresentamos dados agregados disponibilizados pela Coordenação do Programa de Tabagismo no DF. Foi observado que, em 2023, no Distrito Federal, por meio do Programa de Controle do Tabagismo, 33 unidades ofertaram tratamento a pessoas que fazem uso do tabaco, sendo que destas, 31 (93%) são componentes da Atenção Primária à Saúde, 01 (3%) unidade do CAPS e 01 (3%) da Atenção Especializada.

Traçando-se um panorama da demografia geral do DF (população de 3.167.502 em 2023) e a taxa de tabagismo, observou-se que, de acordo com dados advindos da Sala de Situação, durante os anos de 2018 a 2023, dos 2.439.095 cidadãos maiores de 18 anos, 204.883 eram fumantes, correspondendo a 8,4% da população. Desses, apenas 12.2926 buscaram os serviços de saúde (6%).

Ainda sobre esses dados, foi observado um incremento do número de fumantes de 20.624 no período supracitado, inferindo-se, assim, uma diminuição da cobertura, haja visto o decréscimo da população que busca por atendimento nas unidades – em 2022 quase 16.000 usuários buscaram o atendimento. Deve-se levar em conta também que não necessariamente todos esses finalizaram a quarta consulta.

Participaram do programa em 2023, 1207 usuários, sendo 521 do sexo masculino e 686 do sexo feminino. Em relação à faixa etária, 3 possuíam menos de 18 anos, 859 tinham de 18 a 59 anos, e 345 indivíduos tinham mais de 60 anos de idade. Participaram da 1ª consulta de avaliação clínica (atendimento individual preconizado pelo programa), 1193 pacientes. Compareceram à primeira sessão em grupo 1013 pacientes.

Concluíram 4 sessões de grupo 474 pacientes, dos quais 246 tinham cessado o tabagismo, sendo 220 com tratamento medicamentoso e 26 sem tratamento medicamentoso.

Compareceram às sessões de manutenção (sessões que acontecem após as 4 sessões iniciais), 343 usuários.

Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) no tratamento do tabagismo foram empregadas em 30 sessões de grupo/atendimentos ao longo do ano.

DISCUSSÃO

Os resultados deste panorama trazem consigo uma ideia da importância dos serviços que ofertam esta modalidade de assistência e seu impacto na saúde populacional. Os dados apresentados oferecem uma visão abrangente sobre o panorama do programa de combate ao tabagismo no Distrito Federal (DF). A análise revela tanto avanços significativos quanto desafios persistentes na luta contra o tabagismo, permitindo uma avaliação crítica das estratégias adotadas e dos resultados obtidos.

Inicialmente, é importante observar uma ampla atuação das unidades de Atenção Primária à Saúde (APS) neste processo. De certa forma, isso faz sentido, visto que, em concordância com a literatura, a APS deve ser a porta preferencial de entrada no sistema de saúde (Starfield, 2002), pois tem entre seus atributos a integralidade e a longitudinalidade, o que permite que a pessoa seja vista como um ser único, com características próprias, e que necessita de seguimento ao longo da vida. Portanto, é coerente que a APS seja uma instituição protagonista neste processo.

Ao discorrermos sobre o Programa de Controle do Tabagismo no Distrito Federal, é imperativo observar que ele segue as diretrizes do Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PCNT), coordenado pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA/MS), cujo objetivo consiste na prevenção da iniciação ao tabagismo, redução da prevalência de fumantes e da morbimortalidade relacionada ao consumo de produtos derivados do tabaco, por meio do desenvolvimento de ações educativas, de comunicação, de atenção à saúde, juntamente com ações legislativas e econômicas (INCA, 2023).

Ao olhar para os dados atuais fornecidos pela plataforma do Programa de Controle do Tabagismo no DF, nota-se uma diminuição de 26,8% em relação ao total de usuários (n=1650) que iniciaram o programa no ano anterior, 2022 (Distrito Federal, 2023). Supõe-se que essa diminuição tenha ocorrido pelo desabastecimento das unidades de saúde dos principais medicamentos (adesivo de nicotina, goma e bupropiona) utilizados para auxílio no tratamento do tabagismo durante boa parte do ano de 2023. Em uma análise pormenorizada, observamos:

Prevalência de Fumantes

A frequência de fumantes adultos no Distrito Federal foi de 8,4%, um pouco abaixo da média nacional de 9,3%, conforme dados do Vigitel. Essa diferença, embora pequena, é indicativa de uma tendência positiva na redução do tabagismo na região. Estudos anteriores indicam que políticas públicas efetivas, como campanhas educativas, aumento de impostos sobre produtos de tabaco e regulamentação de espaços livres de fumo, têm um papel crucial na diminuição das taxas de tabagismo (Brasil, 2023; INCA, 2022).

A prevalência de fumantes é notavelmente maior entre homens (10,7%) em comparação com mulheres (6,4%). Este achado é consistente com a literatura, que aponta que homens tendem a fumar mais que mulheres (Silveira et al., 2021). Essa disparidade sugere a necessidade de campanhas de prevenção e cessação do tabagismo que sejam sensíveis às diferenças de gênero, abordando especificamente as motivações e barreiras enfrentadas por homens e mulheres. Em relação à busca no atendimento para a cessação do tabagismo, há o predomínio de mulheres. Uma pesquisa publicada mostra que isso se deve, em parte, ao fato de que as mulheres buscam aconselhamento médico com mais frequência e acreditam mais no fato de que o tabagismo cause doenças (Castro et. al., 2010).

Fumantes Passivos

Um dado alarmante é a alta prevalência de fumantes passivos no DF, tanto no domicílio quanto no ambiente de trabalho. Os resultados estão em linha com estudos anteriores, que também identificaram uma alta prevalência de fumantes passivos (Silveira et al., 2021). Com 10,4% da população adulta exposta ao fumo passivo em casa e 6,7% no trabalho, o DF lidera o ranking nacional. A exposição ao fumo passivo é um problema grave de saúde pública, estando associada a várias doenças respiratórias e cardiovasculares, além de câncer (WHO, 2021).

Os altos índices de fumantes passivos no DF podem ser atribuídos a lacunas na fiscalização das leis anti-fumo, bem como a uma possível falta de conscientização sobre os riscos do fumo passivo. Intervenções mais rigorosas e campanhas educativas direcionadas podem ser eficazes para mitigar esse problema (Brasil, 2022).

Saúde Mental e Tabagismo

Embora não existam dados locais atualizados sobre a saúde mental dessa população, é sabido que o uso do tabaco tem consequências significativas para a saúde mental, além dos conhecidos impactos físicos. Estudos publicados em revistas científicas renomadas, como a American Journal of Psychiatry e a Journal of Clinical Psychiatry, indicam uma forte associação entre o tabagismo e a prevalência de transtornos mentais, incluindo depressão, ansiedade e transtorno bipolar (Luby et al., 2021; Markou et al., 2022). Pessoas que fazem uso do tabaco apresentam uma maior incidência de sintomas depressivos e ansiedade em comparação com não-fumantes, o que pode ser atribuído tanto aos efeitos neuroquímicos da nicotina quanto ao impacto psicossocial do hábito de fumar (Breslau et al., 2021). A nicotina, apesar de ser um estimulante, pode levar a alterações no sistema de recompensa do cérebro, exacerbando sentimentos de estresse e contribuindo para um ciclo de dependência e deterioração da saúde mental (Williams et al., 2023). Ademais, a ocorrência concomitante de transtornos mentais e tabagismo complica o tratamento de ambos, uma vez que indivíduos com transtornos mentais têm menor taxa de cessação do tabagismo e podem necessitar de abordagens terapêuticas mais integradas e especializadas (Taylor et al., 2023). Dessa forma, as políticas públicas de combate ao tabagismo devem incorporar estratégias de saúde mental, promovendo abordagens holísticas que atendam às necessidades psicológicas dos fumantes e potencializem os resultados dos programas de cessação do tabaco.

Tratamento e Cessação do Tabagismo

O programa de controle do tabagismo do DF, com 33 unidades de atendimento, mostra um compromisso robusto com a redução do tabagismo. A predominância de unidades na Atenção Primária à Saúde (93%) é positiva, pois facilita o acesso ao tratamento para uma maior parte da população. No entanto, a baixa proporção de unidades de CAPS e da Atenção Especializada sugere uma área para expansão, especialmente para casos mais complexos que necessitam de suporte psicológico e psiquiátrico (Ministério da Saúde, 2023).

Dos 1207 usuários que participaram do programa em 2023, 246 conseguiram cessar o tabagismo, o que representa uma taxa de sucesso de aproximadamente 20,4%. Esse resultado é significativo, especialmente quando comparado com a literatura, que indica taxas de cessação variando entre 15% e 25% em programas similares (Silveira et al., 2021). A eficácia do tratamento medicamentoso é evidente, com 220 dos cessantes fazendo uso deste recurso.

A participação nas sessões de manutenção (343 usuários) e o uso de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) também são aspectos positivos do programa, oferecendo suporte contínuo e alternativas terapêuticas que podem aumentar as taxas de sucesso (Brasil, 2022).

As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) compreendem recursos terapêuticos complementares, oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) à população. Estas têm se mostrado de grande valia como auxiliares no tratamento do tabagismo. Na Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES DF), existem 17 (dezessete) práticas ofertadas: Acupuntura, Arteterapia, Auriculoterapia, Automassagem, Fitoterapia, Homeopatia, Lian Gong em 18 Terapias, Medicina e Terapias Antroposóficas, Meditação, Musicoterapia, Reiki, Shantala, Tai Chi Chuan, Terapia Comunitária Integrativa, Ayurveda,

Yoga (Hatha e Laya) e a Técnica de Redução de Estresse (TRE). No Distrito Federal, 33 unidades de saúde ofertaram o tratamento do tabagismo e, destas, 45,4% (n=15/33) ofertam as práticas integrativas em saúde como apoio ao tratamento dos tabagistas em 2023.

Desafios e Recomendações

Os dados sugerem algumas áreas críticas para melhorias:

Fiscalização e Conscientização da População sobre Fumo Passivo: Fortalecer a fiscalização das leis antifumo e aumentar as campanhas educativas sobre os riscos do fumo passivo, tanto no domicílio e áreas públicas, quanto no ambiente de trabalho. Estudos mostram que a implementação rigorosa de políticas públicas pode reduzir significativamente a exposição ao fumo passivo (Brasil, 2023).

Expansão do Tratamento: Ampliar a disponibilidade de tratamento nos ambientes de assistência especializada, fomentar a estruturação de serviços com suporte psicológico, especialmente através de CAPS e unidades de atenção especializada.

Foco em Grupos de Alto Risco: Desenvolver estratégias coordenadas e específicas para homens e para os fumantes passivos, que estão desproporcionalmente afetados.

Integração de PICS: Expandir o uso de PICS, regulamentar aquelas que têm comprovação científica de eficácia, dado seu importante papel complementar no suporte à cessação do tabagismo.

Sensibilização dos servidores: Desenvolver educação permanente e oficinas, a fim de sensibilizar e capacitar servidores comprometidos com o atendimento em grupo do tabagismo e as diversas doenças crônicas associadas.

Em suma, o programa de combate ao tabagismo no Distrito Federal apresenta resultados promissores, mas ainda há espaço para melhorias significativas. A continuidade e expansão das estratégias atuais, aliadas a intervenções específicas baseadas em dados, são essenciais para reduzir ainda mais a prevalência do tabagismo e seus impactos na saúde pública.

CONCLUSÃO:

O presente estudo oferece um panorama importante do Programa de Controle do Tabagismo no Distrito Federal (DF), revelando tanto avanços significativos quanto desafios persistentes na luta contra o tabagismo e suas consequências. Observamos que a prevalência de fumantes adultos no DF é ligeiramente inferior à média nacional, o que indica uma tendência positiva a redução dos números absolutos. No entanto, a alta prevalência de fumantes passivos, especialmente no domicílio, ainda é alvo de espanto e destaca a necessidade de reforço nas políticas de conscientização da população e fiscalização das leis anti-fumo por parte do poder público.

A robusta participação das unidades de Atenção Primária à Saúde (APS) no tratamento do tabagismo é um aspecto positivo e motivador, pois este dado pode estar associado a uma facilidade relativa de acesso e a continuidade do cuidado. A perspectiva agregadora das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) tem se mostrado um recurso valioso, potencializando o suporte aos usuários. Entretanto, a baixa proporção de unidades de CAPS e da Atenção Especializada evidencia a necessidade de expandir esses serviços, estimular uma ação integradora especialmente para casos mais complexos que demandam suporte psicológico e psiquiátrico.

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WHO. WHO. International Classification of Diseases 11th Revision. The global standard for diagnostic health information. Disponível em: https://icd.who.int/en. Acesso em: 22 mai. 2024.


1João Vitor de Oliveira Leão, Médico de Família e Comunidade pela SBMFC/AMB, Especialista em Saúde da Família pela Universidade de Brasília – UnB, Especialista em Gerontologia pela Escola Superior de Ciências da Saúde –ESCS/DF, servidor da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. E-mail: joaovitorleaomed@gmail.com, Tel: (61) 981607328.
2Fabrícia Paola Fernandes Ribeiro dos Santos, cirurgiã-dentista, Mestre em Saúde da Família, Fiocruz MS, servidora da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Endereço para correspondência: Condomínio Vivendas Friburgo, Cj H, casa 05, Grande Colorado, Sobradinho, DF. CEP: 73105-901, E-mail: fabriciaodontopediatra@gmail.com, ORCID ID: https://orcid.org/0000-0002-8984-6373 Tel: (61) 992000505
3Eduardo Cardoso Santos, Médico de Família e Comunidade pela SBMFC/AMB, Pediatra pela Universidade de São Paulo – USP/SP, servidor da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. E-mail: dr.eduardocardososantos@gmail.com, Tel: (11) 972796212.