REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7982565
Andreia das Graças Moreira Claro
Flávia Maria Barrichello
Rosemir Gonçalves de Abreu
Na Escola, o que mais encontramos atualmente são os conflitos. Após uma Pandemia, a um Isolamento social, as relações entre as pessoas se tornaram mais delicadas e isso tem gerado em um ambiente escolar, muitos desentendimentos e dificuldades nos relacionamentos interpessoais.
As mediações de conflitos nunca foi algo tão necessário e preciso. Percebe-se que as relações entre os alunos, entre os profissionais estão sempre por um fio. Fora os pais, que demonstram muita intransigência em relação aos filhos, às regras, e principalmente aos retornos não positivos sobre as crianças.
As relações interpessoais nunca foram fáceis, sempre encontramos em uma Instituição escolar desavenças entre os estudantes, conflitos de ideias entre corpo docente e principalmente exigências por parte dos responsáveis pelas crianças. Mas após uma situação difícil, onde vidas foram perdidas rapidamente, sentimentos como impotência, solidão e medo, podem ter gerado muitas consequências nas emoções das pessoas. Percebemos muitas vezes a intolerância pelo que o outro pensa, fala ou faz.
E isso na Educação está sendo muito perceptível, após período pandêmico, ou melhor, em período de isolamento social. Essa situação imposta pela devastação que o vírus Sars-Cov19 causou, não está somente voltada para sintomas que a doença causou, mas pelas mortes nas famílias, pelas sequelas deixadas pelo vírus, e principalmente, pela ansiedade, depressão e medo que a falta de contato social causou na população em geral.
As pessoas foram obrigadas a conviver em um só ambiente com pessoas que o contato não era com tanta intensidade, fora a falta da rotina habitual, e o contato com pessoas do seu convívio que muitas vezes era a válvula de escape, a pessoa em que confiava para desabafar, ou dar boas risadas. E toda essa situação forçada, gerou muitos conflitos, pois sabemos que a convivência forçada pode gerar situações caóticas.
Essa reflexão inicial é para observarmos que não é somente o ambiente escolar que sofreu, mas a sociedade como um todo. Não podemos esquecer ou minimizar um momento histórico e particularmente complicado para as relações pessoais que uma pandemia acabou expondo o mundo todo. Porém, o que nos interessa essencialmente é o que iremos e como faremos para minimizar todos esses problemas que recebemos na Instituição Escolar.
Ultimamente, a dificuldade em relacionamento entre os estudantes e equipe escolar, vem aparecendo crescentemente através de ataques de adolescentes às escolas, causando muitas mortes e números de feridos imagináveis. Pois não estamos falando somente das feridas superficiais, mas principalmente as causadas no psicológico daqueles que presenciaram as tragédias ocorridas.
Agressividade, revolta crescente sendo alimentada por grupos na internet, assustam todo uma Instituição e os familiares, medidas a serem projetadas pelos governantes para deter ou amenizar todo um esquema ou organização de jovens que se alimentam de desafios e chantagens geradas para uma competição para provar quem é o mais esperto ou mais destemido.
A internet é algo que veio para transformar a vida de todo um mundo. Que pode aproximar as pessoas, trazer informações, além de entreter e divertir. Sim, a tecnologia trouxe grandes avanços na área educacional, porém nesse momento estamos percebendo o outro lado dessa grande revolução. Podemos notar, que como tudo nesse mundo, a dosagem é que delimita se é veneno ou remédio. O uso excessivo das tecnologias, e sem monitoramento é uma arma muito perversa na vida de uma sociedade que já se encontra doente pelas vivências de um isolamento social.
Nesse momento, mais do que em qualquer outro, a mediação de conflitos deve estar presente nas Instituições Educacionais, pois após momentos tensos em que os educadores se desdobravam para promover e atingir os objetivos educacionais reservados aos direitos dos estudantes em cada etapa educacional, os alunos estavam do outro lado, tentando, em sua maioria, acompanhar todo aquele novo jeito de aprender, dentro de sua casa, com grandes e divertidas distrações, como vídeo games, televisões, celulares, dentre outros.
Vamos então analisar cada lado de toda instituição escolar.
Por um lado, o professor que se dedicou de sua residência para alcançar seus alunos, buscando cursos e mais cursos online, ficando em atendimento fora de seu horário de trabalho, abdicando de seus momentos familiares para fazer vídeos, gravar aulas e áudios para o melhor atendimento dos estudantes e familiares. Recebendo cobranças tanto da parte de orientação pedagógica como de pais dos estudantes. Sem descanso, sem férias, e muitas vezes sem os finais de semana, tudo se definia ao trabalho escolar.
Uma jornada intensa que ao retornar ao presencial, pode comprovar que na maioria, isso foi somente esforço em vão. Muitos alunos com dificuldades pedagógicas, com atraso de linguagem, imaturidade em suas ações, problemas emocionais e grande defasagem na questão social. A palavra em todas as conversas com a equipe pedagógica se definia em “frustração”.
Por outro lado, estudantes que não foram atingidos pelas propostas que os educadores acharam magníficas naquele momento, porém sem a devida intervenção do professor que normalmente é feita em sala de aula, todo o processo tecnológico foi perdido. E o que encontramos? Alunos desmotivados, e com grande rejeição as tecnologias, pois a recordação daqueles momentos desgastantes eram sempre a lembrança mais temida.
E ainda temos o lado dos pais! Que não aguentavam mais as atividades enviadas e cobradas pelos educadores, e que muitos não tinham nem noção do que significava ou como poderia ajudar seus filhos, pois não conheciam também.
Pais que queriam somente que os professores assumissem suas “obrigações” e deixassem que eles fossem pais, sem comprometimento nenhum com a parte pedagógica, afinal eles não haviam feito Pedagogia!
Uns reconheceram o esforço da Instituição Escolar, mas a maioria culpou os fracassos que encontramos após os resultados da aprendizagem serem tão baixo. Não observaram que a família deve cobrar resultados dos filhos, que o auxílio nas lições é importante e isso exige tempo e atenção dos responsáveis pela criança. Que o monitoramento diz respeito sim, ao familiar responsável.
E assim, todos os lados desgastados, fora a equipe gestora, que durante a pandemia, tentava equilibrar o desgaste da equipe docente, a evasão escolar de muitos estudantes, as inúmeras reclamações dos responsáveis. Um tripé bastante carregado em suas emoções, sentimentos e demandas.
E agora? Como falar em saúde mental escolar? Como não esperar que esta ebulição de sentimentos não transborde?
É inevitável o aparecimento de desconfortos emocionais, em conflitos exacerbados, em agressões, e ataques sendo divulgados em telejornais.
O ser humano é muito emocional! Por mais que a razão tome conta de um ambiente escolar, a emoção, o sentimento não podem ser desconsiderados.
É neste momento que precisamos que da intervenção dos mediadores de conflitos. Pessoas que apresentem opiniões imparciais, e que acima de tudo obtenham inteligência emocional para driblar todos, “porém” encontrados no ambiente escolar.
Um mediador de conflito, pode analisar, facilitar, e promover a possibilidade de resolução de problemas. Uma pessoa que pode estimular as pessoas a encontrar soluções para os conflitos em que se encontra envolvido.
Segundo Vezzulla, 1998 a mediação é uma técnica com grande eficiência nos conflitos interpessoais, pois com ela, há a busca das partes pelas soluções. “O mediador somente as ajuda a procurá-las, introduzindo, com suas técnicas, os critérios e os raciocínios que lhes permitirão um entendimento melhor.”
É possível, além das ideias mirabolantes dos governantes, encontrar na Escola uma possibilidade para um trabalho efetivo das emoções, um desenvolvimento das relações interpessoais.
Um trabalho efetivo com os responsáveis sobre limites que os adultos devem em suas residências colocar em horários em celulares, em respeito as regras e fundamentalmente, o respeito ao educador, que está na Escola para facilitar a aprendizagem de disciplinas, como: Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, História, Arte, Ciências, dentre outras, enquanto os pais ou responsáveis, se encarregam da educação, e construção da Moral da criança. Além destes serem responsáveis pela frequência escolar e garantia do direito a educação e saúde da criança e adolescente.
A primeira condição indispensável para lidar com conflitos e prevenir violências é reconhecer que eles existem. Depois, é preciso diferenciar conflito de violência. E, finalmente o que leva mais tempo, desenvolver as competências necessárias para transformar conflitos em oportunidades de aprendizagem e mudança. Quando a escola deixa de ser lugar de aprendizagem para se tornar espaço de conflitos ignorados, as perdas são significativas. Em busca de oportunizar o conflito como experiência significativa para crescimento e aprendizagem alguns princípios precisam ser colocados em práticas:
Princípio 1:
Escuta Ativa e perguntas circulares (sensibilidade, capacidade de escuta, capacidade de manter sigilo): Contornar as dificuldades logo que surgem e da melhor maneira possível é o caminho a seguir. Isso, para evitar maiores problemas e desenvolver com êxito as aprendizagens de todos. Para garantir êxito devemos agir de forma preventiva afim de reduzir situações problemáticas. Os gestores precisam estar atentos à interação entre os docentes. Falar e ouvir seus parceiros, com empatia, e estimular isso entre os pares. Os docentes por sua vez estarão atentos a interação entre os alunos e as mudanças repentinas nos comportamentos típicos, estando assim preparados para mediar os conflitos que poderão emergir da sala de aula.
Princípio 2:
Identificação de conflitos (criatividade): Desde os gestores é preciso um trabalho forte e pontual contra indiscrições, não se pode aceitar que educadores criem intrigas como Silvio tem feito. É preciso deixar claro que não aprecia esse tipo de conduta. Quando preciso, professores devem acalmar a turma pois, há momentos em que ficam agitados. Isso se dá em função de diferentes circunstâncias, não por conta de ser o professor A ou B como pensa Valdirene em relação a condução da aula pela professora Claudia. Mudanças na rotina geralmente ocasionam animação entre os alunos. Essa movimentação, se por um lado é muito positiva, também abre espaço para a ocorrência de conflitos. Uma maneira inteligente de lidar com a turma quando se mostra agitada, é chamar todos a uma pausa. Durante essa parada nas atividades, você os convida a perceberem suas próprias respirações. A partir dessa consciência, chamá-los a inspirar e expirar o ar algumas vezes. Com esse exercício, a tendência é a turma se acalmar e diminuir ou até extinguir as situações de conflito.
Para mediar um conflito, é fundamental o mediador estar calmo, manter sempre a calma. Com calma e autoridade, o mediador deve conduzir a situação de maneira justa e isenta de parcialidade, de modo a convidar os envolvidos a reverem suas posturas. Já apaziguada a situação, é hora de procurar modos de solucionar o conflito. Uma maneira eficaz é levar a conversa para fora do ambiente onde foi gerado o conflito. O que se consegue, ao mudar de ambiente e manter o conflito longe dos olhares de outras pessoas, é a redução da tensão.
Princípio 3:
Transformação de percepções negativas (capacidade comunicativa, cooperação): Com o distanciamento do grupo, o diálogo tende a fluir com mais facilidade. É imprescindível que um diálogo saudável seja estimulado, baseado no respeito e consideração. Depois de acalmar os ânimos e encaminhar um diálogo saudável, é hora de apontar caminhos que levem ao fim do conflito. A empatia deve ser incentivada para que haja o reparo, para exercitar a empatia entre os pares, a sugestão é que um se coloque no lugar do outro por alguns instantes. Essa medida permite que eles analisem a questão por outro ponto de vista: o do oponente.
As competências socioemocionais, relacionadas ao autoconhecimento e autocuidado, de acordo com a BNCC são alicerce para o sucesso escolar. Tendência surgida após extensos estudos contemporâneos, a aprendizagem socioemocional pode ser desenvolvida em todo o tempo dentro da escola e colabora para a cultura da paz. Eleger mediadores para auxiliar no enfrentamento dos conflitos é uma iniciativa oportuna. Vale lembrar que os novos mediadores além de possuírem perfil, precisarão, inicialmente, de auxílio e treinamento para lidar com os conflitos da forma mais adequada. Projetos pautados em Cultura de paz e justiça restaurativa podem além de diminuir significativamente casos de violências como também de depredação do patrimônio, tudo depende da estratégia que a escola deseja adotar para a sua realidade. Algumas possibilidades de mediação, no entanto são:
- Alunos: serão os responsáveis por mediar os conflitos em toda a escola, por isso, precisam de treinamento para desenvolverem a habilidade de comunicação;
- Professores: além dos professores, outros membros da equipe escolar podem ser selecionados, a dica é optar por pessoas com o perfil adequado para mediar conflitos. Da mesma forma, devem passar por treinamento;
- Comissão: pode ser composta por alunos, professores, funcionários e, inclusive, profissionais externos. A atuação da comissão deve ser, sempre, em conjunto;
- Comunidade escolar: através de encontros entre alunos, pais e colaboradores/parceiros/lideranças, são debatidas soluções para os conflitos mais frequentes na escola.
Conclui-se que o desenvolvimento de propostas motivacionais para a solução de conflitos inicia-se com um projeto para a realização de uma equipe de mediadores de conflitos, para um trabalho fundamental para a Escola e comunidade. Todos envolvidos para bons resultados.
Um elemento somente em uma Unidade Escolar, não consegue resolver toda a demanda de conflitos que atualmente encontramos nas Escolas. É muito mais do que resolver a ocorrência de um desentendimento, depredação ou uma briga. É acima de tudo, uma prevenção para que essas situações não ocorram, é o trabalho emocional de todos envolvidos.
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