OSCILAÇÕES NO CUSTO DA CESTA BÁSICA E SEU IMPACTO NO SALÁRIO MÍNIMO EM PORTO VELHO (2020-2023)

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10247261542


Diego Alexandre Morais de Souza1
Gabriele Matos do Vale2
Thayna Correia Oliveira3
Lídia Maria Rodrigues de Freitas4
Cássia Vitória Norberto de Moura5
Ana Carolina de Souza Leite6


Resumo: Este artigo investiga as oscilações nos preços da cesta básica e seu efeito no salário mínimo na cidade de Porto Velho, ressaltando sua natureza como um conjunto vital de alimentos para a subsistência. Reconhecendo que o custo dessa cesta pode exercer considerável impacto na renda das famílias, especialmente aquelas de baixa renda. Investigou os preços dos produtos que integram a cesta básica conforme as informações disponibilizadas pelo DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Utilizando dados fornecidos pelo Programa de Educação Tutorial (PET) Economia UNIR, a pesquisa analisa as oscilações recentes no custo dos itens essenciais e como essas mudanças impactam a remuneração mínima da população local. O objetivo central deste artigo é analisar a inter-relação entre o preço da cesta básica e a renda da população de Porto Velho, Rondônia. Por meio de técnicas econométricas, busca-se compreender como as variações nos preços dos alimentos impactam diretamente o orçamento das famílias.

Palavras-chave: Oscilações nos preços dos alimentos; Cesta básica; Salário mínimo.

Abstract: This article investigates the fluctuations in the prices of the basic food basket and their effect on the minimum wage in the city of Porto Velho, emphasizing its nature as a vital set of foods for subsistence. Recognizing that the cost of this basket can have a significantimpact on family income, particularly for low-income households, the study examines the prices of the products included in the basic food basket based on information provided by DIEESE – the Inter-Union Department of Statistics and Socio-economic Studies. Using data supplied by the “Programa de Educação Tutorial” (PET) in Economics at UNIR, the research analyzes recent fluctuations in the cost of essential items and how these changes affect the local minimum wage. The central aim of this article is to analyze the interrelation between the price of the basic food basket and the income of the population in Porto Velho, Rondônia. Through econometric techniques, the study seeks to understand how variations in food prices directly impact family budgets.

Keywords: Fluctuations in food prices; Basic basket; Minimum wage.

INTRODUÇÃO

O monitoramento dos preços da cesta básica no contexto brasileiro tem se tornado um indicador significativo para a atualização de salários e para avaliar a trajetória do poder de compra dos trabalhadores. De acordo com o DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (2003), a cesta básica compreende uma variedade de produtos alimentícios que são essenciais para proporcionar ao trabalhador as condições necessárias para uma qualidade de vida digna. A composição dessa cesta varia em diferentes regiões do país, refletindo as particularidades dos produtos em cada estado brasileiro.

O estabelecimento da cesta básica nacional pelo Decreto-Lei nº 399, de 30 de abril de 1938, representou um marco regulatório governamental no Brasil. Essa legislação não apenas definiu a composição da cesta básica, mas também determinou a utilização de um único tipo dessa cesta em cada região do país. A norma visava garantir que os trabalhadores adultos, para manter despesas normais de alimentação, vestuário, moradia e transporte, recebessem um salário mínimo abrangente para ambos os sexos, cobrindo também despesas com higiene e moradia, não inferior à cesta de alimentos fornecida nacionalmente.

A definição do salário mínimo, conforme estipulado pelo decreto, baseou-se em levantamentos de estudos censitários, examinando os salários das empresas para determinar valores mínimos. O DIEESE, Departamento Intersindical de Estatísticas Econômicas e Sociais, desempenhou um papel crucial nesse processo, desenvolvendo uma lista de cestas básicas que consideravam alimentos e quantidades mínimas necessárias para sustentar um adulto, variando conforme as diferentes regiões do país.

O monitoramento dos preços, como destacado, é de extrema importância, pois alterações nos custos dos alimentos podem desencadear inflação, afetando a estabilidade econômica de mercado e o poder de compra das famílias, cujo salário é a principal fonte de renda. Além disso, ressalta-se que a inflação pode distorcer a distribuição de recursos e resultar em investimentos inúteis, assim como em uma redistribuição desigual de riqueza.

Nesse contexto, surge a relevância de compreender como as variações nos preços da cesta básica impactam a renda das pessoas. Este artigo se propõe a analisar essa relação, utilizando técnicas econométricas para investigar de que maneira as flutuações nos preços dos alimentos influenciam positiva ou negativamente o orçamento das famílias. O objetivo é contribuir para uma compreensão mais aprofundada dos efeitos econômicos diretos dessas oscilações nos salários, proporcionando dados valiosos para políticas econômicas e sociais.

2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Salário Mínimo

De acordo com as observações de Machin e Manning (1996), mencionadas por Medeiros (2005, citado por Baltar et al., 2005, p.14), o surgimento do salário mínimo remonta à Inglaterra de 1909, onde lutas políticas foram travadas em prol da proteção dos trabalhadores envolvidos em atividades rotuladas como “trabalho duro”. No contexto brasileiro, o salário mínimo foi estabelecido na década de 1930, mais especificamente em 1940, por meio da promulgação da Lei nº 185 de janeiro de 1936 e do Decreto-Lei nº 399 de abril de 1938, regulamentados oficialmente por Getúlio Vargas em 1º de maio de 1940. Inicialmente, a configuração era composta por 14 salários mínimos, variando conforme a “relevância regional”, até serem unificados em 1984.

Ao longo da história do salário mínimo brasileiro, instituído por Getúlio Vargas em 1940, quatro períodos significativos merecem destaque: 1) Era Vargas, 2) Ditadura Militar, 3) Plano Real e 4) Governo Lula. Na Era Vargas, a partir de 1951, seis reajustes salariais foram realizados, desencadeando um ciclo de contínuas atualizações que preservaram e elevaram o poder de compra. Durante a Ditadura Militar, a política de reajuste fundamentada na inflação esperada resultou em um declínio salarial prolongado, perdurando até os anos 1990.

Posterior à estabilização do Plano Real, iniciada em 1994, observou-se uma recuperação substancial do poder de compra do salário mínimo. O quarto período significativo transcorreu em 2008, durante a gestão de Lula, caracterizado pela adoção da política de arredondamento do salário mínimo. A partir de 2006, o governo implementou uma política macroeconômica expansionista, promovendo um aumento de 14% no valor real do salário mínimo e, posteriormente, adotando uma estratégia de longo prazo para sua valorização, intensificando investimentos em infraestrutura.

Segundo informações do Ministério da Economia, o cálculo para o reajuste do salário mínimo envolve a soma do percentual de crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) do ano anterior e do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Em caso de PIB negativo, é considerado o valor zero para o cálculo, evitando prejuízos aos trabalhadores. Conforme a perspectiva de Reis e Ramos (1993), o salário mínimo é uma política destinada a proteger e valorizar os trabalhadores, buscando assegurar níveis de rendimento e consumo satisfatórios, combatendo a pobreza e melhorando a distribuição de renda.

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), fundado em 1955 e mantido pelo movimento sindical, desempenha um papel fundamental ao disponibilizar dados sobre o salário mínimo, considerando tanto o valor nominal estipulado pelo governo quanto o necessário para garantir a subsistência digna de uma família de quatro pessoas. O Dieese utiliza como base o preço da cesta básica mais cara do país para calcular o salário mínimo, gerando uma discrepância significativa em relação ao valor determinado pelo governo. É importante ressaltar que o salário mínimo é estabelecido por decreto do Poder Executivo, entrando em vigor em 1º de janeiro do ano subsequente.

2.2 Cesta Básica

A cesta básica brasileira é composta por 13 produtos, porém esse número varia de região para região (TABELA 1). É importante ressaltar que as quantidades desses produtos podem sustentar uma família de até quatro membros e fornecer uma quantidade equilibrada de proteínas, calorias, ferro, fósforo e cálcio, conforme apontamentos nos estudos em autores como Brasil (1938); Barreto et al. (1998).

Quadro 1 – Estipulações mínimas de volumes para a cesta básica de alimentos, determinadas pelo Decreto Lei n°399/1938.

AlimentosRegião 1Região 2Região 3Nacion al
Carne6 kg4,5 kg6,6 kg6 kg
Leite 6 l7,5 l15 l
Feijão4,5 kg4,5 kg4,5 kg4,5 kg
Arroz3 kg3,6 kg3 kg3 kg
Farinha1,5 kg3 kg1,5 kg1,5 kg
Batata6 kg6 kg6 kg
Legumes (Tomate)9 kg12 kg9 kg9 kg
Pão francês6 kg6 kg6 kg6 kg
Café em pó600 g300 g600 g600 g
Frutas (Banana)90 unid.90 unid.90 unid.90 unid.
Açúcar3 kg3 kg3 kg3 kg
Banha/Óleo750 g750 g900 g1,5 kg
Manteiga750 g750 g750 g900 g

Fonte: DIEESE.

Observa-se que a Área 1 engloba os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Goiás e Distrito Federal. A área 2 compreende os Estados de Pernambuco, Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Amazonas, Pará, Piauí, Tocantins, Acre, Paraíba, Rondônia, Amapá, Roraima e Maranhão. Por sua vez, a Área 3 abrange os Estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Quanto à categoria Nacional, refere-se à cesta normal média destinada à população economicamente ativa em diversas ocupações e para todo o território nacional.

O decreto também define uma configuração de despesas para um trabalhador. Dos cinco elementos que constituem essa configuração (moradia, alimentação, vestuário, transporte e higiene), foi determinada uma distribuição ponderada, em que o total acumulado atinge 100% .O decreto Lei número 399 estipula que a parte do salário mínimo destinada aos dispêndios alimentares não pode ser inferior ao custo da Cesta Básica Nacional, conforme o artigo 6º, parágrafo 1º. A determinação do salário mínimo, crucial para assegurar a subsistência dos trabalhadores, baseia-se no levantamento dos valores da cesta básica em diversas regiões. O cálculo resultante é utilizado na definição do salário mínimo atual, sendo multiplicado pelo número de horas trabalhadas vigentes, estabelecidas em 220 horas por mês.

No contexto econômico brasileiro, índices como o IPCA desempenham papel fundamental na política monetária, sendo referência para metas de inflação. Além disso, títulos públicos, como a Série B das Notas do Tesouro Nacional, oferecem taxa de juros indexada ao IPCA, evidenciando sua relevância no mercado financeiro.

A compreensão da relação entre preços, inflação e decisões econômicas é crucial. Os preços refletem o custo de algo, enquanto a inflação representa um aumento geral dos preços. A inflação, calculada considerando os pesos de todos os bens adquiridos, está intrinsicamente ligada à economia de mercado, podendo afetar significativamente o poder de compra das famílias, sobretudo aquelas cujo salário é a principal fonte de renda. A necessidade de monitorar processos inflacionários é ressaltada, uma vez que esses processos envolvem aumentos consistentes de preços, demandando uma observação atenta.

Diante desse contexto, este artigo busca aprofundar a compreensão da relação entre o preço da cesta básica e a renda da população, utilizando técnicas econometrias para elucidar como as variações nos preços dos alimentos impactam o orçamento das famílias, contribuindo para a discussão sobre a estabilidade econômica e o bem-estar social.

3. METODOLOGIA

A metodologia adotada para a realização deste estudo envolveu a coleta de dados fundamentais provenientes de fontes confiáveis. Os valores da cesta básica mensal foram obtidos a partir do site do Programa de Educação Tutorial (PET) Economia, abrangendo o período de 2020 a 2023. Essa escolha se deu pela relevância e atualidade dessas informações no contexto da pesquisa.

Adicionalmente, os dados relativos ao salário mínimo nominal foram coletados diretamente do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), visando garantir a precisão e a fidedignidade das informações sobre a remuneração mínima ao longo do período em análise.

A utilização dessas fontes específicas visa assegurar uma base consistente para a análise da relação entre a variação dos preços da cesta básica e as mudanças no salário mínimo nominal. A abrangência temporal, indo de 2020 a 2023, proporciona uma visão abrangente das tendências e variações nesse intervalo, possibilitando uma análise mais robusta e contextualizada.

Nesta pesquisa, será empregada uma abordagem metodológica fundamentada em métodos estatísticos, destacando-se o Mínimos Quadrados Ordinários (MQO). O MQO é uma técnica estatística amplamente reconhecida e utilizada para a estimação dos parâmetros em modelos de regressão linear. Essa abordagem busca identificar a reta que melhor se ajusta aos dados, minimizando a soma dos quadrados das diferenças entre os valores observados e os valores previstos pelo modelo.

O Método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) apresenta propriedades estatísticas fundamentais, incluindo um estimador não viesado e eficiente da variância dos erros de medição, além de um teste de hipótese que avalia a significância estatística da relação entre as variáveis do modelo. Desenvolvido por Carl Friedrich Gauss em 1795 para ajustar as órbitas planetárias com base em observações astronômicas, o MQO se consolidou como uma ferramenta crucial para o ajuste de modelos de regressão em diversas disciplinas, como ciências sociais, engenharia, finanças e medicina.

A aplicação do MQO requer dados observados que possam ser representados graficamente em um plano bidimensional ou tridimensional. Com base nesses dados, o modelo de regressão MQO é ajustado para encontrar a melhor linha ou curva de ajuste. Os resultados obtidos por meio do MQO podem ser utilizados para previsões e para a análise detalhada da relação entre as variáveis do modelo.

Na econometria, a utilização do MQO é uma abordagem valiosa, permitindo ao economista oferecer estimativas numéricas que tornam a teoria econômica mais prática. Conforme destacado por Gujarati e Porter (2011), a econometria disponibiliza diversas ferramentas para uma análise mais profunda, sendo o MQO uma delas. Este método introduz o rigor estatístico nos dados, sendo complementado por outras técnicas, como o Método da Máxima Verossimilhança (MV).

Para a aplicação específica neste estudo, é pertinente a consideração de modelos que envolvam logaritmos. Conforme ressaltado por Gujarati e Porter (2011), o modelo log-log é amplamente utilizado em pesquisas econômicas, proporcionando a expressão da elasticidade da variável explicada em relação à variável explicativa. Nesse contexto, o modelo log-log assume a forma: log(y)=a+b⋅log(x).

Onde:

  • log (y) é o logaritmo natural da cesta básica;
  • A é a constante do modelo (ou interceptação), que representa o valor de log (cesta básica) quando log (salário mínimo nominal) é igual a zero;
  • B é o coeficiente angular, que mede a variação percentual em log (cesta básica) para cada variação percentual em log (salário mínimo nominal);
  • log (salário mínimo nominal) é o logaritmo natural do salário mínimo nominal.

A utilização do programa econométrico GRETL permitirá a estimação eficiente dos parâmetros, bem como a obtenção de estatísticas de teste relevantes para a análise proposta.

4. APRESENTAÇÃO DOS DADOS (2020 – 2023)

A análise da relação entre a cesta básica e o salário mínimo em Porto Velho, Rondônia, de 2020 a 2023, fundamenta-se em dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e do Programa de Educação Tutorial (PET) da Universidade Federal de Rondônia. Mensalmente, o PET coleta, em diversos estabelecimentos comerciais, informações sobre os 12 produtos da cesta básica, enquanto o DIEESE fornece dados do salário mínimo nominal.

No ano de 2020, a cesta básica partiu de R$ 367,04 em janeiro, atingindo R$ 447,36 em dezembro, um aumento de 21,89%. No mesmo período, o salário mínimo nominal cresceu apenas 0,58%, de R$ 1.039,00 para R$ 1.045,00. Essa discrepância evidencia uma queda no poder de compra do salário mínimo em relação à cesta básica.

Em 2021, a cesta básica manteve sua ascensão, chegando a R$ 530,24 em dezembro, representando um aumento de 18,54% em relação ao ano anterior. Enquanto isso, o salário mínimo nominal permaneceu em R$ 1.100,00, resultando em um incremento de 5,26%. Apesar do aumento no poder de compra do salário mínimo, o crescimento da cesta básica foi mais expressivo.

Em 2022, a cesta básica iniciou em R$ 535,71, alcançando R$ 603,16 em dezembro. Contrastando, o salário mínimo permaneceu constante em R$ 1.212 ao longo do ano. A variação percentual da cesta básica foi de 12,54%, destacando um aumento expressivo, enquanto o salário mínimo não apresentou alterações. Essa constância do salário mínimo indica um possível descompasso em relação ao aumento do custo de vida representado pela cesta básica.

Já em 2023, a cesta básica teve uma variação mais sutil. Iniciou com R$ 580,13, declinando para R$ 567,88 até o final do ano. Em contrapartida, o salário mínimo em janeiro era de R$ 1.302,00 e encerrou o ano em R$ 1.320,00. A variação percentual da cesta básica foi de -2,11%, apontando uma ligeira redução, enquanto o salário mínimo apresentou um aumento de 1,38%.

Esses dados ressaltam a importância da cesta básica como um indicador crucial para medir o custo de vida da população. O aumento constante nesse conjunto vital de alimentos representa um desafio para as condições de vida, especialmente para aqueles com menor poder aquisitivo. A manutenção do poder de compra do salário mínimo torna-se um desafio em face das oscilações mais acentuadas nos preços dos itens essenciais.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Fonte: Elaborado pelos autores.

5. RESULTADO DOS DADOS

A análise dos dados entre 2020 e 2023 em Porto Velho, Rondônia, revela uma realidade desafiadora para o poder de compra do salário mínimo. Embora tenha havido um aumento nominal nesse período, a disparidade frente ao crescimento mais expressivo da cesta básica aponta para uma complexidade econômica.

Portanto, enquanto o poder de compra da população experimentou um aumento nominal, a elevação constante no custo dos itens essenciais destaca a importância de políticas econômicas que considerem não apenas o valor absoluto do salário mínimo, mas também sua capacidade de sustentar as necessidades básica

Fonte: Gretl, elaborado pelos autores.

Os gráficos fornecem uma representação visual da dinâmica entre o valor da cesta básica e o salário mínimo nominal em Porto Velho durante o período de janeiro de 2020 a dezembro de 2023. Os dados, provenientes do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e do Programa de Educação Tutorial (PET), revelam tendências e comportamentos importantes. A análise gráfica dos dados referentes à cesta básica e ao salário mínimo em Porto Velho, no período de janeiro de 2020 a dezembro de 2023, proporciona insights sobre as variações econômicas ao longo desses anos. Os gráficos distintos para cada variável permitem uma compreensão mais detalhada das tendências observadas.

O gráfico da cesta básica revela uma dinâmica interessante nos anos de 2020 a 2023. Inicialmente, em 2020, observamos um aumento significativo nos custos dos itens essenciais, partindo de R$ 367,04 em janeiro para R$ 447,36 em dezembro. Em 2021, há uma continuação dessa tendência de alta, culminando em R$ 530,24 em dezembro. Já em 2022, a cesta básica inicia em R$ 535,71 e encerra em R$ 603,16, evidenciando certa volatilidade. Por fim, em 2023, ocorre uma variação de R$ 580,13 em janeiro para R$ 567,88 em dezembro.

O gráfico do salário mínimo nominal, por sua vez, apresenta uma estabilidade em 2020, partindo de R$ 1.039,00 em janeiro para R$ 1.045,00 em dezembro. A partir de janeiro de 2021, há um aumento notável para R$ 1.100,00, mantendo-se constante até o final do ano. Em 2022, o salário mínimo inicia em R$ 1.212,00 e permanece nesse valor. Em 2023, há um novo aumento, começando em R$ 1.302,00 e terminando em R$ 1.320,00.

Este é um modelo de regressão linear simples usando o método de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO). O objetivo do modelo é prever o valor da variável dependente “valorcestabasica” com base na variável independente “Salariominimo”.

O coeficiente associado à variável “Salariominimo” é 0,598848. Isso implica que, em média, um aumento de uma unidade no salário mínimo está relacionado a um aumento de 0,598848 nas cestas básicas. O intercepto é -199,287, indicando que, quando o salário mínimo é zero, o valor estimado para as cestas básicas é -199,287.

O valor do R-quadrado de 77,64% sugere que o modelo explica uma parcela significativa da variação nas cestas básicas com base no salário mínimo. O p-valor associado (1,44e-16) ao teste F indica que o modelo como um todo é estatisticamente significativo.

Em síntese, o modelo de regressão linear simples (MQO) sugere que há uma relação positiva significativa entre a variável “Salário mínimo” e a variável “valorcestabasica”. Isso significa que, de acordo com os resultados do modelo, um aumento no salário mínimo está associado a um aumento no valor das cestas básicas, indicando uma influência positiva no poder de compra da população em relação às cestas básicas.

Agora, usa-se o modelo Log-log que revela que a relação entre as duas variáveis é linear em termos de logaritmos. Iremos encontrar uma equação que relacione o logaritmo da cesta básica ao logaritmo do salário mínimo nominal. Obtivemos:

Este modelo de regressão MQO (Mínimos Quadrados Ordinários) visa examinar a relação entre duas variáveis ao longo de 48 meses, de janeiro de 2020 a dezembro de 2023. A variável dependente, “l_valorcestabasica”, corresponde ao logaritmo natural do valor médio da cesta básica durante esse período. Por outro lado, a variável independente, “l_Salariominimonimo”, refere-se ao logaritmo natural do valor médio do salário mínimo nominal no mesmo intervalo temporal.

Os resultados do modelo indicam que a constante, representada pelo coeficiente -3,83904, é estatisticamente significante, com um p-valor muito baixo. Isso implica que há uma   diferença significativa entre o valor médio da cesta básica e zero, mesmo quando o valor do salário mínimo nominal é zero.

O coeficiente da variável independente “l_Salariominimo” é de 1,42207 e tem um erro padrão de 0,120423. Este coeficiente é estatisticamente significante, com um p-valor muito baixo, indicando que há uma relação positiva significativa entre o valor médio da cesta básica e o valor médio do salário mínimo nominal. Em outras palavras, quanto maior o valor do salário mínimo nominal, maior é o valor médio da cesta básica.

O valor do R-quadrado indica que cerca de 74,66% da variação no logaritmo da cesta básica pode ser explicada pela variação no logaritmo do salário mínimo. Um R-quadrado ajustado alto sugere que o modelo tem uma boa capacidade de explicar a variabilidade nos dados.

O valor F de 139,4514 é muito elevado, e o p-valor extremamente baixo indica que o modelo como um todo é estatisticamente significativo. Nesse contexto, podemos rejeitar a hipótese nula de que todos os coeficientes de regressão são iguais a zero.

Os valores dos critérios de informação, como Akaike, Schwarz e Hannan-Quinn, desempenham um papel crucial na comparação e seleção de modelos alternativos, ajudando a determinar o modelo mais adequado para explicar os dados.

Em síntese, conforme indicado pelo modelo de regressão MQO, existe uma relação positiva e estatisticamente significativa entre o valor médio da cesta básica e o valor médio do salário mínimo nominal durante o período observado. Esse tipo de modelo é amplamente empregado para realizar previsões futuras da variável dependente com base em valores conhecidos da variável independente.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos resultados obtidos nas análises MQO apresentadas, concluímos que as variáveis explicativas consideradas, seja no modelo direto utilizando o valor da cesta básica e do salário mínimo nos anos de 2020 e 2023, ou no modelo logarítmico utilizando seus logaritmos, demonstram um impacto significativo na variável dependente, representada pelo ano de ocorrência.

Os modelos de regressão desenvolvidos apresentaram elevados valores de R-quadrado, indicando que a variação na variável dependente é substancialmente explicada pelas variáveis independentes incorporadas nos modelos. Nota-se também que as variáveis explicativas exercem diferentes níveis de influência na variável dependente, conforme refletido nas estimativas dos coeficientes de regressão.

Entretanto, é crucial destacar que os modelos foram construídos com base em um período de apenas quatro anos, o que limita a capacidade de generalização dos resultados para outros períodos. Além disso, fatores adicionais relevantes para o desenvolvimento da cidade, como políticas públicas, infraestrutura e recursos naturais, não foram contemplados nos modelos. Os resultados apontam que as variáveis explicativas incorporadas nos modelos exercem um impacto significativo na variável dependente (ano de ocorrência). No entanto, é imperativo considerar outros fatores essenciais para uma análise mais abrangente do desenvolvimento regional.

A intensidade do aumento na cesta básica, notadamente em 2021, revela um desafio significativo para o poder de compra do salário mínimo em Porto Velho. O considerável incremento nos preços dos itens essenciais compromete diretamente o orçamento das famílias, principalmente daquelas com menor capacidade financeira. Esse cenário aponta para a necessidade de abordagens abrangentes nas políticas econômicas e sociais, transcendentais ao mero reajuste salarial.

A estabilidade e acessibilidade dos preços dos alimentos emergem como elementos cruciais para garantir condições de vida dignas à população. Políticas que visem não somente ao aumento salarial, mas também à contenção da inflação nos alimentos, ganham destaque nesse contexto. Iniciativas voltadas para a promoção da produção local, incentivo à agricultura familiar e medidas que atenuem os impactos sazonais nos preços dos alimentos se tornam imperativas para enfrentar essa problemática.

Além disso, é fundamental considerar a implementação de políticas sociais que possam aliviar o impacto direto das oscilações nos preços dos alimentos sobre as famílias mais vulneráveis. Subsídios direcionados, programas de assistência alimentar e outras medidas de apoio social podem ser exploradas como instrumentos para mitigar os efeitos dessas variações nos orçamentos familiares.

Dessa forma, a abordagem ampla e integrada, contemplando não apenas o aspecto salarial, mas também a estabilidade dos preços dos alimentos, emerge como essencial para assegurar a sustentabilidade econômica e o bem-estar da população de Porto Velho diante dos desafios apresentados pelas oscilações no custo de vida.

Em linhas gerais, as conclusões finais sugerem que o modelo de regressão linear simples revela uma relação positiva e estatisticamente significativa entre “Salário mínimo~” e “valorcestabásica”, indicando que um aumento no salário mínimo está associado a um aumento no poder de compra da população. Contudo, é essencial ressaltar que este modelo representa uma aproximação estatística, e outros elementos podem influenciar o poder de compra da população além do salário mínimo.

7. REFERÊNCIAS

DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) – https://www.dieese.org.br/metodologia/metodologiaCestaBasica2016.pdf

DEPARTAMENTO   INTERSINDICAL   DE   ESTATÍSTICA   E   ESTUDOSOCIOECONÔMICOS – DIEESE. Pesquisa nacional da cesta básica de alimentos. 2020a. Disponível   em: https://www.dieese.org.br/analisecestabasica/analiseCestaBasica202006.html.

Acesso em: 20 fev. 2024. DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA EESTUDO SOCIOECONÔMICOS – DIEESE. Valor da cesta básica aumenta praticamente em todas as capitais em 2019. 2020b. Disponível em: https://www.dieese.org.br/analisecestabasica/2019/201912cestabasica.pdf

GUJARATI, D. N; PORTER, D. C. Econometria básica. 5. Ed. – São Paulo: Pearson, 2011.Programa                de   educação  tutorial  (PET)   da   universidade              Federal      de   Rondônia. – https://peteconomia.unir.br/arquivo.

Jusbrasil. (2022). Qual a origem do salário mínimo? Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/qual-a-origem-do-salario-minimo/795235367 . Acesso em: 24 de fevereiro de 2024.

DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Análise da Cesta Básica – Salário Mínimo. Disponível em: https://www.dieese.org.br/analisecestabasica/salarioMinimo.html.  Acesso em: 16 de fevereiro de 2024.


1 Acadêmico do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Rondônia, membro do Programa de Educação Tutorial — PET Economia UNIR E-mail: diegoptpvh87@gmail.com

2 Acadêmica do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Rondônia, membro do Programa de Educação Tutorial — PET Economia UNIR E-mail: gabrieledovale0@gmail.com

3 Acadêmica do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Rondônia, membro do Programa de Educação Tutorial — PET Economia UNIR E-mail: acmthaynacorreia@gmail.com

4 Acadêmica do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Rondônia, membro do Programa de Educação Tutorial — PET Economia UNIR E-mail: lidiamrf97@gmail.com 

5 Acadêmica do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Rondônia, membro do Programa de Educação Tutorial — PET Economia UNIR E-mail:  cassiavitoria251@gmail.com

6 Acadêmica do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Rondônia, membro do Programa de Educação Tutorial — PET Economia UNIR E-mail: annasouzaleite@gmail.com