THE RISKS OF VERTICAL TRANSMISSION IN CHILDREN EVIDENCED BY SYPHILIS: A LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11316100
Maria Clara Vogel Goulart1
Taynar Regina Silva dos Santos1
Maria Gracimar Oliveira Fecury da Gama2
Resumo
A sífilis é uma infecção causada pela bactéria Treponema pallidum, transmitida pelo contato direto com uma ferida durante o sexo vaginal, anal ou oral. A transmissão vertical da sífilis é um desafio de saúde pública, resultando em consequências para o neonato. Apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento em gestantes, os casos de transmissão vertical persistem. Este estudo teve como objetivo principal investigar a literatura científica atualizada sobre os riscos da transmissão vertical em crianças evidenciadas por sífilis. O estudo é uma revisão da literatura utilizando um método descritivo, exploratório e de abordagem qualitativa. A pesquisa foi baseada na análise de artigos atuais sobre o tema, visando formular novas ideias e conceitos. As obras foram coletadas das plataformas SCIELO, LILACS/BVS e a Base de dados de Enfermagem, utilizando descritores em ciências da saúde: Sífilis, Sífilis congênita, e Transmissão vertical de doenças infecciosas. Sete obras foram encontradas e delineadas, revelando diversos fatores de risco e barreiras na prevenção da sífilis congênita. Foi constatado que a maioria das mulheres que transmitiram a doença tinham entre 20 e 29 anos, com ensino fundamental incompleto, e muitas foram diagnosticadas apenas no puerpério. As falhas na assistência de enfermagem e dificuldades geográficas contribuem para o aumento do risco de transmissão vertical. Além disso, a baixa adesão ao tratamento pré-natal devido à falta de orientação adequada e o não cumprimento das recomendações de saúde são problemas recorrentes. A baixa escolaridade materna e a falta de tratamento adequado tanto para gestantes quanto para seus parceiros são fatores que aumentam o risco de sífilis congênita. A pesquisa identificou riscos de transmissão vertical da sífilis, destacando falhas na assistência de enfermagem, especialmente na Atenção Primária à Saúde. Pacientes jovens e com baixa escolaridade são mais propensas à transmissão, evidenciando a necessidade de melhor diagnóstico e tratamento precoce.
Palavras-chave: Sífilis. Sífilis congênita. Transmissão vertical de doenças infecciosas.
1 INTRODUÇÃO
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum. Ela pode ser transmitida através do contato direto com uma ferida sifilítica durante o sexo vaginal, anal ou oral. A doença passa por diferentes estágios, sendo os principais a sífilis primária, caracterizada por uma ferida indolor nos órgãos genitais, e a sífilis secundária, que pode apresentar sintomas como erupções cutâneas, febre e dores musculares. Se não tratada, a sífilis pode progredir para estágios mais avançados, afetando órgãos internos e causando danos irreversíveis, incluindo problemas neurológicos, sendo assim, um problema de saúde pública (Viera; Oliveira; Alves, 2023).
A transmissão vertical da sífilis ocorre quando uma mulher grávida infectada com a doença passa a bactéria Treponema pallidum para o feto durante a gestação ou parto (ROCHA et al., 2021). A sífilis também pode ser transmitida através da amamentação, quando a mãe com diagnóstico positivo para sífilis, possui algum ferimento com sangramento no seio, e ao amamentar o neonato pode transmitir a infecção, entretanto, o leite materno não transmite a infecção para o bebê (Santos et al., 2023).
A incidência de sífilis entre gestantes emergiu como um sério fator de risco devido às suas consequências graves, pois a sífilis materna não tratada pode resultar em aborto, parto prematuro e recém-nascidos com sintomas clínicos da doença, ampliando a importância dessa questão (Silva et al., 2022).
O Ministério da Saúde registrou em 2021 mais de 167 mil casos de sífilis, sendo que no mesmo ano, foram diagnosticados 27 mil RNs com sífilis congênita (SC), e destes, 192 foram à óbito. No ano seguinte, em 2022, 122 novos casos de sífilis foram registrados no Brasil, sendo 31 mil em gestantes e mais de 22 mil classificados como SC.
A sífilis pode ser transmitida por várias vias, sendo a principal delas a via sexual, incluindo sexo oral, vaginal e anal. Além disso, ela pode ser transmitida verticalmente. Muitas vezes, as pessoas infectadas permanecem assintomáticas, o que contribui para a propagação contínua da infecção. Os treponemas penetram no organismo humano através das membranas mucosas ou de lesões na pele. A intensidade da transmissão varia conforme o estágio da doença, sendo mais elevada nos estágios iniciais, como a sífilis primária e secundária, e diminuindo com o tempo (Carneiro et al., 2023).
A sífilis na fase primária, que ocorre de 10 a 90 dias após o contágio, surgem feridas indolores nos órgãos genitais ou em outras partes do corpo. Essas feridas, conhecidas como úlceras sifilíticas, desaparecem espontaneamente, muitas vezes sem tratamento, levando a uma falsa impressão de cura (Costa et al., 2020).
Em seguida, na fase secundária, que pode se manifestar entre seis semanas e seis meses após o aparecimento das feridas iniciais, surgem manchas na pele, febre, mal-estar e ínguas pelo corpo. Apesar de também desaparecerem sem tratamento, essas manifestações secundárias indicam a disseminação da bactéria pelo organismo, preparando o terreno para complicações mais graves nas fases posteriores, como a sífilis terciária, que pode se manifestar décadas após a infecção inicial, afetando órgãos vitais como a pele, ossos, coração e sistema nervoso (Guimarães et al., 2023).
Em alguns casos, a sífilis pode permanecer latente, sem sintomas visíveis, por longos períodos, podendo se manifestar novamente em qualquer momento, mesmo após anos de aparente inatividade (Silveira; Silva; Damiani, 2020).
A transmissão vertical da sífilis continua sendo um desafio significativo de saúde pública em muitos países, resultando em consequências graves para o neonato. Apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento da sífilis em gestantes, os casos de transmissão vertical persistem. Portanto, quais são os fatores de risco associados à transmissão vertical? As estratégias atuais são eficazes de prevenção e intervenção?
A sífilis congênita representa um importante problema de saúde pública em todo o mundo, com consequências devastadoras para os neonatos afetados. A compreensão dos fatores de risco envolvidos na transmissão vertical da sífilis e a identificação de medidas eficazes de prevenção são essenciais para reduzir a incidência dessa condição e melhorar os resultados de saúde das crianças. Esta revisão de literatura busca contribuir para a disseminação do conhecimento atualizado sobre o tema, fornecendo subsídios para a formulação de políticas de saúde e práticas clínicas baseadas em evidências, na enfermagem.
Este estudo teve como objetivo principal investigar a literatura científica atualizada sobre os riscos da transmissão vertical em crianças evidenciadas por sífilis. Os objetivos específicos foram: Apurar os principais fatores de risco associados à transmissão vertical da sífilis; Analisar as consequências da transmissão vertical da sífilis para o neonato, tanto a curto quanto a longo prazo; e Descrever as estratégias de prevenção e intervenção atualmente utilizadas para reduzir a transmissão vertical da sífilis e sua eficácia.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Fatores de risco associados à transmissão vertical da sífilis
Quando uma gestante adquire a Sífilis Gestacional (SG) durante a gestação, esta pode ser tratada não adequadamente, ou não ser tratada, resultando assim na transmissão vertical da sífilis, também conhecida como sífilis congênita (SC), representando problemas de saúde pública devido aos potenciais danos ao feto e ao recém-nascido (RN) (Oliveira et al., 2021).
A presença de sífilis não tratada ou inadequadamente tratada em gestantes é o principal fator de risco para a transmissão vertical. Mulheres que não recebem cuidados pré-natais adequados ou não são rastreadas para a sífilis durante a gravidez têm maior probabilidade de transmitir a infecção ao feto. Sem o diagnóstico e tratamento precoces, ocorre o aumento do risco de transmissão e para a gravidade das complicações para o bebê (Macedo et al., 2020).
O risco de transmissão materno-neonatal está diretamente relacionado ao estágio da infecção materna. As fases primária e secundária da sífilis apresentam os maiores riscos, com taxas de transmissão que variam de 60 a 100%, sendo ainda mais elevada na fase secundária. Por outro lado, as fases latentes precoce e tardia têm taxas menores de transmissão, aproximadamente 40% e 8%, respectivamente (Domingues et al., 2024).
Outros fatores de risco incluem o uso de drogas ilícitas, especialmente aquelas administradas por via intravenosa, e o envolvimento em práticas sexuais de alto risco. Condições socioeconômicas desfavoráveis, acesso limitado aos serviços de saúde e barreiras linguísticas também podem contribuir para um aumento do risco de transmissão vertical, dificultando o acesso ao diagnóstico e tratamento adequados (Carvalho, 2020).
2.2 Consequências da transmissão vertical da sífilis para o neonato
A transmissão vertical da sífilis para o neonato, ou seja, a passagem da infecção da mãe para o bebê durante a gravidez, parto ou aleitamento materno, pode acarretar uma série de consequências severas para o RN, principalmente a infecção, que é conhecida como SC, pode ter impactos graves e duradouros na saúde do bebê. A SC resulta em complicações no desenvolvimento fetal, pois durante a gravidez, a infecção pode atravessar a placenta, afetando o crescimento e a formação adequada do feto, levando-o então, a problemas como retardo no crescimento intrauterino, malformações congênitas e em alguns casos, o aborto espontâneo (Borba et al., 2020).
Além disso, a presença da sífilis no pequeno organismo do RN, causa sintomas logo após o nascimento, como as erupções cutâneas, febre, icterícia, anemia, inflamação dos ossos e lesões nos órgãos internos. Em casos mais graves, a infecção pode afetar o sistema nervoso central, levando a complicações neurológicas como meningite, convulsões, atrasos no desenvolvimento cognitivo e até mesmo deficiência intelectual (Carvalho; Aquino; Cardoso, 2023).
É importante destacar que, mesmo que o RN não apresente sintomas imediatos, a sífilis congênita pode continuar a causar danos ao longo da vida. Complicações tardias, como surdez, cegueira, problemas ósseos e dentários, podem surgir nos primeiros anos de vida ou manifestar-se apenas na adolescência ou na idade adulta (Costa; Araújo; Itani, 2022).
2.3 Estratégias de prevenção e intervenção
A prevenção da transmissão vertical da sífilis é fundamental para proteger a saúde tanto da mãe quanto do bebê. Estratégias eficazes de prevenção se concentram em duas áreas principais: detecção precoce e tratamento adequado da infecção durante a gravidez, e intervenções que visam mitigar os fatores de risco associados à sífilis. A detecção precoce da sífilis durante a gravidez está associada aos cuidados pré-natais, onde o enfermeiro atua fornecendo oportunidades para testes regulares de sífilis durante a gestação. O acesso universal a esses cuidados é essencial para garantir que todas as gestantes tenham a oportunidade de serem testadas e tratadas, independentemente de sua situação socioeconômica ou geográfica (Pereira et al., 2021).
Além disso, o tratamento adequado com penicilina é a pedra angular no combate à sífilis durante a gravidez. A administração precoce e correta de antibióticos pode interromper a progressão da doença e reduzir significativamente o risco de transmissão vertical para o feto. Portanto, garantir o acesso a tratamento adequado para todas as gestantes diagnosticadas com sífilis é de extrema importância (Robeiro et al., 2020).
Além da detecção e tratamento, intervenções na atenção primária em saúde, como os programas de rastreamento de sífilis em populações de alto risco, como mulheres grávidas sem acesso regular aos cuidados de saúde, pessoas que vivem com HIV/AIDS e indivíduos que praticam comportamentos de risco, são importantes para identificar casos de sífilis e garantir o tratamento adequado. Além disso, a educação sobre saúde sexual e reprodutiva é fundamental para aumentar a conscientização sobre a sífilis e promover comportamentos saudáveis que ajudem a prevenir a infecção, principalmente informações sobre práticas sexuais seguras, e o uso de preservativos para prevenir a transmissão (Silva et al., 2023).
3 METODOLOGIA
Este é um estudo de revisão da literatura, através de um método descritivo, exploratório e de abordagem qualitativa. Segundo Gil (2022), a pesquisa bibliográfica na literatura, permite que as teorias, achados e atuais opiniões sobre a temática estudada, possam ser reunidas e a partir disso formular novas ideias e conceitos.
Nesta revisão de literatura, as obras para compor a amostra foram extraídas das plataformas de dados: Scientific Eletronic Library Online – SCIELO; Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Biblioteca Virtual de Saúde) – LILACS/BVS, e Base de dados de Enfermagem, através da utilização dos descritores em ciências da saúde (DECS) – Sífilis; Sífilis congênita; e Transmissão vertical de doenças infecciosas.
Os critérios de inclusão que foram utilizados: obras originais, publicadas de forma completa em idiomas inglês, português e espanhol, entre os anos de 2019 e 2024. Já os critérios de exclusão foram obras do tipo: cartilhas, manuais de saúde, livros e anais de congressos.
Após a busca das obras, estas foram avaliadas e delineadas a partir da leitura primária de títulos e resumos, e depois de selecionadas, submetidas a leitura na íntegra. Depois de escolhidas, as obras foram descritas em um quadro (Quadro 1), elaborado no programa Microsof Word, e nas colunas constarão os dados: autor e ano; título da obra; metodologia, base de dados e resultados. Depois disso, as obras foram citadas no texto de discussão, para exposição da opinião dos autores.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
Quadro 1 – Delineamento dos estudos encontrados.
N° | AUTOR/ ANO | TIPO DE PESQUISA | PERIÓDICO | ACHADOS |
1 | Pícole e Cazola 2022 | Estudo Descritivo | Revista Brasileira de Saúde Materno-infantil | Os principais riscos de transmissão vertical da sífilis estão associados ao início tardio do pré-natal e em consequência disso, o número menor de consultas. Além disso, é notável a demora nos resultados diagnósticos, principalmente com o atraso de entrega de exames pelas unidades. |
2 | Ramos et al. 2022 | Estudo Transversal | Revista Escola Anna Nery | Os riscos de transmissão vertical da sífilis estão relacionados com a escassez de recursos gerenciais das unidades de saúde, com a falta de medicamentos para o tratamento, além da insatisfação das gestantes com o serviço prestado. |
3 | Oliveira Júnior et al. 2021 | Estudo Observacional | Research, Society and Development | Observaram oscilação dos casos de sífilis, expondo lacunas no controle da doença, e falhas na atenção primária modelo assistencial implantado no município, principalmente durante o pré-natal, aumentando assim os riscos de transmissão vertical para sífilis. |
4 | Gomes et al. 2020 | Estudo Transversal | Scientia Plena | Os principais fatores de risco associados com a transmissão vertical de sífilis, são principalmente a baixa escolaridade das pacientes além do diagnóstico inadequado realizado durante as consultas pré-natais e a pouca realização dos testes treponêmicos. |
5 | Macêdo et al. 2020 | Estudo Retrospectivo | Cadernos de Saúde Coletiva | O pré-natal não alcançou a efetividade na prevenção e rastreio da sífilis, uma vez que ocorreram mulheres reagentes para a infecção na admissão à maternidade, ainda que em menor proporção, sendo perdida a oportunidade de alcançar o controle da doença. |
6 | Cavalcante et al. 2019 | Estudo coorte | Revista de Saúde Coletiva | As mães não são adequadamente orientadas sobre a necessidade de comparecer às consultas de pré-natal. Os fatores sociodemográficos, como mães solteiras ou com múltiplos filhos, e dificuldades logísticas, como a distância até as unidades de saúde, também contribuem para a baixa adesão a continuidade do tratamento. |
7 | Pires 2019 | Revisão de Literatura | Repositório de Trabalhos de Conclusão de Curso | Sabe-se que gestantes que são diagnosticadas e tratadas precocemente apresentam redução do risco de transmissão vertical da sífilis quando comparadas àquelas com intervenção medicamentosa tardia. |
Fonte: autoria própria (2024).
O estudo de Oliveira Júnior et al. (2021), foi realizado na cidade de Parnamirim, no Rio Grande do Norte, investigando a taxa de detecção de sífilis congênita entre os anos de 2010 e 2019. A maior parte das mulheres que transmitiram sífilis ao RN durante a gestação, possuíam idade entre 20 e 29 anos, com nível de escolaridade em fundamental incompleto e a maior taxa de diagnósticos foi realizado no terceiro trimestre da gestação. Além desses dados, os autores ainda concluíram que apenas 88,5% das pacientes realizaram as seis consultas de pré-natal, e 52,9% obtiveram diagnóstico no puerpério.
As principais falhas observadas na detecção precoce da sífilis, foi com relação às falhas na assistência de enfermagem, principalmente no seguimento deste modelo assistencial da atenção primária em saúde (APS), que não acolhe 100% das pacientes. Constou-se ainda, que os municípios têm um risco aumentando para a transmissão vertical de sífilis congênita, considerando a dificuldade geográfica e disponibilidade de profissionais da saúde para esse atendimento precoce (Oliveira Júnior et al., 2021).
Cavalcante et al. (2019), realizou uma pesquisa coorte em três maternidades da rede pública no estado do Ceará, na qual foram avaliados prontuários de recém-nascidos entre 2013 e 2016, onde 460 destes foram diagnosticados com sífilis congênita, entretanto, apenas 287 (86,4%) dos pacientes retornaram à unidade para dar continuidade ao tratamento em companhia das genitoras. Notou-se então, que grande parte da falta de adesão do tratamento foi em decorrência da escassa orientação dos enfermeiros da unidade, assim como a unidade não atendeu às recomendações do Ministério da Saúde para aplicação das propedêuticas ideais.
Pícole e Cazola (2022), realizaram um estudo com 25 gestantes indígenas no estado do Mato Grosso, para análise da taxa de transmissão vertical de sífilis nas comunidades indígenas da região. Constatou-se que os principais fatores de risco incluem o início tardio do pré-natal, o número insuficiente de consultas pré-natais, o diagnóstico e tratamento inadequados, e as falhas no manejo clínico da sífilis. A demora na realização e entrega dos resultados dos testes, juntamente com a baixa utilização de testes rápidos, agravou a situação.
Além disso, a falta de tratamento das parcerias sexuais das gestantes aumentou o risco de reinfecção, pois o acesso limitado aos serviços de saúde, especialmente em comunidades indígenas, e a escassez de medicamentos como a também contribuíram para a alta taxa de transmissão vertical (Pícole; Cazola, 2022).
No estudo de Ramos et al. (2022), também foi possível notar a falta de medicamentos para o tratamento da sífilis durante a gestação das pacientes, mas o mais notável, foi a inadequação da assistência pré-natal, evidenciada pela insatisfação das gestantes com os serviços oferecidos e a falta de adesão às práticas recomendadas, eleva significativamente o risco de transmissão vertical.
A escassez de penicilina no mercado, aliada à resistência de alguns profissionais em usar o medicamento devido ao risco de reações anafiláticas, também contribui para a persistência da doença. A análise espacial revelou que áreas de maior vulnerabilidade social, com altos índices de analfabetismo e pobreza, concentram os maiores riscos de mortalidade fetal por sífilis congênita (Ramos et al., 2022).
No estudo de Gomes et al. (2020), entre os principais fatores estão a baixa escolaridade materna, com 60,6% das mulheres afetadas possuindo ensino fundamental incompleto, e a falta de tratamento adequado tanto para a gestante quanto para o parceiro sexual, que é crucial para prevenir reinfecções. O diagnóstico tardio ou inadequado durante o pré-natal, apesar da alta adesão ao acompanhamento pré-natal (85,5%), destaca a baixa qualidade da assistência prestada.
Para Gomes et al. (2020), a realização inadequada dos testes treponêmicos e não treponêmicos compromete a detecção precoce e o tratamento eficaz. Este cenário é exacerbado pelas desigualdades socioeconômicas, como evidenciado pela maior incidência de sífilis congênita em mães com menor nível de escolaridade e de cor parda, reforçando a necessidade de melhorias na educação em saúde e na qualidade dos serviços prestados.
O estudo de Macêdo et al. (2019), também foi realizado em uma unidade de saúde no nordeste do Brasil, para avaliar as principais barreiras assistenciais enfrentadas pelo sistema de saúde pública para prevenção de sífilis congênita. Sendo assim, foram evidenciados como os principais riscos de transmissão, dentre as mais de 1.200 pacientes envolvidas, a baixa escolaridade das pacientes, e a não adesão ao tratamento, pois, cerca de 838 foram reagentes, mas 21% destas não realizaram o tratamento por completo, por abandono ou nem compareceram às consultas, o que indica falta de orientação da assistência do enfermeiro da APS.
Pires (2019) desenvolveu um estudo em busca de dados epidemiológicos sobre a sífilis congênita, e constatou que RNs com sífilis congênita possuem 5% a mais de chances de ter nascimento prematuro antes da 34° semana de gestação, possuem 14,5% de chances de possuir peso ao nascer entre 1,5 e 2,49 kg, além de possuírem 3,4% de chances de ter peso menor que 1,5 kg ao nascer, em comparação com os RNs de mães que foram adequadamente tratadas (Quadro 2).
Quadro 2 – Desfecho de RNs de mães com sífilis adquirida.
Parâmetros | RN de mães tratadas adequadamente | RN com sífilis congênita |
Nascimentos com menos de 34 semanas | 0,8% | 5% |
Peso ao nascer: entre 1,5 e 2,49 kg | 6,7% | 14,5% |
Peso ao nascer: menor que 1,5 | 0% | 3,4% |
Fonte: Adaptado de Pires (2019).
5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa com o intuito de descobrir os principais riscos da transmissão vertical da sífilis em crianças, permitiu um pensamento crítico sobre os números da sífilis congênita ainda serem altos, apesar de já existirem tecnologias disponíveis que auxiliam no processo de diagnóstico precoce, foram observadas lacunas na assistência de enfermagem, evidenciadas pelos estudos que confirmaram a não adesão de pacientes ao tratamento adequado, evitando a transmissão vertical da infecção aos RNs.
Dentre os principais riscos de transmissão vertical da sífilis, notou-se uma atenção especial dos autores para as falhas da assistência em enfermagem, principalmente a que é realizada na Atenção Primária à Saúde (APS) do serviço público de saúde, onde em localizações geográficas de difícil acesso, os serviços são escassos, tornando a avaliação precoce mais dificultosa e potencializando o aparecimento de tais infecções.
Além disso, percebe-se que, pacientes com menor nível de escolaridade e entre 20 e 29 anos, são mais propensas a transmitirem a sífilis verticalmente ao RN, principalmente aquelas que não receberam o tratamento adequado para sífilis durante a gestação e que possuem a cor parda.
REFERÊNCIAS
BORBA, Bruna Araújo de Moraes et al. As consequências do manejo inadequado da sífilis gestacional. Revista De Patologia Do Tocantins, Palmas, v. 7, n. 2, p. 31-33, jul./2020. Disponível em: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/patologia/article/view/7530. Acesso em: 30 de mar. 2024.
BRASIL. Manual técnico para Diagnóstico de Sífilis. Brasília: Ministério da Saúde, 1. ed., 2021. Disponível em: https://www.gov.br/aids/pt-br/central-de-conteudo/publicacoes/2021/manual-tecnico-para-o-diagnostico-da-sifilis. Acesso em: 10 de mar 2024.
CARNEIRO, Breno Francisqueto et al. Perfil epidemiológico dos casos de sífilis adquirida, no Brasil, no período de 2017 a 2021. Acervo Saúde, São Paulo, v. 43, n. 1, p. 1-10, fev./2023. Disponível em: https://acervomais.com.br/index.php/cientifico/article/view/11823. Acesso em: 10 de mar. 2024.
CARVALHO, Andressa dos Santos; AQUINO, Gabriella Fidelis; CARDOSO, Alexandra Marques. Revista Científica da Escola Estadual de Saúde Pública de Goiás, Goiânia, v. 9, n. 3, p. 1-3, ago./2023. Disponível em: https://www.revista.esap.go.gov.br/index.php/resap/article/view/590. Acesso em: 31 de mar. 2024.
CAVALCANTE, Ana Neri Melo et al. Fatores associados ao seguimento não adequado de crianças com sífilis congénita. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 53, p. 1-10, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rsp/a/6ND8D555xTdT5TCcYZnNgLr/?lang=pt#. Acesso em: 14 de mar. 2024.
COSTA, Bianca Alessandra Gomes da et al. Sífilis congênita na região da Amazônia brasileira: análise temporal e espacial. Revista de Enfermagem Eletrônica, Goiânia, v. 22, n. 1, p. 1-9, dez./2022. Disponível em: https://revistas.ufg.br/fen/article/view/62349. Acesso em: 12 de mar. 2024.
COSTA, Ruth Silva Lima da; ARAÚJO, Adriana de Souza; ITANI, Ana Paula Brito. Consequências da sífilis congênita para o recém-nascido: um estudo de revisão. Revista Ciência In Cena, Salvador, v. 2, n. 9, p. 1-12, jul./2022. Disponível em: https://estacio.periodicoscientificos.com.br/index.php/cienciaincenabahia/article/view/1313. Acesso em: 22 de mar. 2024.
DOMINGUES, Gabriela Palermo Correa et al. Sífilis congênita -uma revisão abrangente sobre a epidemiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v. 7, n. 2, p. 01-13, mar./2024. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/68063/48377. Acesso em: 23 de mar. 2024.
FIGUEIREDO, Daniela Cristina Moreira Marculino de et al. Relação entre oferta de diagnóstico e tratamento da sífilis na atenção básica sobre a incidência de sífilis gestacional e congênita. Cadernos de Saúde Pública, São Paulo, v. 36, n. 6, p. 1-12, dez./2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/8syf4sN3Q5vZSw8mwk6zkDy/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 22 de mar. 2024.
GIL, A. C. Como elaborar Projetos de Pesquisa. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2022.
GOMES, Fernanda Torres et al. Perfil epidemiológico dos casos de sífilis congênita no estado de Minas Gerais no período de 2007 a 2017. Scientia Plena, Aracajú, v. 16, n. 3, p. 1-10, abr./2020. Disponível em: https://scientiaplena.emnuvens.com.br/sp/article/view/5201. Acesso em: 12 de mai. 2024.
GUIMARÃES, Ana Flávia César et al. Manifestações orais da sífilis secundária: relato de caso. Anais do Congresso Internacional de Odontologia de Diamantina, Belo Horizonte, v. 22, n. 4, p. 1-4, ago./2023. Disponível em: https://revista.cromg.org.br/index.php/rcromg/article/view/547/219. Acesso em: 13 de mar. 2024.
MACÊDO, Vilma Costa de et al. Sífilis na gestação: barreiras na assistência pré-natal para o controle da transmissão vertical. Cadernos de Saúde Coletiva, São Paulo, v. 28, n. 4, p. 198-208, dez./2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cadsc/a/VRdb5W4cRvgYCq7gYHcqB4x/#. Acesso em: 14 de mar. 2024.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Sífilis: entre janeiro e junho de 2022, Brasil registrou mais de 122 mil novos casos da doença. Brasília: Ministério da Saúde, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2023/fevereiro/sifilis-entre-janeiro-e-junho-de-2022-brasil-registrou-mais-de-122-mil-novos-casos-da-doenca#:~:text=Em%202021%2C%20foram%20registrados%20no,por%20esse%20tipo%20de%20s%C3%ADfilis. Acesso em: 14 de mar. 2024.
OLIVEIRA, Beatriz Carvalho de et al. Sífilis congênita e sífilis gestacional na região sudeste do Brasil: um estudo ecológico. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v. 4, n. 6, p. 27642-27658, dez./ 2021. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/41231/pdf. Acesso em: 20 de mar. 2024.
OLIVEIRA JÚNIOR, S. A. de et al. Epidemiological profile of gestational syphilis and its influence on vertical transmission in the City of Parnamirim-RN. Research, Society and Development, São Paulo, v. 10, n. 10, p. 1-11, ago./2021. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/18838. Acesso em: 29 de mar. 2024.
PEREIRA, Jéssica Silva et al. Atuação de enfermeiros da Estratégia Saúde da Família na prevenção e controle do HIV e sífilis durante o pré-natal. Revista De Saúde Coletiva Da UEFS, Feira de Santana, v. 11, n. 1, p. 44-59, jun./2021. Disponível em: https://ojs3.uefs.br/index.php/saudecoletiva/article/view/5944. Acesso em: 29 de mar. 2024.
PÍCOLE, R. P.; CAZOLA, L. H. de O. Oportunidades perdidas na prevenção da transmissão vertical da sífilis na população indígena do Brasil central. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, Recife, v. 22, n. 4, p. 823-831, dez./2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbsmi/a/tXqtdjYg3xr4KZNkwtQTz5r/?lang=pt#. Acesso em: 14 de mar. 2024.
PIRES, J. S. Sífilis congênita: os desafios do progressivo aumento da taxa de incidência de sífilis congênita no brasil. Repositório de Trabalhos de Conclusão de Curso, Manhuaçu, v. 32, n. 1, p. 1-22, fev./2022. Disponível em: https://www.pensaracademico.unifacig.edu.br/index.php/repositoriotcc/article/view/1818. Acesso em: 13 de mar. 2024.
RAMOS, Roberta de Souza Pereira da Silva et al. Análise espacial da mortalidade fetal por sífilis congênita no Município do Recife-PE-Brasil entre 2007 e 2016. Escola Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 26, p. 1-10, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ean/a/BJSyBJgvfGgkwbHVw7Hgj5w/#. Acesso em: 11 de mai. 2024.
RIBEIRO, Rodrigo Soares et al. Epidemiology of gestational and congenital syphilis: integrative literature review. Research, Society and Development, São Paulo, v. 9, n. 4, p. 1-10, dez./2020. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/2470. Acesso em: 14 de mar. 2024.
ROCHA, Ana Fátima Braga et al. Complicações, manifestações clínicas da sífilis congênita e aspectos relacionados à prevenção: revisão integrativa. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 74, n. 4, p. 1-9, set./2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/VHkQjypb65Nq9jcKTTFpbhc/?lang=pt#. Acesso em: 11 de mar. 2024.
SANTOS, Maria Júlia Silva et al. Avaliação do conhecimento de estudantes universitários no Vale do Paraíba –SP acerca da infecção do HIV e Sífilis. Research, Society and Development, São Paulo, v. 12, n. 10, p. 1-13, out./2023. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/43622/35048. Acesso em: 31 de mar. 2024.
SILVA, Ana Beatriz da Silva e et al. Sifilis congénita: desafios e estratégias de prevenção e controle no âmbito das práticas de saúde pública. Revista Foco, Curitiba, v. 16, n. 10, p. 1-19, 2023. Disponível em: https://openurl.ebsco.com/EPDB%3Agcd%3A8%3A13088504/detailv2?sid=ebsco%3Aplink%3Ascholar&id=ebsco%3Agcd%3A173775748&crl=c. Acesso em: 23 de mar. 2024.
SILVA, Hioara Kely Arcanjo da et al. Fatores de risco associados a persistência da sífilis gestacional: uma revisão integrativa. Research, Society and Development, São Paulo, v. 11, n. 6, p. 1-9, jan./2022. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/29203/25246. Acesso em: 13 de mar. 2024.
SILVEIRA, Silvestre; SILVA, José Queiroz de Deus e; Damiani, Ray Fernando. Análise dos casos de sífilis adquirida nos anos de 2010-2017: um contexto nacional e regional. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 6, n. 5, p. 32496-32515, mai./2020. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/10862/9083. Acesso em: 13 de mar. 2024.
VIEIRA, Cristina Pereira; OLIVEIRA, Eliza da Silva Gomes de; ALVES, Maria Valéria Pareja Credidio Freire. A População Jovem e as Infecções Sexualmente Transmissíveis1: O papel da educação na transformação do comportamento juvenil frente à sífilis. In: VALENTIM, Ricardo et al. Sífilis: resposta a partir de abordagens por múltiplas dimensões. Natal: Universidade Federal do Rio Grande no Norte, 1. ed., 2023.
1Discente do Curso Superior de Enfermagem da Universidade Nilton Lins Campus Manaus e-mail: nome@provedor.com.br
2Docente do Curso Superior de Enfermagem da Universidade Nilton Lins Campus Manaus. Mestre em Ciências da Educação, Especialização em Políticas Públicas e Contextos Educacionais (ULHT). e-mail: nome@provedor.com.br