REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10231032
Alessandro Sérgio Bezerra¹;
Maria das Graças Silva Nascimento silva².
RESUMO
O MST é um movimento que busca erigir uma nova sociedade. Depois de organizar as mulheres sem-terra, o MST concentrou-se na sua missão de estabelecer novas relações de gênero dentro do movimento. Por isso, o evento chave que começou a unir os trabalhadores que antes eram excluídos da luta sindical ficou conhecido como o novo sindicato. Assim, este trabalho teve como objetivo analisar a identidade coletiva e individuais das mulheres militantes assentadas do MST, buscando compreender, a partir de suas trajetórias, como a identidade das mulheres é construída ao longo de sua trajetória de luta pela terra e em assentamento de Reforma Agrária vinculado ao MST. Para isso este trabalho se trata de uma pesquisa bibliográfica em artigos, monografias, trabalhos acadêmicos e publicações extraídas das bases de dados Google Acadêmico e Scielo para melhor compreensão, análise e montagem do referido trabalho. Por fim, conclui-se que devido complexas relações que existiam dentro dos assentamentos do movimento dos trabalhadores rurais sem-terra, os estudos sobre meninas ativistas não líderes no movimento são poucos e distantes entre si, e os movimentos de grande escala em torno de questões de gênero estão sub-representados nas pesquisas nesta área, o que significa que não está a ser feito o suficiente.
Palavras-Chave: MST. Mulheres Sem-terra. Trabalhadoras.
ABSTRACT
The MST is a movement that seeks to build a new society. After organizing landless women, the MST focused on its mission of establishing new gender relations within the movement. Therefore, the key event that began to unite workers who were previously excluded from the union struggle became known as the new union. Thus, this work aimed to analyze the collective and individual identity of women activists settled in the MST, seeking to understand, based on their trajectories, how women’s identity is constructed throughout their struggle for land and in Reform settlements. Agrarian linked to the MST. For this purpose, this work is a bibliographical research in articles, monographs, academic works and publications extracted from the Google Scholar and Scielo databases for better understanding, analysis and assembly of the aforementioned work. Finally, it is concluded that due to the complex relationships that existed within the settlements of the landless rural workers movement, studies on girl activists not leaders in the movement are few and far between, and large-scale movements around issues of gender are underrepresented in research in this area, which means not enough is being done.
Keywords: MST. Women Have-Earth. Workers.
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho nasceu da admiração e curiosidade acadêmica pelas meninas que construíram o Deslocamento dos trabalhadores rurais Sem Terra (MST). O MST é essencial para compreender e analisar os movimentos sociais rurais brasileiros e suas estruturas de ação, organização e formação política. A identidade é um fenômeno social em construção que possui caráter contextual, histórico, específico e dinâmico relacionado às relações de poder. Segundo Castell, a identidade é uma fonte de significado criada pelos atores e erigida através do processo de individuação. Em suma, interpreta o conceito de identidade de acordo com as relações de gênero.
As relações e identidades de gênero também são permeadas por distribuições desiguais de poder dependendo do gênero do sujeito. Nesse sentido, a perspectiva de gênero da sociologia constitui um elemento central da pesquisa. As construções de gênero refletem conceitos de gênero internalizados por homens e meninas através da dinâmica das relações sociais. A questão central deste estudo é a dimensão de como a identidade coletiva é edificada e formada. Nele chama a atenção para as trajetórias das mulheres ativistas do movimento. Neste trabalho, se buscará compreender como emergiram as identidades das mulheres ao longo da luta pela terra a partir de suas trajetórias.
Assim, este trabalho teve como objetivo analisar a identidade coletiva e individuais das mulheres militantes assentadas do MST, buscando compreender, a partir de suas trajetórias, como a identidade das mulheres é construída ao longo de sua trajetória de luta pela terra e em assentamento de Reforma Agrária vinculado ao MST. Levando isso em consideração, este trabalho foi erigido com base na metodologia de análise de trajetória de dados coletados por meio de estudos bibliográficos em artigos, monografias, trabalhos acadêmicos e publicações extraídas das bases de dados Google Acadêmico e Scielo para melhor compreensão, análise e montagem do referido trabalho.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O Deslocamento dos trabalhadores rurais sem terra surgiu no período de grande resistência no Brasil. Sua fundação, ocorrida em 1984 no I Encontro Nacional realizado em Cascavel, no Paraná, teve como base a Reforma Agrária Popular. O MST é um movimento que busca erigir uma nova sociedade. Depois de organizar as mulheres sem-terra, o MST concentrou-se na sua missão de estabelecer novas relações de género dentro do movimento. Por isso, o evento chave que começou a unir os trabalhadores que antes eram excluídos da luta sindical ficou conhecido como o novo sindicato. A emergência destes movimentos populares fomentou espaços institucionais para as mulheres discutirem e questionar a desigualdade de género e exigir maiores heróis políticos. (ABU-LUGHOD; REGO; DURAZZO, 2018)
Após a Primeira Assembleia Nacional do MST, alguns ativistas começaram a questionar se a participação das mulheres precedeu o movimento. As mulheres participaram da luta sindical em organizações de mulheres rurais e na comunidade da igreja principal. Consequentemente, desde o início do estabelecimento da cota de 30 % para a participação feminina e, até hoje, a presença e participação feminina foram alcançadas e garantidas pela auto-organização das Mulheres Sem Terra. (SANTOS; PICOLOTTO, 2019)
A criação do Setor Nacional de Gênero do MST (2000) foi sancionada com base no princípio de que sem feminismo não há socialismo e que sem meninas a luta está a meio caminho. Este preconceito girava em torno da ideia de que ser feminista significava ser contra os homens, ou que para ser feminista era necessário estar organizada em movimentos de mulheres específicas e autónomas. Assim, aceitar o feminismo implica compreender que a luta feminista não está separada da luta de classes, mas sim que são lutas que se complementam. Em 2000, a participação feminina voltou a ser debatida e foi estabelecida a paridade de gênero de 50 % em todos os órgãos do MST. O setor de Gênero do Movimento ofereceu formação a ativistas sobre feminismo e marxismo. (SANTOS; BETTO, 2021)
O setor de gênero contribuiu para a inclusão e fortalecimento da perspectiva feminista no MST. A formação de mulheres em cursos sobre “feminismo e marxismo”, que o setor promove desde os anos 2000. A força do movimento em curso trouxe novos desafios aos debates sobre igualdade de gênero e patriarcado a partir da auto-organização dos temas LGBT Sem Terra. Em 1999, o MST aderiu oficialmente à autoestrada Campesina e o trabalho do movimento traspassou a ser mais focado em questões relacionadas à soberania alimentar, agroecologia e antiagronegócio, para erigir relacionamento entre agricultores e mulheres, graças a um grupo de pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transexuais. (TRINDADE, 2023, p. 39)
Assim sendo, o debate sobre gênero no MST levou à fundação do Coletivo de Homens do Setor de Gênero. O coletivo foi fundado para repensar as práticas internas do movimento no que diz respeito às relações entre homens e mulheres. Em um dos últimos folhetos do setor de gênero foi encontrado um texto do Coletivo de Homens que fala sobre a importância dos homens também brigam contra o patriarcado. (OLIVEIRA, 2023)
Entretanto, a organização de mulheres Sem Terra implementou programas internos como a participação em áreas de liderança através de uma cota de 50 % de igualdade de género6. As cotas de gênero criadas para permitir que as “mulheres sem-terra” se encontrarem nesses espaços provam que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra não está imune ao velho machismo. Isso é uma luta contra o sistema (MST, 2020).
2.1 A IDENTIDADE CAMPONESA
As mídias digitais, nos últimos anos, tornaram-se muito importantes para a participação política, uma vez que o uso da internet se tornou móvel. Os espaços atuais de protestos e reivindicações são espaços híbridos, onde as ruas e a internet se encontram de diferentes maneiras (CASTELLS, 2013). A intersecção entre a estrada e a internet levou ao debate sobre o papel da internet como ferramenta para a participação democrática. Alguns movimentos sociais, como o Deslocamento dos assalariados agrícolas livres, enquadram-se num modelo da era da internet. Neste modelo, os movimentos sociais estão conectados de diferentes maneiras e a Internet através da sua plataforma de comunicação organizacional, permite a transferência da cultura da liberdade para a prática da autonomia.
Para MST (2020) na criação de uma identidade coletiva. Eles podem ocorrer de três maneiras. A primeira é chamada de legitimação da identidade e é caraterizada pela introdução da identidade pelas instituições dominantes da sociedade. A segunda é a identidade de resistência criada por atores que se encontram numa posição de desvalorização e/ou estigmatização dentro da lógica da dominação. E a terceira é a identidade do projeto É estabelecida por atores sociais que criam novas identidades através de qualquer meio cultural. Os paisanos não podem ser realmente compreendidos ou mesmo descritos convenientemente sem a sua estrutura social mais geral. O agricultor é uma mistificação onde não existe em um sentido específico e imediato. Em qualquer continente, estado ou região, os conteúdos assim designados variam tão ricamente como o próprio mundo. (OLIVEIRA, 2023)
É necessário compreender o conceito de agricultores e dos próprios agricultores através da investigação. Consequentemente, é importante ressaltar que abordar os movimentos sociais com ferramentas digitais é um importante objeto de compreensão. Assim, o site do MST (www.mst.org.br) é onde o MST apresenta seus argumentos ao público e as notas são publicadas após a ocorrência ou ocorrência do fato. As informações vêm de ampla rede de colaboradores, promovendo uniformidade de conversação e aumentando a transparência. O MST vem dominando a internet desde que se tornou comercialmente disponível no país em meados de 1997, o endereço da página online do MST apareceu nas edições do jornal Sem Terra. (ABU-LUGHOD; REGO; DURAZZO, 2018, p. 19)
O site oficial do MST apresenta o conhecimento e a importância do deslocamento contra os meios de comunicação tradicionais e que podem competir com interesses hegemônicos. O Deslocamento entende que a educação também é central nesse aspecto, pois desenvolve o que Maicol Arroyo, no prefácio do livro Pedagogia do MST, chamará de uma pedagogia capaz de formar novos sujeitos coletivos. A lógica de consumo de informação no ciberespaço muda porque os usuários da rede podem buscar a informação desejada em diversos canais e idiomas. Consequentemente, a forma como a informação é disponibilizada é no ciberespaço até mesmo em meios de comunicação livres e contra hegemônicos como o site do MST. (TRINDADE, 2023)
As mulheres sem-terra se consideram agricultoras e o movimento dos trabalhadores rurais sem-terra (MST) utilizou essas percepções para criar suas próprias ferramentas e narrativas. Para entender como o MST pretende ser camponês, foi necessário analisar e compilar os panfletos e publicações no site oficial do MST. No entanto, a primeira vez que o conceito aparece no site é em 23 de julho de 2014. A coleta de dados inicia-se a partir deste período mencionado até a última publicação sobre o tema em novembro e o uso do vocábulo camponês está sempre relacionado ao que o MST utiliza como identidade rural, em panfleto criado em conjunto com a estrada Campesina. (OLIVEIRA, 2023)
Entretanto, a identidade de agricultora significa viver de acordo com o modo de vida rural. As famílias camponesas utilizam métodos não capitalistas para realizar as suas atividades. O MST, apesar de reconhecer a especificidade do campesinato, nega o estatuto de classe do campesinato. Um dos objetivos do sistema cooperativo constante (MST) é criar uma consciência nacional que leve em conta os interesses da classe trabalhadora. A forma como o movimento entende a identidade camponesa está relacionada com o que o movimento entende ser a cultura camponesa. Consequentemente, o modo de vida camponês é uma forma de sobrevivência no sistema capitalista. As terras dos agricultores não servem apenas para extrair e ganhar dinheiro. Mas o país também foi o lar da sua vida. Os grupos familiares reproduzem-se através do seu próprio consumo. (ABU-LUGHOD; REGO; DURAZZO, 2018)
A cultura do “estar sem terra” se edifica a partir da luta pela reforma agrária, através do simbolismo presente nas cores, nos tecidos, nos poemas e em tudo que foi edificado durante a história do Deslocamento dos Sem Terra. Nesse sentido, a perspectiva do movimento sobre a construção da identidade e da cultura camponesa permeia a compreensão da cultura e da identidade dos sem-terra. O uso do termo “agricultora” pelo MST em seus sites é de natureza puramente política e cultural e pode ser encontrado em publicações sobre demandas e enfrentamentos com grileiros onde, movimentos sociais como o MST usam a mídia para desafiar a hegemonia. (TRINDADE, 2023)
Num mundo onde a riqueza o poder e a imagem fluem globalmente, a procura de uma identidade imputada ou construída, seja coletiva ou individual, torna-se a principal fonte de significado social. Esta tendência não é nova, uma vez que a identidade, especialmente a identidade religiosa e étnica, tem sido a base do significado desde os primórdios da sociedade. As páginas online do MST são um importante meio de comunicação entre o executivo do MST e os militantes de base, além de garantir a sua unidade interna (OLIVEIRA, 2023). Isto acontece, dada a versatilidade das tecnologias de comunicação, que o novo sistema global de comunicação digital se torna mais inclusivo e abarcando todas as formas e conteúdos de comunicação da sociedade.
2.2 CAMINHOS E IDENTIDADES DA MULHERES SEM TERRA
Busquei compreender como os desafios de ser camponesa sem-terra influíram as trajetórias, identidades e percepções das meninas entrevistadas. Para abordar a complexidade da compreensão das trajetórias de vida, foi necessária uma abordagem metodológica qualitativa (TRINDADE, 2023). Esta pesquisa foi implementada na prática usando técnicos de análise de caminhos. Esta abordagem metodológica fornece uma forma única de compreender processos sociais que podem não ser compreendidos por outros métodos.
2.2.1 OS IMPACTOS POR SER MULHER SEM TERRA E CAMPONESA EM UM ASSENTAMENTO
É preciso compreender também que as relações de gênero se estabelecem no que Saffioti (1994) chama de gramática social. As explicações sobre feminilidade e masculinidade estão relacionadas às realidades industriais, materiais e reprodutivas. Também reflete os conceitos de gênero que homens e meninas criam dentro de si.
Compreender o que significa ser agricultora e mulher sem-terra. É importante compreender que é uma posição de desigualdade que decorre do capitalismo, do patriarcado e do racismo. É óbvio que a expansão do trabalho feminino no mundo produtivo nas últimas décadas faz parte do processo de emancipação parcial das meninas. O capital incorpora formas desiguais e diferenciadas de trabalho feminino na divisão social e sexual do trabalho. (ANTUNES, 2009, p. 31)
O modo de vida camponês é repleto de simpatia e profunda territorialidade. O trabalho do homem inclui respeitar a terra (e a natureza em geral), esperando dela o que ela pode e quer dar. O sitiante parece estar em diálogo com a terra avaliando “o que ela quer produzir” e as tradições camponesas são utilizadas consciente e inconscientemente na vida dos paisanos. A tradição é uma forma social típica dos paisanos que quando confrontado com a sociedade moderna considerou-se em conflito com a lógica existente. Assim, o modo de vida tradicional se materializa através da transmissão e reprodução de práticas e valores. (OLIVEIRA, 2023)
Para os agricultores, a alimentação é considerada primitiva. Como resultado do seu trabalho e da sua terra, a comida está imbuída de um significado que é caraterístico da ética e da moral dos paisanos. A própria abundância e a sua compreensão têm significados diferentes para os paisanos, só existe quando o alimento ou a nutrição podem ser partilhados entre eles. Solo e alimento estão tão interligados que a menção de um se refere necessariamente ao outro. Bem como a forma de sociabilidade e harmonia que decorre desta comunidade. Os agricultores expressam a sua identidade através da produção de alimentos. Ele oferece os produtos e as riquezas de sua economia em uma linguagem simbólica para criar uma conexão com aquilo em que acredita. (ABU-LUGHOD; REGO; DURAZZO, 2018)
Segundo o sociólogo Manuel Castells (2013), o processo de construção de uma identidade projetual é capaz de produzir sujeitos. Assim, as trajetórias das mulheres são influenciadas pelas suas experiências, seja antes do MST, durante os acampamentos ou durante o assentamento. As identidades das mulheres estão intimamente ligadas às suas trajetórias como sem-terra e agricultoras onde a experiência está incluída na criação de sua identidade. Para elas, ser agricultora está intimamente ligado a ser mulher sem-terra.
A identidade do Sem Terra é vista como uma identidade de resistência. A singularidade do projeto cria voluntários que desempenham um papel na sociedade como um todo onde as pessoas descobrir um significado holístico a partir de suas experiências (TRINDADE, 2023). A construção desta identidade consiste em diversas perspectivas de vida que se desenvolvem no sentido da transformação social através de identidades oprimidas. Segundo Castells (2003), as pessoas tendem a formar organizações sociais que, ao longo do tempo, desenvolvem um sentimento de pertencimento, comunidade e identidade cultural. Neste sentido, a identidade do agricultor é a identidade do projeto.
Tanto a categoria de gênero quanto a categoria de classe social são fundamentais para compreender o ser mulher sem-terra e o ser camponês, conforme salientado no relatório anterior. Estudos mostram que mesmo que a luta pela terra implique um processo de emancipação das meninas esta emancipação não é contínua nem uniforme. Segundo santos e Betto Estas meninas foram além da definição da sua identidade de classe. Também se refere ao conceito de camponês sendo renovado. No acampamento, as mulheres podem pensar e resolver problemas. Além da vida diária e do trabalho doméstico simulando sua aparição na história. Isto é possível graças à organização interna do campo às suas estratégias de combate e à sua diferenciação no tratamento da divisão do trabalho e das questões de género. As tarefas em espaços privados historicamente reservados às meninas também eram realizadas por homens. (OLIVEIRA, 2023)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa tem como objetivo analisar a identidade coletiva e individual militantes assentadas no MST, procurando compreender, a partir de sua trajetória, como se edifica a identidade feminina durante a luta pela terra e nos assentamentos de reforma agrária. Atentando para as relações que as questões de gênero e a identidade camponesa têm nestes caminhos através da observação das narrativas e da composição social do assentamento, procuramos garantir que o processo de género, os movimentos camponeses e as questões sociais rurais, bem como a investigação por meio de anotações realizadas durante o deslocamento, promovendo a visibilidade e maior envolvimento das meninas sem-terra nos debates e políticas públicas locais e nacionais do deslocamento.
É importante destacar que para o desenvolvimento desta pesquisa foi necessário compreender o diálogo existente entre gênero, campesinato e movimento, para compreender como estes funcionam dentro das trajetórias e identidades das meninas sem-terra. A partir dos dados coletados pode-se destacar que as carreiras e identidades dessas mulheres, estão ancoradas em lógicas camponesas e de gênero. A “identidade” dessas mulheres mostram que os papéis de gênero e a violência são obstáculos à reprodução da identidade feminina sem-terra que começou nos acampamentos. O campo tem uma lógica de gênero onde as meninas têm de batalhar contra os seus semelhantes e próprio marido, por espaço e produção. Não é um companheiro de viagem e, como resultado, as meninas desempenham um papel ativo no MST e nas atividades coletivas criadas no acampamento. Isso significa que haverá mudanças no assentamento.
Os antigos coletivos de mulheres dos acampamentos, nos quais as mulheres também participavam ativamente, hoje, no assentamento, funcionam com dificuldade por falta de participantes, como é o caso do Coletivo Mãe Terra. Dessa forma, é condição essencial para que as mulheres sem-terra assumem uma identidade camponesa e participe dos espaços de socialização junto com outras meninas.
Como se vê, o quão indispensável são os espaços de lazer com outros assentados para seu cotidiano e viagens. Além disso, os espaços de socialização criados para as mulheres do assentamento também são essenciais para o combate à violência sexual desempenhando um papel importante, porque em outras dimensões, suas órbitas estão relacionadas ao estilo de vida agrícola dessas mulheres.
Não é apenas um lugar para a família, o casamento, a vida privada, o trabalho, mas também um lugar de luta política e de comunicação. Portanto, para examinar as trajetórias e identidades das mulheres sem-terra é necessário analisá-las sob a perspectiva do campesinato e das questões de gênero envolvidas no ser mulher no meio rural, bem como a necessidade de lazer com outras mulheres.
Ser agricultora envolve partilhar sinais de identidade com outros membros da comunidade. Da mesma forma, deve-se destacar que a identidade foi abordada entendendo que ela é fonte de experiência dos sujeitos e de seus significados. Assim, as identidades das mulheres estão intimamente interligadas nas suas formas de serem sem-terra e camponesas.
A identidade original era a identidade da resistência e a última identidade é a identidade do projeto. Em suma, o trabalho aqui concluído destaca a lógica dos papéis de gênero como um fator crítico nas relações camponesas-poder, como forma de perpetuar as desigualdades de gênero e a violência, especialmente para as mulheres.
Por outro lado, em pesquisas futuras poderão examinar as formas de resistência dos sujeitos a essa desigualdade e violência, a começar pela escuta das meninas que se estabeleceram durante a Reforma Agrária. Portanto, devido complexas relações que existiam dentro dos assentamentos do movimento dos trabalhadores rurais sem-terra, os estudos sobre meninas ativistas não líderes no movimento são poucos e distantes entre si, e os movimentos de grande escala em torno de questões de gênero estão sub-representados nas pesquisas nesta área, o que significa que não está a ser feito o suficiente. Termina e não terminará aqui.
REFERÊNCIAS
ABU-LUGHOD, L.; REGO, F. C. V. S. do; DURAZZO, L. A Escrita contra a cultura. Equatorial – Revista do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, v. 5, n. 8, p. 193-226, 23 nov. 2018.
ANTUNES, R. O novo sindicalismo no Brasil. São Paulo: Pontes, 1995. ___. Os Sentidos do Trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 2. ed. São Paulo, SP: Boitempo. 2009.
CASTELLS, M. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Tradução: Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
MST. MST debate cultura camponesa na região sul. 2020. Disponível em: https://mst.org.br/2020/08/25/mst-debate-cultura-camponesa-na-regiao-sul/. Acesso em 26 de nov. 2023.
NOGUEIRA, A. T. B.; SUZUKI, J. C. O ser camponês assentado na interface rural e urbano. 2013.
OLIVEIRA, D. C. F. de. A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E O GOVERNO NEOLIBERAL DE BOLSONARO: uma análise das políticas públicas direcionadas às mulheres. UFJF. Juiz de Fora – MG. 2023
SANTOS, I. A. F.; PICOLOTTO, E. L. As mulheres do MST na luta pela terra e por fazer-se sujeitos políticos: rastros da experiência organizativa nas páginas do Jornal Sem Terra. Norus, Pelotas, v. 7, n. 11, p. 232-268. 2019.
SANTOS, I. A. F.; BETTO, J. Movimentos sociais rurais e feminismos: percursos e diálogos na construção do feminismo camponês e popular. Caderno CRH, 34, e021007. 2021.
TRINDADE, E. P. Trajetórias e identidades de mulheres no MST no assentamento Rondinha – Joia/RS. UFSM. Santa Maria – RS. 2023
¹Mestrando em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Rondônia – UNIR. Pesquisador do Grupo de Estudos em Geografia, Mulher e Relações Sociais de Gênero – GEPGÊNERO. email: alessandro.uab@gmail.com.
²Doutora em Ciências Sócio Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, pelo Núcleo de Altos Estudos da Amazônia – NAEA da Universidade Federal do Pará (2004), Pós-Doutorado em Geografia Humana, na Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG -PR. Mestra em Geografia (Geografia Humana) pela Universidade de São Paulo (1996), Graduada em Geografia pelas Universidade Federal de Rondônia (1988). Professora Associada do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Rondônia. Coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas em Geografia, Mulher e Relações Sociais de Gênero – GEPGENERO.