REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10049287
Mirelly Hayglar Lima Fernandes¹
Thiago do Nascimento Ribeir²
RESUMO
O presente estuda trata dos impactos da ansiedade nos estudantes universitários. Sabe-se que os transtornos de ansiedade tende a ter efeitos significativos no desempenho dos acadêmicos, gerando problemas que podem influenciar direta e indiretamente no desenvolvimento curricular dos estudantes. Ademais, os universitários convivem com diversos conflitos, a demanda excessiva é um dos principais causadores, torna-se difícil de conciliar tanto a vida social e profissional quanto acadêmica, o que reflete no surgimento de estresse e exaustão, ocasionado assim em ansiedade. Desse modo, a presente pesquisa tem como objetivo geral compreender os impactos dos transtornos de ansiedade nos estudantes universitários. Como problemática, surge o seguinte questionamento: De que modo a ansiedade tende a influenciar no desempenho acadêmico dos estudantes? Para responder tal pergunta, o estudo passa a ser realizado utilizando a metodologia de revisão bibliográfica, em obras acadêmicas, artigos científicos e correlatos que abordam a temática em questão. Como conclusão, nota-se que a ansiedade tende a contribuir para a diminuição do desempenho acadêmico, podendo levar inclusive ao trancamento e cancelamento do curso, além de trazer consequências no desenvolvimento da experiência profissional do estudante, a posteriori, tendo em vista a falta de capacidade e qualificação adequada para o mercado de trabalho. Assim, é necessário que as instituições de ensino superior possam aderir a estratégias e metodologias que auxiliam o acadêmico, provendo acompanhamento psicológico quando necessário.
Palavras-Chave: Estudantes. Ansiedade. Universidade. Impactos.
1. INTRODUÇÃO
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país mais ansioso do mundo. Estima-se que, cerca de 18,6% milhões de pessoas convivem com ansiedade, chegando a ser 10% da população. De acordo com o estudo realizado pela associação nacional dos dirigentes das instituições federais de ensino superior, (Andifes) através do perfil socioeconômico dos universitários, no ano de 2018, por volta de cada 10 alunos 8 apresentam ansiedade.
Desse modo, observa-se que a entrada no ensino superior e o fim do curso são marcados na vida acadêmica por mudanças, retrocessos, medos, estresse e exigências. Diversas são as experiências de um acadêmico desde o processo de entrada como saída do curso, vivendo assim, cercados por mudanças, sejam elas estar longe de sua cidade de origem, de seu núcleo família e amigos, os acadêmicos se vem com a necessidade de construir laços sociais, vínculos e adaptar-se a um ambiente que impõe requisitos de ensino não experimentados na fase de ensino anterior, o que pode deixá-lo vulnerável e até mesmo fragilizado (BOLSONI-SILVA e GUERRA, 2014).
Cerca de 15% a 25% dos estudantes apresentam alguma queixa mental durante sua formação acadêmica. O aumento da prevalência da ansiedade em estudantes se dar por alguns fatores, como por exemplo, cobranças, exigências, falta de apoio, dentre outros, o que pode gerar sofrimento. O ambiente acadêmico, está repleto de demandas excessivas trazendo assim conflitos em gerenciar o tempo de trabalho das atividades externas e internas do ensino superior, essas questões só aumentam nos semestres finais de curso (OSSE, 2011).
Sabendo disto, a finalidade desse trabalho, é justificar a relevância da saúde mental nós universitários, focando-se, mais especificamente na compreensão dos fatores desencadeantes, como a demanda excessiva, cobranças, desempenho pessoal e profissional. Tais fatores tendem a favorecer o surgimento de transtornos mentais, entre eles a ansiedade, e até mesmo a depressão, entre outros.
Nesse vértice, o presente estudo tem como objetivo geral compreender os impactos dos transtornos de ansiedade nos estudantes universitários. Por sua vez, enquanto objetivos específicos, procura-se identificar os conceitos e características da ansiedade; analisar a prevalência da ansiedade no meio universitário e suas principais causas; discutir sobre os impactos da ansiedade no desempenho dos estudantes universitário.
Para tanto, o presente estudo trata-se de um artigo de revisão, no qual utiliza a pesquisa bibliográfica como forma de construção de seu desenvolvimento. Procura-se, por meio da análise de obras acadêmicas, artigos científicos, entre outros, desenvolver a sinergia da presente temática, promovendo novas considerações à luz do que já se tem produzido e sido pesquisado em torno da ansiedade no meio universitário.
2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A ANSIEDADE
A ansiedade é um estado emocional complexo, é motivado por uma sequência de estímulos, ou por único evento, no qual pode provocar um estado de ansiedade. Desta forma, os reflexos emocionais condicionados podem ser ativados com frequência. Estímulos aversivos intensos quase sempre precedem aos estímulos característicos, e esses estímulos podem produzir ansiedade. Já o medo é uma emoção ligada ao presente sendo, um objeto ou, a uma situação muito definida, que representa perigo real (SKINNER, 1953).
Para melhor compreender o conceito, Skinner (1989) relata que a diferença é que, no medo, os estímulos aversivos dependem da resposta, ao pressionar a barra. Ele afirma:
“Nosso experimento teria dado um resultado diferente se o choque tivesse sido contingente à resposta – em outras palavras, se a pressão à barra tivesse sido punida. O rato teria igualmente parado de pressionar a barra, mas o estado corporal teria sido diferente. Provavelmente, ele seria chamado de medo. A ansiedade talvez seja uma espécie de medo (nós diríamos que o rato estava ‘com medo de que ocorresse outro choque’), mas isso é diferente de estar com medo de pressionar a barra ‘porque outro choque pode acontecer’. A diferença entre as contingências é inconfundível” (p. 8).
A resposta da ansiedade é complexa, ela é gerada pelo condicionamento através de diversos estímulos, nas quais abrange componentes físicos, psicológicos e comportamentais. O estímulo inicial não aversivo é emparelhado com um estímulo aversivo que produz uma resposta condicionada (MILLENSON, 1977).
O conceito de ansiedade pode ser definido, como uma inquietação, tensão, de algo que já é conhecido ou não, é viável que a ansiedade seja normal e é um indicador de doença subjacente, a mesma é possível ocorrer a eventos nos quais há um risco antecipado. É uma resposta normativa com o objetivo na autoproteção, tornando-se patológica quando é intensa, já a ansiedade normal é de curta duração (ALLEN; LEONARD; SWEDO, 1995).
Sendo a ansiedade essencial para o ser humano, ela exprime uma resposta natural do nosso corpo, onde apresenta um possível perigo futuro. A mesma se torna patológica quando é exagerada trazendo consigo, um grande desconforto como também de grande intensidade e duração, sendo uma resposta inadequada ao estímulo. “caracteriza mais comumente como uma sensação difusa, desagradável e vaga da apreensão” (GALVÃO, 2013).
Estando correlacionadas com as morbidades, apresenta um grupo de transtorno são eles: transtorno de pânico, agorafobia, fobia específica, transtorno de ansiedade social ou fobia, transtorno de ansiedade generalizada. Os transtornos relacionam-se, entre fatores genéticos e experiências, descritos assim (KAPLAN E SADOCK, 2017).
Os principais tipos de transtornos de ansiedade e suas respectivas descrições são dadas abaixo desta característica
2.1. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA (TAG)
A ansiedade generalizada destacar Homes (1997), é caracterizada por sintomas de ansiedade excessiva, onde prolonga-se por dias, com um período de tempo de pelo menos seis meses. A pessoa se encontra na maior parte das vezes angustiada, nervosa, preocupada ou irritada. Apresenta os sintomas como insônia, dificuldade para relaxar, dores persistentes e irritabilidade, dificuldade de concentração, o que são comuns, também nos sintomas físicos são dores de cabeça, dores musculares, dor ou queimação no estômago, taquicardia, tontura, formigamento e suores frios.
2.2. TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS TRAUMÁTICO (TEPT)
No transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), ocorre após um evento traumatizante, catastrófico ou ameaçador, é caracterizado por uma série de sintomas específicos. Referem-se à evitação de lembranças de eventos traumáticos, que aconteceram direta ou indiretamente, evitando assim as lembranças , como também pensamentos ou sentimentos, geralmente esse distúrbio também ocorre por decorrência de ter sofrido atos de violência ou eventos traumáticos (APA, 2014).
2.3. TRANSTORNO DE PÂNICO (TP)
Os ataques de pânico são crises de ansiedade intensas nos quais ocorrem disparos importantes do sistema nervoso autônomo, eles também ocorrem por repetidos ataques. O transtorno apresenta uma sequência de condições mórbidas, os seguintes sintomas são eles: agitação ou taquicardia, suores frios, tremores, desconforto respiratório ou sensação de asfixia, náuseas, formigamento nas extremidades e/ou lábios, essas pessoas podem ter a sensação de estar tendo um colapso físico (DALGALARRONDO, 2018).
Ocorrendo de maneira inesperada acarretado de desespero e medo intenso, os sistemas apontam a ocorrência de crises agudas denominadas de ataques de pânico. Os ataques apresentam medos secundários de morrer, perder o controle ou enlouquecer. Início do súbito, de curta duração é cerca de 5 minutos é 10 minutos o de longa duração. (FYER et al.,1999; RANGÉ E BERNIK, 2001).
2.4. FOBIA ESPECÍFICA (FE)
A fobia específica é um dos transtornos de ansiedade caracterizados pelo medo excessivo, às vezes é vivenciado apenas por um único ataque de pânico, mas não necessariamente ele tem início, somente por conta de um evento traumático. De acordo com o DSM-V e está sempre associada a uma situação ou objeto específico, a prevalência é maior em adultos, do que crianças (FREY et al.,1999; RANGÉ E BERNIK, 2001).
Fobias específicas são medos irracionais, excessivos, intensos e persistentes manifestados pela presença ou antecipação de objetos, situações ou atividades que geram medo específicos, acompanhadas, evitação, antecipação ansiosa e angústia intensa (Costa & Lanna, 2001).
2.5. FOBIA SOCIAL (FS)
A fobia social não se difere muito da fobia específica, o quadro clínico é quase idêntico, o que muda é o diagnóstico que geralmente é excluído porque a uma esquiva de uma determinada situação, ou seja, o medo da ação, como o medo de falar em público, você evitar é provável que tenham uma fuga. Os sintomas de fobia social surgem quando uma pessoa vivencia situações que envolvem realizar algum tipo de performance na frente de outras pessoas, que irão ocasionar desconforto ou a pessoa terá que escrever ou falar enquanto os outros estão assistindo (KAPLAN E SADOCK, 2017).
Situações que despertam medo exagerado de humilhação ou constrangimento em várias situações sociais, como falar, comer, escrever ou praticar esportes em público, são o máximo evitadas por eles. Existem diversas situações, que uma pessoa que sofre com fobia social não inicia ou consegue manter as relações sociais ou relacionamento amoroso (GALVÃO; ABUCHAIM, 2014).
3. A ANSIEDADE NO MEIO UNIVERSITÁRIO
A universidade pode provocar muitas incertezas, e problemas. Por ser um ambiente novo, para quem está iniciando, como também concluindo o curso. Diversos são os universitários que apresentam ansiedade no decorrer do curso, e esses números só aumentam quando a faculdade já está próxima do seu término (IGUI; BARIANI; MILANESI, 2008).
O universitário se encontra em um mundo de necessidades e responsabilidade, que muitas vezes marca o início da vida adulta. Para muitos, isso significa estar longe de sua cidade de origem, amigos próximos, ou até mesmo de seu núcleo familiar, fazendo com que o curso de graduação se torne mais difícil de se adaptar. Quando o universitário se vê em um ambiente que impõe requisitos de ensino não experimentados na fase de aprendizagem e educação anterior, o ensino médio, inúmeros são os estudantes apreensivos com a mudança. A necessidade de construir laços sociais, dar conta da demanda que lhe é proposta, acarreta muitos conflitos pessoais e acadêmicos (BOLSONI-SILVA; GUERRA, 2014).
A demanda emocional dos estudantes universitários, é maior que a da população em geral, muitos motivos contribuem para esse fator, pois o ambiente universitário, está repleto de cobranças e exigências, o que pode trazer um peso para os universitários, segundo Osse (2011). As mudanças no cotidiano, rotina que inserir estudo, trabalho, vida social, demanda muito de uma pessoa, o que os deixa mais vulnerável, esse tipo de alteração impacta na vida acadêmica, e na vida pessoal, gerando assim mais, estudantes com ansiedade. Na etapa de conclusão de curso isso não se difere, na verdade torna-se mais complicado, pois a demanda dobra, estágios, trabalhos, artigos, trabalho de conclusão de curso, é um leque de fatores para o universitário ter que lê dar (LIMA, 2019).
O universitário se encontra em um mundo de necessidades e responsabilidade, que muitas vezes marca o início da vida adulta. Para muitos, isso significa estar longe de sua cidade de origem, amigos próximos, ou até mesmo de seu núcleo familiar, fazendo com que o curso de graduação se torne mais difícil de se adaptar. Quando o universitário se vê em um ambiente que impõe requisitos de ensino não experimentados na fase de aprendizagem e educação anterior, o ensino médio, inúmeros são os estudantes apreensivos com a mudança. A necessidade de construir laços sociais, dar conta da demanda que lhe é proposta, acarreta muitos conflitos pessoais e acadêmicos (BOLSONI-SILVA E GUERRA, 2014).
A demanda emocional dos estudantes universitários, é maior que a da população em geral, muitos motivos contribuem para esse fator, pois o ambiente universitário, está repleto de cobranças e exigências, o que pode trazer um peso para os universitários, segundo Osse (2011). As mudanças no cotidiano, rotina que inserir estudo, trabalho, vida social, demanda muito de uma pessoa, o que os deixa mais vulnerável, esse tipo de alteração impacta na vida acadêmica, e na vida pessoal, gerando assim mais, estudantes com ansiedade. Na etapa de conclusão de curso isso não se difere, na verdade torna-se mais complicado, pois a demanda dobra, estágios, trabalhos, artigos, trabalho de conclusão de curso, é um leque de fatores para o universitário ter que lê dar (LIMA, 2019).
4. IMPACTOS DA ANSIEDADE NOS ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR
Conforme a American Psychiatric Association, a ansiedade pode ser definida como uma manifestação ao estresse, capaz de estimular no indivíduo um sinal de alerta quando este se encontra em situação de perigo. Ademais, ainda conforme os estudos da mesma associação, a ansiedade pode tornar-se uma patologia gravíssima em muitas pessoas, uma vez que, a longo prazo, acarreta fadiga, tensão, prejudica as relações sociais de um indivíduo e até mesmo seu desempenho profissional (FROTA, 2022).
Outrossim, considerando os mais diversos estudos a respeito do transtorno de ansiedade, sabe-se também que suas manifestações podem variar de acordo com o tipo de ansiedade que acomete o indivíduo, que pode apresentar quadros de ataques de pânico, transtorno de ansiedade generalizada e até mesmo transtorno de ansiedade social.
Segundo estudos acerca do tema, sabe-se que o Brasil é um dos países com o maior índice de prevalência de transtorno de ansiedade, haja vista que a patologia tem atingido cerca de 18,6 milhões de pessoas, o que equivale a 9,3% da população brasileira. Além disso, no contexto das universidades, é sabido que aproximadamente 37,75% dos estudantes desenvolveram transtorno de ansiedade no decorrer da vida acadêmica (OPAS, 2023).
Isto posto, de um modo geral, é incontestável que, em diversos momentos da vida, somos expostos a diversos fatores estressores que podem acarretar o desenvolvimento de algum transtorno de ansiedade, sendo um deste fatores o período de graduação.
Ora, adentrar à fase universitária traz inúmeras mudanças na vida do indivíduo, inclusive, uma elevada carga de estresse, devido ao aumento de responsabilidade, principalmente com relação às exigências das atividades acadêmicas, preocupação com o futuro, mercado de trabalho, competitividade, etc. Além do mais, este é um período em que as pessoas passam a ter uma maior autonomia nas suas decisões, deixando até mesmo seus lares para mudarem-se para uma localização mais próxima da universidade (LIMA, 2019).
Isto posto, ante às mudanças sofridas nesta fase, o indivíduo acaba, em muitos casos, sucumbindo ao transtorno de ansiedade, que o insere num ambiente mental completamente inibidor, que interfere na capacidade do estudante de até mesmo concentrar-se nas atividades acadêmicas, bem como de absorver e processar informações de forma eficaz durante as aulas e estudos.
É de conhecimento geral que a estrutura curricular exige, na maioria dos casos, uma alta demanda de atividades acadêmica, além de muita dedicação por parte do estudante, principalmente quando se trata de estudantes que cursam uma graduação em período integral. Neste cenário, o estudante acaba sendo inserido numa realidade de alta pressão de carga de trabalho, preocupação com a possibilidade de não ter um bom desempenho nas avaliações e atividade solicitadas pelos professores (JARDIM et al, 2020).
De acordo com KOIAMA (2021, p. 13):
[…] a dificuldade em conseguir gerenciar o tempo e em conciliar a demanda de atividades se mostrou um estressor importante durante o período de graduação. Essa sobrecarga também diminui o tempo que o aluno tem disponível para se empenhar aos estudos e também de se dedicar a outras atividades de lazer. Como consequência, os alunos passam a ter um menor bem-estar e também uma menor qualidade de sono, e consequentemente isso afeta a sua saúde mental, favorecendo o desenvolvimento ou exacerbando sintomas de ansiedade.
Ademais, é válido ainda mencionar que, segundo Pesquisa Nacional de Comorbidades, entre os anos de 2001 a 2003, por exemplo, observou-se que estudantes do sexo feminino tendem a apresentar uma maior prevalência em níveis de sintomas de ansiedade quando comparados com o sexo masculino (KOIAMA, 2013).
Uma das justificativas mais apontadas para o alto índice de estudantes do sexo feminino acometidas pelo transtorno de ansiedade, é o fato de que as alunas costumam ter uma maior sensibilidade em circunstâncias de vida estressantes, o que faz com que a pressão acadêmica exacerbe suas preocupações. Não obstante, outros estudos consideram que a questão dos hormônios sexuais femininos e os seus ciclos podem estar envolvidos no desenvolvimento dos transtornos de ansiedade nas mulheres (SOUSA, 2016).
Não obstante, é válido ressaltar também que, alguns estudos envolvendo ansiedade afirmam que o referido transtorno possui forte relação com o consumo do álcool. Ora, conforme Levantamento nacional sobre o uso de álcool, tabaco e outras drogas universitárias, o álcool é a substância com maior prevalência de uso entre os jovens durante o período universitário, havendo um índice de cerca de 86,2% de estudantes universitários que já fizeram algum uso de álcool durante a vida. Ademais, outros estudos ainda apontam que a ansiedade, além de estar associada com a frequência e quantidade do consumo do álcool, ela também está relacionada com a dependência da substância (PEREIRA et al, 2020).
Outrossim, é válido ressaltar que no meio universitário muitas outras drogas são utilizadas pelos estudantes, computando um índice de 48,7% de estudantes que relataram já ter feito uso de substâncias ilícitas na vida, como o crack, por exemplo (PIRES, 2020).
Isto posto, é evidente o quanto as consequências do transtorno de ansiedade podem afetar a qualidade de vida de um indivíduo, uma vez que do transtorno decorrem diversos distúrbios que, em alguns casos, podem ser considerados até mesmo irreversíveis.
5. A ANSIEDADE E O DESEMPENHO ACADEMICO E PROFISSIONAL DO ESTUDANTE
Sabe-se que a avaliação de grande parte das instituições de ensino superior se dá através de três indicadores: a infraestrutura, corpo docente e o corpo discente.
Embora a infraestrutura e o corpo docente sejam considerados requisitos para a avaliação, sabe-se que apenas estes não são suficientes para atestar a verificação da qualidade das instituições de ensino, fazendo-se necessária a avaliação do corpo discente e seu desempenho.
Deve-se ater ao fato de que a maneira de avaliação do corpo discente de uma universidade não necessariamente remete-se apenas às notas ou percentuais das avaliações dos alunos, mas também ao desempenho do aluno num contexto geral.
Ora, o desempenho dos acadêmicos está entre uma das ferramentas mais eficazes para a avaliação das instituições de ensino, uma vez que por meio desta avaliação é possível constatar o quanto questões econômicas, sociais e pessoais podem impactar a vida acadêmica do universitário.
Desse modo, tanto as habilidades sociais como as expectativas acadêmicas são condições que influenciam no desempenho acadêmico dos alunos, todavia, tais aspectos da avaliação podem ser drasticamente comprometidos nos casos de estudantes acometidos pelo transtorno de ansiedade, uma vez que a motivação é um fator imprescindível para que o aluno tenha um bom desempenho em suas atividades (ANDRADE et al, 2016).
Cabe mencionar que o estresse sofrido na graduação é um dos fatores determinantes para o surgimento da ansiedade nos estudantes de ensino superior. Ora, a grande maioria destes estudantes apresentam sintomas psicológicos decorrentes das dificuldades de adaptação, especialmente as mulheres, que apresentam maior nível de aspectos de ansiedade em todos os graus (ROSENDO et al, 2022).
Ainda, é comprovado que estudantes com elevado índice de ansiedade são os que mais obtêm notas baixas na universidade, apresentando mau desempenho em exames e atividades, além de apresentarem situações de estresse que se manifestam nos momentos em que estão ansiosos e acabam refletindo no desempenho acadêmico.
Ora, vê-se que tudo isso se deve ao fato de que as universidades pouco têm investido na criação políticas capazes de fornecer uma melhor qualidade de vida aos estudantes do ensino superior.
Ademais, considerando ainda os efeitos a longo prazo da ansiedade, é sabido que os estudantes universitários acometidos por este transtorno, quando não são devidamente tratados, ao adentrarem ao mercado de trabalho, são também prejudicados pelos efeitos da patologia no desempenho profissional (SILVA, 2021).
Sabe-se que o desempenho profissional está diretamente ligado a conduta que os funcionários expressam no ambiente de trabalho, com o propósito de atender às expectativas das atividades realizadas, visto que as organizações tem como objetivo atrair e segurar apenas os profissionais que possuem um maior índice de desempenho.
Outrossim, os instrumentos de gestão e os mecanismos utilizados para verificarem o desempenho profissional auxiliam também no reconhecimento das capacidades e aptidões dos funcionários no ambiente de trabalho.
Entretanto, apesar deste tipo de avaliação ser de extrema importância para a empresa e para a melhoria da qualidade daquilo que ela oferece, por outro lado, passa a ser um ônus ao trabalhador acometido pelo transtorno de ansiedade, uma vez que a patologia compromete severamente o seu desempenho e, quanto maior o nível de ansiedade, menor é o rendimento profissional (BERNADELLI, 2022).
Isto posto, ante às graves consequências da ansiedade na vida acadêmica do universitário e a perpetuação destas consequências após a entrada do indivíduo ao mercado de trabalho, resta evidente que a saúde mental dos alunos deve ser uma preocupação das universidades, haja vista que o transtorno os leva a um péssimo desempenho nas atividades acadêmicas e, posteriormente, interferem até mesmo nas oportunidades profissionais que porventura lhe são oferecidas (ALVES; TEIXEIRA, 2020).
Portanto, ressalta-se que não há outra opção para os gestores de universidades, que não o investimento na criação e intensificação de programas que visem à saúde das pessoas em geral que dependem da universidade, não apenas daquelas que já estão imersas na ansiedade, a fim de que se iniba a recorrência da patologia entre os estudantes universitários.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É cediço que o ensino superior é uma das etapas mais importantes na vida acadêmica dos estudantes. É por meio da graduação que o acadêmico passa a experienciar, na teoria e na prática, o seu futuro profissional, de tal forma que seja possível uma maior amplitude sobre as diferentes atuações, responsabilidades, deveres, direitos e obrigações em torno da área em que deseja seguir atuando.
No entanto, a graduação exige que o estudante desenvolva suas competências e habilidades, de modo que, por vezes, isso acaba criando uma série de preocupações excessivas, seja pelas atividades, trabalhos, artigos e demais avaliações, seja por aquilo que o espera depois da saída do curso, já no âmbito profissional.
Desse modo, o presente estudo teve como objetivo desenvolver uma revisão de literatura em torno dos impactos da ansiedade no desempenho acadêmico de estudantes do ensino superior. Destaca-se que tal problema de saúde mental tem tido um aumento expressivo nos últimos anos, em especial, após a pandemia de COVID-19. As mudanças do cenário presencial para o tecnológico, fez com que o ensino e aprendizagem tivesse que ser remodelado, tanto para docentes quanto para discentes, e isso afetou significativamente o decurso acadêmico.
Com base nas considerações realizadas ao longo do estudo, observa-se que os principais impactos da ansiedade na vida acadêmica dos estudantes são a diminuição do desempenho acadêmico, o trancamento do curso ou mesmo seu cancelamento, a falta de qualificação adequada para início da experiência profissional, a mudança de área profissional após o fim da graduação, entre outros fatores.
Ressalta-se assim que os impactos da ansiedade nos acadêmicos universitários podem se desenvolver ao longo da graduação, mas também tem efeitos e consequências após o seu término, e isso influencia direta e indiretamente na construção da identidade e na carreira profissional.
Desse modo, conclui-se que é importante que as universidades possam adotar diferentes metodologias e estratégias ao longo da graduação, na oferta de acompanhamento psicológico de seus estudantes, de tal modo que estas consigam identificar quais as causas que levam ao surgimento dos sintomas de ansiedade, auxiliando assim na melhoria do quadro clínico-mental, bem como tendo efeitos positivos na qualidade de vida educacional.
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1 Graduanda em Psicologia no Instituto de Ensino Superior do Sul do Maranhão / Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão.
2 Professor Universitário e Psicoterapeuta. Graduado em Psicologia pela Universidade Federal do Maranhão (2007). Pós-graduado em MBA em Gestão de Pessoas pelo ISAN/FGV e em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Centro Universitário Amparense UniFIA. Mestrando em Ciências Sociais pela PUCMINAS. Atualmente é Analista Judiciário – Psicólogo do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Professor de Psicologia na Faculdade Unisulma/IESMA.