OS EFEITOS DA COMPRESSÃO PNEUMÁTICA INTERMITENTE NO TRATAMENTO DA DOR TARDIA EM ATLETAS DE ALTO RENDIMENTO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7536686


Andressa Leal Gallo
Rafael Saraiva De Oliveira


RESUMO

Os exercícios extenuantes podem levar a danos musculares, muitas vezes induzindo a vários graus de fadiga nos sistemas musculoesquelético, nervoso e metabólico.  A ciência do exercício visa se beneficiar de métodos de recuperação projetados para combater os déficits de desempenho associados à dor tardia e a fadiga muscular. O objetivo geral deste trabalho é analisar os efeitos da compressão pneumática intermitente na recuperação muscular da dor tardia em atletas de alto rendimento através de uma revisão sistemática. As buscas por estudos que avaliaram os efeitos da compressão pneumática sobre a recuperação muscular foram realizadas nas seguintes bases de dados eletrônicas: Google Scholar, PEDro, BIREME, Scielo, Pubmed. 

Palavras chave: Recuperação, botas, atletas, compressão, pneumática.

ABSTRACT

Strenuous exercise can lead to muscle damage, often inducing varying degrees of fatigue in the musculoskeletal, nervous, and metabolic systems. Exercise science aims to benefit from recovery methods designed to combat performance deficits associated with delayed onset soreness and muscle fatigue. The general objective of this work is to analyze the effects of intermittent pneumatic compression on muscle recovery from delayed onset pain in high-performance athletes through a systematic review. Searches for studies that evaluated the effects of pneumatic compression on muscle recovery were performed in the following electronic databases: Google Scholar, PEDro, BIREME, Scielo, Pubmed.

Keywords: Recovery, boots, athletes, compression, pneumatics.

1. INTRODUÇÃO

A dor muscular de início tardio (DOMS) é uma experiência familiar para o atleta de elite ou iniciante. Os sintomas podem variar de sensibilidade muscular a dor debilitante grave. O DOMS também é comum quando os atletas são apresentados pela primeira vez a certos tipos de atividades, independentemente da época do ano. Atividades excêntricas induzem microlesões com maior frequência e gravidade do que outros tipos de ações musculares. A intensidade e a duração do exercício também são fatores importantes no início da DOMS (CHEUNG, 2003).

A ciência do exercício visa se beneficiar de métodos de recuperação projetados para combater os déficits de desempenho associados à fadiga. O estresse no treinamento pode resultar em lesão e inflamação induzida pelo exercício causando como sintomas, sensibilidade muscular, edema e comprometimento do movimento, reduzindo o desempenho do atleta (CARDOSO, 2019).

O recovery é conhecido como um processo de restauração multifatorial e é um termo vasto que inclui diferentes modalidades de recuperação, divididas em métodos de recuperação ativo, passivo e proativos. A escolha assertiva das técnicas de recuperação é de grande importância para permitir que o atleta atue durante a sessão de treinamento descansado, saudável e livre de lesões. Os mecanismos envolvidos nos efeitos da recuperação dependem da técnica utilizada (SAMPAIO, 2022).

Com o intuito de acelerar o processo de recuperação da dor muscular tardia (DOMS), diversos métodos são utilizados, dentre eles podemos destacar a compressão, massagem, crioterapia, compressas de calor, estratégias nutricionais, medicamentos, eletroterapia, ultrassom, sono, alongamento e recuperação ativa, projetados para reduzir os sintomas adversos ao dano muscular causado pós-exercício. Em relação à compressão, a forma mais popular desses dispositivos são as botas pneumáticas que promovem a compressão Intermitente e contínua em diferentes compartimentos, ao longo de todo o membro alvo (De CARVALHO. et. al 2021).

Diversas áreas científicas e médicas começaram a contribuir na recuperação do atleta, incluindo a fisioterapia. Tendo como objetivo melhorar o desempenho dos atletas, reduzindo a fadiga e a dor melhorando e acelerando as adaptações específicas de treinamento. O mundo do esporte está aderindo rapidamente as artes e ciências terapêuticas para obter os benefícios dos métodos de recuperação projetados para combater uma variedade de distúrbios do movimento relacionados à fadiga (SANDS, 2015).

A compressão pneumática tem ganhado cada vez mais adeptos no âmbito esportivo, por isso, o objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão sistemática visando compreender os efeitos desta técnica na recuperação muscular nos atletas.

2. OBJETIVO

2.1 Objetivo geral

Compreender os efeitos da compressão pneumática intermitente na recuperação muscular em atletas.

3. METODOLOGIA DE PESQUISA

Este trabalho de revisão sistemática é estruturado baseado na estratégia PICO (Population of interest Intedvention Control Outcomes) estratégia para realização de revisões sistemáticas.

4. CRITÉRIOS PARA EXTRAÇÃO E SELEÇÃO DOS DADOS

Foram selecionados artigos em inglês, português…, publicados entre os anos 20. a 2022 nas bases de dados Google Scholar, PEDro, BIREME, Scielo, Pubmed… As palavras chave utilizadas na pesquisa foram: Recovery, boots , athletes, compression, pneumatic.

Foram utilizados na elaboração do trabalho somente ensaios clínicos randomizados, meta-analizes. Foram estudados somente os artigos com processo de seleção.

5. RESULTADOS

O’Donnell & Driller realizaram um estudo para avaliar o efeito da compressão pneumática sequencial intermitente na recuperação entre as séries de exercícios em triatletas bem treinados. Dez triatletas masculinos bem treinados (média ± DP; idade = 29 ± 9 anos, massa = 72kg ± 11kg) completaram um ensaio de familiarização e dois ensaios experimentais em um desenho cruzado e randomizado. Os participantes realizaram uma sessão de intervalo de alta intensidade de 40 minutos em um cicloergômetro, seguido por um período de recuperação de 30 minutos em que os participantes completaram a recuperação passiva (CON) ou a recuperação ISPC. Após o período de recuperação, os participantes realizaram um contrarrelógio de 5km em uma esteira (5kmTT). A concentração de lactato no sangue, o tempo de 5kmTT e a recuperação da qualidade total (TQR) foram usados para examinar o efeito do ISPC em comparação com o CON. O 5kmTT resultou em uma diferença não significativa (P = 0,31, ES = 0.±94,9 e CON; 1197,9±101,9). Não houve diferenças significativas entre os ensaios para as concentrações de lactato no sangue ou TQR. O estudo atual relata que o ISPC não foi eficaz em melhorar a recuperação entre uma sessão de ciclismo e corrida em triatletas bem treinados.

Overmayer & Driller realizaram um estudo com o objetivo de examinar a eficácia da compressão pneumática sequencial intermitente (ISPC) na recuperação do exercício e desempenho subsequente, quando implementada entre uma sessão de ciclismo de 20 minutos e um teste de ciclismo de 4 minutos. Foram selecionados vinte e um ciclistas treinados, sendo destes 13 homens e 8 mulheres, com idade média de 36 anos, completaram um teste de familiarização seguido por 2 testes experimentais em um desenho cruzado e contrabalançado. Os participantes realizaram uma sessão de ciclismo de 20 minutos de intensidade fixa em um cicloergômetro Wattbike, seguido por um período de recuperação de 30 minutos onde as botas de recuperação ISPC ou recuperação passiva foram implementadas. Na conclusão do período de recuperação, os participantes realizaram uma sessão de ciclismo máxima de 4 minutos (4 minutos de contra-relógio [TT]). A potência média (watts) para o TT de 4 minutos, a concentração de lactato no sangue e a recuperação da qualidade total percebida (TQR) durante o período de recuperação foram usadas para examinar a influência do ISPC. Como resultado não houve diferenças significativas entre os ensaios para o TT de 4 minutos ( P = 0,08), com o efeito considerado trivial ( d  = −0,08). Houve um efeito incerto ( d [±90% intervalo de confiança] = 0,26 [±0,78], P  = 0,57) para ISPC vs recuperação passiva na depuração do lactato sanguíneo durante o período de recuperação. Houve uma diferença pequena, mas não significativa, para TQR percebido em favor de ISPC ( d [±90% intervalo de confiança] = 0,27 [±0,27], P  = 0,07). Concluindo-se que houve pouco benefício adicional associado ao uso do ISPC para melhorar a recuperação e o desempenho subsequente quando usado durante o período de recuperação entre 2 eventos em uma competição simulada de ciclismo de pista Omnium.

O estudo de Oliver & Driller visou investigar a eficácia de um dispositivo de compressão pneumática sequencial intermitente da parte superior do corpo na recuperação após atividade esportiva coletiva em cadeira de rodas. Participaram do estudo onze atletas de basquete e rugby em cadeira de rodas bem treinados (homens, 8; mulheres, 3; média ± SD de idade = 33 ± 10 anos) realizaram uma série de medidas de desempenho pré-exercício, pós-exercício e pós-recuperação (força de preensão, pressão para limiar de dor, arremesso de bola medicinal, sprints em cadeira de rodas, sprints repetidos). As medidas subjetivas de dor muscular e fadiga foram feitas nos mesmos momentos dos testes de desempenho, com uma medida adicional de 24 horas após a recuperação. Os participantes completaram dois ensaios de recuperação, separados por 1 semana, de recuperação passiva (controle) ou 20 minutos de uso de mangas de recuperação do braço (compressão pneumática sequencial intermitente) aplicadas a ambos os braços. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os ensaios para qualquer uma das medidas de desempenho ou percepção ( P > 0,05). No entanto, a análise do tamanho do efeito revelou uma diminuição moderada ( d = -0,67) do pós-exercício para pós-recuperação para fadiga muscular em favor da compressão pneumática sequencial intermitente. Uma grande diminuição ( d = -0,96) na dor muscular também foi encontrada após o exercício até 24 horas após a recuperação em favor da compressão pneumática sequencial intermitente sobre o controle. Concluindo-se que a compressão pneumática sequencial intermitente pode fornecer algum benefício para medidas de recuperação perceptiva imediatamente após e 24 horas após uma atividade de cadeira de rodas de alta intensidade com efeitos insignificantes na recuperação do desempenho.

Haun et al compararam os efeitos da compressão pneumática externa (EPC) e sham (procedimento falso) quando usados ​​concomitantemente com o treinamento de resistência em resultados relacionados ao desempenho e medidas moleculares relacionadas à recuperação. Foram selecionados vinte (N = 20) participantes do sexo masculino treinados em resistência (com idade de 21,6 ± 2,4 anos) foram randomizados para grupos de intervenção simulada ou EPC. O protocolo consistiu em 3 dias consecutivos de exercícios de agachamento pesado e volumoso seguido de tratamento EPC/sham (Dias 2-4) e 3 dias consecutivos de recuperação (Dias 5-7) com EPC/sham apenas nos Dias 5-6. No dia 1 (PRE) e nos dias 3-7, foram realizadas medidas de punção venosa, flexibilidade e limiar de pressão à dor (LPP). O tecido do músculo Vastsus lateralis foi biopsiado no PRE, 1 h pós-EPC/tratamento simulado no Dia 2 (POST1) e 24 h pós-tratamento EPC/simulado no Dia 7 (POST2). O pico de torque isocinético foi avaliado no PRÉ e PÓS2.

O pico de força isocinética não mudou de PRE para POST2 em nenhum dos grupos. O PPT foi significativamente menor nos dias 3-6 com simulação, indicando maior dor muscular, embora isso tenha sido amplamente abolido no grupo EPC. Uma diminuição significativa na flexibilidade com sham foi observada no Dia 3 (+16,2±4,6% ângulo da articulação do joelho; P <0,01), enquanto não houve alteração com EPC (+2,8±3,8%; P > 0,01). As proteínas poliubiquitinadas do Vastus lateralis aumentaram significativamente no momento POST2 em relação ao PRE com sham (+66,6±24,6%; P <0,025) e foram significativamente maiores (P<0,025) do que aquelas observadas com EPC no mesmo momento (- 18,6±8,5%). Os valores de 4-hidroxinonenal foram significativamente menores no POST2 em relação ao PRE com EPC (-16,2±5,6%; P<0,025) e foram significativamente menores (P<0,025) do que os observados com sham no mesmo momento (+11,8±5,9%).

O EPC atenuou uma redução na flexibilidade e PPT que ocorreu com o sham. Além disso, o EPC reduziu o estresse oxidativo do músculo esquelético e marcadores de proteólise durante a recuperação do exercício de resistência pesado.

CONCLUSÃO

Os estudos citados nesta revisão não apontam uma efetividade do uso da compressão pneumática intermitente na recuperação muscular pós-exercicio, embora seja um recurso em ascensão, não demonstra significantes resultados no objetivo de recuperação muscular. Torna-se necessário a elaboração de estudos comparativos para mensurar a eficácia desta opção de tratamento.

REFERENCIAS 

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