OS ECOSSISTEMAS DE EMPREENDEDORISMO E O DESENVOLVIMENTO LOCAL: UM ENSAIO TEÓRICO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412121663


Rodrigues, Rodrigo Ferreira[1]


RESUMO

O presente artigo tem por objetivo discorrer a respeito do construto ecossistema empreendedor, trazer os principais conceitos e práticas, além de prescrições para sua aplicação. Tendo o empreendedorismo como base a geração de negócios e desenvolvimento da economia, percebe-se que um ecossistema inteiro de elementos inter-relacionados deve estar à disposição dos empreendedores para atender as suas necessidades durante seu estágio de vida inicial, o que gera o desenvolvimento econômico e a transformação da sociedade. Assim, para o desenvolvimento deste estudo, é empregado um modelo de referência empregado como base em todo o mundo para auxiliar no desenvolvimento de comunidades empreendedoras locais. Esse artigo, teve como base a revisão de literaturas e artigos científicos voltados aos ecossistemas de empreendedorismo e como estes podem, através de ações em conjunto, aumentar a oferta de valor entregue dentro de determinada região geográfica e potencialmente na economia como um todo.

Palavras-chave: Empreendedorismo, Desenvolvimento local, Ecossistema de Empreendedorismo.

ABSTRACT

This article aims to discuss the entrepreneurial ecosystem construct, present the main concepts and practices, as well as prescriptions for its application. Given that entrepreneurship is based on business creation and economic development, it is understood that a whole ecosystem of interrelated elements must be available to entrepreneurs to meet their needs during their early stages of development, which in turn drives economic development and societal transformation. For the development of this study, a reference model commonly used worldwide to assist in the development of local entrepreneurial communities is employed. This article is based on a review of literature and scientific articles focused on entrepreneurial ecosystems and how these, through collective actions, can increase the value offered within a specific geographical region and potentially in the economy as a whole.

Keywords: Entrepreneurship, Local Development, Entrepreneurial Ecosystem.

1  INTRODUÇÃO

O empreendedorismo é caracterizado como um fenômeno social, que através de suas ações, gera transformação, melhoria e crescimento sustentável para organizações, indivíduos e sociedades (Sarkar, 2008). Ele é considerado elemento fundamental no processo de desenvolvimento econômico (Shane ; Venkataraman, 2000), tendo papel fundamental na geração de riqueza, de trabalho e de renda (Reynolds et al., 1999).

Para que uma região se desenvolva, é necessário a união de diversos elementos que, atuam sinergicamente, criando condições para que o empreendedorismo prospere (Cohen, 2006; Isenberg, 2011; Mason; Brown, 2014). Nesse cenário de cooperação e de convergência de uma série de fatores é que surgem os ecossistemas empreendedores, os quais resultam da interação entre diversos elementos responsáveis pela criação e pelo desenvolvimento de novos negócios (Dos Santos, 2016).

As organizações tendem a aumentar suas possibilidades de sucesso quando inseridas em um ecossistema empreendedor que estimula o desenvolvimento e a inovação (FDC, 2013). Portanto, a atividade empreendedora depende de um conjunto de elementos inter-relacionados e interagentes que evoluem ao longo do tempo e formam um sistema dinâmico, o qual se denomina “ecossistema empreendedor” (Neck et al., 2004).

Os ecossistemas de empreendedorismo se referem a um conjunto de condições estruturais que os novos empreendimentos precisam para atender às suas necessidades durante seu estágio de vida inicial (Acs et al., 2015).

De acordo com Isenberg (2010), não há uma fórmula precisa para desenvolver uma economia empreendedora, o que existem são práticas que indicam caminhos possíveis. Assim, os ecossistemas empreendedores emergem como resultado da interação de diversos elementos que influenciam no desenvolvimento dos negócios.

Dessa forma, diferentes nações, ainda que inseridas em contextos distintos, são capazes de construir ecossistemas empreendedores próprios (Fundação Dom Cabral, 2013), os quais são caracterizados por serem dinâmicos, evolutivos e holísticos1 (Dos Santos, 2016). Percebe-se, então, que não existe uma fórmula exata para criar uma economia empreendedora, o que existem são práticas que indicam possíveis caminhos (Isenberg, 2010). Com base nas definições, percebe-se que é complexo estruturar um ecossistema empreendedor que ofereça todos os elementos necessários à criação de novos negócios (Stam, 2015).


1Que considera o todo; que busca compreender os fenômenos por completo.

Pode-se inferir que o empreendedorismo exerce um forte papel no desenvolvimento econômico local, assim, compreender as particularidades de cada região e trabalhar com os diversos stakeholders de cada atividade, é necessário para a emergência de um ecossistema empreendedor saudável e estruturado.

Para efeitos do presente estudo, o modelo empregado de análise do ecossistema empreendedor é o proposto por Isenberg (2009; 2011), quem apresenta seis domínios inter- relacionados que atuam em conjunto para promover o desenvolvimento local, sendo eles: políticas públicas, capital financeiro, cultura, instituições de suporte, recursos humanos, e mercados (Isenberg, 2009; 2011).

O presente artigo é um ensaio teórico, uma análise lógica e reflexiva da literatura. Diante desse contexto, o presente artigo tem como objetivo promover um ensaio teórico a respeito do construto ecossistema empreendedor e demonstrar a importância desse para o desenvolvimento local.

2  METODOLOGIA

O presente estudo foi elaborado, a partir da necessidade dos autores em levantar informações referentes a como um ecossistema empreendedor pode auxiliar o desenvolvimento econômico de determinada região, para isso, é elencado um modelo de referência que poderá ser adotado e seguido como base para estudos futuros.

O método de pesquisa é classificado, com base em seus objetivos, como uma pesquisa descritiva. Esta tem a finalidade de identificar, de expor e de descrever os fatos de determinada realidade em estudo, tais como características de um grupo, comunidade, população ou de um contexto social (Teixeira et al., 2009).

Portanto, a linha de pesquisa adotada pelos autores foi a revisão bibliográfica. Esta é descrita por Lakatos e Marconi (2003), com o acervo já publicado sobre a temática em estudo, sendo exemplos mais comuns revistas, teses, livros, monografias entre outros, o objetivo deste tipo de pesquisa é possibilitar ao pesquisador um contato com o material já publicado para a construção de conclusões inovadoras. A pesquisa bibliográfica, segundo os mesmos autores, não consiste em apenas repetir escrito sobre determinado assunto, mas propicia a análise de uma temática sob uma nova abordagem, chegando a novas conclusões, através da organização do acervo bibliográfico.

3  REVISÃO DE LITERATURA
3.1  O EMPREENDEDORISMO E O PROCESSO DE EMPREENDER

O empreendedorismo é classificado como um fenômeno social associado à transformação, à melhoria e ao crescimento sustentável para organizações, indivíduos e sociedade (Cavalcanti, 2013). Segundo o mesmo autor, este fenômeno surgiu com o intuito de designar as pessoas que exerciam a capacidade visionária, de identificar oportunidades de mercado e, somado a isso, atitude associada à coragem, para assumir e gerir riscos, visando gerar prosperidade.

Isenberg (2011) classifica o empreendedor como o indivíduo que está continuamente perseguindo a geração de valor para o crescimento econômico e como aquele que apresenta uma inquietude que não o permite ficar completamente satisfeito com o status quo.

Chiavenato (2005), expressa que o empreendedor é a pessoa que inicia e/ou opera um negócio para realizar uma ideia ou projeto pessoal, assumindo riscos e responsabilidades e inovando continuamente. Nessa perspectiva, empreender significa fazer algo novo, diferente, mudar a situação atual e buscar, de forma incessante, novas oportunidades de negócio, tendo como foco a inovação e a criação de valor (DORNELAS, 2003).

Para Schumpeter (1984) o empreendedorismo é peça fundamental para que o sistema capitalista se desenvolva. Isso ocorre pelo fato de o empreendedorismo permitir a criação de novos produtos, novos métodos de produção e modelos de negócio, além de ser responsável pela abertura de novos mercados.

Ainda, seguindo essa perspectiva, o SEBRAE (2007) elucida que o empreendedorismo corresponde ao:

[…] processo de criar algo novo com valor, dedicando o tempo e o esforço necessários, assumindo os riscos financeiros, psíquicos e sociais correspondentes e recebendo as consequentes recompensas da satisfação e independência econômica e pessoal. (Sebrae, 2007, p. 15).

Schumpeter (1997), esclarece que a essência do empreendedorismo está na percepção e no aproveitamento das novas oportunidades no âmbito dos negócios. Assim, segundo o autor, os empreendedores não estão associados apenas à inovação, mas também na explicação do desenvolvimento econômico.

Os empreendedores são considerados como detectores de oportunidades de negócios, criadores de empreendimentos e aqueles que correm riscos são aqueles que tem o papel de informar o mercado a respeito de novos elementos (Krutsch Neto, 2002).

Dessa forma, os governos de diversas nações estão cientes da importância do empreendedorismo e encaram o tema como elemento imprescindível de preservação da viabilidade e da competitividade da economia de um país (Organisation For Economic Co-Operation And Development, 2009). No entanto, ainda que o

assunto receba grande atenção em nível mundial, medir o empreendedorismo local, regional, nacional ou internacionalmente se apresenta, há décadas, como um grande desafio (FDC, 2013).

Nessa perspectiva, as organizações estão se empenhando na tentativa de sistematizar o que seria um modelo de economia empreendedora, apontando as variáveis principais consideradas na avaliação do empreendedorismo (FDC, 2013).

3.2  ECOSSISTEMA EMPREENDEDOR

Do ponto de vista biológico, o ecossistema é a unidade funcional básica, uma vez que inclui diversos organismos, onde cada um deles influência e são influenciados pelas características dos demais, sendo ambos necessários para a conservação da vida (Odum, 2001 apud Mineiro, 2016, p. 75).

Moore (1993), foi um dos primeiros autores a empregar o termo ecossistema no campo da estratégia. De acordo com seus estudos, os gestores estavam perdidos em meio à emergência de uma abundância de conceitos, tais como redes de negócio, colaboração, entre tantos outros. Moore (1996) propôs que o ecossistema representaria uma metáfora de como os diversos atores se articulam para produzir valor.

De acordo com Adner (2006) e Adner e Kapoor (2010) o construto do ecossistema é uma forma de tornar mais evidente a interdependência entre atores no processo de criação e captura de valor. O construto ecossistema, enfoca o entendimento de como ocorre a coordenação entre parceiros, uma rede de trocas, caracterizada ao mesmo tempo por cooperação e competição (Adner; Kapoor, 2010)

Segundo Moore (1993 apud Ikenami, 2016) a evolução de um ecossistema de negócios pode ser classificada por quatro estágios de maturidade. O primeiro estágio, chamado de “Nascimento”, geralmente é composto por um pequeno empreendimento que inicia suas atividades. A seguir, quando o modelo de negócio começa a operar e surgem os primeiros movimentos em direção ao escalonamento de suas ofertas, atingimos a fase de “Expansão”. Aqueles que conseguem se estabelecer no mercado, criando demandas e conseguindo entregá-las, passam a lidar com situações de conflitos internos ao ecossistema, também chamado de fase de “Liderança”. Na última etapa do ciclo de maturidade do ecossistema, duas são as alternativas possíveis, “Renovação” ou “Morte”. Nesse estágio, o ecossistema começa a dar sinais de obsolescência e se não conseguir mitigá-los, corre o risco de ser superado por outros ecossistemas.

Dessa forma, torna-se importante a caracterização do termo em questão. Adner (2006) define o ecossistema empreendedor como um arranjo colaborativo no qual empresas combinam suas ações e estratégias inovadoras de forma coerente visando reduzir custos a fim de promover um crescimento sustentável, o que permite às empresas gerar e captar valor que não conseguiriam se atuassem isoladamente.

Ainda, seguindo essa perspectiva, Cohen (2006) esclarece que um ecossistema empreendedor corresponde a:

[…] um conjunto diversificado de atores interdependentes que, dentro de uma região geográfica, influenciam na formação e na eventual trajetória de todo o grupo de atores e potencialmente na economia como um todo. Os ecossistemas empreendedores evoluem a partir de um conjunto de componentes interdependentes que interagem para gerar a criação de novos negócios ao longo do tempo (Cohen 2006, pp. 2-3, tradução nossa).

De acordo com Isenberg (2010), existem condições para o desenvolvimento de um ecossistema empreendedor, demonstradas no quadro abaixo:

Prescrições para a criação de um ecossistema de empreendedorismoExemplificação
Ainda que o Vale do Silício seja um ecossistema empreendedor bem-sucedido é exclusivo da sua região e é improvável ser replicado em outras áreas.A ambição quase universal de se tornar outro Silicon Valley coloca os governos por frustração e fracasso. Seu ecossistema evoluiu sob um conjunto único de circunstâncias: uma forte indústria aeroespacial local, a cultura aberta da Califórnia, as relações de apoio da Universidade de Stanford com a indústria, uma política de imigração liberal para estudantes de doutorado, entre outras coisas. Todos esses fatores desencadeiam uma evolução caótica que desafia a determinação definitiva de causa e efeito.
Formar o ecossistema em torno das condições locais, ou seja, olhar para as indústrias de base local com potencial de crescimento e a partir daí construir os alicerces do ecossistema empreendedor.Se não for o Vale do Silício, então a que visão empresarial os líderes governamentais devem aspirar? A coisa a mais difícil, contudo crucial, para um governo é adaptar o terno para caber suas próprias dimensões do empreendimento local, o estilo, e o clima. As diferenças notáveis entre as regiões ilustram o princípio de que os líderes podem e devem promover soluções caseiras – baseadas nas realidades de suas próprias circunstâncias, sejam elas recursos naturais, localização geográfica ou cultura.
Envolver o setor privado desde o início, ou seja, o processo deve ser liderado pelo setor privado e o papel do governo é o de facilitador.O governo não pode construir sozinho ecossistemas. Somente o setor privado tem motivação e perspectiva para desenvolver mercados autossustentados e voltados para o lucro. Por esta razão, o governo deve envolver o setor privado precocemente e deixá-lo manter ou adquirir uma participação significativa no sucesso do ecossistema.
Dar especial atenção ao fomento das empresas com potencial de crescimento e com a capacidade de inovação e seu engajamento no mercado mundial.Muitos programas em economias emergentes espalham recursos escassos entre quantidades de empreendimentos. Em uma era em que o microcrédito, para pequenos empreendedores se tornaram convencional, a realocação de recursos para apoiar empreendedores de alto potencial pode parecer desigual. Mas, especialmente se os recursos são limitados, os programas devem tentar focar primeiro em empreendedores ambiciosos e voltados para o crescimento, que lidam com grandes mercados potenciais.
Usar o caso ou os casos de sucesso para estimular e motivar as outras empresas.Ficou claro nos últimos anos que mesmo um sucesso pode ter um efeito surpreendentemente estimulante sobre um ecossistema de empreendedorismo – ao inflamar a imaginação do público e inspirar imitadores. Sucessos precoces visíveis ajudam a reduzir a percepção de barreiras e riscos empresariais e destacam as recompensas tangíveis. Mesmo os sucessos modestos podem ter impacto.
Enfrentar os desafios, evitando que a atividade empresarial seja sufocada por uma cultura avessa ao risco ou conservadora, e apostando em programas de comunicação e educação.Mudar uma cultura profundamente arraigada é extremamente difícil, mas tanto diversos países demonstram que é possível alterar as normas sociais sobre o empreendedorismo em menos de uma geração. Assim, os meios de comunicação podem desempenhar um papel importante, não apenas na celebração de vitórias, mas na mudança de atitudes.
As empresas orientadas para o crescimento não devem ser inundadas com ‘dinheiro fácil’ através de subvenções ou fluxos de capital de risco. As empresas devem ser rentáveis e sustentáveis, aplicando uma gestão financeira.É um erro inundar até empreendedores de alto potencial com dinheiro fácil: Mais não é necessariamente melhor. Novos empreendimentos devem ser expostos cedo aos rigores do mercado. Assim como os cultivadores de uva retém água de suas videiras para estender seus sistemas radiculares e fazer suas uvas produzem sabor mais concentrado, os governos devem “sublinhar as raízes” de novos empreendimentos, reunindo dinheiro com cuidado, para garantir que os empreendedores desenvolvem dureza e recursos.
Não investir apenas em clusters tecnológicos, pois deve-se ajudar os clusters a crescerem organicamente.Por vezes, o entusiasmo do governo na construção de clusters industriais precisa ser temperado por uma percepção, permitindo que estes surjam de forma orgânica através de indústrias existentes e não da tentativa de “escolher vencedores” ou através da construção de parques de ciência e tecnologia). O governo deve reforçar e construir sobre clusters existentes e emergentes ao invés de tentar criar inteiramente novos. Na verdade, a maioria dos clusters surgem independentemente da ação do governo – e às vezes, apesar dele. Eles se formam onde existe uma base de vantagens locacionais.
Reforma dos quadros jurídicos, burocráticos e regulamentares. O governo tem um papel fundamental para as empresas na regulação de um conjunto de normas e regulamentos que podem facilitar o processo empreendedor e diminuir a burocracia.Os quadros jurídicos e regulamentares adequados são essenciais para o desenvolvimento do próspero empreendedorismo. Além disso, as reformas legais e regulamentares muitas vezes levam muitos anos para serem adotadas, e o empreendedorismo frequentemente ocorre em sua ausência. Dessa forma, eliminando barreiras administrativas e legais à formação de risco é um melhor caminho a percorrer do que criar incentivos para superar barreiras.

Fonte: The Big Idea: How to Start an Entrepreneurial Revolution (Adaptado de Isenberg, 2010)

3.3  O MODELO DE DANIEL ISENBERG

Sobre os diferentes enfoques a respeito do ecossistema empreendedor, este artigo utiliza como base o modelo de Isenberg (2009; 2011). O modelo de Isenberg é resultado da iniciativa desenvolvida pela Babson College denominada “Projeto Ecossistema Empreendedor da Babson”.

Baseando-se no estudo das diversas tentativas de estímulo ao empreendedorismo em diferentes locais do mundo, os envolvidos no projeto concluíram que não havia apenas uma característica que determinaria o sucesso do empreendedorismo local, mas, pelo contrário, eles perceberam que um ecossistema inteiro de variáveis era necessário para estimular o empreendedorismo e para que ele se sustente ao longo do tempo, causando, de fato, impactos sociais e econômicos positivos para a economia (Isenberg, 2011).

A partir de seus estudos e experiências pessoais, Isenberg definiu os elementos base para a estruturação de um ecossistema empreendedor, compostos por centenas de elementos, os seis domínios principais são: (i) políticas públicas, (ii) capital financeiro, (iii) cultura, (iv) instituições de suporte, (v) recursos humanos e (vi) mercados.

A figura 1, abaixo, apresenta os domínios do ecossistema empreendedor (Isenberg 2011):

Fonte: The Entrepreneurship Ecosystem Strategy as a New Paradigm for Economic Policy: Principles for Cultivating Entrepreneurship (Isenberg, 2011).

No primeiro domínio, no âmbito das políticas públicas, estão inseridos os órgãos de regulamentação responsáveis por implantar incentivos ou retirar barreiras burocráticas para estimular o desenvolvimento empresarial (FDC, 2013). Nessa perspectiva, o governo tem o papel fundamental de alimentar o ecossistema (Stam, 2015), criando condições para que o empreendedorismo progrida (Isenberg 2011). Essas condições estão ligadas, principalmente, a reformas nos quadros legais, burocráticos e regulatórios (Cohen, 2006; Isenberg, 2010). Entretanto, o papel do governo, para Isenberg (2010), é limitado no que tange a seus esforços, pertencendo às lideranças do ecossistema empreendedor as demais contribuições para sua evolução (Isenberg, 2010).

Na segunda esfera, encontra-se o capital financeiro, descrito como organizações e mecanismos que financiam o desenvolvimento dos empreendimentos, desde o capital semente às fases de maturação (Mineiro et al., 2016). Para isso, faz-se necessário que os recursos financeiros estejam disponíveis, visíveis e acessíveis a todos os componentes do ecossistema empreendedor (Stam, 2015). Esses recursos podem ser oriundos de investidores anjos, fundos de capital de risco, mercado de capitais, capital semente, dentre outros (FDC, 2013).

O terceiro domínio, o domínio cultural, refere-se ao fortalecimento das instituições informais para que os empreendedores se sintam menos inseguros no momento de empreender (Dos Santos, 2016). Em geral, os empreendedores que obtêm sucesso falham uma ou várias vezes antes de estarem maduros o suficiente para prosperar (Isenberg, 2010). Assim, a cultura abrange as características sociais de uma sociedade, sendo descrita como a maneira que os indivíduos interagem em seus grupos (FDC, 2013), encaram a atividade empreendedora e atribuem valores quanto ao sucesso e ao fracasso (Mineiro et al., 2016). Exemplos de sucesso, eventos de mídia, prêmios, discursos e entrevistas contribuem para isso e estimulam os indivíduos a se tornarem empreendedores (Isenberg, 2011).

As instituições de suporte têm a função de apoiar os novos negócios em seu desenvolvimento. Nessa esfera, encontram-se as instituições que não estão ligadas ao governo, mas que desenvolvem ações de incentivo ao empreendedorismo. Esse domínio subdivide-se em três grupos principais: (a) infraestrutura: referem-se às condições de telecomunicações, transportes e logística, disponibilidade de energia, além dos parques tecnológicos (Isenberg, 2011); (b) profissões de apoio: referem-se à disponibilidade de serviços de suporte que auxiliam no desenvolvimento do negócio, como advogados, contadores e consultores especializados, para além das agências de fomento ao empreendedorismo (Isenberg, 2011; FDC, 2013) e(c) instituições não governamentais: referem-se aos hubs2, aceleradoras e incubadoras (FDC, 2013).

Para que as organizações alcancem o sucesso, elas demandam profissionais qualificados que possam desempenhar as tarefas propostas. Dessa forma, fica evidente a importância da capacitação da mão de obra e da oferta de profissionais qualificados para o ecossistema. Nesse contexto, o domínio dos recursos humanos é formado pelas instituições de ensino e de formação de mão de obra técnica e especializada, presentes nos ecossistemas (Mineiro et al., 2016). Pode-se inferir que as regiões mais empreendedoras são aquelas que contam com um fornecimento de profissionais talentosos e são aquelas que têm o potencial de atrair trabalhadores mais capacitados (Neck et al., 2004).

O acesso a mercados enfatiza os benefícios que as organizações podem auferir ao se relacionarem com os demais atores do ecossistema (Dos Santos, 2016), então, faz-se necessário a existência de consumidores prontos para absorver novos produtos e disseminá- los por meio de uma rede de contatos (FDC, 2013).Nesse domínio, estão incluídos aqueles


2 Espaço colaborativo onde as pessoas trabalham em negócios e projetos.

que irão receber as soluções de mercado, os consumidores iniciais, as redes diásporas3 formadas por corporações multinacionais, redes de empreendedores e outras redes vinculadas a novos negócios (Mineiro et al., 2016).

O desenvolvimento do empreendedorismo somente acontecerá de fato, se os diferentes elementos do ecossistema forem trabalhados em conjunto, ainda que não seja necessário desenvolver todos eles em grande escala e de uma única vez (Isenberg, 2011).

Dentro dessa perspectiva, os ecossistemas empreendedores se distinguem por possuírem condições locais específicas (Mason; Brown, 2014), as quais permitem torna- se improvável recriar o “silicon valley” sem os ativos locais específicos (Isenberg, 2010). Dessa forma, a abordagem de ecossistema empreendedor deve priorizar o empreendedorismo como resultado do próprio ecossistema e destacar a importância dos empreendedores na liderança e na criação dos ecossistemas (Stam, 2015).

4  O ECOSSISTEMA DE EMPREENDEDORISMO E ODESENVOLVIMENTO LOCAL

A atividade empreendedora é essencial para a vitalidade de uma economia, pois é fonte de renda, emprego e inovação, dessa forma, promove o desenvolvimento, local, estadual e nacional. Os empreendedores são os heróis populares da moderna vida empresarial. Eles fornecem empregos, introduzem inovações e estimulam o crescimento econômico. Já não os vemos como provedores de mercadorias e autopeças nada interessantes. Em vez disso, eles são vistos como energizadores que assumem riscos necessários em uma economia em crescimento e, assim, fornecem a liderança dinâmica que leva ao progresso econômico (Longenecker et al, 1998).

De acordo com o SEBRAE (2007), atualmente os empreendedores são reconhecidos como componentes essenciais para mobilizar capital, agregar valor aos recursos naturais, produzir bens e administrar os meios para o desenvolvimento.

O fenômeno do empreendedorismo é de suma importância para o desenvolvimento econômico já que o surgimento de novas empresas acarreta a geração de novos empregos (Carvalho, 2013). Assim, ele é um agente de mudanças capaz de promover o desenvolvimento econômico e social (Bitencourt, 2010).


3 É uma rede colaborativa para a geração de negócios e de projetos.

Para Schumpeter (1997), desenvolvimento econômico define-se como uma mudança espontânea e descontínua nos canais de fluxo, uma perturbação do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente existente.

Nesse contexto, os empreendedores são, naturalmente, agentes de mudanças, a esperança de futuro das organizações; estes são necessários não somente para iniciar novos empreendimentos, mas para dar sentido e existência às empresas (Berto, 2010).

Como podemos perceber, são os empreendedores, que através de suas ações, promovem o desenvolvimento econômico. Assim, é destacada a importância do ecossistema de empreendedorismo no auxílio aos empreendedores.

Os ecossistemas proporcionam condições estruturais para atender as demandas dos novos empreendimentos. Estas condições proporcionam o aumento do número de empresas nascentes, dirigem a qualidade dos novos empreendimentos (Autio et al., 2014) e subsidiam o surgimento de pequenas empresas de grande sucesso. Assim, os ecossistemas de empreendedorismo permitem aos empreendedores nascentes acesso a recursos-chave para a estruturação e consolidação de seus novos negócios.

5  CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo, teve por objetivo promover um ensaio teórico a respeito do construto ecossistema empreendedor e demonstrar a importância desse para o desenvolvimento local, com base nas principais contribuições e modelos, buscou-se contribuir com evidências empíricas à literatura de ecossistemas de empreendedorismo e sua interligação com o processo de desenvolvimento econômico local.

É sabido que os empreendedores são a força motriz do crescimento econômico, ao introduzirem no mercado, inovações que tornam obsoletos os produtos e as tecnologias existentes. Dessa forma, o empreendedorismo é considerado como um fator crucial que promove o desenvolvimento econômico, seja ele local, estadual ou nacional.

Partindo desse princípio, percebe-se que é necessário que o empreendedorismo seja incentivado para que contribua para o desenvolvimento econômico do país. Assim, diversas locais no mundo promovem o desenvolvimento de comunidades empreendedoras, as quais são classificadas como ecossistemas de empreendedorismo, por apresentarem como diferencial a congregação de diversos fatores geradores de um ambiente propenso ao desenvolvimento de novos negócios.

Sabendo que cada ecossistema empreendedor é único e complexo em suas características, são necessários posteriores estudos, que comprovem quais estratégias devem ser empregadas no desenvolvimento do ecossistema empreendedor local, customizando ou reeditando modelos de ecossistemas já implementados em outros lugares, levando em conta que a emergência de um ecossistema empreendedor e um processo gradual pautado por uma transformação social e cultural.

Conclui-se então, que os diversos atores do ecossistema de empreendedorismo, trabalham em conjunto para potencializar a oferta de valor entregue, dessa forma maximizam o resultado que poderiam alcançar individualmente.

REFERÊNCIAS

ÁCS, Z. J.; SZERB, L.; AUTIO, E. Global Entrepreneurship and Development Index 2016. Washington: The Global Entrepreneurship and Development Institute, 2015.

ADNER, R. Match your innovation strategy to your innovation ecosystem. Harvard business review, vol. 84, no. 4, p. 98, 2006.

ADNER, R; KAPOOR, R. Value creation in innovation ecosystems: how the structure of technological interdependence affects firm performance in new technology generations. Strategic Management Journal, vol. 31, pp. 306-333, 2010.

AUTIO, E; KENNEY, M; MUSTAR, P; SIEGEL, D; WRIGHT, M. Entrepreneurial innovation: The importance of context. Research Policy, vol. 43, no. 7, pp. 1097-1108, 2014.

BERTO, H. H. Ser ou só ser empreendedor?. Disponível em: <httos://www.empreendedor.com.br/contente/ser-ou-só-ser-empreendedor>. Acesso em: 21 maio 2017.

BITENCOURT, T. Gestão de excelência e negócios de sucesso: a experiência catarinense. Universidade do Vale do Itajaí, São José, 2010.

CARVALHO, R. N. Empreendedorismo: importância econômica e social. Disponível em: < http://www.administradores.com.br/artigos/academico/empreendedorismo-importancia- economica-e-social/74380/>. Acesso em: 05 maio 2017.

CAVALCANTI, F. R. Processo de empreendedorismo inovador no polo tecnológico de Florianópolis no período de 1987 a 2012. 2013. 142 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade do Sul de Santa Catarina, Florianópolis, 2013.

CHIAVENATO, I. Empreendedorismo: dando asas ao espírito empreendedor. São Paulo: Saraiva, 2005.

COHEN, B. Sustainable valley entrepreneurial ecosystems. Business Strategy and the Environment, vol. 15, no. 1, p. 1-14, 2006.

DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo corporativo: como ser empreendedor, inovar e se diferenciar em organizações estabelecidas. Rio de Janeiro. Elsevier, 2003.

DOS SANTOS, D. A. G; SCHMIDT, V. K; ZEN, A. C. A emergência de um ecossistema de empreendedorismo: o caso do Armazém da Criatividade e a cidade de Caruaru, Pernambuco, Brasil. 26ª Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores, Fortaleza. Disponível em:<http://www.anprotec.org.br/moc/anais/ID_151.pdf>. Acesso em: 29 fev. 2017.

FUNDAÇÃO DOM CABRAL. O Ecossistema Empreendedor Brasileiro de Startups: Uma análise dos determinantes do empreendedorismo no Brasil a partir dos pilares da OCDE. Nova Lima, 2013.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. Ed. São Paulo: Atlas, 2002.

IKENAMI, R. K. A abordagem “ecossistema” em teoria organizacional: fundamentos e contribuições. 2016. 153 f. Dissertação (Mestre em Ciências) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.

ISENBERG, D. J. How to start an entrepreneurial revolution. Harvard Business ReviewCambridge, vol. 88, no. 6, p. 40–50, 2009.

            . THE BIG IDEA How to Start an Entrepreneurial Revolution. Harvard Business Review, v. 88, n. 6, p. 40-+, 2010.

            . The entrepreneurship ecosystem strategy as a new paradigm for economic policy: Principles for cultivating entrepreneurship. Institute of International European Affairs, Dublin, Ireland, 2011.

ISENBERG, D. J. Worthless, impossible and stupid: how contrarian entrepreneurs create and capture extraordinary value. 1st. Cambridge: Harvard Business Press, 2013.

KRUTSCH NETO, J. P. O Papel do empreendedor na economia. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 6 ed. 5. reimp. São Paulo: Atlas, 2003.

LEMOS, P. Universidades e ecossistemas de empreendedorismo: a gestão orientada por ecossistemas e o empreendedorismo da UNICAMP. Editora Unicamp, 2012.

LONGENECKER, J. G; MOORE, C. W; PETTY, W. Administração de pequenas empresas. São Paulo: Makron Books, 1998.

MASON, C; BROWN, R. Entrepreneurial ecosystems and growth oriented entrepreneurship. Final Report to OECD, Paris, França, p. 1-38, 2014.

MINEIRO, A. C; CORREIO, B. P. M; OTTOBONI, C; PASIN, L. E. Investigação do

potencial de um polo de inovação para a criação de uma rede de investidores anjos a partir de seu ecossistema empreendedor. RACEF – Revista de Administração, Contabilidade e Economia da FUNDACE, Ribeirão Preto, v. 7, n.1, p. 71-83, 2016.

MOORE, F. F. Predators and prey: The New ecology of competition. Harvard Business Review, vol. 71, no. 3, pp. 75-83, 1993.

            . The death of competition: leadership and strategy in the age of business ecosystems. New York: HaperBusiness, 1996.

NECK, H. M; MEYER, G. D; COHEN, B; CORBETT, A. C. An entrepreneurial system view of new venture creation. Journal of Small Business Management, vol. 42, no. 2, p. 190-208, 2004.

ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT.

Measuring entrepreneurship: A collection of indicators. OECD Eurostat Entrepreneurship Indicators Programmer, Paris, França,2009,

REYNOLDS, P. D; HAY, M; CAMP, S, M. Global Entrepreneurship Monitor (Kansas City, MO: Kauffman Center for Entrepreneurial Leadership), Washington: The Global Entrepreneurship and Development Institute, 1999.

SARKAR, S. O empreendedor inovador: faça diferente e conquiste seu espaço no mercado. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

SCHUMPETER, J. A. Capitalismo, Socialismo e Democracia. Editora Fundo de Cultura. ed rev. Rio de Janeiro, Zahar, 1984.

            . Teoria do desenvolvimento econômico: Uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Nova Cultural, 1997. 23 9p.

            . 1934. The theory of economic development, 1911.

SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS. Disciplina

de empreendedorismo. São Paulo: Manual do aluno, 2007, 67p.

SHANE, S; VENKATARAMAN, S. The promise of entrepreneurship as a field of research. Academy of management review, vol. 25, no. 1, p. 217-226, 2000.

STAM. E. Entrepreneurial Ecosystems and Regional Policy: A Sympathetic Critique,

European Planning Studies, vol.23, no. 9, p. 1759-1769, 2015.

TEIXEIRA, E. B; ZAMBERLAN, L; RASIA, P. C. Pesquisa em administração. Ijuí: Editora Unijuí, 2009.

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamentos e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.


[1] Mestrando em Administração pela Universidade Federal de Juiz de Fora.