THE CHALLENGES IN TEACHING MATHEMATICS TO HEARING IMPAIRED STUDENTS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10247281829
Nalva Cristina Andrade dos Reis[1]
Resumo: o artigo “Os Desafios no Ensino de Matemática para Alunos com Deficiência Auditiva” aborda as dificuldades específicas enfrentadas por estudantes surdos no aprendizado de matemática. A principal barreira identificada é a comunicação, uma vez que a linguagem matemática é altamente simbólica e depende muito da compreensão oral. A falta de recursos adequados e a escassez de professores capacitados também são destacadas como desafios significativos. Estratégias como o uso de intérpretes qualificados, materiais visuais e tecnologias assistivas são discutidas como formas de melhorar o ensino-aprendizagem para esses alunos. Além disso, são propostas iniciativas para sensibilizar a comunidade educacional e desenvolver métodos pedagógicos inclusivos que atendam às necessidades específicas dos alunos surdos no ensino de matemática. A pesquisa é de cunho bibliográfico e para atingir a abordagem proposta aborda os seguintes tópicos: A educação do surdo no Brasil; A diversidade da cultura surda; Inclusão dos surdos em salas de aula regulares; O professor de matemática e a importância do auxílio do intérprete em sala de aula; Os principais desafios enfrentados pelo professor em sala de aula para o ensino de matemática para alunos deficientes auditivos; e A adaptação de conteúdo e metodologias utilizadas na matemática para o processo de aprendizagem dos surdos.
Palavras-chave: Deficiência auditiva. Ensino-aprendizagem.Matemática.
Abstract: the article “The Challenges in Teaching Mathematics to Students with Hearing Impairment” addresses the specific difficulties faced by deaf students in learning mathematics. The main barrier identified is communication, since mathematical language is highly symbolic and depends heavily on oral understanding. The lack of adequate resources and a shortage of trained teachers are also highlighted as significant challenges. Strategies such as the use of qualified interpreters, visual materials and assistive technologies are discussed as ways to improve teaching-learning for these students. Furthermore, initiatives are proposed to raise awareness among the educational community and develop inclusive pedagogical methods that meet the specific needs of deaf students in teaching mathematics. The research is bibliographic in nature and, to achieve the proposed approach, it covers the following topics: Deaf education in Brazil; The diversity of deaf culture; Inclusion of deaf people in regular classrooms; The mathematics teacher and the importance of interpreter assistance in the classroom; The main challenges faced by teachers in the classroom when teaching mathematics to hearing-impaired students; and The adaptation of content and methodologies used in mathematics for the learning process of the deaf.
Keywords: Hearing impairment. Teaching-learning. Mathematics.
INTRODUÇÃO
A educação inclusiva é um princípio fundamental que visa garantir a igualdade de oportunidades educacionais para todos, independentemente de suas diferenças. No contexto do ensino de matemática, essa inclusão torna-se especialmente desafiadora quando consideramos alunos com deficiência auditiva. A surdez apresenta particularidades que impactam diretamente a forma como esses estudantes aprendem e interagem com os conteúdos matemáticos, exigindo abordagens pedagógicas diferenciadas e suportes específicos para garantir seu pleno desenvolvimento acadêmico.
No Brasil, avanços legislativos como a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) têm estabelecido diretrizes importantes para a inclusão educacional de pessoas com deficiência, incluindo a promoção de adaptações curriculares e a disponibilização de recursos de acessibilidade, como intérpretes de Libras (Língua Brasileira de Sinais). Apesar desses avanços, os desafios persistem, especialmente no contexto do ensino de disciplinas que exigem uma compreensão profunda e abstrata, como é o caso da matemática.
Este artigo explora os desafios específicos enfrentados pelos professores no ensino de matemática para alunos com deficiência auditiva. Ao analisar esses desafios, buscamos não apenas identificar as barreiras existentes, mas também propor reflexões e estratégias que possam contribuir para uma prática educacional mais inclusiva e eficaz. A compreensão desses aspectos é essencial para promover uma educação matemática que atenda verdadeiramente às necessidades de todos os estudantes, promovendo equidade e oportunidades iguais de aprendizado.
1 A EDUCAÇÃO DO SURDO NO BRASIL
A educação para surdos no Brasil tem experimentado uma evolução significativa ao longo dos anos, marcada por importantes marcos históricos e avanços legislativos que têm moldado o cenário educacional inclusivo no país. Desde o século XIX, com a fundação do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) em 1857, as primeiras iniciativas formais para a educação desse público começaram a ganhar forma, inspiradas pelos métodos europeus e norte-americanos da época. Contribui Medeiros (2018, p. 15):
No Brasil, a educação dos surdos ganhou visibilidade em 1857, com a fundação do Imperial Instituto de Surdos-Mudos, hoje denominado Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), no Rio de Janeiro. No decorrer dessa jornada educacional, três filosofias foram difundidas: oralismo, comunicação total e o bilinguismo.
A legislação brasileira tem desempenhado um papel fundamental nesse processo. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu o direito à educação como universal e obrigatória, estendendo essa garantia também aos surdos. Em 2002, a Lei nº 10.436 reconheceu a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como língua oficial da comunidade surda brasileira, o que fortaleceu sua utilização tanto no contexto educacional quanto social. Essa medida foi um passo importante para a valorização da identidade linguística e cultural dos surdos.
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) representou outro avanço significativo ao reforçar os direitos dos surdos à educação inclusiva e de qualidade. A legislação exige que as escolas estejam preparadas para receber alunos surdos, oferecendo recursos como a presença de intérpretes de Libras e a adaptação curricular necessária para garantir um ambiente de aprendizado acessível. De acordo com Souza et al. (2016, p. 50):
A Lei nº 13.146, de 06 de julho de 2015, objetiva, nos termos de seu art. 1º, assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. Os 18 (dezoito) incisos do caput do art. 28 impõem várias obrigações às instituições privadas e o §1º do mesmo artigo veda a cobrança de valores adicionais de qualquer natureza em suas mensalidades, anuidades e matrículas para seu cumprimento.
Os direitos dos surdos à educação incluem não apenas o acesso à escolarização em todos os níveis, mas também o direito à formação bilíngue (Libras e Português) desde a educação infantil até o ensino superior. Esse enfoque bilíngue não apenas facilita o aprendizado acadêmico, mas também promove uma integração mais completa dos surdos na sociedade, respeitando e valorizando sua língua e cultura. Segundo Festa e Oliveira (2012, p. 2):
Atualmente, o Bilinguismo tem sido muito discutido na área da surdez devido à inclusão dos alunos surdos nas escolas regulares assim como as políticas públicas desenvolvidas no Brasil nos últimos 10 anos. […] o Bilinguismo na área da surdez propõe um espaço efetivo para que a língua de sinais seja utilizada no trabalho educacional, propondo que sejam ensinadas duas línguas à criança surda: a língua de sinais por ser sua língua natural e a língua oficial do país (no caso do Brasil, a LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais e o Português). Nesse sentido, ao sinalizar, a criança poderá desenvolver sua competência e capacidade linguística em uma língua que irá lhe auxiliar na aprendizagem de segunda língua, tornando-se bilíngue.
Apesar dos avanços, desafios ainda persistem, como a formação adequada de professores, a falta de recursos nas escolas e a necessidade de uma infraestrutura mais inclusiva. No entanto, o caminho percorrido até aqui demonstra um compromisso crescente com a inclusão e a igualdade de oportunidades para todos os surdos no Brasil, refletindo uma trajetória de progresso na busca por uma educação verdadeiramente inclusiva e acessível.
2 A DIVERSIDADE DA CULTURA SURDA
A diversidade cultural dentro da comunidade surda é profundamente enriquecida pela Língua Brasileira de Sinais (Libras), que se estabelece como um pilar fundamental da identidade surda. Libras não é apenas um meio de comunicação, mas uma língua completa, com sua própria gramática, estrutura e expressividade visual que refletem a rica diversidade cultural dos surdos brasileiros. Nesse sentido, “[…] em se tratando dos conceitos linguísticos, ousa-se dizer que a Libras é quem permitirá a construção da identidade através das interações sociais que possibilitam aquisição de conhecimento e percepção de mundo” (Brandão; Almeida, 2019, p. 5).
Na cultura surda, Libras tem função essencial não apenas na comunicação do dia a dia, mas também na transmissão de conhecimentos acadêmicos, incluindo o ensino da matemática. Contrariamente à crença popular de que a matemática é uma disciplina estritamente verbal ou textual, Libras oferece uma plataforma robusta para expressar conceitos matemáticos de forma visual e espacialmente explícita. Isso é especialmente significativo, pois muitos conceitos matemáticos podem ser melhor compreendidos através de representações visuais e manipulativas, áreas onde Libras se destaca pela sua capacidade de expressar conceitos abstratos de maneira concreta e acessível. Entretanto, “no que se refere ao ensino da Matemática para surdos, poucas são as pesquisas que tratam dos métodos de ensino e da aquisição e desenvolvimento de conceitos e habilidades numéricas em alunos surdos” (Miranda; Miranda, 2011, p. 37).
Além da linguagem, a diversidade cultural na comunidade surda se manifesta através de tradições compartilhadas, valores culturais e uma identidade coletiva que é moldada pela experiência compartilhada de ser surdo em uma sociedade predominantemente auditiva. Essa diversidade não apenas enriquece a comunidade surda, mas também influencia positivamente a abordagem educacional, permitindo que os surdos explorem e internalizem os conceitos matemáticos de maneiras que respeitam e valorizam suas habilidades visuais e espaciais únicas. Por isso, “a Libras sem dúvida é o meio que permitirá o acesso aos horizontes que oportunizarão ao ser Surdo construir-se em nível intelectual como indivíduo crítico, reflexivo, e que é capaz de produzir conhecimento científico […]” (Brandão; Almeida, 2019, p. 7).
Portanto, a Libras não é apenas um meio de acesso à informação matemática, mas uma parte integral da identidade e cultura surda, fortalecendo a autoestima e promovendo uma educação inclusiva que reconhece e celebra as diferentes formas de aprender e de ser no mundo.
3 INCLUSÃO DOS SURDOS EM SALAS DE AULA REGULARES
A inclusão dos alunos surdos em salas de aula regulares representa um avanço significativo em direção a uma educação mais inclusiva e igualitária. Esta prática não apenas promove a interação entre alunos surdos e ouvintes, mas também enriquece o ambiente educacional ao celebrar a diversidade e promover o respeito mútuo. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, Lei nº 9.394/1996, “[…] garante o atendimento educacional especializado aos surdos no ensino regular. Assegura currículos e recursos educativos específicos, professores capacitados para atender às necessidades destes alunos e integrá-los em classes comuns (Medeiros, 2018, p. 20). Enfatiza-se ainda:
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial.§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular.§ 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil (MEC, 1996, p. 21).
Um dos principais benefícios da inclusão é o desenvolvimento de habilidades sociais e de comunicação para todos os alunos. Para os surdos, estar em um ambiente misto proporciona oportunidades naturais para praticar a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e o Português, além de facilitar a integração social e emocional com seus pares ouvintes.
Além disso, a inclusão em salas de aula regulares estimula um ambiente de aprendizado colaborativo, onde os alunos podem aprender uns com os outros e se beneficiar de diferentes perspectivas e experiências. Isso é especialmente valioso no ensino de matemática, onde a resolução de problemas pode se beneficiar de múltiplas abordagens e pontos de vista. Por isso, “além da formação adequada dos profissionais, apresenta-se a necessidade do estabelecimento de ações que venham divulgar e transformar o espaço escolar para receber esses alunos numa perspectiva realmente inclusiva” (Silva, 2008, p. 271).
No entanto, a inclusão também apresenta desafios significativos que exigem adaptações específicas para garantir o sucesso acadêmico de todos os alunos. Um dos principais desafios é a necessidade de adaptações curriculares e metodológicas para atender às necessidades individuais dos alunos surdos, incluindo a disponibilidade de intérpretes de Libras em sala de aula, materiais educacionais acessíveis e a formação de professores capacitados em estratégias de ensino inclusivas.
Estratégias como o uso de recursos visuais, manipulativos matemáticos táteis e o ensino explícito de vocabulário matemático em Libras são essenciais para garantir que os alunos surdos possam acessar plenamente o currículo de matemática e participar ativamente das atividades de aprendizagem. Conforme Martins (2006, p. 18), “nas últimas décadas, a instituição escolar vem sendo desafiada a conseguir uma forma equilibrada que resulte numa resposta educativa comum e diversificada, isto é, que seja capaz de proporcionar uma cultura comum a todos os educandos sob sua responsabilidade.”
No contexto do ensino de matemática, as adaptações são particularmente cruciais devido à natureza abstrata e simbólica dos conceitos matemáticos. Os professores devem ser incentivados a utilizar recursos visuais, como gráficos, diagramas e modelos concretos, para tornar os conceitos matemáticos mais tangíveis e compreensíveis para os alunos surdos. O uso de tecnologia assistiva, como softwares de tradução de texto para Libras ou recursos digitais interativos, também pode ampliar as oportunidades de aprendizagem e promover a autonomia dos alunos surdos no processo educacional.
Compreende-se então, a importância da preocupação do acolhimento desses alunos e da tentativa de atender as múltiplas necessidades, levando-se em consideração:
I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica, para atender às suas necessidades; III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns (MEC, 1996, p. 21-22).
Desse modo, a inclusão dos surdos em salas de aula regulares é um passo crucial para promover uma educação mais inclusiva e equitativa. Com as adaptações adequadas e o suporte necessário, os alunos surdos podem não apenas alcançar seu potencial acadêmico, mas também contribuir de maneira significativa para a diversidade e o enriquecimento do ambiente educacional como um todo.
4 O PROFESSOR DE MATEMÁTICA E A IMPORTÂNCIA DO AUXÍLIO DO INTÉRPRETE EM SALA DE AULA
O papel do intérprete de Libras na sala de aula de matemática é de extrema importância para garantir que alunos surdos tenham acesso ao conteúdo educacional de maneira eficaz e inclusiva. A colaboração entre o professor de matemática e o intérprete não se limita à simples tradução de palavras, mas envolve uma parceria dinâmica que visa facilitar o processo de ensino-aprendizagem para todos os alunos. Dessa forma, “o objetivo desse profissional dentro da sala de aula é proporcionar condições reais para que o aluno aprenda os conhecimentos transmitidos pelos professores e, para a inclusão do aluno com deficiência auditivo, essa figura em sala de aula vem a ser essencial” (Lopes, 2020, p. 11, grifo meu).
O intérprete de Libras desempenha um papel crucial na mediação da linguagem matemática para a Língua Brasileira de Sinais. Ele não apenas traduz termos técnicos e conceitos matemáticos, mas também adapta a comunicação de forma a torná-la compreensível e acessível para os alunos surdos. Isso inclui a utilização adequada de sinais e expressões faciais que são fundamentais para transmitir a complexidade e nuances dos conceitos matemáticos. Para tanto, “o intérprete também precisa ter conhecimento técnico para que suas escolhas sejam apropriadas tecnicamente. Portanto, o ato de interpretar envolve processos altamente complexos” (Brasil, 2004, p. 24).
Além da tradução linguística, o intérprete também atua como um facilitador da interação social e acadêmica na sala de aula. Ele promove a inclusão ao permitir que os alunos surdos participem ativamente das discussões, perguntas e debates matemáticos que ocorrem em tempo real. Essa participação é essencial para o desenvolvimento cognitivo e emocional dos alunos, proporcionando-lhes a oportunidade de expressar suas ideias e compreender as dos outros de maneira completa e eficaz. Nesse prisma, para Santos (2013), o intérprete no contexto de sala de aula tem como uma das funções promover a relação de diálogo entre o professor e o aluno. Ele será responsável pelas escolhas lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua alvo para que a informação seja apropriada ao máximo da sua real mensagem pelo aluno.
A parceria entre o professor de matemática e o intérprete não se limita apenas à sala de aula, mas se estende ao planejamento curricular e à adaptação de materiais didáticos. Ambos colaboram para criar um ambiente educacional inclusivo, onde estratégias pedagógicas são ajustadas para atender às necessidades específicas dos alunos surdos, podendo incluir o uso de recursos visuais, como gráficos e diagramas, que são essenciais para o ensino de conceitos matemáticos abstratos. Lopes (2020, p. 12) destaca:
O trabalho do tradutor intérprete na sala de aula, vai além do simples papel de transmitir o diálogo entre professor e aluno; ele envolve uma atuação responsável e parceira do professor, onde ambos compreendam que precisam trabalhar juntos e um não promove aprendizagem no aluno sem o outro.
Assim sendo, o auxílio do intérprete de Libras na sala de aula de matemática não apenas facilita a comunicação e a compreensão dos conteúdos, mas também promove a inclusão e o desenvolvimento integral dos alunos surdos. É uma colaboração que valoriza a diversidade linguística e cultural, proporcionando uma educação de qualidade que respeita e celebra as diferenças individuais de cada estudante.
5 OS PRINCIPAIS DESAFIOS ENFRENTADOS PELO PROFESSOR EM SALA DE AULA PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA PARA ALUNOS DEFICIENTES AUDITIVOS
O ensino de matemática para alunos deficientes auditivos apresenta desafios únicos que exigem do professor adaptações significativas tanto na abordagem pedagógica quanto no uso de recursos tecnológicos e de comunicação. Estes desafios são fundamentais para garantir que todos os alunos tenham acesso igualitário ao aprendizado matemático, independentemente de suas habilidades auditivas.
Um dos principais obstáculos enfrentados pelo professor é a complexidade da linguagem matemática em si. A matemática é uma disciplina que utiliza um vocabulário técnico específico, repleto de termos precisos e simbologia abstrata. Para alunos surdos que dependem da Língua Brasileira de Sinais (Libras) ou de leitura labial, compreender e internalizar esses conceitos pode ser desafiador. O professor precisa encontrar estratégias eficazes para explicar conceitos matemáticos de forma visual e intuitiva, utilizando recursos como modelos manipulativos, representações gráficas e demonstrações práticas que possam ser facilmente compreendidos. Contribui Sobral e Melo (2021, p. 2):
A educação matemática é um grande desafio para muitas pessoas, e essa situação pode se agravar ainda mais quando falamos de pessoas surdas ou com deficiência auditiva. A inclusão dos alunos surdos nas escolas regulares desafia os professores de vários componentes curriculares, inclusive de matemática, pois estes profissionais estão em uma realidade escolar com alunos surdos e ouvintes, sendo que aqueles terão acesso aos conteúdos matemáticos através da Libras- Língua Brasileira de Sinais com a mediação do intérprete.
Além da complexidade linguística, as dificuldades de comunicação também representam um grande desafio. A falta de acesso completo à comunicação oral pode dificultar a interação direta entre aluno e professor, tornando essencial o uso de intérpretes de Libras ou de tecnologias assistivas, como sistemas de amplificação sonora ou dispositivos de transmissão de texto em tempo real. A presença de um intérprete qualificado é crucial não apenas para traduzir a linguagem matemática para Libras, mas também para facilitar a participação ativa dos alunos surdos nas discussões e atividades da sala de aula. De acordo com Silva (2017), o professor, ao ensinar matemática para o aluno surdo, precisa de conhecimento específico acerca do tema, de sensibilidade quanto às peculiaridades dessa relação de ensino em particular; precisa ver o mundo a partir de uma perspectiva dessa limitação de sentido, ser consciente, reconhecer que a educação é caracterizada pela diversidade, tendo respeito e incentivando ideais democráticos e igualitários.
Ademais, a necessidade de adaptações metodológicas e tecnológicas é premente. Os professores devem estar capacitados para usar plataformas educacionais que suportem a inclusão de recursos acessíveis, como legendas em vídeos, materiais didáticos adaptados e softwares de simulação matemática que permitam a exploração interativa dos conceitos. A tecnologia tem um papel muito importante ao proporcionar ferramentas que tornam o aprendizado matemático mais acessível e envolvente para alunos surdos. Sobral e Melo (2021, p. 3) comentam sobre essa perspectiva:
Outra questão relevante para o ensino de surdos são os conceitos e as metodologias adotadas pelos professores que lecionam em salas inclusivas, uma vez que as formas de ensino-aprendizagem para esses alunos devem ser analisadas e discutidas, atentando às suas particularidades de acesso aos conteúdos.
Portanto, os desafios enfrentados pelo professor ao ensinar matemática para alunos deficientes auditivos requerem um compromisso contínuo com a adaptação e inovação pedagógica. É essencial investir em formação especializada, recursos tecnológicos adequados e práticas inclusivas que promovam uma educação matemática eficaz e equitativa para todos os estudantes, independentemente de suas necessidades individuais.
6 A ADAPTAÇÃO DE CONTEÚDO E METODOLOGIAS UTILIZADAS NA MATEMÁTICA PARA O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DOS SURDOS
A adaptação de conteúdos e metodologias no ensino de matemática para alunos surdos é um aspecto decisivo para garantir que todos os estudantes tenham acesso equitativo e eficaz ao aprendizado dessa disciplina fundamental. Essa adaptação envolve estratégias específicas que consideram as necessidades linguísticas e sensoriais dos alunos surdos, proporcionando-lhes ferramentas adequadas para explorar e compreender os conceitos matemáticos de maneira significativa. Nascimento et al. (2018, p. 2) ressalta:
[…] pode-se perceber que o aluno surdo desenvolve com mais apuro o sentido da visão, por isso é favorável que os docentes desenvolvam metodologias que utilizem meios e estratégias partindo e explorando os aspectos e elementos visuais, para que estes possam ser facilitadores no processo de aprendizagem desses alunos surdos.
Uma das principais estratégias de adaptação é o uso de modelos e manipulativos táteis. Esses recursos permitem aos alunos surdos experimentar conceitos matemáticos através do toque e da manipulação física. Por exemplo, blocos de construção, formas geométricas palpáveis e materiais manipulativos específicos ajudam a concretizar abstrações matemáticas, como operações aritméticas, geometria e álgebra, proporcionando uma compreensão mais profunda e prática dos conceitos.
Além dos modelos físicos, gráficos e diagramas desempenham um papel crucial na adaptação de conteúdos matemáticos. Essas representações visuais permitem aos alunos surdos visualizar relações matemáticas complexas, como funções, estatísticas e geometria. Gráficos de barras, gráficos de linha e diagramas de Venn são exemplos de ferramentas visuais que tornam os conceitos matemáticos mais acessíveis e compreensíveis para estudantes que dependem predominantemente da visão para a aprendizagem. Martinho (2016, p. 9) colabora:
O professor precisa estar bem preparado para lidar com um leque muito variado e altamente diferenciado de alunos. Para além de um conhecimento sólido em matemática, necessita conhecer bem seus alunos, na sua diversidade, bem como metodologias diversificadas que lhes permitam fazer opções adaptadas às diferentes situações e promover a participação de todos os alunos.
No contexto digital, tecnologias educacionais oferecem recursos poderosos para a adaptação de metodologias no ensino de matemática para alunos surdos. Aplicativos interativos, softwares de simulação e plataformas digitais proporcionam aos estudantes surdos a oportunidade de explorar conceitos matemáticos de maneira autônoma e dinâmica. Essas ferramentas oferecem animações, exercícios práticos e feedback imediato, facilitando a aprendizagem e engajamento dos alunos surdos com o conteúdo matemático. Quanto a esse processo, Miranda (2011, p. 43) cita:
A metodologia de ensino se torna muito importante, uma vez que se está trabalhando com pessoas pertencentes a uma cultura diferente, que pensam e desenvolvem seu conhecimento de forma diferente. Devemos adequar a metodologia que utilizamos ao público que nós atendemos, para que estes possam pensar, construir e expressar seu conhecimento satisfatoriamente.
Outra estratégia fundamental é a adaptação da linguagem e comunicação utilizadas durante as aulas de matemática. É essencial que os educadores empreguem uma linguagem clara, direta e visualmente apoiada ao explicar conceitos matemáticos. Isso não apenas facilita a compreensão dos alunos surdos, minimizando a dependência da audição, mas também promove a participação ativa dos estudantes nas discussões e atividades da sala de aula.
Além das estratégias diretamente relacionadas ao conteúdo matemático, a colaboração estreita com intérpretes de Libras e profissionais de apoio educacional é essencial para garantir uma experiência educacional inclusiva. Esses profissionais desempenham um papel essencial na mediação entre a linguagem matemática e a Língua Brasileira de Sinais, facilitando a comunicação e promovendo o entendimento completo dos conceitos matemáticos pelos alunos surdos. Nessa perspectiva, Nascimento et al. (2018, p. 2) enfatiza:
É necessário e importante que seja ofertado o ensino ao aluno surdo em sua própria língua, objetivando um espaço favorável de aprendizagem e também de comunicação. Diversos fatores podem intervir no processo de aprendizagem do aluno surdo, como por exemplo, a defasagem de conceitos básicos vistos em séries anteriores, professores sem a devida formação, dificuldades de aprendizagem, problemas familiares entre outros aspectos que podem interferir no sucesso e aproveitamento acadêmico dos discentes.
Desse modo, a adaptação de conteúdos e metodologias no ensino de matemática para alunos surdos é uma abordagem multifacetada que reconhece e valoriza a diversidade linguística e sensorial dos estudantes. Ao implementar estratégias eficazes, os educadores criam um ambiente de aprendizagem inclusivo onde todos os alunos têm a oportunidade de desenvolver suas habilidades matemáticas de maneira significativa e alcançar seu pleno potencial acadêmico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nas palavras finais deste artigo sobre os desafios no ensino de matemática para alunos com deficiência auditiva, é essencial refletir sobre os pontos discutidos, ressaltando a importância de práticas educacionais inclusivas e da valorização da cultura surda para promover uma educação matemática eficaz e equitativa.
Ao longo deste trabalho, exploramos a evolução da educação para surdos no Brasil, destacando marcos históricos e a legislação relevante, como a Lei Brasileira de Inclusão, que garantem os direitos dos surdos à educação inclusiva. Discutimos também a diversidade cultural dentro da comunidade surda, enfatizando a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como elemento central da identidade surda e seu impacto positivo na aprendizagem de matemática.
Abordamos os benefícios e desafios da inclusão dos alunos surdos em salas de aula regulares, ressaltando a importância de estratégias educacionais inclusivas e adaptações necessárias para o ensino de matemática. Destacamos ainda o papel essencial do intérprete de Libras na sala de aula de matemática, cuja parceria com o professor facilita significativamente o processo de ensino-aprendizagem para alunos surdos.
Exploramos os desafios específicos enfrentados pelos professores ao ensinar matemática para alunos surdos, como a complexidade da linguagem matemática, dificuldades de comunicação e a necessidade de adaptações metodológicas e tecnológicas. Sublinhamos a importância da adaptação de conteúdos e metodologias, utilizando modelos, manipulativos, gráficos, e tecnologias digitais para tornar os conceitos matemáticos acessíveis e compreensíveis para todos os estudantes.
É importante reafirmar que a capacitação contínua dos professores é fundamental para implementar práticas educacionais inclusivas. O uso adequado de recursos pedagógicos e tecnológicos, aliado à valorização da cultura surda e à colaboração com profissionais de apoio, são pilares essenciais para promover uma educação matemática de qualidade, que respeite e atenda às necessidades individuais de cada aluno.
Dessa forma, ao adotar uma abordagem inclusiva e sensível às especificidades dos alunos surdos, podemos criar ambientes educacionais onde todos os estudantes tenham igualdade de oportunidades para aprender e prosperar, contribuindo assim para uma sociedade mais inclusiva e justa.
Referências
BRANDÃO, Roberta Alena de Alcântara; ALMEIDA, Wolney Gomes. Surdez, língua e cultura: a libras protagonizando a(s) identidade(s) cultural(ais) do surdo. XV Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura – ENECULT. Salvador – BH. 01 a 03 de agosto de 2019. Disponível em: http://www.xvenecult.ufba.br/modulos/submissao/Upload-484/111704.pdf. Acesso em: 30 jun. 2024.
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Brasília: MEC, 1996. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 30 jun. 2024.
BRASIL. O tradutor e interprete de língua brasileira de Sinais e língua portuguesa. Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos. Brasília: MEC/SEESP, 2004. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/tradutorlibras.pdf. Acesso em: 30 jun. 2024.
FESTA, Priscila Soares Vidal; OLIVEIRA, Daiane Cristine de. Bilinguismo e surdez: conhecendo essa abordagem no Brasil e em outros países. Revista eletrônica do curso de Pedagogia das Faculdades OPET. Dezembro de 2012. Disponível em: https://www.opet.com.br/faculdade/revista-pedagogia/pdf/n4/ARTIGO-PRISCILA.pdf. Acesso em: 30 jun. 2024.
LOPES, Larissa. O papel do intérprete de libras no contexto escolar. Monografia. Universidade São Francisco, Itatiba, 2020. Disponível em: https://www.usf.edu.br/galeria/getImage/768/100819248093914.pdf. Acesso em: 30 jun. 2024.
MARTINHO, M. H. Prefácio. In: MANRIQUE, A.L; MARANHÃO, M.C.S.; MOREIRA, G.E. Desafios da Educação Matemática Inclusiva: Formação de Professores. Livraria da Física. São Paulo: 2016.
MARTINS, L. de A. R. et al. Inclusão: compartilhando saberes. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2006.
MEDEIROS, Emmylie. Os desafios no ensino de matemática para alunos com deficiência auditiva. – Caicó: UFRN, 2018. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/36694/1/OsDesafiosnoEnsino_Medeiros_2018.pdf. Acesso em: 30 jun. 2024.
MIRANDA, Crispim Joaquim de Almeida; MIRANDA, Tatiana Lopes de. O ensino de Matemática para alunos surdos: quais os desafios que o professor enfrenta. Revemat: Revista Eletrônica de Educação Matemática, v. 6, n. 1, p. 31-46, 2011.
NASCIMENTO, Francisca Rayane Pereira do et al. Metodologias no ensino de matemática para alunos surdos: um estudo de caso. Congresso Nacional de Educação – V CONEDU, 2018. Disponível: https://mail.editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2018/TRABALHO_EV117_MD4_SA10_ID3560_10092018033149.pdf. Acesso em: 30 jun. 2024.
SANTOS, Vera Lúcia Maria dos. A inclusão de alunos surdos na Educação Infantil na Rede Pública. Trabalho de conclusão de curso (TCC) apresentado ao Curso de Pedagogia Modalidade a Distancia da UFPB como requisito parcial para a conclusão do curso de Graduação. 2013. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/3559/1/VMS02102013.pdf. Acesso em: 30 jun. 2024.
SILVA, L. C. A surdez: descobrindo as práticas pedagógicas. In: DECHICHI, C.; SILVA, L. C. da (Org.). Inclusão e educação especial: teoria e prática na diversidade. Uberlândia: EDUFU, 2008.
SILVA, Joseli Alves da. PINTO, Gisela Maria da Fonseca. As ações do professor de Matemática e do intérprete educacional de Libras junto ao aluno surdo. Educação Pública. Rio de Janeiro – RJ. 2017. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/17/8/as-aes-do-professor-de-matemti ca-e-do-intrprete-educacional-de-libras-junto-ao-aluno-surdo. Acesso em: 30 jun. 2024.
SOBRAL, Caio Henrique Rocha; MELO, Joaquina Maria Portela Cunha. Desafios do ensino de matemática para alunos surdos: uma revisão bibliográfica. 2021. Disponível em: http://bia.ifpi.edu.br:8080/jspui/bitstream/123456789/1485/1/2021_tcc_chrsobral.pdf. Acesso em: 30 jun. 2024.
SOUZA, Heron Abdon et al. Constituição e educação inclusiva: a Lei Federal 13.146/2015. Saber Digital, v. 9, n. 2, p. 49-60, 2016. Disponível em: https://revistas.faa.edu.br/SaberDigital/article/download/207/171/338. Acesso em: 30 jun. 2024.
[1] Graduada em Matemática pela Universidade Federal do Pará – UFPA; Especialista no Ensino da Matemática pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM; Mestra em Ciências da Educação pela Universidad de La Integración de Las Américas – UNIDA. E-mail: nalva.reis1908@gmail.com