OS DESAFIOS ENFRENTADOS NA ERRADICAÇÃO DA DENGUE NO BRASIL E SUA REVERBERAÇÃO NA SAÚDE PÚBLICA

 THE CHALLENGES FACED IN THE ERADICATION OF DENGUE IN BRAZIL AND ITS REVERBERATION IN PUBLIC HEALTH

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11324008


Carlos Eduardo Cunha dos Santos1; Carlos Gabriel Carvalho Ben1; Caroline Mendes das Dores1; Guilherme Ribeiro Ruas1; Geovanna Chaves Ferreira1; Rafaela de Carvalho Batista1; Bruno Cassiano de Lima2.


Resumo

Introdução: Na atual conjuntura enfrentamos um grande desafio com a dengue. A existência de uma ampla variedade de seus sorotipos contribui para o aumento do número de casos na atualidade. Objetivo do estudo: O presente estudo tem por objetivo determinar os desafios enfrentados na atualidade na erradicação da dengue, os quais contribuem anualmente para questões de saúde pública nacional. Metodologia: Trata-se de um estudo baseado em revisões literárias e dados obtidos pelo nosso Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), e a base de dados do Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública para Dengue (COE Dengue). Resultados: O estudo denota uma tendência de fortes influências sociais, ambientais e climáticas para a contribuição do desenvolvimento e propagação da doença. Conclusões: Logo, por meio da análise dos dados e dos estudos abordados, concluímos que certas medidas devem ser tomadas para obtenção do objetivo não só dessa pesquisa, mas também das atuais políticas públicas, que hoje, se mostram ineficazes em cenário macro nacional.

Palavras-chave: “Dengue”; “Saúde pública”; “Arboviroses”.

Resume

Objective of the study: The present study aims to determine the challenges currently faced in the eradication of dengue, which contribute annually to national public health issues. Methodology: This is a study based on literary reviews and data obtained by our Notifiable Diseases Information System (SINAN), and the database of the Public Health Emergency Operations Center for Dengue (COE Dengue). Results: The study denotes a trend of strong social, environmental and climatic influences contributing to the development and spread of the disease. Conclusions: Therefore, through the analysis of the data and studies covered, we concluded that certain measures must be taken to achieve the objective not only of this research, but also of current public policies, which today are ineffective in the national macro scenario.

Keywords: “Dengue”; “Public health”; “Arboviruses”.

Introdução 

Atualmente enfrentamos um grande desafio ao se falar sobre saúde pública em critério das arboviroses, mas em especial, a dengue.1 A dengue é causada por um vírus pertencente à família Flaviviridae e ao gênero Flavivirus.2 O DENV (vírus da dengue) possui quatro diferentes sorotipos, sendo eles: DENV-1, DENV-2; DENV-3 e DENV-4.2 A doença é propagada por meio de um vetor, os mosquitos do gênero Aedes, de modo mais específico, as fêmeas do gênero Aedes aegypti, as quais são hospedeiras do infectante.3

O vírus apresenta alta capacidade de infectar vários tipos de células do ser humano infectado, o que inclui o fígado, baço, cérebro e outros órgãos vitais.2 Dessa forma, a doença se apresenta com um variado cenário clínico, de maneira que a mesma pode ser tanto assintomática, como também sintomática, além de estágios leves, moderados e graves, podendo levar o paciente a óbito.4

A ampla variedade de seus sorotipos corrobora como um fator essencial ao se falar sobre o aumento do número de casos na atualidade.1 Diante disso, tal fato se confirma ao vermos os números até então registrados neste ano (2024) no país. O Brasil apresenta 17 federações com incidência de dengue acima dos níveis históricos, aqui já vistos.4 Assim, foi divulgado até o presente momento pelo COE (Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública para Dengue) uma estimativa de até 4.500.594 de casos prováveis no país.5 Além disso, o Ministérios da Saúde divulgou 973 mil casos suspeitos no país.6

Posto isso, é necessário falar sobre os fatores contribuintes para este atual cenário, dentre eles, que iremos destacar neste estudo, as condições ambientais, o rápido crescimento urbano e a nulidade de algumas políticas públicas voltadas para o meio ambiente.7 Logo, ter ciência disso contribui favoravelmente para a promoção de ações capazes de contornar tal epidemia. No Brasil, o não conhecimento necessário nos trouxe a uma conjuntura catastrófica na saúde pública, antes, por meio de estudos existentes desde 1999, evoluímos a incidência da infecção de 4,0 a 90,1%.4

Ademais, é fulcral olhar também para a conjunção social e reconhecer fatores de risco associados à gravidade dos casos, de maneira a ir além de aspectos lógicos já pensados. Consequentemente, hoje este assunto tornou-se uma das prioridades das principais organizações de saúde do mundo. 

Sendo assim, este estudo tem por objetivo apontar os desafios enfrentados na erradicação da dengue, nesta conjuntura, de maneira a qual  contribui anualmente para questões relacionadas a saúde pública nacional, devido a larga escala apresentada pela doença em todo território nacional.

Material e Métodos

Refere-se a uma revisão de literatura, de caráter integrativo, qualitativa de cunho exploratória, realizada no período de abril a maio de 2024. A pesquisa integrativa é composta pelo objetivo de explorar um determinado problema ou questão, e assim, possibilitar o conhecimento referente a tal problemática. É de conhecimento que a pesquisa integrativa tem como principal foco a correlação entre a aprendizagem e o conhecimento, o qual necessita estar sempre em uma constante aprimoração, outrossim, este tipo de pesquisa enfatiza a necessidade de questionamentos racionais para a obtenção de resoluções coerentes para o tema levantado no estudo. Haja visto, este estudo referente “Os desafios enfrentados na erradicação da dengue no Brasil e sua reverberação na saúde pública”, foi realizado com o intuito de promover inquietação e reflexão sobre equívocos presentes nas atuais políticas públicas para a doença.

O estudo foi feito por meio de buscas ativas na literatura mediante a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS); o COE (Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública para Dengue); pelo Ministério da Saúde; pelo SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação); e também pela base de dado SciELO (Scientific Electronic Library Online) com o uso de descritores: “Dengue”, “Saúde pública”, “Arboviroses”, sendo desta busca encontrados 43 artigos que foram submetidos aos critérios de inclusão e exclusão para a nossa seleção. 

Os critérios selecionados para a aplicação nesta pesquisa foram: inclusão (publicações dentro do período de 5 anos, entre 2019 a 2024, textos em inglês, espanhol e português, áreas temáticas – ciências em saúde, medicina, tropical, saúde, infecção e ciências, tipos de literatura – artigo, relato de caso e artigo de revisão, disponíveis em todos os periódicos; exclusão: estudos não abrangentes sobre a temática, artigos duplicados e incompletos, disponibilizados em forma de resumo e que não atendem aos critérios de inclusão. Após a seleção, 7 artigos foram encontrados e submetidos à coleta de informações complementares aos dados obtidos pelas outras referências. 

Resultados 

A dengue atualmente é considerada uma das arboviroses urbanas mais importantes, devido ao fato de ser uma epidemia infecciosa de caráter reemergente com grande magnitude.1

No Brasil, a primeira epidemia que foi documentada por este vírus foi em 1981-1982, em Boa Vista (RR), sendo identificados os sorotipos DENV-1 e DENV-4. Após isso, em 1986, observaram o alastramento para outras regiões do Brasil, sendo o Rio de Janeiro e algumas capitais do Nordeste atingidos.5  Assim, este segue sendo o perfil da dengue na atualidade, na qual possuímos períodos endêmicos e epidêmicos.5

Dessa forma, é importante pontuar a necessidade de conhecimento das diferentes regionalidades do país e entender a dinâmica espaço-temporal.4 Temos então a compreensão da existência de áreas hiper endêmicas, as quais são caracterizadas como áreas em que há mais de um tipo de sorotipo e também uma janela de transmissão mais longa que as demais regiões.4 Logo, estão relacionadas a um risco maior para a ocorrência de epidemias e consequentemente, maiores índices de mortalidade pelo vírus.4

Demais, por  meio do SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) foi possível reconhecer as discrepâncias regionais ao falar da doença, conforme ilustrado na Tabela 1.

Tabela 1 –  Dengue – Notificações registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Brasil

Fonte: Ministério da Saúde/SVSA – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net, adaptado.

Diante do exposto na Tabela 1, é possível notar as diferenças entre as regiões do Brasil. Assim, observamos que a região Sudeste apresentou maior número de casos, além do maior número de óbitos, somando mais de 900 óbitos pelo agravo notificado, dentre as demais, contudo, é válido ressaltar que esta região apresenta um dos estados mais populosos do nosso país, então, diante disso, reafirmamos a necessidade de ser estudada a individualidade de cada região. 

Desse modo, diferentes variáveis também precisam ser empregadas como sexo, raça/cor e faixa etária como ilustrado na Figura 1.

Figura 1 – Estimativa de casos de dengue por sexo, raça/cor e faixa etária por ano e semana epidemiológica.

Fonte: Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública para Dengue – COE Dengue, 2024. 

Logo, por meio das estimativas da figura 1, identificamos que as mulheres se apresentam com maior número de casos, apesar da pequena diferença entre os sexos, já é um fator a ser relevado ao aplicar novas políticas públicas. Além disso, os indígenas, amarelos e pretos são a minoria dentre a estimativa, o que pode ser explicado por diferenças socioculturais de cada raça, além do espaço ambiental que estão expostos. Já a pirâmide etária mostra uma prevalência entre os 20 aos 39 anos, sendo essa, em sua grande maioria, pessoas expostas aos fatores ambientais de maneira mais ativa.

Conseguinte, diversos são os desafios ao falar sobre erradicar a dengue, principalmente se tratando de regiões tropicais, as quais favorecem o meio de desenvolvimento dos vetores.7 Por isso, a indispensabilidade de permear fatores como as possíveis vulnerabilidades dos mosquitos em seu habitat, as influências climáticas, o desenvolvimento técnico-científico para a limitação do desenvolvimento viral.7

Reconhecendo isso, alguns pesquisadores desenvolveram um Sistema de Alerta Climático de Dengue, o qual foi criado por um Centro de Pesquisa da Universidade Federal do Paraná, e por intermédio disso, foi identificado que temperaturas entre 22 a 30°C possuem um alto risco para epidemias de dengue, devido a atuação da temperatura para a reprodução do vírus e do mosquito vetor.7

Por certo, em detrimento dessas informações, no Brasil, os casos de dengue apresentam um período de alta entre janeiro a abril de cada ano, e uma relativa redução entre junho e setembro, justamente devido aos menores índices de pluviosidade neste tempo, fora o aumento da umidade do ar em índices acima de 70%.7

Outro fato a ser devidamente analisado, são as áreas estratificadas em função da densidade de ovos do mosquito, da densidade populacional, como anteriormente citado, e a incidência de dengue em nível municipal, o que facilitaria os serviços da vigilância sanitária local.8

Além do mais, o crescimento urbano acelerado e não planejado gerou aspectos espaciais influentes nesse processo, pois assim, diversos locais se desenvolveram sem as devidas medidas primordiais, como boa estrutura de saneamento, alcance nas coletas de lixo, fora os diversos terrenos baldios.8

Discussão 

Os desafios para o controle da dengue são nítidos, não só em contexto nacional, mas também em contexto global. Variadas são as tentativas expostas pelas políticas públicas nacionais como as visitas domiciliares visando a cobertura de recipientes,  o uso de larvicidas na tentativa de regular a proliferação dos insetos em seu estágio larval, além dos popularmente conhecidos “fumacês”.8

Entretanto, tais tentativas são falhas quando não aplicadas diante das peculiaridades de cada local, atendendo a demanda e influência de todos os fatores explicitados acima.8 Apesar de já terem tentado aplicar uma estratégia mais ampla, foi ineficaz diante da escala que foi utilizada, não reconhecendo os espaços em sua dimensão minoritária.8 Logo, é necessário a implementação de estudos que busquem um refino nas identificações de cada região/município. 

Em virtude disso, tal fato é esclarecido por meio de dados fornecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a qual demonstrou que nas últimas décadas  um aumento exponencial dos casos de dengue em todo o mundo, correspondendo a 2,4 milhões em 2010 e 4,2 milhões de casos em 2019.4 Já em 2020, em uma pesquisa feita pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), as Américas teriam alcançado o maior número de casos antes já tidos, sendo mais de 1,6 milhões de casos, sendo o Brasil, o destaque, revelando um total de 2.070.170 de notificados.3

As dificuldades hoje enfrentadas vão para além do que antes poderia imaginar, diversos são os influentes nessa luta contra a dengue, a pobreza, a limitação do acesso aos serviços de saúde, são outros exemplos também que devem ser levantados.2 É fundamental preencher as lacunas que faltam para uma boa implementação de novas políticas, que iniciam tanto de modo em macro espectro as dificuldades sociais, como as mínimas premências na capacitação dos profissionais de saúde em orientar a população para uma melhor assistência e consequentemente uma busca mais prematura do atendimento.2

Em outra instância, as análises climáticas são indispensáveis quando se fala em controle da dissipação do vírus e do vetor, tendo em vista que estes aspectos são contribuintes para a reverberação dos mesmos.7

A metodologia aqui proposta apesar de ser limitada, diante dos poucos estudos feitos dentro dessa área, mostram-se eficazes nos pontos citados, haja visto que toda conjuntura desse espectro é direcionada para o mesmo propósito aqui levantado, contribuindo para uma redução da magnitude hoje enfrentada não só pelo povo brasileiro, mas também pelo sistema de saúde pública, o qual encontra-se em dificuldade sempre que se apresenta em situação epidêmica, como visto na dengue hoje. 

Numerosos são os fundos necessários para o investimento e contenção de epidemias, fato negativo tanto para órgãos nacionais, estaduais e municipais que enfrentam essa crise na saúde.2 Pois, é frente a esses cenários que a cada ano novas medidas são implementadas na tentativa de corroborar para esse embate epidemiológico, como a implementação de vacinas, a qual foi incorporada no Sistema Nacional de Saúde (SUS) em dezembro de 2023, e adicionada ao calendário vacinal de 2024.9 Fora isso, o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública para Dengue também foi algo adicionado recentemente em nosso país (fevereiro de 2024), que tem como objetivo aprimorar o planejamento e a resposta coordenada das estratégias propostas em âmbito nacional.9 

No entanto, políticas isoladas, sem aplicação nacional específica por região, como aqui antes exposto, são tentativas limitadas diante da dimensão territorial desse país, como também as diversas particularidades sociais, culturais, climáticas e ambientais. 

Conclusões 

Embora existam políticas públicas para a dengue, a pesquisa mostrou as presentes falhas na aplicabilidade e desenvolvimento delas. Assim, entender os diversos fatores que são relevantes em todo o processo de desenvolvimento e disseminação mostraram-se substanciais para o alcance do objetivo por elas almejado. 

O estudo foi fiel ao que buscamos, sendo coerente ao processo e desenvolvimento dessa atual problemática, no qual obtivemos respostas que respondem a prevalência desses índices em crescentes a cada ano que passa. 

Logo, implementar e investir em pesquisas mais eficientes e em melhorias tanto no sistema de saúde pública são os primeiros passos a serem tomados para o controle da dengue em território nacional, de maneira, que tais esforços alcancem para além de medidas paliativas, como hoje apresentam-se.

Referências

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¹Discente do curso de Medicina na Universidade de Rio Verde – Campus Goianésia, GO.
²Docente do curso de Medicina na Universidade de Rio Verde – Campus, Goianésia, GO.