OS DESAFIOS DOS DOCENTES DE UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA DE SANTA CATARINA COM O ENSINO REMOTO NA PANDEMIA DE COVID-19: UM ESTUDO DE CASO 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7849407


Christian de Vargas Silva


RESUMO 

Este estudo de caso tem o objetivo de analisar a adaptação dos docentes de uma escola da rede pública de educação do estado de Santa Catarina ao ensino remoto em meio a pandemia de COVID-19. Como procedimento metodológico, foi aplicado um questionário baseado na escala likert com questões devidamente selecionadas para obter os resultados mais próximos da realidade possível. O questionário base da pesquisa foi aplicado na Escola de Educação Básica Maria Garcia Pessi, localizada no município de Araranguá, no extremo sul do estado de Santa Catarina. Com as respostas dos professores foi possível verificar qual o nível de adaptação deles ao ensino remoto, e qual foi o impacto do ensino remoto com relação ao uso de tecnologias após o período pandêmico. Foi possível verificar as experiências pessoais de alguns professores através de respostas anônimas sobre a visão dos impactos positivos e negativo desse momento histórico no processo de ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: Ensino remoto, Covid-19, Estudo de caso.

ABSTRACT 

This case study aims to analyze the adaptation of teachers from the public education school in the state of Santa Catarina to remote teaching in the midst of the COVID-19 pandemic. As a methodological procedure, a questionnaire based on the Likert scale was applied with questions duly selected to obtain the results as close to reality as possible. The research base questionnaire was applied at the Maria Garcia Pessi Basic Education School, located in the municipality of Araranguá in the extreme south of the state of Santa Catarina. With the teachers’ answers, it was possible to verify their level of adaptation to remote teaching, and what was the impact of remote teaching in relation to the use of technologies after the pandemic period. It was possible to verify the personal experiences of some teachers through anonymous answers about the positives and negatives of this historical moment in the teaching-learning process. 

Keywords: Remote learning, Covid-19, Case study

INTRODUÇÃO 

A constante evolução tecnológica experimentada principalmente no início da década de 1990, fez com que várias áreas da vida humana fossem impactadas direta ou indiretamente. A educação em especial foi sendo impactada não somente na exigência de capacitação profissional, como também na exigência da mudança das metodologias existentes, para novas formas de ensinar que fossem mais eficientes diante da nova realidade que estava sendo construída. Com a evolução das tecnologias ao longo dos anos e o barateamento dos serviços de internet e dados móveis, bem como dos aparelhos de acesso a rede de internet mundial, os estudantes passaram a ter cada vez mais acesso a uma infinidade de conteúdos que antes só estavam disponíveis em bibliotecas, o que dificultava o acesso a certos temas. Desse modo, as metodologias de ensino tiveram mudanças na forma de transmitir de conhecimento, no qual o professor deixou de ser um transmissor único de conhecimento e se tornou, assim como os alunos, igualmente um receptor de novas ideias e percepções, também pode-se afirmar que o professor deixou de ser o detentor do saber absoluto e inquestionável e se tornou um guia para os alunos, mostrando como poderiam aprender, indo mais além do que se pode aprender em sala de aula. Portanto, pode-se afirmar: como disse DUARTE (2000) que com a inserção da tecnologia na educação, o objetivo deixou de ser meramente a transmissão do conhecimento, mas o desenvolvimento dos indivíduos para uma autonomia intelectual buscando por si mesmo novos conhecimentos. Diante de toda essa evolução, a educação de forma explicitada acima se tornou uma realidade na rede de ensino de Santa Catarina, praticamente do dia para a noite, por conta da pandemia de COVID-19 e a consequente suspensão das aulas presenciais no ano de 2020, sendo assim, os professores e alunos precisaram aprender a lidar com as novas tecnologias em tempo recorde e a metodologia de ensino precisou sofrer mudanças rápidas e bem pensadas para que a qualidade da educação não fosse severamente afetada, metodologia essa que passaram a se basear na modalidade EAD. Como forma de mitigar os impactos dessa mudança abrupta, o Governo do Estado de Santa Catarina em parceria com o Google passou a fazer fornecimento do ambiente de ensino google classroom para a devida ministração das aulas remotas e avaliação dos estudantes. Além desta parceria o governo do estado forneceu treinamentos sobre os procedimentos de aplicabilidade e avaliação dos conteúdos na plataforma do google, para que os docentes pudessem se adaptar de uma forma mais rápida a essa nova e inesperada realidade. Tendo em vista a situação na qual se encontravam os professores, este trabalho pretende fazer uma avaliação da adaptação dos educadores de uma escola da rede pública da educação à nova forma de ensinar e tentar mensurar possíveis impactos positivos e negativos no processo de ensino-aprendizagem. Este artigo é feito a partir da pesquisa de trabalho de conclusão de curso do mesmo autor.

MÉTODOS 

A metodologia usada neste trabalho de conclusão de curso foi mista: 

  • Pesquisa bibliográfica 
  • Estudo de caso. 

Segundo Goode e Hatt (1975), o estudo de caso nos permite averiguar tanto o desenvolvimento como a profundidade e as características que constituem indivíduos, unidades sociais, empresas e famílias. Para esses autores, a estrutura do estudo de caso é flexível o suficiente, para permitir que se possa extrair várias informações obtidas e organizá-las de forma que se mantenha sua natureza inicial. Ainda sobre a teoria do estudo de caso Yin (2001), um estudo de caso é uma forma de investigação de caráter contemporâneo levando em conta a conjuntura da realidade, principalmente quando não está bem delimitada a fronteira entre o contexto e o fenômeno. Levando em consideração a forma de pesquisa utilizada, foi feito contato com professores da Escola de educação Básica Professora Maria Garcia Pessi, situada Rua Presidente Nereu Ramos 334, Bairro Cidade Alta, na cidade de Araranguá; com a devida autorização da Gestora da escola, Fabiana Vieira de Oliveira, foi aplicado um questionário com o intuito de responder às perguntas apresentadas no problema deste trabalho. Para a pesquisa foi elaborado um questionário, tendo como parâmetro de respostas a escala likert, que é uma escala de respostas psicométricas na qual os participantes da pesquisa devem responder o seu nível de concordância com algo que foi mencionado previamente. As questões elaboradas para aplicação serão apresentadas mais adiante neste trabalho, a forma de aplicação foi feita através um formulário do google forms de forma remota. Além da coleta das informações, através das perguntas devidamente selecionadas, também foi apresentado uma pergunta de resposta discursiva, visando obter um diagnóstico mais específico, segundo a experiência de cada profissional em particular.

PERGUNTAS REALIZADAS 

Seguem abaixo as perguntas realizadas aos docentes da escola que foi objeto de estudo:

As perguntas foram disponibilizadas aos profissionais através de um formulário da plataforma google forms, e enviado através do grupo de professores da escola em aplicativo de envio de mensagens. A aplicação era 100% anônima, garantindo assim a privacidade do entrevistado e a fidelidade do estudo.

RESULTADOS 

Com a aplicação do questionário foi possível retirar dados de extrema importância que são mostrados a seguir:

Resultados de cada questão 

É possível verificar através das respostas obtidas de 21 docentes 42,9% utilizava as tecnologias em sala de aula com alguma regularidade mesmo que não tão frequente. Porém é preciso se ater também aos 28,6% dos educadores que quase nunca faziam uso antes, da devida necessidade para tal, o que pode indicar uma certa dificuldade futura de adaptação que pode ser corroborada ou descartada de acordo com os dados das respostas seguintes

Como respostas da questão de número 2, pode-se verificar os dados expostos acima e é possível observar uma certa similaridade, ainda que com alguma variação, na porcentagem de professores que quase nunca utilizam as tecnologias em aula com aqueles que responderam à questão 2 com “muito dificil”

Como resultado obtido da resposta da questão 3 referentes ao que os professores pensam sobre os cursos de capacitação oferecidos pelo Governo do Estado de Santa Catarina, para uma melhor adaptação dos profissionais ao ensino EAD podem ser vistos acima. É notável que quase 62% dos que responderam à pesquisa acreditam que os cursos foram realmente de utilidade para os profissionais, é preciso também perceber que há uma parcela de quase 20% que discordam totalmente, o que mostra que ainda que a efetividade esperada tenha alcançado uma maioria, existe uma parcela que não se considera satisfeita diante de tal realidade. 

Na questão 4 foi perguntado aos docentes como eles classificam a adaptação dos alunos ao ensino remoto, esse tópico é um pouco controverso pois a geração de estudantes que estava em sala durante a pandemia de COVID-19 é tratada por muito como a dos “nativos digitais”, ou seja, jovens que já cresceram durante a sua vida com um contato praticamente diário com as tecnologias. Porém, segundo pouco mais de 57% dos professores que participaram da pesquisa, a adaptação dos estudantes ao ensino remoto pode ser classificada como “muito difícil”, mesmo com as características citadas anteriormente

Como pergunta de número 5 foi feito um contraponto com a questão número 1, nesta foi perguntado aos professores com que frequência continuavam usando as tecnologias no ensino presencial, após uma certa normalização da pandemia segundo o governo do estado. O que mostra o gráfico acima é que pelo menos 28% dos professores continuam utilizando quase sempre alguma forma de tecnologias no ensino presencial, o que pode ser considerado um aumento de 10% em relação ao número de docentes que o faziam com a mesma frequência antes da situação pandêmica. 

Respostas questão 6 

A questão de número de 6 é uma questão de resposta aberta, dessa forma a mensuração numérica se torna impossível de ser realizada, tornando a questão o ponto chave para alcançar o objetivo central: recolher a visão dos profissionais de acordo com a experiência de cada um em meio ao ensino remoto. Abaixo seguem alguma das respostas dos docentes para a seguinte pergunta: 

“Você acredita que o ensino remoto gerou impactos, positivos e negativos, no processo de ensino-aprendizagem, se sim quais?”

Como é possível observar o objetivo da questão 6 foi alcançado com êxito pois as respostas obtidas que foram selecionadas, mostram diferentes pontos de vista para a mesma realidade. É notável, que na maioria das respostas, os docentes acreditam que o uso das tecnologias teve sim seus pontos positivos, porém fazem ressalvas com respeito a capacitação dos profissionais com relação às ferramentas educacionais para uma devida aplicação prática na educação. Outros pontos a serem observados são as críticas feitas pelos professores com relação a conectividade dos estudantes com a internet e possíveis danos no longo prazo na questão de aprendizagem por parte dos alunos.

DISCUSSÃO DA CAPACITAÇÃO DOS PROFESSORES 

Com base nas respostas dos docentes para a questão de número 3 que perguntou a opinião dos educadores sobre a efetividade dos cursos de capacitação oferecidos pelo Governo Estadual de SC, e somando a algumas respostas coletadas na questão aberta de número 6, na qual alguns relatos informavam que é necessária uma capacitação sólida para realmente haver um ensino eficaz. 

Essa constatação corrobora com os dados obtidos na questão de número 2, sobre a adaptação dos educadores as tecnologias, no qual mais de 47% informou que se adaptou de forma moderada e quase 24% de forma muito difícil, ou seja, mais da metade dos entrevistados não se adaptaram de forma tão intuitiva e fácil como talvez se esperaria. 

Esse resultado pode ter sofrido influência de alguns fatores como o tempo recorde no qual o sistema teve que se adaptar e também o excessivo número de professores que foram atendidos pelo suporte do governo estadual, nem sempre conseguindo auxiliar da melhor forma. 

A UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS NO ENSINO REMOTO 

Baseando-se nas respostas das questões 1 e 5, sobre a utilização das tecnologias no ensino presencial antes e depois do ensino remoto respectivamente, é possível observar de forma clara que houve um aumento no número de professores que utilizam alguma forma de tecnologia educacional atualmente. 

É notável que a quantidade de educadores que utilizam alguma ferramenta com uma frequência moderada, ou seja, às vezes, saltou de 42,9% para 57,1% e os que utilizavam quase sempre de 19% para 28,6%. 

Os dados acima mostram um aumento de educadores que perceberam de ferramentas tecnológicas no ensino presencial, desde que aplicada da forma correta.

DA DIFICULDADE DE ACESSO DE UMA PARCELA DOS ESTUDANTES 

Pode-se observar que diante das informações resultantes da questão 4, sobre a adaptação dos alunos ao ensino remoto é possível notar que a adaptação de pelo menos 57% dos estudantes foi classificada como muito difícil. 

Essa afirmação é fortalecida por algumas respostas da questão 6, que enfatizaram como um dos principais problemas na implementação do ensino remoto a falta de estrutura por parte dos estudantes, criando assim uma exclusão digital.

CONCLUSÃO 

Como pode ser observado com os dados coletados na pesquisa, houve um aumento no uso de novas tecnologias após o período pandêmico, pois os docentes viram a necessidade de se atualizar com relação ao tema do uso de tecnologias em sala de aula. Também é possível notar que os profissionais da educação conseguiram ver nas tecnologias uma forma diferente de trabalhar os mesmos temas, para tornar as aulas mais atrativas para os alunos, rompendo assim alguns estigmas e preconceitos existentes anteriormente. Com o estudo exposto pode-se perceber a necessidade de atualização das instituições, principalmente em relação a infraestrutura para a boa e efetiva aplicação dos recursos tecnológicos existentes, e a necessidade de uma inserção dos estudantes de famílias menos favorecidas nesse novo cenário educacional, para que assim a educação seja uma ferramenta de diminuição das desigualdades e não contrário

REFERÊNCIAS 

DUARTE, Newton: Vigotski e o Aprender a Aprender: crítica às apropriações neoliberais e pós-modernas da teoria Vigotskiana. São Paulo-Campinas: Autores Associados, 2000. 

GOODE, William J.; HATT, Paul K. Métodos em pesquisa social. São Paulo: Nacional, 1975. 

YIN, R. K; Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução de Daniel Grassi. 2.ed. Porto Alegre: Bookman, 2001