OS DESAFIOS DE ADAPTAÇÃO DOS ALUNOS AO MODELO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO.

REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th102502181125


Ana Clara Lima Alves
Orientador: Profa. Ma. Ellen Cristina Monteiro de Souza


RESUMO

A Educação a distância (EAD) se consolida como uma modalidade de ensino que utiliza a interação virtual entre alunos, professores e o conteúdo para promover o processo de ensino e aprendizagem, e contribui significativamente para a democratização da educação no ensino superior brasileiro, de forma a romper barreiras geográficas e econômicas. Entretanto, o Ensino a distância também apresenta muitos desafios, como a resistência cultural ao modelo de ensino e a falta de familiaridade com tecnologias digitais. Portanto, o objetivo deste estudo resume-se a análise dos desafios enfrentados por estudantes na EAD em universidades brasileiras através do método de revisão bibliográfica.

Palavras-chave: EAD; Universidade; Adaptação.

ABSTRACT

Distance Education (DE) is consolidating as a teaching modality that utilizes virtual interaction among students, teachers, and content to promote the teaching and learning process. It significantly contributes to the democratization of education in Brazilian higher education, breaking down geographical and economic barriers. However, distance education also presents many challenges, such as cultural resistance to this teaching model and a lack of familiarity with digital technologies. Therefore, the aim of this study is to analyze the challenges faced by students in DE at Brazilian universities through a bibliographic review method.

Keywords: ED; University; Adaptation.

1 INTRODUÇÃO

A Educação à distância (EAD) se trata de uma modalidade de ensino na qual a interação entre aluno, professores e tutores, conteúdo da grade curricular e a comunidade estudantil se dá completamente por meio virtual, através da utilização de equipamentos eletrônicos e redes de softwares personalizados pela instituição em questão. O ensino por meios digitais tem conquistado cada vez mais espaço no ensino superior brasileiro visando a democratização da educação, de forma a permitir a possibilidade de um novo e mais avançado degrau acadêmico a pessoas que, sejam por falta de disponibilidade de tempo, recursos financeiros ou ainda por diversos outros motivos específicos, não poderiam cursar uma graduação presencialmente. Acerca disso, consideramos que a educação a distância tem permitido o maior acesso à informação e formação acadêmica no Brasil, rompendo barreiras geográficas e econômicas e promovendo uma inclusão mais ampla (Silva e Costa, 2020).

Todavia, tal modalidade de ensino também pode vir a ser consideravelmente desafiadora, principalmente quando falamos a respeito da adaptação dos alunos a tal sistema, os desafios incluem tanto as dificuldades de interação e engajamento neste modelo de ensino quanto a falta de familiaridade com as tecnologias digitais. Portanto, a utilização de maneira eficiente da modalidade EAD exige esforço conjunto entre todo o corpo estudantil para superar essas barreiras e desenvolver as competências necessárias (Melo e Pereira, 2020)

Com base no exposto, esse trabalho, tem como objetivo analisar os desafios enfrentados pelos estudantes da educação superior no que diz respeito à modalidade de ensino a distância nas universidades brasileiras, buscando compreender as principais barreiras para o sucesso desse modelo de ensino e propor soluções que possam contribuir para melhorar a qualidade e efetividade do processo educativo nesta modalidade, tendo em vista sua significativa importância para o avanço da educação no contexto brasileiro.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 HISTÓRICO E SURGIMENTO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Segundo Nunes (2009), a primeira menção documental sobre a Educação a Distância diz respeito a aulas ministradas por correspondência por Caleb Philips, no ano de 1728 d.C., em Boston, EUA. Além disso, a criação da prensa (máquina de impressão) por Johannes Gutenberg, em meados de 1455 d.C., é levantada por diversos autores como o marco mais relevante para viabilizar o avanço deste sistema de ensino, pois permitiu a impressão de textos capazes de propagar o conhecimento e proporcionar o ensino a pessoas que não tinham oportunidade de participar de aulas presencialmente.

Outrossim, Mattos e Barbosa (2015) dividem o histórico da Educação a Distância em três importantes fases: a primeira diz respeito à educação via correspondência, que contava com a utilização de materiais autodidáticos, com os quais o leitor estudava por conta própria e enviava dúvidas ou considerações ao autor, geralmente por meio de cartas. Um exemplo notável de educação via correspondência é o Instituto Universal Brasileiro (IUB), que começou suas atividades em 1916 e oferecia cursos por meio do envio de materiais didáticos pelo correio. Os cursos incluíam desde assuntos técnicos e profissionalizantes até disciplinas de formação geral e eram voltados para diversas áreas, como administração, comércio, idiomas, desenho, música, entre outros.

A segunda fase conta com o emprego de dispositivos eletrônicos, tais como rádio, telefone e televisão, com a exibição de programas educativos que incluíam demonstrações práticas ou entrevistas com especialistas, como ocorreu em 1995 no Brasil com o programa TV Escola, criada como iniciativa do Ministério da Educação (MEC) para a modernização do ensino no Brasil, na qual os estudante contavam com a exibição de documentários, séries educativas, entrevistas e aulas variadas de Língua portuguesa, Matemática, História e Geografia.

Por fim, a terceira fase, que está em prática nos dias de hoje, diz respeito à utilização da internet para a propagação do conhecimento e formação acadêmica, através de portais desenvolvidos pelas universidades e ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), como é apresentado por Behrens (2008). Um exemplo é a grade de cursos via EAD ofertados pela Universidade Nilton Lins, que conta com a participação de tutores e professores, além da disponibilização de recursos didáticos,

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aulas gravadas, atividades, avaliações e fóruns, de forma flexível à disponibilidade de tempo dos alunos.

2.2 LEIS E REGULAMENTAÇÕES DO EAD NO BRASIL

No Brasil, a Educação a Distância (EAD) é regulamentada por diversas leis e normativas que visam garantir a qualidade do ensino e a implementação dessa modalidade nas universidades nacionais. A Lei nº 9.394/1996 estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, incluindo a EAD, definindo-a como uma modalidade de ensino que deve seguir os mesmos princípios da educação presencial, garantindo qualidade e acesso ao ensino.

O Decreto nº 5.622/2005 regulamenta a EAD no Brasil em relação às diretrizes para a oferta de cursos nesta modalidade, exigindo a autorização, reconhecimento e supervisão do Ministério da Educação (MEC) para a oferta de cursos à distância. O decreto também salienta os requisitos de infraestrutura e a formação dos professores que atuam na EAD.

A Resolução nº 1/2007 do Conselho Nacional de Educação (CNE) estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação a Distância, definindo as competências que devem ser desenvolvidas em cursos nesta modalidade, além de abordar o uso de tecnologias de informação e comunicação. A Resolução nº 2/2017 do CNE aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Superior e incluem orientações específicas para os cursos de graduação na modalidade a distância.

A Lei nº 13.415/2017 estabelece normas para a educação profissional e tecnológica, permitindo que as instituições de ensino ofereçam cursos técnicos na modalidade a distância, aumentando as oportunidades de formação profissional. Além disso, o Ministério da Educação (MEC) publica regularmente diretrizes e orientações que complementam as leis e regulamentos vigentes, detalhando requisitos técnicos, pedagógicos e administrativos para as instituições que oferecem EAD. Essas diretrizes são atualizadas periodicamente para acompanhar as inovações tecnológicas e as demandas do mercado.

2.3 CONCEITOS E DEFINIÇÕES DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Podemos conceituar a Educação a Distância como uma modalidade educacional que busca promover a democratização do ensino por meio do uso intensivo de tecnologias de comunicação e informação (Kostenko, 2023). Tal modalidade permite uma abordagem flexível, em que os alunos podem acessar o conteúdo de forma remota, potencializando a autonomia no processo de aprendizagem (Prokopenko, 2021). Em outras palavras, a Educação a Distância pode ser definida como uma forma de ensino em que a mediação didática se dá por meio da utilização de tecnologias, permitindo que o aluno estude em locais e horários distintos do professor (Moore, 2016).

Além disso, segundo Sherman (2022), a modalidade EAD contribui significativamente para o desenvolvimento de competências digitais, preparando os alunos para a era digital. Essa abordagem pedagógica utiliza Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) como meio para viabilizar o ensino em diferentes contextos, promovendo a aprendizagem em massa (Lutsenko, 2019).

Por fim, compreendemos a educação a distância como uma forma de democratização do acesso à educação, capaz de superar barreiras geográficas e temporais e promovendo a autonomia do aprendiz (Oliveira; Mendes, 2020).

2.4 OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A modalidade em questão apresenta diversos desafios a serem enfrentados pelos estudantes e professores dispostos a usufruir de suas vantagens. A falta de infraestrutura tecnológica e o difícil acesso à internet (Costa, Guedes e Guerra, 2021), a necessidade de maior capacitação tecnológica dos professores para que possam adaptar suas metodologias de ensino ao ambiente virtual (Kostenko, 2023), e a autonomia por parte dos alunos para o desenvolvimento de habilidades de autogestão e autodisciplina se apresentam como alguns dos principais desafios da Educação a distância no Brasil, tendo em vista principalmente as regiões de menor acesso a uma boa estrutura educacional (Kunsch, 2019).

Ademais, a questão da motivação dos estudantes, especialmente em ambientes de autoaprendizagem, tem sido apontada como um dos principais obstáculos para o sucesso da EAD (Silva; Almeida, 2019). Muitos alunos têm dificuldade em se adaptar ao ambiente virtual de aprendizagem, o que pode impactar sua motivação e desempenho acadêmico (Carrilho, 2017).

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Outrossim, como mencionado anteriormente, estudantes que não desenvolvem habilidades de autoaprendizagem encontram dificuldades em se adaptar à metodologia e em estabelecer uma rotina de estudos. Tais questões influenciam todo o contexto educacional e são alguns dos fatores que contribuem para a evasão de alunos nos cursos de educação a distância (Souza, 2020)

Em vista disso, nem todos os alunos se adaptam à modalidade a distância, que exige pesquisa e busca ativa do saber, não bastando ficar sentado em uma cadeira aguardando passivamente o professor transmitir a matéria e resolver os exercícios. Na EAD, nem sempre os alunos, os professores e as instituições têm experiência na modalidade, o que pode resultar em dificuldades de aprendizado e reclamações por parte do corpo estudantil. (Boghi, Shitsuka e Shitsuka, 2019).

2.4 Boas Práticas e Estratégias para Facilitar a Adaptação

Para que a experiência de utilização da metodologia de Educação a Distância (EAD) seja bem-sucedida, superando os desafios que surgem no caminho, estudantes e professores devem adotar boas práticas e estratégias que facilitem a adaptação ao sistema.

Uma das estratégias que tem se tornado essencial no ensino de disciplinas a distância é o uso de salas de aula virtuais ou Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA). Esses ambientes contêm ferramentas que facilitam a interatividade entre alunos e professores ou tutores, como portfólios, atividades textuais, fóruns, chats, wikis, glossários, vídeos e cafés virtuais (Boghi, Shitsuka e Shitsuka, 2019). Em relação aos ambientes de aprendizagem, oferecer orientações claras sobre como utilizar as plataformas de EAD é essencial para que os alunos se sintam mais seguros e confiantes (Carrilho, 2017).

Além disso, a utilização de metodologias ativas baseadas em problemas, como por exemplo o Estudos de Caso, no qual os alunos reúnem-se em grupos para resolver problemas complexos baseados em experiências reais, o que os leva a investigar, discutir e aplicar conhecimentos adquiridos até então. Tal prática proporciona um aprendizado mais dinâmico e autônomo, facilitando a transição do ensino presencial para o ensino a distância (Silva, Pesce e Neto, 2018).

Outrossim, no Ensino a Distância, o contato humano, mesmo que virtual, é essencial. A criação de comunidades online facilita a colaboração e interação entre

alunos, além de oferecer suporte emocional, gerando um aprendizado colaborativo que facilita a adaptação à EAD (Marins e Lopes, 2020)

Ademais, a empatia do tutor pode melhorar a participação dos envolvidos e a aprendizagem. Quando existe empatia, há maior engajamento no processo educacional, sendo essa uma boa prática e estratégia para facilitar a adaptação dos alunos a esse sistema (Tenório, Costa e Tenório, 2016).

Por fim, a personalização do aprendizado, permitindo que os alunos escolham temas ou métodos de estudo (Dornelles, 2016) e a inclusão de atividades práticas e projetos que integrem o conhecimento adquirido podem tornar a experiência de EAD mais significativa, de forma a facilitar a adaptação dos alunos nesta modalidade.

3 METODOLOGIA

Este estudo consiste em uma revisão bibliográfica integrativa, a qual é definida por Souza (2021) como uma síntese de obras publicadas sobre a teoria que irá direcionar o trabalho científico, permitindo um entendimento abrangente com relação às evidências disponíveis.

Quanto à abordagem, este estudo se trata de uma pesquisa qualitativa, a respeito da qual MINAYO (2010) define como um tipo de pesquisa que visa entender a realidade a partir da perspectiva dos sujeitos envolvidos, por meio da coleta de dados não numéricos e com a realização de análises interpretativas e discussões sobre os conceitos apresentados.

Quanto à natureza, podemos inferir, que essa pesquisa é aplicada, definida por Gil (2010) como “[…] aquela que se propõe a buscar soluções para problemas concretos, a partir do uso de conhecimentos teóricos e metodológicos disponíveis, visando a transformação da realidade social.”

O levantamento bibliográfico foi construído com base em publicações dos últimos 5 anos (2019 a 2024) sobre os desafios de adaptação dos alunos ao modelo de educação a distância brasileiro no ensino superior, usando as seguintes palavras chave:“Educação-a-distância”,“EAD-Ensino-Superior”,“Desafios-EAD”,“Ensino-a- distância”, “Educação-remota” respeito do tema proposto “Os desafios de adaptação dos alunos ao modelo de educação a distância brasileiro no ensino superior”. As revistas selecionadas para a revisão bibliográfica são classificadas como Qualis A1 e A2, levando em conta a avaliação quadrienal (2017-2020) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O Qualis Periódicos é um sistema utilizado no Brasil para avaliação e classificação de periódicos científicos. Na avaliação de 2017-2020, as revistas foram classificadas em oito categorias: A1, A2, A3, A4, B1, B2, B3, B4, e C, sendo a A1 a classificação mais alta que um periódico pode receber. A busca foi realizada através da plataforma Sucupira e os critérios para a escolha das revistas foram: área e tema. Foram escolhidas 8 revistas das áreas de Ensino e Educação que apresentem temáticas relacionadas à educação a distância.

As revistas selecionadas são apresentadas nos quadros 1 e 2.

Quadro 1: Revistas Qualis A1.

 EDUCAÇÃO 
ISSNRevistaQualis (2017-2020)
1984-932XESTUDOS EM AVALIAÇÃO EDUCACIONAL (ONLINE)A1
1678-4634EDUCAÇÃO E PESQUISAA1
1809-449XREVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃOA1
1676-2592EDUCAÇÃO TEMÁTICA DIGITALA1
1678-4626EDUCAÇÃO & SOCIEDADEA1

Quadro 2: Revistas Qualis A2.

ENSINO 
ISSNRevistaQualis (2017-2020)
2177-8310  EAD EM FOCO – REVISTA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA  A2
1983-0408  REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA  A2
0102-8758CONTEXTO & EDUCAÇÃOA2

A análise do exposto foi realizada de forma qualitativa, tendo como base a conexão entre o conteúdo e a problemática em investigação.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A análise dos estudos selecionados evidenciou três grandes categorias de desafios enfrentados pelos alunos do ensino superior na modalidade EAD: (1)

Dificuldades  relacionadas  ao  acesso  e  domínio  de  recursos  tecnológicos  e conectividade, (2) Falta de interação e Engajamento e (3) Falta de motivação e senso de pertencimento. Esses fatores serão discutidos a seguir à luz da literatura revisada.

Primeiramente, no que diz respeito às dificuldades relacionadas ao acesso e domínio de recursos tecnológicos e conectividade, Oliveira e Riccicagnacci (2022) apontam que o acesso precário à internet pelos estudantes no território brasileiro torna mais evidentes as desigualdades sociais vigentes. A ausência de recursos que permitem boa acessibilidade tecnológica se apresenta como um dos principais

desafios para a adaptação dos alunos no ensino superior quando se trata de EAD. É inegável que, para que o sistema de educação a distância funcione de maneira eficiente e cumpra com seus objetivos de promoção da oportunidade de cursar uma universidade para todos os que possuem tal ambição, são necessários recursos tecnológicos adequados e uma excelente conexão à internet, além das competências

necessárias por parte do estudante para o uso eficiente desses meios.

Entretanto, a realidade de muitos estudantes brasileiros que cursam graduação a distância é bem diferente do ideal, levando em conta que muitos não possuem equipamentos essenciais, como computadores, dependendo exclusivamente de celulares, o que dificulta a realização de diversas atividades acadêmicas e a participação em aulas transmitidas online. Além disso, a falta de dispositivos como câmeras e microfones, bem como a incapacidade de operar softwares e aplicativos específicos, impactam diretamente na experiência educacional desses alunos. Tondin et al. (2024) ressaltam que a limitação ou ausência de acesso à internet e a outros meios tecnológicos reflete as desigualdades socioeconômicas, raciais e culturais presentes no Brasil. Soma-se a isso a diversos outras dificuldades enfrentadas pelos mesmos no dia a dia adicionais à inclusão digital, como a precariedade das residências, a ausência de saneamento básico e a insegurança alimentar em famílias de baixa renda.. Como consequência, muitos estudantes têm dificuldades para realizar e entregar atividades escolares, além de acompanhar adequadamente as aulas e os conteúdos ministrados. Tondin et al. (2024) concluem que pessoas em situação de maior vulnerabilidade socioeconômica são as mais prejudicadas, enfrentando desafios semelhantes aos que levam ao fracasso escolar.

Outro problema recorrente é a conexão instável ou inexistente com a internet, principalmente levando em conta que a educação a distância depende essencialmente de uma boa conectividade para se ter acesso ao conteúdo didático e a comunicação com tutores e professores, mas muitos estudantes, especialmente os residentes em áreas rurais, enfrentam sérias dificuldades nesse aspecto. Além disso, os planos de internet de alta velocidade possuem custos elevados, tornando-os inacessíveis para uma parcela significativa da população. Consequentemente, estudantes muitas vezes não conseguem acessar materiais didáticos e vídeos disponibilizados pelos cursos, gerando desmotivação e, em casos extremos, abandono do curso. Lobo et al. (2021) destacam que, em regiões remotas, essa questão se apresenta como um dos maiores entraves para o sucesso da EAD.

A falta de domínio sobre ferramentas tecnológicas é outro fator de exclusão, especialmente para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de se alfabetizar tecnologicamente. Ravallec et al. (2024) afirmam que o problema se baseia na falsa premissa de que o letramento tecnológico é universal, o que não condiz com a realidade, especialmente para estudantes de maior idade ou com pouca experiência digital. Plataformas complexas podem ser desafiadoras, causando estresse e ansiedade ao demandar tempo excessivo para a realização de tarefas simples. Nesse sentido, Neves et al. (2024) enfatizam que os Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPCs) de graduação a distância priorizam o desenvolvimento de habilidades operacionais relacionadas ao ambiente virtual de aprendizagem (AVA), sem considerar que nem todos os ingressantes possuem competências intelectuais necessárias para o uso adequado dessas ferramentas.

Essas dificuldades podem fazer com que estudantes se sintam incapazes de acompanhar o curso, mesmo tendo vontade e capacidade de aprender, comprometendo o processo de ensino e aprendizagem e levando até mesmo à evasão. Para que a EAD cumpra sua função de superar barreiras geográficas e sociais, instituições podem implementar medidas como o empréstimo de equipamentos, parcerias para acesso gratuito ou subsidiado à internet, além de capacitações práticas para o uso das plataformas.

Outro desafio significativo é a falta de interação e engajamento no contexto da EAD. Enquanto a interação é definida como a comunicação entre professores, colegas e alunos, o engajamento está relacionado à motivação e à participação ativa no processo de aprendizagem. Na EAD, a distância física e emocional dificulta a criação de laços interpessoais, facilmente desenvolvidos em ambientes presenciais. Em muitos casos, as plataformas utilizadas não incentivam a interação, sendo descritas como frias e impessoais, e as aulas consistem em longas apresentações de slides de aulas expositivas e monótonas, o que gera desinteresse.

Neves et al. (2024) destacam que o tutor exerce papel essencial no processo de interação e acolhimento dos estudantes, promovendo um sentimento de pertencimento em relação ao curso e à vida acadêmica. Estratégias como a utilização de metodologias ativas, debates e acompanhamento personalizado podem aumentar o engajamento dos alunos. Moloni et al. (2022) reforçam que colaboração e interação são elementos centrais para o sucesso do ensino e da aprendizagem na EAD.

Para que a EAD alcance seu potencial de inclusão educacional, é essencial que as instituições de ensino superior adotem medidas que promovam a integração tecnológica, a interação social e o acolhimento pedagógico. Entre as propostas apresentadas por Neves et al. (2024), destacam-se:

  1. Qualificar as informações disponíveis aos ingressantes;
  2. Estruturar protocolos de recepção e acolhimento;
  3. Desenvolver planos de acompanhamento acadêmico;
  4. Promover ações de integração social e acadêmica;
  5. Monitorar índices de evasão e implementar estratégias preventivas;
  6. Oferecer suporte pedagógico e emocional aos discentes.

Conforme apontado por Pereira et al. (2022), diversificar os métodos de apresentação de conteúdos, utilizando recursos compatíveis com diferentes perfis de estudantes, pode contribuir para a motivação e o sucesso acadêmico. Além disso, metodologias ativas como a gamificação e atividades dinâmicas são essenciais para o fortalecimento da aprendizagem na EAD.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na revisão bibliográfica realizada, os principais desafios enfrentados pelos alunos na adaptação ao ensino superior brasileiro na modalidade de Educação a Distância (EaD) incluem dificuldades relacionadas ao uso de tecnologias, falta de acesso a recursos tecnológicos e problemas de conectividade. Esses fatores refletem desigualdades sociais e econômicas no Brasil. Além disso, destacam-se a falta de interação e engajamento, bem como a ausência de motivação e senso de pertencimento, aspectos fundamentais no processo de ensino-aprendizagem, como apresentado por Vygotsky, em sua teoria sociocultural, onde o autor afirma que a interação social é indispensável para o desenvolvimento e a aprendizagem, pois o aprendizado ocorre inicialmente no nível social e, posteriormente, é internalizado no nível individual.

Como apresentado anteriormente, o objetivo principal da EaD é a democratização do acesso à educação, superando barreiras sociais e geográficas, de modo a garantir oportunidades iguais para todos os interessados em cursar o ensino superior. Para alcançar esses objetivos e superar os desafios mencionados, é fundamental que as instituições e os profissionais envolvidos implementem estratégias adequadas e eficientes, tendo em vista as particularidades de seus grupos de alunos. Entre as ações sugeridas, destacam-se ações como o estabelecimento de parcerias com operadoras para disponibilizar pacotes de dados gratuitos ou a preços acessíveis, bem como permitir o uso dos laboratórios de informática da instituição para a realização de atividades acadêmicas; Com relação a alfabetização tecnológica, as universidades devem oferecer tutoria básica no uso das ferramentas digitais e no funcionamento das plataformas de Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), priorizando a adoção de interfaces de fácil usabilidade.

Com relação a falta de motivação, interação e engajamento, a adoção de metodologias ativas de ensino e promoção de atividades colaborativas, como trabalhos em grupo que estimulem a interação entre os alunos, além da oferta de acompanhamento personalizado para aqueles com maiores dificuldades são formas de superação do entrave apresentado, além de manter tutores disponíveis para esclarecer dúvidas e desenvolver iniciativas que favoreçam o sentimento de pertencimento, como por exemplo dinâmicas de integração e feedback contínuo.

Essas medidas, alinhadas com o objetivo da EaD de oferecer uma educação inclusiva e acessível, são essenciais para reduzir as desigualdades e proporcionar um ambiente de aprendizagem mais equitativo e eficaz para todos os estudantes.

REFERÊNCIAS

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